segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A 5 de maio celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa


Foi ratificada, em Paris, neste dia 25 de novembro, pela sua Assembleia Geral, a decisão do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) do passado dia 17 de outubro, que proclama o dia 5 de maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa, pelo que Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO, espera repercussões a nível internacional.
Portugal esteve representado na cerimónia por uma comitiva que incluiu o Primeiro-Ministro, António Costa, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, a Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes e o Embaixador de Portugal na UNESCO, Sampaio da Nóvoa.
O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa já manifestou a sua congratulação pelo reconhecimento da língua portuguesa no mundo, não esquecendo o papel da diplomacia portuguesa e em particular de António Sampaio da Nóvoa. Eis o teor da nota da Presidência da República sobre a tomada de decisão daquele organismo da ONU:
A Conferência Geral da UNESCO acaba de ratificar a decisão de estabelecer o dia 5 de Maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa. É a primeira vez que uma língua não oficial daquela instituição recebe esta consagração, e todos esperamos que seja um primeiro passo para que se torne também língua de trabalho.
“Língua internacional, falada em todos os continentes, e em progressão, sobretudo no hemisfério Sul, o Português deve ser protegido e apoiado antes de mais pelos países da CPLP onde é idioma oficial; Também as organizações internacionais, os Estados onde se fale e estude o Português, universidades ou instituições da sociedade civil de países não lusófonos têm um papel muito importante a desempenhar, porque permitem, no círculos de emigração e para além deles, que a nossa língua (nossa de todos os falantes, independentemente da sua nacionalidade) continue viva e em expansão. Constitui um elo central de ligação entre o território físico de Portugal e a dimensão multinacional da nossa Diáspora.
“Congratulo-me com esta decisão, saudando também o empenho do nosso Embaixador junto da UNESCO, Prof. Doutor Sampaio da Nóvoa, e esperando que, mais do que um gesto simbólico, seja um impulso decisivo.”.
E aos jornalistas, declarando-se “muito feliz” com a proclamação pela UNESCO do dia 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa e agradecendo a Sampaio da Nóvoa o seu contributo para esta decisão, assegurou:
É o reconhecimento de uma grande língua no mundo, uma das maiores línguas do mundo, de que nos orgulhamos nós, portugueses, e todos os que falam essa língua”.
O Chefe de Estado, que falava aos jornalistas à saída do Espaço Júlia – Resposta Integrada de Apoio à Vítima, em Lisboa, assinalou a “feliz coincidência” de o Primeiro-Ministro, António Costa, “se encontrar precisamente em Paris no momento em que há essa decisão formal” da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Em seguida, o Presidente da República quis “prestar homenagem e agradecer o contributo” de António Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO, considerando que “foi um batalhador, um militante por essa conquista”. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “o facto de a UNESCO, que é uma organização mundial, reconhecer o papel da língua portuguesa deve-se à diplomacia portuguesa em geral, deve-se ao valor da língua portuguesa, mas deve-se muito ao contributo do senhor embaixador António Sampaio da Nóvoa”.
O Primeiro-Ministro manifestou-se em sintonia com o Presidente e o país, dizendo à RTP, que “este é um passo muito importante para os 260 milhões de pessoas que têm o Português com língua oficial e que é hoje a língua mais falada no hemisfério Sul”. E acrescentou que se prevê um enorme crescimento do idioma que, estima-se, tenha “até ao final do século 500 milhões” de falantes – uma “língua cada vez mais global” e, por isso, uma “prioridade fundamental na nossa política externa”.
António Costa – que se deslocou a Paris também para homenagear o artista Manuel Cargaleiro, que recebeu a Ordem de Mérito Cultural e da Câmara Municipal de Paris, a medalha Grand Vermeil (a maior distinção que a cidade pode atribuir e que já foi recebida por outros portugueses como Manoel de Oliveira) – respondeu ainda a perguntas sobre o acordo ortográfico, escudando-se na couraça da prudência:
Essa é uma questão [do acordo ortográfico] que os Estados têm debatido: as línguas não são só escritas, têm também uma dimensão falada. O português tem uma caraterística importante, tem-se sabido adaptar a diferentes territórios onde tem evoluído. […] Hoje é uma língua que pertence a muito mais pessoas no Mundo do que só a nós portugueses e isso traduz-se em formas diversas de escrever.”.
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Esta é a primeira vez que uma língua não oficial da organização é distinguida com um dia mundial. A proposta foi trabalhada e apresentada por todos os países lusófonos em outubro e foi apoiada por mais 24 países como Argentina, Chile, Geórgia, Luxemburgo ou Uruguai, o que resultou numa aprovação por unanimidade no Executivo da UNESCO a 17 de outubro e agendada, a 12 de novembro para ratificação na Assembleia Geral. O argumento que concitou a unanimidade foi que o português é a língua mais falada e difundida no hemisfério sul e tem no mundo 265 milhões de falantes, tendo sido o idioma da primeira vaga da globalização, deixando palavras e marcas noutras línguas no mundo.
De acordo com o que o embaixador português na UNESCO declarou à Lusa em outubro, este será um dia celebrado em grande nos corredores da sede da organização com iniciativas musicais e literárias, mas que espera ter impacto internacional, pois “entra nos calendários internacionais, o que significa que ganha projeção do ponto de vista internacional e que pode ter consequências nos mais variados planos”, esperando-se até ao final do ano o avanço de propostas na UNESCO sobre o ensino e formação de professores de português em África.
Recorde-se que, já em 2009, o Conselho de Ministros da CPLP, reunido na Cidade da Praia, Cabo Verde, aprovou uma resolução pela qual instituiu o 5 de maio como Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, fundado no facto de o português constituir “um vínculo histórico e um património comum resultantes de uma convivência multissecular que deve ser valorizada” entre os povos da comunidade.
As comemorações – que têm sido promovidas e apoiadas em 54 países pelas Embaixadas e Consulados Portugueses e pela Rede do Camões, I.P. (Coordenações de Ensino, Centros de Língua, Cátedras, Leitorados e Centros Culturais Portugueses), por vezes em associação com representantes culturais e/ou diplomáticos dos países da CPLP – passam a ter lugar nos corredores e areópagos da comunidade mundial. E o dia será oficialmente assinalado na sede da UNESCO com apresentações musicais, literatura e exposições (previsivelmente durante 15 dias), ficando a organização a cargo dos países que têm o português como língua oficial.
Esta medida vai também ajudar os esforços dos países lusófonos na promoção da língua, segundo Luís Faro Ramos, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua de Portugal, que assistiu à cerimónia e que disse:
No Instituto Camões já apoiamos a celebração do Dia da Língua Portuguesa, mas este reconhecimento vai ajudar-nos a dar mais força às celebrações e o próximo ano será de comemoração renovada e ainda mais forte porque vai despertar consciências.
Para Sampaio da Nóvoa, este é “um passo” para que a língua portuguesa se torne língua de trabalho na Organização das Nações Unidas, a par das atuais línguas de trabalho desta organização mundial: inglês, francês, chinês, espanhol, árabe e russo. Disse o embaixador:
Temos de ir dando pequenos passos, são passos de aproximação em que nós vamos chamando a atenção para a importância da língua. São movimentos no sentido do reconhecimento do português como língua da cooperação internacional”.
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É um bom trunfo para a língua portuguesa e uma vitória da lusofonia, mas também um desafio aos países da CPLP para que devolvam políticas da língua coerentes e mostrem ao mundo a força das suas culturas tão diversas como ricas. Por outro lado, os cidadãos têm aqui um apelo a que falem e escrevam, em português, comunicação, literatura, ciências, arte, economia, política, história, geografia, filosofia, teologia, etc., sem se refugiarem envergonhada e servilmente numa qualquer língua estrangeira em nome de modas ou falas supremacias. O português, que deixou as suas marcas em praticamente todas as línguas e culturas, é tão válido e capaz como qualquer outra língua e capaz de responder a todos os desafios e incorporar todas as competências inerentes à atividade humana.  
2019.11.25 – Louro de Carvalho    

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