Com capacidade para oito mil
lugares, o recinto reabriu envolto em polémica, no passado dia 28 de outubro,
sem a presença da atleta que dava o nome ao Pavilhão, sem os vereadores do PS,
do PSD e da CDU, bem como do Presidente da República, embora deste não se saiba
se a ausência sucedeu por discordância da designação ou por motivos de saúde,
até porque se sujeitou hoje, dia 30, a um cateterismo e desobstrução das
coronárias,
Em causa está a introdução da
designação “Super Bock Arena” antes da designação anterior “Rosa Mota”. Esta designação “Super Bock Arena”,
no centro do conflito entre a atleta e a Câmara Municipal do Porto a quem cabia
autorizar ou não a alteração do nome do pavilhão, foi proposta em 2018, como
suplemento. E, segundo a atleta, a nova designação resultou de uma decisão
tomada à revelia do acordado com a Câmara Municipal do Porto.
O consórcio responsável pela reabilitação do pavilhão Rosa
Mota no Porto assegurava em 2018 que não se tratava de uma alteração da
designação formal, que se manteria Pavilhão Rosa Mota, mas apenas da “adoção
suplementar do branding” prevista no
caderno de encargos.
No anexo que suportava a proposta apresentada e aprovada com
os votos contra do PS, PSD e CDU, na reunião do executivo de novembro de 2018,
o consórcio Círculo de Cristal, que venceu o concurso público internacional,
solicitava “autorização para acrescentar”, no uso corrente do Pavilhão Rosa
Mota e durante a vigência do contrato, a marca comercial “Super Bock Arena” à
designação, como previsto no respetivo caderno de encargos. E garantia:
“Não se trata, por isso, de um pedido de
alteração da toponímia ou designação formal do equipamento, que se manterá ‘Pavilhão
Rosa Mota’, como é vontade da Câmara Municipal do Porto e do concessionário,
mas apenas a adoção suplementar de branding,
neste caso de uma empresa com fortes ligações à cidade e à região”.
Esta possibilidade de alteração da designação estava prevista
no caderno de encargos e no contrato de reabilitação do equipamento, cabendo
sempre ao município aprovação ou não do naming,
como demonstra a proposta de autorização, onde o município refere que houve um
primeiro pedido efetuado pelo concessionário, que o presidente Rui Moreira não
aceitou.
No documento, sustenta-se que esta proposta “não altera a
designação formal ou corrente do equipamento, traduzindo-se apenas na adoção
suplementar de branding”,
salvaguardando assim “a ligação de um dos mais importantes e emblemáticos
equipamentos da cidade a uma das maiores atletas da história do desporto
português, que nasceu e cresceu na cidade do Porto”.
Todavia,
na reunião do executivo do dia 28, o Presidente da Câmara Municipal, o
independente Rui Moreira, em resposta aos vereadores que defendiam que a
autarquia devia exigir o cumprimento do que foi aprovado, disse que o “incómodo” existente com a nova denominação é com
o logótipo, sublinhando que autarquia não tem meios, nem recursos para se opor.
Também disse que a
atleta manteve reuniões com a Super Bock, as quais a autarquia foi alheia, uma
vez que o contrato que existe é com o concessionário. E sublinhou que a proposta do nome fazia parte do
caderno de encargos, pelo que era legítimo ao concessionário propor a sua
alteração, mas lembrou que a primeira designação proposta foi recusada porque
fazia desaparecer o nome “Pavilhão Rosa Mota”.
Também o
Bloco de Esquerda disse estar contra a alteração do nome do Pavilhão Rosa
Mota, tendo desafiado a Câmara do Porto a promover uma discussão alargada para
o regresso daquele equipamento à esfera pública e municipal. Assim, em
comunicado, a Comissão Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda – Porto diz
querer “reverter de imediato esta
apropriação indevida, impedindo a alteração do nome daquele que é e será, para
o Porto, o Pavilhão Rosa Mota” ao mesmo tempo que pretende uma “discussão alargada na cidade que permita a
renegociação do contrato e seu regresso à esfera pública e municipal”.
Lembrando
ter estado “contra a entrega do Palácio de Cristal a entidades privadas pela
mão de Rui Rio, em 2009, a par do movimento que na altura se gerou no Porto” e
que em 2014 “denunciaram na Assembleia Municipal o modelo de reabilitação deste
equipamento municipal essencial à cidade, votando contra a proposta de entrega
a privados apresentada por Rui Moreira”, o BE aponta para as contas do
município para justificar a sua posição.
Na proposta, o município afirmava que o modelo encontrado
para a reabilitação do Pavilhão Rosa Mota “é favorável ao interesse público”,
representando, além do mais, uma vantagem financeira para a Câmara que “receberá
– além de direitos na utilização do equipamento – um valor de quatro milhões de
euros [por ano] ao longo de 20 anos”.
Porém, na proposta não consta o valor pelo qual o
concessionário cedeu a exploração do naming
ao Grupo Super Bock e sobre o qual a autarquia não recebe qualquer percentagem.
O Grupo Super Bock também não o esclareceu. E o arquiteto José Carlos Loureiro,
autor do projeto do edifício inaugurado em 1952 e então chamado “Pavilhão dos
Desportos”, escusou-se a comentar a polémica, por considerar que “não houve
qualquer tipo de consideração” pela sua pessoa, enquanto autor.
Entretanto, a nova designação do Pavilhão foi já adotada pela
aplicação de navegação ‘Google Maps’, onde surge com a designação de “Super
Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota”.
Não foi por acaso ou inocentemente que, a 8 de outubro, o
Presidente da República afirmava, num intervalo na audição dos partidos, para
inaugurar o programa desportistas no Palácio de Belém: “a Rosa Mota é mais importante do que todos os governos ou presidentes
de Portugal”.
A não comparência da atleta e dos vereadores do PS, PSD e CDU
na cerimónia de inauguração tem a ver com o facto de não se conformarem com a
“menorização” do nome da campeã olímpica no frontispício.
Não obstante, o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui
Moreira, na cerimónia passou praticamente ao lado da polémica, enfatizando que
antes de haver um Porto conhecido pelo desporto e pela cultura, “já o era
devido ao Vinho do Porto”.
Embora se admita que a Câmara Municipal não tem força para
impor o alegado cumprimento do acordado – habitualmente quem paga manda – e
considerando que é melhor a recuperação do Pavilhão com a designação atual do
que mantê-lo com a designação anterior, mas totalmente degradado e quase
inutilizável, é de vincar que a cidade do Porto está umbilicalmente ligada ao vinho
(como está ligada às
tripas), mas não tem de
estar totalmente aos pés do vinho. No caso vertente, o imóvel está ligado ao
desporto, tanto assim que a designação inicial era “Pavilhão dos Desportos”. E
a designação de “Pavilhão Rosa Mota” resulta da prestação olímpica e de outras
da atleta portuense, não valendo também perguntar – como alguns fazem – o que
ela fez ou não pela cidade, pois, sem cair no exagero de Marcelo Rebelo de
Sousa, há que dizer que a atleta honra o nome de Portugal e da cidade do Porto naquilo
que ela melhor sabe fazer e que ajuda a projetar o país para o mundo da fama.
Terra que não saiba reconhecer os seus ilustres – coevos ou antepassados – tem
um futuro duvidoso.
***
A propósito da polémica em volta da
atleta Rosa Mota, que ficou indignada, por conta de o seu nome ficar associado
ao do patrocinador das obras do pavilhão (a
Super Bock), Rui Moreira, escreveu na manhã do
dia 29, na sua página pessoal do Facebook, que “o tempo, nestas coisas, é o
melhor conselheiro”. Num texto em que o autarca se congratula com o facto
de o pavilhão Rosa Mota já estar “de novo ao serviço de uma cidade que não
tinha um espaço multiusos”, Rui Moreira reitera que, “ao contrário do que foi
escrito e dito, a toponímia não mudou” e frisou:
“Respeitámos o nome da minha amiga Rosa Mota
e ainda fizemos algo que – desde que em 1991 aceitou batizar o então ‘Pavilhão
dos Desportos’ – nunca tinha acontecido. O seu nome passou a estar agora
inscrito na fachada e pela primeira vez.”.
E, quanto ao mau estar de Rosa Mota – por ter o seu nome
associado a uma bebida alcoólica – Rui Moreira foi perentório:
“Não tenham problemas com ‘bebidas
alcoólicas’. Quando o Porto era uma cidade quase desconhecida, foi o Vinho do
Porto que a promoveu.”.
O autarca, no Facebook, repetiu a ideia divulgada no
esclarecimento no dia 28:
“Não acredito que o nome da atleta fosse
mais respeitado com um pavilhão em ruína, sem uso e sem o seu nome lá escrito,
do que agora que empresas portuguesas e do Porto nele decidiram investir muitos
milhões e modernizar.”.
E concluiu:
“Mas o tempo, nestas coisas, é o melhor
conselheiro”.
***
Por seu turno, Rosa Mota prepara-se para maratona
em defesa do nome do “seu” pavilhão. Sem grandes comentários à polémica por causa do novo nome daquele que é
conhecido por pavilhão Rosa Mota, o ex-treinador e companheiro da atleta diz
estar a preparar-se para “uma batalha que vai durar durante vários anos” pela defesa do nome do “Pavilhão Rosa Mota”, que foi
inaugurado sob a designação de “Super Bock Arena – Rosa Mota”, uma designação
que fora acordada como suplementar.
“O desabafo que faço é que estou a
preparar-me para uma batalha que vai durar vários anos”, afirmou em
declarações à Lusa, José Pedroso, que
se escusou a tecer qualquer outra declaração.
Em carta
dirigida à Câmara Municipal do Porto, conhecida no dia 28, Rosa Mota diz
sentir-se enganada aduzindo que o seu nome foi subalternizado para
destacar uma marca de bebidas alcoólicas. Com efeito, nessa carta, a
campeã olímpica contou que, em 2018, foi chamada à Câmara para se reunir com
Rui Moreira e que no encontro o edil garantiu ser o seu nome intocável.
“Sabendo do meu constrangimento em que o meu nome esteja ligado a uma bebida
alcoólica e até da legalidade discutível desta situação”, Rui Moreira terá
respondido: “Mas se a Rosa pudesse
aceitar a bebida alcoólica a cidade beneficiaria muito”. Em reunião
posterior com a vereadora Catarina Araújo, Rosa Mota concordou “com a
designação Pavilhão Rosa Mota/Super Bock
Arena, rejeitando a proposta Super
Bock Arena/Pavilhão Rosa Mota”. E esclareceu ainda: “Foi em função do primeiro logótipo que dei a minha anuência à proposta
que a senhora vereadora levou à reunião camarária de 27 de novembro”.
***
Do meu ponto
de vista, Rui Moreira não tem razão em enfatizar, no caso do Pavilhão, a
ligação da Cidade ao vinho para justificar tudo, pois também há a ligação ao
desporto e é válido também para o Porto o aforismo “mens sana e corpore sano”. E não tem razão em dizer que não houve
mudança toponímica, porque ela existe e é inegável. Não se trata aqui da
propriedade comutativa da adição ou da multiplicação segundo a qual a ordem das
parcelas ou dos fatores, respetivamente, é arbitrária para o resultado. Porém,
tem razão ao afirmar que, agora o nome da atleta consta da fachada e do
logótipo, o que antes não acontecia, e que é melhor o Pavilhão estar recuperado
e utilizável do que manter-se com a designação, mas degradado. É pena que o
concessionário e o grupo interessado não tenham mantido a designação como fora
acordado. Havia tanta forma de fazer marketing e promoção em torno do “Pavilhão
Rosa Mota” e dos seus eventos e atividades…
Por outro
lado, pergunto-me: Valerá a pena a atleta
bater-se por uma insignificância destas? Será isso que a fará feliz e não a consciência de que fez carreira
esforçada e brilhante com o nome de Portugal e com merecido reconhecimento e
aplauso? E a Câmara e os locatários não
deveriam respeitar as decisões históricas ou o dinheiro pode impor os seus caprichos?
2019.10.30 –
Louro de Carvalho
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