sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Halloween e Pão por Deus, mas em sistema de homenagem e partilha




São duas modalidades (de tradição mista) de assinalar o 31 de outubro e o Dia de Todos os Santos.
O Padre Vincent Lampert, exorcista e pároco na Arquidiocese de Indianápolis (Estados Unidos), declarou que se devem recordar as origens do Halloween e fazer uma celebração católica na Véspera do Dia de Todos os Santos, “em vez de glorificar o mal”. E disse à agência ACN:
Em última instância, não acredito que há algo de ruim em que as crianças se fantasiem, se vistam de vaqueiro ou de Cinderela, pedindo doces nos seus bairros. É uma diversão saudável.”.
Para este sacerdote, o perigo está nas fantasias que deliberadamente glorificam o mal e infundem o medo, ou quando as pessoas pretendem “ter poderes especiais” através da magia e da bruxaria, mesmo que por “brincadeira”. Na verdade, o capítulo 18 do livro do Deuteronómio proíbe a tentativa de consulta aos espíritos dos mortos e aos espíritos que praticam magia, bruxaria ou atividades conexas. Além disso, colocar outras coisas antes da relação com Deus, além de violar os preceitos divinos, contraria os ensinamentos da Igreja Católica. Ora, esse seria o perigo do Halloween, em que de algum modo se perde Deus em tudo isso, retirando a conotação religiosa e pondo-se as pessoas a glorificar o mal.
O sacerdote exorcista disse também que é importante recordar que, embora pareça, o diabo e os espíritos malignos não têm nenhuma autoridade no Halloween. Com efeito, o diabo age através do que as pessoas fazem e não porque ele em si mesmo faça algo.
O Padre Lampert assegurou que uma das melhores coisas que os sacerdotes podem fazer é usar o Halloween como um momento de aprendizagem e explicar às crianças o porquê de certas práticas não serem favoráveis à nossa fé e identidade católicas.
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Halloween, ou Dia das Bruxas
Halloween, ou Dia das Bruxas, é uma celebração popular de culto aos mortos comemorada anualmente no dia 31 de outubro, véspera da Solenidade de Todos os Santos.
Tradicionalmente, as grandes festas eram emolduradas pela vigília celebrada na véspera (ou nas vésperas: há as novenas e tríduos preparatórios), pelo que a festa começava usualmente ao entardecer do dia anterior. Por outro lado, a seguir à Solenidade de Todos os Santos vem a Comemoração dos Fiéis Defuntos ou Dia de Finados. Por isso, surgem à mistura motivações dos santos e dos mortos nestes dias, sendo que o centro da devoção e do culto é o próprio Deus.
O termo Halloween tem origem na expressão inglesa “All Hallow’s Eve” (Véspera de Todos os Santos), pois é comemorado na véspera de 1 de novembro (31 de outubro). E a cultura do Halloween é muito forte em países de língua anglo-saxónica. Com o tempo, a celebração ganhou popularidade e hoje é feita, ainda que em menor escala, em grande parte do mundo.
Esta tradição foi levada pelos irlandeses aos Estados Unidos, onde a data é considerada feriado.
A maioria das tradições de Halloween terá origem nos festivais celtas chamados Samhain, que marcavam a passagem de ano e a chegada do inverno. O início do inverno representava a aproximação entre o mundo e o “Outro Mundo”, onde vivem os mortos.
Os celtas acreditavam que, nesta altura, os mortos visitavam as suas casas e que assombrações surgiam para amaldiçoar os animais e as colheitas. Todos os símbolos do Halloween eram formas utilizadas pelos celtas para afastar esses maus espíritos. Os celtas, para afastarem os espíritos dos mortos que vinham no fim do verão e início dos dias escuros do inverno, faziam a sua visita a este mundo, acendiam fogueiras, lanternas e tochas.
Embora de origem pagã, o Halloween recebeu esse nome depois de ser cristianizado pela Igreja Católica, que passou a defini-lo como véspera do Dia de Todos os Santos.
Entre os principais símbolos, contam-se: as cores laranja e preto, pois o Samhain era comemorado no outono, quando as folhas ficam laranja e os dias mais escuros; a lanterna de abóbora (do inglês Jack o’lantern), que tem origem num conto celta dum rapaz que foi proibido de entrar no céu e no inferno e vagueia eternamente com a sua lanterna em busca de descanso; as máscaras e fantasias, pois os celtas acreditavam que, no dia do Samhaim, máscaras e fantasias ajudavam a enganar os espíritos, que não reconheciam os humanos e continuavam a vaguear pelo mundo sem incomodar; os esqueletos e fantasmas, já que, para os celtas, os mortos assumiam, entre outras formas, a de esqueletos e fantasmas; os morcegos, pois os festivais de Samhaim envolviam o uso de fogueiras, que acabavam por atrair morcegos; as gostosuras e travessuras (do inglês trick or treat), com origem na Grã-Bretanha, mas popularizadas nos EUA nos anos 50 (atividade de crianças fantasiadas a bater de porta em porta perguntando “gostosuras ou travessuras?”; e, se a pessoa não der algum brinde como doces ou dinheiro, as crianças fazem-lhe alguma travessura na casa).
A tradição de entalhar abóboras teve início nos Estados Unidos. Antes, os países de origem celta entalhavam nabos e inseriam velas no interior com o objetivo de afastar os espíritos.
A tradição dos celtas de inserir velas em nabos ocos foi levada para os Estados Unidos, onde as abóboras grandes e macias se tornaram a melhor opção. O costume, que antes se limitava a entalhar rostos nas abóboras, hoje envolve diversos formatos. Por outro lado, o Halloween é marcado por festas à fantasia que seguem a temática sombria de bruxas, zumbis, esqueletos, etc. No entanto, a tradição não é tão pura, as festas costumam envolver qualquer tipo de fantasia.
O Halloween começava com a vigília de três dias do Allhallowtide, o tempo do ano litúrgico da evocação dos mortos, incluindo os santos (hallows), os mártires e todos os fiéis falecidos.
Como se disse, tradição tem origem pagã no antigo festival celta da colheita, o Samhain (de Irlanda, Escócia e Ilha de Man); e cedo esta festividade gaélica foi cristianizada. Não obstante, alguns apoiam a visão de que o Halloween é independente do Samhain e tem raízes cristãs.  
Entre as atividades de Halloween mais comuns, estão festas e fantasia, prática de “doce ou travessura”, decoração da casa, feitura de lanternas de abóbora, fogueiras, jogos de adivinhação, adesão a atrações “assombradas”, contos, histórias assustadoras e visualização de filmes de terror. Em alguns lugares, as vigílias cristãs de Halloween, implicam o frequentar dos cultos das Igrejas e do acender velas nos túmulos dos mortos. Em outros lugares, é uma celebração mais comercial e secular. Alguns cristãos historicamente abstêm-se de carne no Dia das Bruxas.
É de 1745 o primeiro registo do termo Halloween (contração da expressão escocesa All Hallows’ Eve, que significa véspera do Dia de Todos os Santos, data do calendário cristão).
A origem do Halloween faz jus às tradições dos povos que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha entre os anos 600 a.C. e 800 d.C., embora com diferenças em relação às atuais abóboras ou da muito famosa expressão “doces ou travessuras”, exportada pelos EUA, que popularizaram a comemoração. Originalmente, o Halloween não tinha relação com bruxas. Era apenas um festival do calendário celta da Irlanda, o festival de Samhain, celebrado entre 30 de outubro e 2 de novembro e marcava o fim do verão (Samhain significa literalmente “fim do verão”).
A celebração celta tinha como objetivo o culto aos mortos e à deusa YuuByeol (símbolo antigo da perfeição celta). A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos (46 a.C.) uniu a cultura latina com a celta no quadro da romanização, sendo que a cultura celta foi minguando com o tempo. E, em fins do século II, com a evangelização desses territórios, a religião dos Celtas (o druidismo) tinha desaparecido na maioria das comunidades. Pouco se sabe da religião dos druidas, pois não se escreveu sobre ela: tudo era transmitido oralmente de geração para geração. Sabe-se que o forte das festividades do Samhain era entre os dias 5 e 7 de novembro (a meio caminho entre o equinócio de outono e o solstício de inverno, no hemisfério norte), precedido duma série de festejos que durava uma semana e que davam início ao ano novo celta. A “festa dos mortos” era uma das datas mais importantes por celebrar o que para os cristãos seria “o céu e a terra” (conceitos que só chegaram com o cristianismo). Para o celta, o lugar dos mortos era lugar de felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. Presidiam às festas os sacerdotes druidas, que atuavam como “médiuns” entre as pessoas e os seus antepassados. E dizia-se que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo.
Em termos cristãos, consta que, desde o século IV, a Igreja da Síria consagrava um dia para festejar “Todos os Mártires”. Três séculos mais tarde, o Papa Bonifácio IV transformou o Panteão romano (templo dedicado a todos os deuses) em templo cristão e dedicou-o a “Todos os Santos”, ou seja, a todos os que nos precederam na fé. A festa em honra de Todos os Santos (hoje solenidade), era celebrada a 13 de maio, mas o Papa Gregório III transferiu-a para 1 de novembro, dia da dedicação da Capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma. Mais tarde, no ano de 840, o Papa Gregório IV ordenou que a Festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente. Como festa grande, ganhou a sua celebração vespertina ou vigília, que preparava a festa no dia anterior (31 de outubro). Na tradução para o inglês, a vigília era All Hallow’s Eve (Vigília de Todos os Santos), passando depois pelas formas All Hallowed Eve e All Hallow Een até chegar à palavra atual Halloween.
Se analisarmos o modo como o Halloween é celebrado hoje, veremos que pouco tem a ver com as suas origens: só restou uma alusão aos mortos, mas com um caráter completamente distinto do inicial. Além disso, foi sendo pouco a pouco incorporada toda uma série de elementos estranhos tanto à festa de Finados como à de Todos os Santos. Entre os elementos acrescidos, temos, por exemplo, o costume dos “disfarces”, possivelmente nascido na França entre os séculos XIV e XV, tempos em que a Peste Negra e a Peste Bubónica flagelaram a Europa e dizimaram perto da metade da sua população, criando grande temor e preocupação com a morte.
Multiplicaram-se as Missas na festa dos Fiéis Defuntos e nasceram muitas representações artísticas que recordavam às pessoas a sua própria mortalidade. Algumas dessas representações eram conhecidas como danças da morte ou danças macabras. E alguns fiéis, dotados dum espírito mais burlesco, adornavam na véspera da festa de Finados as paredes dos cemitérios com imagens do diabo a puxar uma fila de pessoas para a tumba: papas, reis, damas, cavaleiros, monges, camponeses, leprosos, etc. (a morte não respeita ninguém). E eram feitas representações cénicas, com pessoas disfarçadas de personalidades famosas e personificando a morte.
Na Idade Média, um costume do Dia de Finados era o souling (de “soul”, alma) era as crianças irem pelas portas a pedir um bolo, o “bolo das almas” e, em troca, fazerem uma oração pelos familiares falecidos de quem lhes dava o bolo, tradição que evoluiu para a tradição de pedir um doce sob ameaça de fazer uma travessura (trick or treat, “doce ou travessura”), que teve origem na Inglaterra, no período da perseguição protestante contra os católicos (1500-1700).
Nesse período, os católicos ingleses foram privados dos seus direitos legais e não podiam exercer qualquer cargo público, além de lhes serem infligidas multas, altos impostos e até a prisão. Celebrar a missa era passível da pena capital e foram martirizados centenas de sacerdotes. Produto dessa perseguição foi a tentativa de atentado contra o rei protestante Jorge I. O plano, conhecido como Gunpowder Plot (“Conspiração da pólvora”), para fazer explodir o Parlamento, matando o rei, e dar início a um levantamento dos católicos oprimidos, foi descoberto a 5 de novembro de 1605, quando o católico converso Guy Fawkes foi apanhado a guardar pólvora na sua casa, tendo sido enforcado logo em seguida.
A data converteu-se, em breve, numa grande festa na Inglaterra (que perdura até hoje): muitos protestantes celebravam-na com máscaras e visita às casas dos católicos a exigir cerveja e pastéis, dizendo-lhes: trick or treat (doce ou travessuras). Mais tarde, a comemoração do dia de Guy Fawkes chegou à América levada pelos primeiros colonos, que a transferiram para o dia 31 de outubro, unindo-a ao Halloween, introduzido no país pelos imigrantes irlandeses.
Conclui-se que a festa do Halloween é produto da mescla de muitas tradições, levadas pelos colonos no século XVIII para os EUA e ali integradas de modo peculiar na sua cultura. Muitas delas já foram esquecidas na Europa, onde hoje, por colonização cultural dos Estados Unidos, aparece o Halloween enquanto desaparecem as tradições locais.
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Pão por Deus
Pão por Deus é um peditório ritual feito por ocasião do Dia de Todos os Santos, associado às práticas conexas com as refeições cerimoniais do culto dos mortos em Dia dos Finados. Na Galiza o peditório tem o nome de migalho (migallo); no Tenerife, o de “Pan por Dios” ou “Los Santitos”; e, em Florianópolis, o de Finadinho ou Pão por Deus.
Em Inglaterra pedia-se o “soul cake” (bolo das almas), que terá dado origem à tradição do trick or treat nos Estados Unidos. Na Bretanha equivale ao rito do “bara ann anaon” ou pão dos mortos.
O peditório do Pão por Deus está associado ao antigo costume de oferecer pão, bolos, vinho e outros alimentos aos defuntos. Era costume durante o ano, nos domingos e dias festivos, oferecerem-se por devoção pichéis ou frascos de vinho e certos pães, que se punham numa toalha estendida sobre a sepultura do defunto, e uma vela acesa. Também se colocava pão, vinho e dinheiro no caixão do defunto para a viagem. Os peditórios para as almas realizam-se ao longo do ano, em janeiro, pelos caretos; na quaresma, canta-se às almas santas; e, em novembro, faz-se um peditório pelas almas. Pedir as janeiras, as maias ou os reis são peditórios que, tal como os dos caretos, se inserem no ciclo dos peditórios rituais que têm lugar ao longo do ano como o do “andador de almas”, que pedia esmolas pelas almas. 
O cânone LXIX do II Concílio de Braga (do ano 572) proibia que se levassem alimentos à tumba. 
Nos Açores, acreditava-se que uma alma podia azedar o pão. Para tal não ocorrer, o pão da primeira fornada, “o pão das almas”, era posto numa cadeira na rua à porta de casa, coberto por um pano, para que a primeira pessoa que passasse o levasse para si ou o desse a um necessitado.
Em Portugal no dia 1 de novembro as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o Pão por Deus (ou o bolinho) de porta em porta. O dia de Pão por Deus, associado ao Dia dos Fiéis Defuntos (celebrado no dia seguinte, mas cuja celebração começava na tarde do dia 1), era o dia em que se repartia muito pão cozido pelos pobres – um dia de partilha humana e cristã. Registado no século XV como o dia em que também se pagava um determinado foro: Pagardes o dito foro em cada um ano em dia de Pão por Deus. Assim, o dia primeiro ou da Festa de Todos os Santos era denominado nos documentos jurídicos do século XV Dia de Pão por Deus.
É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o santoro, uma espécie de pão bento, um bolo comprido, que se dá em Dia de Finados ou em Dia de Todos os Santos e que é do feitio de uma tíbia. Já pedir o “santorinho”, que começava nos últimos dias de outubro, era o nome que se dava à tradição em que crianças, sozinhas, ou em grupo, de saco na mão iam de porta em porta para ganhar doces. Em Trás-os-Montes, pede-se o “pão das almas”.
As crianças quando pedem o Pão por Deus, recitam versos e recebem como oferenda pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços amêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano, de retalhos ou de borlas. Em algumas povoações das zonas Centro e Estremadura, chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’ ou ‘Dia do Bolinho’. Estes bolinhos típicos são especialmente confecionados para este dia, à base de farinha e erva-doce com mel (noutros locais leva batata doce e abóbora) e frutos secos como passas e nozes.
Há versos para pedir o Pão por Deus: assim se diz: Ó tia, dá Pão-por-Deus?/ Se o não tem/ Dê-lho Deus”. Ou então: Pão por Deus, Fiel de Deus, Bolinho no saco, Andai com Deus”.
Como não é muito aceitável rejeitar o bolinho às crianças, as desculpas eram criativas: Olha foram-me os ratos ao pote e não me deixaram farelo nem farelote.
A quem recusa o pão por Deus roga-se uma praga em verso ou deixa-se uma ameaça enquanto se foge em grupo e entre risos: Se não, leva com a caneca no focinho! O termo caneca pode ser substituído por tranca ou cavaca (um pedaço de lenha).
Na primeira metade do século XX as crianças quando iam pedir o pão por Deus, acompanhadas por um adulto, levavam uma coca iluminada: Dae pão-por-Deus/ Que vos deu Deus/ P'ra repartir/ C'os fieis de Deus/ Pelos defuntos/ De vo'meces... E, se o peditório é infrutuoso: Tranca me dáes/ fujo p'rá rua/ E seja tudo/ P'l'amor de Deus.
(versos dos Açores)
Em Coimbra, o peditório menciona ‘Bolinhos, bolinhos’; e o grupo traz uma abóbora esvaziada com dois buracos a figurarem os olhos duma personagem e uma vela acesa dentro. 
As crianças e os adultos que participam nos peditórios representam as almas dos mortos que “neste dia erram pelo mundo”, quando pedem pão para partilhar com as almas. O Pão por Deus é uma oferenda que se faz às próprias almas. 
Em Barqueiros (Mesão Frio), à meia-noite de 1 para 2 de Novembro, arranjava-se uma mesa com castanhas para os parentes já falecidos lá irem comer durante a noite “não devendo depois ninguém tocar nessa comida, porque ela ficava babada dos mortos”.
Em Vila Nova de Monsarros (Anadia), as crianças faziam os “santórios”, recebiam fruta e bolos e cada criança transportava uma abóbora oca com figura de cara e com uma vela dentro.
Em Roriz (Santo Tirso), não se chama Pão por Deus, nem bolinhos, nem santoros a comezaina que se dá aos rapazes no dia de Todos os Santos ou de Finados. O que os rapazes vão pedir pelas portas, segundo lá dizem, é os fiéis de Deus.
Nos Açores, dão-se às crianças, durante o peditório, “caspiadas”, ou seja, bolos com o formato do topo de uma caveira, claramente um manjar ritual do culto dos mortos.
Com o passar do tempo, o Pão por Deus sofreu algumas alterações, os meninos que batem de porta em porta podem receber dinheiro, rebuçados ou chocolates. Esta atividade é também realizada nos arredores de Lisboa. Antigamente relembrava a algumas pessoas o que sucedeu a 1 de Novembro de 1755, dia do terramoto de Lisboa, em que as pessoas que viram todos os seus bens serem destruídos na catástrofe, tiveram que pedir Pão por Deus nas localidades que não tinham sofrido danos, aproveitando os resultados da experiência instalada há muito tempo.
O Pão por Deus é o pão, ou oferenda, que se dá aos mortos, o molete ou samagaio (sabatina, raiva da criança) como o pão ou oferendas que se dão quando uma criança nasce.
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As oferendas aos mortos nestas alturas do ano são comuns em diversas culturas pagãs, incluindo as dos celtas que habitaram o que é hoje Portugal. Tendo em conta que muitas teses apontam a origem do Halloween em festividades célticas é interessante ver as semelhanças e desenvolvimento de ambos. Também sabemos que muitas festas pagãs foram aos poucos tomando roupagens cristãs e fundiram-se pouco a pouco.
Concluindo
A Igreja Católica desde cedo promove o culto dos mortos e acolhe a ideia da tradição de reservar lugar à mesa para os antepassados, mas não aprova o gesto de deixar comida para os mesmos, pois eles não vagueiam pelo mundo. Antes recomenda o aproveitamento da oportunidade para a partilha de bens. Começou então o costume de deixar o primeiro pão de uma fornada nesta altura à porta da casa tapado por um pano. Seria para honrar os mortos, mas a intenção era sobretudo a de quem mais pobre por ali passasse tomasse a parte física para si. Assim, este pão para os fiéis defuntos tinha a vertente de partilha com quem necessitava.
A progressiva implantação do Halloween em Portugal constitui um exemplo de ameaça ou risco à continuidade do Pão por Deus como manifestação do Património Imaterial português. Com efeito, substitui os versos tradicionais, manifestações da tradição oral da comunidade, por expressões orais originárias do inglês (“Doçura ou travessura!” / “Trick or treat!”); introduz neste peditório cerimonial infantil o uso de máscaras e fatos muito semelhantes aos usados no Carnaval, mas que tradicionalmente eram totalmente ausentes do Pão por Deus; e, como bem expressam as alterações do nome da tradição, da forma e conteúdo da tradição oral, e também o tipo de máscaras que passaram a ser utilizadas pelas crianças, a introdução do Halloween eliminou por completo as conotações religiosas presentes na antiga tradição do Pão por Deus.
Tudo o que seja beliscar a memória coletiva e patrimonial é de lamentar, mas tudo o que seja homenagear e partilhar (material e culturalmente) é bem-vindo e é de fomentar.
Importa revalorizar o sagrado e integrar a vertente lúdica no que de mais genuíno e transcendente oferece a tradição.
2019.10.31 – Louro de Carvalho

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