Ocorreram duas manifestações opostas contra violência em Valença.
Um cordão humano de repúdio a
agressões a profissionais de educação, convocado
pela comunidade escolar, com o apoio da Câmara Municipal e do SPN (Sindicato de Professores do Norte), e uma manifestação da comunidade cigana (uma contramanifestação) decorreram, na manha do dia 22, em simultâneo, junto à Escola Básica e Secundária de Valença.
A
manifestação da comunidade escolar surge após a agressão do pai duma aluna a dois
professores e dois assistentes operacionais (auxiliares de ação educativa) na tarde do passado dia 17.
O clima à
porta da escola foi de constante tensão.
Os
manifestantes da comunidade escolar afirmam que “esta é uma manifestação contra
a violência e não uma manifestação contra a comunidade de etnia cigana”.
Ameaças
frequentes, agressões e furtos são alguns dos problemas apontados pela
comunidade escolar. Já do outro lado, a comunidade de etnia cigana fala em
racismo.
O SPN
considera “intolerável a violência de que os profissionais da educação são alvo
no exercício da sua atividade e reafirma que urge tomar medidas que garantam a
imprescindível segurança” nas escolas.
Como se
disse, o episódio que motivou a manifestação da comum idade escolar ocorreu na
tarde do dia 17 e deu origem a queixas na GNR de 4 agredidos. Do lado do pai, a
comunidade defende que a filha deste foi agredida primeiro por uma funcionária,
e do outro a versão é contrária. Os protestos decorreram sob vigilância da GNR,
que teve de intervir várias vezes porque os ânimos se exaltaram. As
manifestações desmobilizaram ao fim de cerca de uma hora.
***
No dia 21, um
aluno do 8.º ano da Escola Secundária Rainha Dona Leonor, em Alvalade, Lisboa,
terá sido agredido por um professor na sala de aula. Segundo o relato da APEE/Rainha
(Associação
de Pais e Encarregados de Educação) da escola,
um professor de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), contratado para um horário de 6 horas e cujo
primeiro dia de aulas na escola ocorreu naquele dia, “agrediu física e
verbalmente um aluno no decorrer de uma aula, com enorme violência, de acordo
com o testemunho da vítima e dos seus colegas”.
Foi detido pela
PSP para ser presente a tribunal no dia 22, indiciado pelos crimes de
ofensa à integridade física e maus tratos a menor. O ME (Ministério
da Educação) informou
que lhe foi instaurado um processo disciplinar, tendo sido suspenso de imediato
do exercício de funções. Refere o comunicado:
“Foi instaurado um processo disciplinar a este
professor contratado, que foi de imediato suspenso do exercício de funções, em
todos os estabelecimentos de ensino onde lecionava”.
E o ME afirma que
“já disponibilizou todo o apoio necessário a esta comunidade educativa” e que o
“caso está entregue às autoridades”.
Por seu
turno, a APEE/Rainha afirma que a PSP foi chamada a intervir e tomou conta da
ocorrência no local. Os agentes ouviram o aluno alvo das agressões e,
posteriormente, três colegas como testemunhas. Uma segunda unidade de polícia
foi à escola para registar as lesões do aluno. O docente foi identificado
pela diretora do agrupamento e terá sido ouvido pela PSP. O aluno foi
acompanhado pela mãe ao hospital, encontrando-se livre de perigo. Por outro lado,
a APEE/Rainha afirma que, confrontada com as notícias do episódio de agressão,
reuniu com a diretora do agrupamento para esclarecimento da situação,
sublinhando que repudia a atuação do professor e que não existe “nenhum
argumento que justifique o uso de violência física e verbal por parte de um
docente em sala de aula”. E apela ao afastamento do professor da escola
caso “os factos de confirmem” e afirma que irá continuar a acompanhar a
situação, referindo:
“Numa escola onde a violência tem estado
ausente, é com grande preocupação que a associação de pais vê um episódio
violento e inadmissível acontecer dentro de uma sala de aula. Ao aluno vítima
da agressão e à família, a APEE/Rainha manifesta a sua solidariedade”.
Se a direção
da escola afirmou não prestar qualquer declaração sobre o sucedido, a APEE diz
que o SPO (Serviço de Psicologia e Orientação) da escola
está a acompanhar o aluno e a turma.
O n.º 1
do art.º 117.º do ECD (Estatuto da Carreia Docente) estabelece:
“A aplicação de pena disciplinar de
suspensão a docentes não pertencentes aos quadros determina a não renovação do
contrato, podendo implicar a imediata cessação do contrato se o período de afastamento
da função docente for igual ou superior ao período durante o qual, no âmbito
desse contrato, prestou funções”.
E o n.º 2 do
mesmo artigo esclarece:
“A aplicação de penas disciplinares
expulsivas a docentes não pertencentes aos quadros determina a
incompatibilidade para o exercício de funções docentes nos estabelecimentos de
educação ou de ensino públicos”.
Foi dito que
o professor fora notificado para comparecer no dia 22, no Campus de Justiça
para ser presente a um juiz, mas que o processo aberto pelo MP (Ministério
Público) “baixou a inquérito”, por decisão
do DIAP (Departamento
de Investigação e Ação Penal) respetivo,
segundo declarações de fonte da PSP à Lusa,
o que desobrigou o docente de comparecer em Tribunal.
Porém, fonte
do MP desmentiu a ausência do professor, afirmando que foi ouvido em Tribunal,
na manhã do dia 22 e que a magistrada decidiu que o processo “carecia do
aprofundamento de diligências de investigação e que, como tal, não deveria ser
julgado em processo sumário”, mas remetido ao DIAP para prosseguir como
inquérito. Assim, o arguido ficou sujeito à medida de coação de TIR (termo de
identidade e residência).
***
Uma
professora, de 32 anos, da Escola Básica e Secundária Amélia Rey Colaço, em
Linda-a-Velha, na manhã de hoje, dia 23, agredida por um aluno de 14 anos com
transtornos neurológicos. O alerta à Polícia de Segurança Pública foi dado por
volta das 9 horas.
A professora
foi transportada para o Hospital de São Francisco Xavier com ferimentos
ligeiros. Ainda não foram divulgadas mais informações em relação ao aluno.
***
Um aluno de
11 anos terá agredido uma professora e uma funcionária causando ferimentos
ligeiros. As vítimas foram levadas para o hospital Amadora-Sintra e a polícia
foi ao local.
O episódio ocorreu
na escola Maria Alberta Menéres, na Tapada das Mercês, em Sintra, avançou, como
avançou hoje, dia 23, a CMTV. De acordo com a estação, o aluno agrediu primeiro
a funcionária, por volta da hora de almoço, quando esta – após uma troca acesa
de palavras – ameaçou o aluno com uma queixa disciplinar. Também terá sido
agredida uma professora que tentou acabar com os desacatos.
A
funcionária, uma mulher de 54 anos, foi transportada para o Hospital
Amadora-Sintra, onde deu entrada com ferimentos ligeiros. A professora, de 63
anos, foi também assistida, mas na escola. A PSP foi chamada ao local e está a
investigar o sucedido.
Este é o
segundo caso de violência de um aluno perante um professor noticiado neste dia.
***
Não se pode
sustentar, como é usual acontecer, que se trate de casos isolados. Quem
trabalha nas escolas sabe que os casos de indisciplina são demasiado frequentes.
E quem não trabalha lá, sobretudo os dirigentes do ME, só não sabe porque não
quer: os dados da comunicação social e as conversas de café, bem como os
diversos observatórios dão bem conta da situação. Mas como o Omo lava bem branquinho…
E mais do que a indisciplina ressaltam os casos de agressão como os apontados e
outros comportamentos desviantes. E isso decorre do facto de o contexto interno
e o contexto externo os potenciarem.
Fala-se da
perda de valores. Acusa-se o sistema. Isso é pouco.
Se faltam os
valores, é porque a insensibilidade do Estado e da sociedade a eles é demasiado
forte para originar a sua omissão na formação e supervisão dos profissionais,
bem como, por consequência, na ação educativa. Todos se arvoram em paladinos
dos direitos, mas esquecem os deveres, obrigações e responsabilidades.
O exemplo
que vem de cima mostra mediocridade e, tantas vezes, chico-espertismo. Ilude-se
a lei e a ética com enorme facilidade. Perante a prevaricação evidente,
argumenta-se com a consciência tranquila.
A nível da
escola, o mal radica no pueripetismo. Toda a teoria e toda a prática gravitam
em torno dos alunos, das suas necessidades, dos seus gostos, dos seus
interesses e, tantas vezes, dos seus caprichos (puericentrismo). Todo o esforço de escola, por conseguinte, se
dirige para o aluno (pueripetismo). Esquece-se
a importância do conhecimento teórico, prático e crítico, facilmente se mandam
os programas às malvas (dantes eram os professores que tinham dificuldade em
cumpri-los; agora é o ME que os reduz com o eufemismo das aprendizagens essenciais). E o professor, cujo papel é fundamental, passou de
transmissor e provedor dos saberes a dinamizador das aprendizagens ao ritmo e
gosto dos alunos. É preciso que se saiba que, sem conhecimento sólido, não há didática
sustentável nem pedagogia que tenha utilidade. A escola é o triângulo
saberes-professor-aluno.
Ora, como os
alunos menores, embora tenham personalidade jurídica, não dispõem de capacidade
jurídica, saltam para a arena os pais e encarregados de educação. E o professor
passou de servidor da aprendizagem dos alunos a escravo dos pais e dos
explicadores (já que no geral os pais não têm competências académicas ajustadas a estes níveis
de ensino). E o ME cala-se ou assente.
Exigem-se
testes que motivam o estudo e pouco mais, como se exigem as matrizes, quanto mais
explícitas de conteúdos melhor, para que os explicadores tenham êxito e os
alunos possam flanar nas aulas. No 11.º ano e no 12.º, trabalha-se para os exames.
Idolatra-se o sistema!
Quanto à debelação
de comportamentos anómalos, os professores não têm autoridade, como não a têm
os dirigentes escolares, a polícia ou o próprio Estado, que não a confere aos
seus agentes.
***
Assim, um profissional
de educação passou-se dos carretos na aula, é detido e presente ao MP para
julgamento sumário, o que não sucedeu graças ao bom senso do magistrado, que
entendeu dever aprofundar o caso. Ninguém pergunta o que esteve por trás do alegado
episódio. Só um telemóvel cujo uso é proibido por lei em sala de aula (Lei n.º
51/2012, de 5 de setembro)? Suspenso antes
de se concluir o processo disciplinar? E ninguém pergunta por que motivo a
professora titular de TIC está de baixa médica. Por amamentação/aleitação, como
dizem? Não. Para isso, há a respetiva dispensa de 2 horas/dia. Por assistência
à família, talvez. E porque não por não aguentar o burnout laboral? O aluno e a
turma têm apoio psicológico? E os professores e funcionários nos outros casos
evocados não carecem de apoio psicológico? Também o ME ordenou processos disciplinares
e criminais aos agressores? Em Valença, só porque a funcionaria pretendeu corrigiu
o comportamento duma aluna cigana, já é racista?
Assim, vão
longe o ME e o Estado, com duplicidade de atuação!
2019.10.23 –
Louro de Carvalho
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