segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Instalação e sinalização de lombas redutoras de velocidade (LRV)


Um partido de oposição sem representação no executivo municipal, mas com assento na assembleia municipal de um determinado concelho, critica a câmara municipal por inoperância na beneficiação de uma escola básica do 1.º ciclo com jardim de infância duma das suas vilas – crítica a que a pessoa da vereação responsável pelo pelouro da educação responde, obviamente refutando as acusações partidárias.    
O partido refere que o executivo está par da situação, mas se conserva inoperante, redundando tal inoperância em prejuízo para as crianças e profissionais de educação e, por consequência, para o ensino no concelho em causa.
Estriba-se em informação da respetiva associação de pais e encarregados de educação para pormenorizar a situação, referindo, por exemplo: há salas com infiltrações de água, chegando a água da chuva a pingar sobre a mesa da docente; há salas de aula que precisam de ser pintadas; o termoacumulador e a máquina de lavar louça não funcionam; é necessária intervenção nas casas de banho, sendo que nalgumas há canos remendados que molham as crianças; e há ferros na zona do recreio que representam um perigo para a segurança das crianças.
Segundo o rol de críticas apresentado, a câmara municipal não substitui o material avariado nem instala o novo, inclusivamente ainda não instalou os quatro computadores que a associação de pais e encarregados de educação ofereceu à escola há um ano. É caso para perguntar se a câmara e o Ministério da Educação precisam de esmolas duma associação de pais – computadores, livros, etc. – para fornecerem ensino de qualidade às crianças em escola pública. Se a escola depende dos pais, rapidamente estes se põem a mandar e a ditar normas e procedimentos de educação e ensino aos professores. E lá se vai a liberdade da escola – de ensinar e de aprender – e a autonomia profissional dos docentes conforme o art.º 35.º estatuto do ECD.
Além disso, o partido entende que a segurança à volta da escola se encontra comprometida por via de obras de melhoria da rua fronteiriça que induzem a passagem de automóveis com velocidade acima do autorizado dentro das localidades, pelo que a associação de pais e encarregados de educação propôs a colocação de lombas indutoras da redução de velocidade (LRV). A isto, segundo consta da informação veiculada, a câmara terá respondido que as lombas “fazem barulho para as casas”.
Pelos vistos, a pessoa da vereação responsável pelo pelouro da educação, confrontada com a situação, negou as acusações, sustentando que o executivo tem intervindo, mas de forma planeada e faseada em consonância com os serviços autárquicos, pelo que as “patologias vão sendo solucionadas no devido tempo” (Rica linguagem importada da medicina). E apontou que já houve várias intervenções na escola, nomeadamente uma cobertura na nova zona do refeitório e uma pintura renovada numa parte da escola, estando prevista para breve a prossecução dos trabalhos necessários.
E, no atinente à alegada recusa da câmara em colocar lombas por fazerem barulho para as casas, desmente rotundamente o motivo. Porém, aduz que elas “têm de corresponder aos pareceres técnicos” e a colocação das mesmas na rua em causa “poderiam trazer danos superiores aos benefícios, dado o prejuízo que estas causam à passagem de pessoas com deficiência motora, bem como de veículos de emergência. Ora, nem os deficientes motores devem andar na rua, mas no passeio, nem os carros de emergência podem deixar de acautelar a segurança dos peões!

Depois da exposta resenha dos factos e as aduções justificativas da posição das autoridades municipais, importa tecer alguns considerandos.
À primeira vista, poderá pensar-se que se trata de uma situação perfeitamente localizada com a qual as outras localidades e os outros municípios nada têm que ver. Porém, esta é, em certa medida, um espelho da ligeireza com que políticos e administradores – a nível central e a nível local (Ainda vêm os autarcas namorar o povo com a política do conhecimento e da gestão de proximidade!) tratam dos problemas que atingem as populações. Tudo serve para se enxotarem as responsabilidades e dizer que se faz e torna a fazer e que os opositores não têm razão, só querem deitar abaixo ou passam o tempo a debater questões laterais sem importância para a comunidade.
Quando chove numa sala, há canos rotos em casa de banho, ou ferros num recreio põem em causa a segurança de crianças, como é que se pode falar de planeamento e faseamento (As empresas de águas, de gás ou de eletricidade têm os seus piquetes para intervirem de imediato!)? Se há paredes por pintar (pois a pintura não tem apenas uma função decorativa, mas também uma função de proteção da parede), como é que pode aduzir-se, contra a acusação de inoperância, que já foram pintadas algumas? É certo que este é o cancro nacional dos equipamentos de utilização coletiva que precisam de intervenção urgente. São emblemáticos os casos das obras que têm esperado anos e anos, de que são destacados os do Liceu Camões ou da Escola Secundária Almeida Garrett e, sobretudo, o da ala de Oncologia Pediátrica do Hospital de São João. Porém, isso não serve de desculpa às autarquias que prestam um serviço de proximidade em razão do conhecimento que têm da realidade local. Ora, que renunciem a contribuir logística e financeiramente para telenovelas ou programas de fim de semana por parte dos diversos canais de televisão e acudam às necessidades imediatas das populações!
Além daquilo que o partido crítico da câmara aduziu, é de referir que o passeio frente ao portão ou portões de saída da escola deverá ser munido de gradeamento protetor de modo que as crianças não sejam tentadas a atravessar a rua diretamente e em correria. De facto, com crianças todo o cuidado e pouco!
As razões da câmara para não colocar as lombas indutoras de redução de velocidade são desajustadas e até ridículas. Obviamente que podem fazer barulho para as casas, dependendo dos materiais utilizados. Porém, elas costumam ser colocadas em pontos nevrálgicos nas localidades e em vias de grande tráfego no meio do casario. E, quando valores mais altos se levantam, como a anulação do perigo para os peões, não serve de desculpa o barulho para os moradores. Nesse caso, seria de pensar em retirar a escola do sítio onde está e pô-la a milhas da rua ou proibir as crianças de vir a recreio… Ninguém aceita qualquer destas hipóteses.
E, quanto ao eventual prejuízo para os deficientes motores, é de sustentar que, em princípio estes não andam no meio da rua, mas nos passeios e, se não houver passeio, na berma mais à esquerda. Também esses estão sujeitos às normas de segurança rodoviária e pedonal.
Assim, se o trânsito, na rua, for de sentido único, deverão ser colocadas as lombas a partir de uns metros antes do portão ou portões do recinto escolar; se o trânsito, na rua, for nos dois sentidos, deverão ser colocadas desde a uns metros de distância o portão ou portões, ao longo de cada um dos sentidos da via, e obviamente desencontradas. De qualquer modo deve haver sinal vertical para aviso prévio aos condutores. Além disso, a rua, mesmo que o trânsito seja de sentido único, deve ser munida de travessia de peões (passadeira) em frente do portão ou portões e com a devida sinalização vertical e horizontal. E nas proximidades da escola deve haver sinalização vertical de redução de velocidade para limite tido por adequado.
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Na verdade, em 2007, o Núcleo de Fiscalização e Trânsito – Unidade de Prevenção Rodoviária verificava o seguinte:
A construção de vias públicas com o objetivo primordial de maximizar o escoamento de grandes volumes de tráfego e o conforto dos ocupantes dos veículos, aliada aos progressos da indústria automóvel no mesmo sentido, tem sido, nas últimas décadas, uma das causas do aumento do número e da gravidade dos conflitos entre veículos e peões”.
Pelo que
Para minimizar estes efeitos indesejáveis, foram criadas medidas passivas destinadas a ‘acalmar’ o trânsito, isto é, a induzir os condutores a praticarem em certas zonas críticas (por ex. junto dos acessos a escolas) velocidades moderadas, mitigando deste modo as consequências de eventuais colisões entre veículos motorizados e utentes desprotegidos”.
E acautelava que todas as medidas de Acalmia de Tráfego têm vantagens e inconvenientes, não sendo apropriadas a qualquer local pelo que devem ser usadas criteriosamente.
Evidentemente que não podem as lombas ser colocadas numa autoestrada, numa via rápida ou numa via de descida acentuada. Todavia, não se pode deixar de as colocar nos locais onde a segurança das pessoas o exija ou recomende, mesmo que produzindo alguns danos colaterais. Com efeito, a livre circulação e a segurança rodoviária não são incompatíveis, mas podem e devem articular-se para bem de todos: salvaguarda de vidas e de integridade física.
Ademais, só pode fazer-se eficaz educação rodoviária das crianças se as imediações respeitarem as normas de segurança rodoviária e pedonal. 
2019.11.11 – Louro de Carvalho  

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