domingo, 10 de novembro de 2019

Ação de Graças pela canonização de “O Bracarense”


O Bracarense” é a designação por que era conhecido Dom Frei Bartolomeu dos Mártires pelos restantes padres conciliares de Trento mercê do ímpeto com que propôs as grandes reformas da Igreja Católica do alto (a começar pelos cardeais) à base, passando pela formação e morigeração da vida do clero e obviamente chegando a todos os fiéis.
O anúncio da sua canonização aconteceu a 6 de julho deste ano. No texto publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé refere-se que Francisco, no dia 5, “aprovou os votos favoráveis” dos membros da Congregação para as Causas dos Santos e estendeu o culto litúrgico em honra do português arcebispo bracarense a toda a Igreja, “inscrevendo-o no livro dos santos” por “canonização equipolente” (dispensando o milagre requerido após a beatificação).
Então a CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), que saudou o anúncio desta canonização do “grande modelo para a renovação da Igreja”, recordava a nota pastoral de 1 de maio de 2014, por ocasião dos 500 anos do nascimento (1514-1590) do arcebispo da região que compreendia as atuais dioceses de Bragança-Miranda, Braga, Viana do Castelo e Vila Real, onde se realçava que Bartolomeu dos Mártires, “tendo vivido em tempos de uma enorme crise epocal, dentro e fora da Igreja, pode e deve ser visto como testemunha” para se acreditar que “a evangelização e as reformas na Igreja não só são necessárias como possíveis”.
E o Presidente da República também se congratulou com a canonização de Frei Bartolomeu dos e afirmou que é um “exemplo” para os crentes e um “orgulho” para “todos os portugueses”.
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Hoje, dia 10 de novembro, celebrou-se na Sé Primacial de Braga uma Solene Concelebração da Missa em ação de graças pela canonização de São Bartolomeu (não foi o ato de canonização, que é reservado ao Papa e, no caso da equipolência, não há lugar à cerimonia solene da canonização, mas à inscrição pelo Papa no catalogo dos Santos), sob a presidência do Cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as causas dos Santos e onde esteve o Presidente da República, como tinha prometido.
Entretanto, a diocese de Viana do Castelo realizou, no sábado à noite, uma vigília de oração de ação de graças na Igreja de São Domingos, sob a presidência do Bispo diocesano Dom Anacleto Oliveira, em cuja homilia disse que o novo santo português “entranhou as enfermidades do seu povo”, sendo “um exemplo para todos os tempos”. Com efeito, é recordado como um modelo de dedicação à Igreja Católica e aos mais necessitados; e, a nível internacional, afirmou-se como uma das vozes de referência no Concílio de Trento, num momento em que a Igreja Católica estava confrontada com o movimento da Reforma.
Nesta vigília, esteve presente Dom Antonino Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco, natural do Alto Minho, que recebeu a sua ordenação episcopal na Igreja de São Domingos e que declarou à Ecclesia que São Bartolomeu dos Mártires é “um exemplo para todos”, acrescentando que a sua obra “causa fascínio”. E também esteve presente o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, José Maria Costa, salientando que não são apenas as dioceses do norte “que estão em festa, mas toda a Igreja em Portugal”.
Ao longo da vigília foram lidos trechos da obra “Estímulo de Pastores”, da autoria de São Bartolomeu dos Mártires; e, no final, foram veneradas as relíquias do novo santo português.
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O Papa assinalou hoje, à recitação do Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, a canonização de frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo português do século XVI, que apresentou como “grande evangelizador e pastor”.
Hoje, em Braga, Portugal, celebra-se a Missa de ação de graças pela canonização equipolente de São Bartolomeu Fernandes dos Mártires”.
E acrescentou, pedindo uma salva de palmas de todos os presentes:
 O novo santo foi um grande evangelizador e pastor do seu povo”.
Resta que Francisco aceda a outro dos pedidos que, segundo Dom Anacleto Oliveira, lhe fizeram, que Bartolomeu, além de santo pastor, seja declarado doutor da Igreja.
Também o programa 70X7 deste domingo (17,45 horas, RTP2) foi dedicado ao novo santo.
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Na Missa de ação de graças, foi lido o decreto de canonização, que mereceu uma forte salva de palmas do clero e povo, quer no fim da súmula em latim, quer no fim da sua tradução em português. E é de registar a presença de vários bispos de Portugal e da Galiza, parecendo confirmar as palavras do Presidente da Câmara de Viana do Castelo acima referidas, tal como as de Frei Bento Domingues, que aponta, na sua crónica dominical de hoje no Público
Não é só a arquidiocese de Braga que tem motivos para viver a interpelação desta canonização responsabilizante. É toda a Igreja portuguesa de norte a sul.”.
Talvez se possa estender este quesito de Frei Bento também à Espanha, pois, Bartolomeu nasceu em Lisboa (13 de maio de 1514), em cuja Igreja dos Mártires recebeu o Batismo e onde entrou para o antigo Convento de São Domingos, onde ensinou Teologia, chegou a ser prior e onde conviveu (no novo Convento) com o famoso Frei Luís Granada; esteve no Convento de Santa Maria da Vitória na Batalha, onde ensinou Filosofia e Teologia; esteve em Salamanca, onde foi coroado o seu magistério teológico; e, em Évora, foi precetor de Dom António Prior do Crato.      
Na homilia da Missa, o Cardeal Becciu aplicou a São Bartolomeu o propósito do pastoreio de proximidade que Deus promete fazer em relação às suas ovelhas, como diz o livro de Ezequiel:
Eu apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar (…) Procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei a que se tinha tresmalhado; cuidarei a que está ferida e tratarei da que está doente. Vigiarei sobre a que está gorda e forte. A todas apascentarei com justiça.” (Ez 34,15-16).
Por outro lado, disse que no Santo fulgiu como preceito o que Jesus diz dos apóstolos:
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.” (Mt 5,14-16).  
Salientou que se lhe reconhece “a importância da cultura teológica e do seu ensinamento” a par do “empenho pela reforma da Igreja”. Assim, foi “um bispo totalmente dedicado às pessoas a ele confiadas”, no ciclo do pastor que conduz as suas ovelhas e do doutor que as ensina. Destacou também a sua força da assídua oração e contemplação, a vida e o estilo de pobreza pessoal, a visita pastoral, apesar das intempéries e agruras dos caminhos a todo o território que lhe foi confiado na tríplice postura: “compreender, admoestar e corrigir”. Enfim, seguiu o ditame da Teologia tomista: “contemplar e comunicar aos outros as maravilhas contempladas”.    
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De seu nome Bartolomeu Fernandes, tendo assumido o apelido dos Mártires com a profissão religiosa em homenagem ao orago da igreja onde foi batizado, que se afirmou como uma das vozes de referência no Concílio de Trento (1543 – 1563), foi declarado venerável a 23 de março de 1845, por Gregório XVI, e beatificado a 4 de novembro de 2001, por São João Paulo II. Foi Arcebispo de Braga numa ocasião em que a arquidiocese incluía os territórios das dioceses de Braga, Bragança, Vila Real e Viana do Castelo. Destacou-se pela sua missão pastoral à frente das comunidades católicas do Minho e de Trás-os-Montes, com especial relevo para o seu gosto pelas visitas pastorais às populações, a que dedicava grande parte do seu tempo. Ao longo do seu percurso, ficou conhecido pela sua preocupação com a estruturação da Igreja Católica local, do clero às comunidades católicas (tudo na Igreja devia ser posto ao serviço dos pobres), e pelo seu empenho nas causas sociais, de modo particular junto dos mais pobres e doentes, Depois de resignar em 1582, por motivos de idade, Frei Bartolomeu dos Mártires viria a falecer em 1590, no Convento de Santa Cruz, em Viana do Castelo.
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Luís Filipe Santos diz (vd Ecclesia, de hoje) que se trata de “vulto cimeiro do pensamento e da fé no século de ouro do humanismo” e a quem valores dos mais significativos das letras portuguesas consideravam ‘astralmente luminosa’, num tempo em que reinava em Portugal o rei Dom Manuel e presidia à Igreja de Deus o Papa Leão X.
Segundo as descrições da pessoa e obra pelo escritor seiscentista Frei Luís de Sousa, este ilustre português era um homem de estatura acima da média, com grande zelo apostólico, hábitos excessivamente frugais, rigorosos e disciplinados; e, dotado duma inteligência perspicaz e duma vontade generosa e forte, nunca deixou de ser uma pessoa humilde e simples. Por isso, nunca lhe passou pela mente a ideia de ocupar cargos a que estivessem ligadas quaisquer honrarias. O seu desejo era servir a Igreja como simples frade conventual. Nunca imaginou ter de trocar o hábito de discípulo de São Domingos por vestes episcopais.
Porém, como estava vaga a arquidiocese de Braga, por falecimento de Dom Baltasar Limpo, a rainha Dona Catarina convidou-o a aceitar o arcebispado de Braga, o que porfiadamente recusou. Foi necessário que o seu provincial, frei Luís de Granada, lhe impusesse a obediência para este cargo hierárquico. Então, vendo na vontade do superior a vontade de Deus, obedeceu fiel e generosamente. Assim, Paulo IV nomeou-o Arcebispo de Braga, no consistório de 27 de janeiro de 1559, e concedeu-lhe o pálio de arcebispo a 3 de junho do mesmo ano.
Diz Luís Filipe Santos que a vida de São Bartolomeu do Mártires, com todos os pormenores das funções que exerceu ao longo da sua vida, é uma verdadeira epopeia de fé e de amor a Deus, manifestado no amor ao próximo, sobretudo aos mais carenciados. A sua ação no Concílio de Trento foi tão empolgante que causou a admiração de todos os padres conciliares e do Papa. Foram célebres as suas intervenções, a que se devem muitos dos decretos da reforma conciliar.
Um homem que não se ficava apenas pela teoria… Pastor desprendido de todas as vaidades, honras e prazeres mundanos, tendo apenas em conta o bem do rebanho que lhe estava confiado, começou a viver em ambiente de extraordinária austeridade. À testa duma arquidiocese cujo território se estendia desde o Alto Minho até ao nordeste transmontano não se sentia em paz nas só paredes do Paço. Em todas as terras que visitava, sempre se deparava com a ignorância religiosa do povo e dos pastores. Perante esta paisagem tão sombria de conhecimentos resolveu escrever alguns livros, que passados 500 anos ainda estão e são atuais – obras literárias em linguagem simples e acessível que se revestem de permanente frescura e novidade.
São Carlos Borromeu, que a seu lado participou no Concílio de Trento, considerou-o “modelo de bispo e espelho de virtudes cristãs”. Fundou o seminário, o primeiro de toda a cristandade, para a formação dos presbíteros, uma novidade que São João Paulo II fez questão de mencionar na celebração da sua beatificação.
Um homem audacioso e com fervor apostólico que nunca deixou de ser dominicano. Na etapa final da sua vida, retirou-se para o Convento de Santa Cruz, em Viana do Castelo. Naquele local, hoje Igreja de São Domingos, deu expansão à sua ardente caridade para com os pobres, que já o consideravam santo. Aquela Igreja guarda memórias e relíquias daquele homem que nunca se cansou de evangelizar.
Foi referido que para merecer a pensão que lhe vinha de Roma continuava a colaborar pastoralmente como simples dominicano na pregação e na catequese.
Por fim Luís Filipe Santos, considerando que São Bartolomeu dos Mártires já está inscrito no álbum dos santos e “foi um homem sapientíssimo a quem a aspereza das regiões minhotas e transmontanas, nem rigores alguns, frio ou calor ou outra qualquer intempérie, puderam deter-lhe o passo, para cumprir, todos os deveres de pastor”, interroga-se: Será que algum dia será declarado doutor da Igreja?
É justo que o seja, digo eu.
2019.11.10 – Louro de Carvalho

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