Com a Santa
Missa deste 6 de outubro, pelas 10 horas de Roma, a que presidirá o Papa Francisco,
inaugura-se o Sínodo para a Amazónia, cujo encerramento será a 27 deste
mês.
O Sínodo foi
apresentado à imprensa no passado dia 3, a poucos dias da sua abertura, tendo a
Sala de Imprensa da Santa Sé ficado lotada na manhã daquele dia para a
conferência de imprensa de apresentação. Intervieram o Cardeal Lorenzo
Baldisseri, secretário-geral, o Cardeal Cláudio Hummes, relator-geral, e Dom
Fabio Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos.
O Cardeal
Baldisseri explicou a composição desta Assembleia, que, por ser “Especial” –
isto é, diz respeito a uma área geográfica específica –, reúne todos os bispos
da região pan-amazónica, que compreende 9 países. Portanto, os padres sinodais
são 184. Entre estes, há também prelados de outras regiões, chefes de
dicastérios, representantes de congregações religiosas e membros de nomeação
pontifícia. Do Brasil, são 57. Entre os participantes, dos quais 35 mulheres,
há também representantes de outras comunidades cristãs, de povos originários e
especialistas. E disse o Cardeal:
“É toda a Igreja que mostra a sua solicitude
pela Amazónia: pelas dificuldades, os problemas, as preocupações e os desafios
que encontra”.
Como
curiosidade é de assinalar que, para limitar o uso de plástico utilizado no
Sínodo, copos e outros materiais serão biodegradáveis.
O
secretário-geral destacou o foco deste Sínodo contido já no tema “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e
para uma ecologia integral”, advertindo que os padres sinodais se
concentrarão em dois aspetos, que são duas faces da mesma moeda: a missão evangelizadora
da Igreja na Amazónia, tendo no centro o anúncio da salvação em Jesus Cristo; e
a temática ecológica.
Este segundo
aspeto foi mais desenvolvido pelo relator-geral, que disse: socioambiental
“O contexto amplo do sínodo é a grave e urgente crise socioambiental de
que fala a Laudato si’: a) A crise
climática, ou seja, o aquecimento global pelo efeito estufa; b) a crise
ecológica em consequência da degradação, contaminação, depredação e devastação do
planeta, em especial na Amazónia; c) e a crescente crise social de uma pobreza
e miséria gritante que atinge grande parte dos seres humanos e, na Amazónia,
especialmente os indígenas, os ribeirinhos, os pequenos agricultores e os que
vivem nas periferias das cidades amazónicas e outros.”.
No fundo,
segundo o cardeal brasileiro, trata-se de cuidar da vida e de a defender, tanto
de todos os seres humanos, como da biodiversidade, pois Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham
em abundância” (Jo, 10,10).
Dom Cláudio Hummes
citou mais de uma vez a Laudato si’ e
o seu convite a uma conversão:
“É importante o que o Papa Francisco chama de ‘ecologia integral’, para
dizer que tudo está interligado, os seres humanos, a vida comunitária e social,
e a natureza. O que se faz de mal à terra, acaba por fazer mal aos seres
humanos e vice-versa. Há necessidade de uma conversão ecológica, inspirada em
São Francisco de Assis.”.
Respondendo
às perguntas dos jornalistas, o cardeal brasileiro ressaltou a “presença heroica” da Igreja no
território amazónico há quatro séculos, vincando que “não se pode falar da Amazónia sem falar da história da Igreja na
região” e reivindicando a bagagem eclesial acumulada no decorrer dos
séculos. E, embora reconheça que a “Igreja não é competente em determinações
técnicas”, assegurou que “apresentará
princípios para orientar os que buscam essas soluções”.
O
relator-geral falou das críticas recebidas do Governo, afirmando que “em parte
foram superadas” depois de encontros com membros governamentais. E reiterou: “Para a Igreja, a soberania da Amazónia é
intocável”.
Depois,
referindo-se ao Instrumento de trabalho,
que foi objeto de várias críticas, o Cardeal Hummes recordou que esse documento
“não é do Sínodo, mas para o Sínodo”,
“a voz do povo local”. Em sintonia, o
Cardeal Baldisseri destacou que não se trata dum “documento pontifício”, mas de
um levantamento das expressões do povo da Amazónia – “o ponto de partida para começar a trabalhar”.
Por seu turno, Dom Fabio
Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos, explicitou as fases de elaboração
da Assembleia, com ênfase no andamento dos trabalhos durante o Sínodo, e disse
que, tratando-se de uma Assembleia Especial, a metodologia foi parcialmente
renovada em relação aos Sínodos precedentes.
O
secretário-geral abrirá os trabalhos ilustrando o percurso sinodal. Depois, o
relator apresentará os conteúdos que emergiram na fase preparatória e traçará
os argumentos principais para a discussão na Sala e nos círculos menores. As
intervenções na Aula Sinodal terão a duração de 4 minutos. E, nos dias de
congregações gerais, haverá um tempo, no final, para pronunciamentos livres dos
padres sinodais.
A
comunicação do Sínodo será confiada ao Dicastério para a Comunicação.
Diariamente, serão realizados briefings
com a participação dos padres sinodais e de outros participantes. As redes
sociais (Twitter,
Facebook e Instagram) de Vatican News e da Secretaria Geral do
Sínodo dos Bispos contribuirão para a difusão das notícias. Está ativa a mesma hashtag #SinodoAmazonico para todas as
línguas para uma informação mais adequada sobre o Sínodo.
Os padres
sinodais estarão disponíveis para entrevistas fora da Aula Sinodal. Como nos
últimos Sínodos, as intervenções na Aula Sinodal não serão publicadas
oficialmente no Boletim da Sala de Imprensa. Já os pronunciamentos dos círculos
serão divulgados pela Sala de Imprensa.
***
Em razão da componente ecológica e da atenção à
pobreza, o Papa consagrou o Sínodo para a Amazónia a São Francisco de Assis, o
Irmão Universal, em cerimónia que
decorreu nos Jardins Vaticanos, onde abriu “simbolicamente” o Sínodo reunindo
representantes dos povos originários da Amazónia.
A cerimónia de
4 de outubro, dia da memória litúrgica do Pobrezinho de Assis, foi marcada por cânticos,
reflexões, orações e gestos simbólicos. Foram convidados cardeais, bispos,
sacerdotes, religiosos e religiosas e representantes dos povos originários da
Amazónia.
O
relator-geral do Sínodo foi um dos participantes e fez uma reflexão sobre “O papel de São Francisco como modelo e santo
padroeiro do Sínodo para a Amazónia”.
Dom Cláudio
Hummes, acompanhado de dois representantes indígenas, ajudou o Papa Francisco a
irrigar uma árvore nos Jardins Vaticanos – uma azinheira de Assis, como gesto
visível de uma ecologia integral –, sob o som de uma versão cantada do Cântico das criaturas. O solo em que a
árvore foi plantada foi enriquecido com a terra de lugares simbólicos para a
preservação do meio ambiente.
Depois da
fórmula de consagração, foi concluída a cerimónia com o Papa Francisco a rezar
o Pai-Nosso com os presentes.
A oração de
consagração do Sínodo à intercessão de São Francisco visa que este processo
constitua um passo fecundo para discernir novos caminhos para a Igreja e para
uma ecologia integral na Amazónia.
A celebração
e o gesto simbólico da azinheira de Assis, plantada no coração da Igreja universal,
foram uma oportunidade para “comunicar a
importância do Templo da Criação”.
É – dizem – o primeiro gesto visível de Francisco depois do seu convite à
Igreja mundial para celebrar este “período com muita oração e ações em
benefício da casa comum”, e para “comunicar a importância do sínodo amazónico e
propor São Francisco como modelo e guia para o processo sinodal”.
No entanto,
o novo Cardeal Português, Dom José Tolentino Mendonça, recordou hoje, dia 5, em
artigo no Expresso:
“Em 2015, por ocasião do Ano Santo da Misericórdia, o Papa Francisco fez
um gesto inédito e que carregava consigo a visão do que pode ser o presente e o
futuro do cristianismo. Oficialmente, esse ano jubilar teria início a 8 de
dezembro, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, em Roma. Mas
o Papa decidiu simbolicamente antecipá-lo, abrindo uma semana antes, numa
geografia periférica e improvável, a primeira Porta Santa. Fê-lo em Bangui, a
capital da República Centro-Africana, dizendo então: ‘Hoje Bangui torna-se a
capital espiritual do mundo”. Francisco escolheu como protagonista uma região
pobre, ferida pela guerra, alheia ao radar das grandes atenções, para dizer ao
mundo que “todos precisamos de pedir paz, misericórdia e reconciliação”. Com o
Sínodo para a Amazónia, que tem o seu arranque este domingo no Vaticano,
ocorreu um facto semelhante. O quilómetro zero do Sínodo, e que lançou todo o
seu percurso de preparação, foi Puerto Maldonado, a fronteira de ingresso na
Amazónia peruana, que o Papa visitou no final de janeiro de 2018. Ele quis
propositadamente sentar-se no meio dos chefes e dos anciãos dos diferentes
povos indígenas para ver de perto o reflexo daquela terra.”.
Se calhar Puerto Maldonado foi mesmo o primeiro gesto de
Francisco oferecido à Igreja e ao mundo sobre este Sínodo.
A cerimónia
deste dia 4 de outubro, que teve a participação de líderes indígenas e da
Igreja, foi uma iniciativa da Ordem dos Frades menores, da REPAM (Rede
Eclesial Pan-amazónica) e do GCCM
(Global
Catholic Climate Movement).
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Para que os
trabalhos e a mensagem do Sínodo tenham o máximo de repercussão mundial, os Jornalistas
que não estão em Roma têm a possibilidade de aceder à documentação para a
imprensa, participar em ‘briefings’ e
conferências de imprensa e fazer perguntas diretamente aos participantes do
Sínodo.
Com efeito, por ocasião
da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos da Região Pan-Amazónica, a Sala de
Imprensa da Santa Sé está a ativar um sistema telemático de credenciamento que
oferece a jornalistas que não estão em Roma a possibilidade de aceder
à dinâmica do Sínodo: é o CREDENCIAMENTO TEMPORÁRIO À DISTÂNCIA.
Jornalistas
e operadores da mídia visual com este tipo de credenciamento receberão um
número whatsapp ao qual enviarão as suas perguntas em texto, áudio ou vídeo,
sempre que houver ‘briefings’ ou conferências
de imprensa, até às 12 horas. Em todos os encontros com a imprensa haverá
tradução simultânea em italiano, inglês, francês, espanhol, alemão e português.
Os ‘briefings’ estão programados para
13,30 horas de Roma de segunda-feira a sábado, conforme calendário.
Os pedidos
de credenciamento TEMPORÁRIO À
DISTÂNCIA devem ser feitos exclusivamente ao Setor Mídia e
Credenciamento da Sala de Imprensa da Santa Sé. E, para mais informações sobre
o processo de credenciamento, deve ser consultada a documentação logística do
Sínodo publicada em: press.vatican.va/accreditations.
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Entretanto, paralelamente decorrerá o
desenvolvimento do projeto “Amazónia: Casa Comum”, iniciativa que
irá promover uma centena de eventos que acompanharão o Sínodo Amazónico que
começa no domingo, dia 6.
A abertura
oficial dos trabalhos do projeto é marcada pela Vigília de Oração de preparação para o Sínodo Amazónico neste
sábado, dia 5, a partir das 19,30 horas, na Igreja de Santa Maria em
Traspontina, na Via della Conciliazione, rua que dá acesso ao Vaticano. O
momento é animado pelos Jovens do Empenho
Missionário (GIM)
provenientes de várias cidades italianas: Milão, Pádua, Verona, Nápoles e Bari.
Com mochilas e sacos de dormir, a viagem trouxe-os até Roma para apoiar com a
oração os padres sinodais.
O Irmão
Antonio Soffientini, comboniano, da secretaria executiva do projeto, disse que
os jovens têm demonstrado uma grande sensibilidade ambiental e eclesial:
“Essa maneira de ser Igreja, de se mostrar próximo dos
mais vulneráveis, interessa muito aos jovens, em especial, aos do GIM, que
escolheram esse percurso de formação justamente para compartilhar com os seus
coetâneos momentos de análise crítica da realidade e de empenho concreto”.
A Vigília de
Oração também abriu espaço para um momento dedicado à lembrança dos mártires em
defesa do povo e da floresta amazónica, como o Padre Ezequiel Ramin, a Irmã
Dorothy Stang e Chico Mendes. Personalidades que serão recordadas também nos
próximos eventos, como na conferência do dia 8 de outubro, intitulada “Igreja que dá a vida pela Amazónia”, e
na “Peregrinação pela Amazónia”,
prevista para a manhã do dia 19 de outubro.
Neste
sábado, a Igreja de Santa Maria também está aberta à diversidade dos povos, aos
elementos da natureza, à partilha e à escuta, graças aos momentos de
espiritualidade amazónica, orientados pela Equipa
Itinerante e por indígenas presentes na Vigília de Oração, como os
representantes do grupo étnico Sateré Mawé, do Brasil. Também presentes, além
de alguns padres sinodais, o Cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, Arcebispo de
Huancayo e vice-presidente da Repam.
***
Que o Sínodo
seja um momento em que a Igreja escuta verdadeiramente a Deus e ao povo excluído,
a quem os decisores políticos e económicos querem tirar o seu território e
pô-lo ao serviço da lógica do lucro, mesmo que o preço seja a degradação do
planeta e o esbulho dos autóctones, que têm dignidade e direitos como qualquer ser
humano.
2019.10.05 –
Louro de Carvalho
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