sábado, 5 de outubro de 2019

Sínodo dos Bispos é sinal de que toda a Igreja é solícita pela Amazónia


Com a Santa Missa deste 6 de outubro, pelas 10 horas de Roma, a que presidirá o Papa Francisco, inaugura-se o Sínodo para a Amazónia, cujo encerramento será a 27 deste mês. 
O Sínodo foi apresentado à imprensa no passado dia 3, a poucos dias da sua abertura, tendo a Sala de Imprensa da Santa Sé ficado lotada na manhã daquele dia para a conferência de imprensa de apresentação. Intervieram o Cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral, o Cardeal Cláudio Hummes, relator-geral, e Dom Fabio Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos.
O Cardeal Baldisseri explicou a composição desta Assembleia, que, por ser “Especial” – isto é, diz respeito a uma área geográfica específica –, reúne todos os bispos da região pan-amazónica, que compreende 9 países. Portanto, os padres sinodais são 184. Entre estes, há também prelados de outras regiões, chefes de dicastérios, representantes de congregações religiosas e membros de nomeação pontifícia. Do Brasil, são 57. Entre os participantes, dos quais 35 mulheres, há também representantes de outras comunidades cristãs, de povos originários e especialistas. E disse o Cardeal:
É toda a Igreja que mostra a sua solicitude pela Amazónia: pelas dificuldades, os problemas, as preocupações e os desafios que encontra”.
Como curiosidade é de assinalar que, para limitar o uso de plástico utilizado no Sínodo, copos e outros materiais serão biodegradáveis. 
O secretário-geral destacou o foco deste Sínodo contido já no tema “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, advertindo que os padres sinodais se concentrarão em dois aspetos, que são duas faces da mesma moeda: a missão evangelizadora da Igreja na Amazónia, tendo no centro o anúncio da salvação em Jesus Cristo; e a temática ecológica.
Este segundo aspeto foi mais desenvolvido pelo relator-geral, que disse: socioambiental
O contexto amplo do sínodo é a grave e urgente crise socioambiental de que fala a Laudato si’: a) A crise climática, ou seja, o aquecimento global pelo efeito estufa; b) a crise ecológica em consequência da degradação, contaminação, depredação e devastação do planeta, em especial na Amazónia; c) e a crescente crise social de uma pobreza e miséria gritante que atinge grande parte dos seres humanos e, na Amazónia, especialmente os indígenas, os ribeirinhos, os pequenos agricultores e os que vivem nas periferias das cidades amazónicas e outros.”.
No fundo, segundo o cardeal brasileiro, trata-se de cuidar da vida e de a defender, tanto de todos os seres humanos, como da biodiversidade, pois Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo, 10,10).
Dom Cláudio Hummes citou mais de uma vez a Laudato si’ e o seu convite a uma conversão:
É importante o que o Papa Francisco chama de ‘ecologia integral’, para dizer que tudo está interligado, os seres humanos, a vida comunitária e social, e a natureza. O que se faz de mal à terra, acaba por fazer mal aos seres humanos e vice-versa. Há necessidade de uma conversão ecológica, inspirada em São Francisco de Assis.”.
Respondendo às perguntas dos jornalistas, o cardeal brasileiro ressaltou a “presença heroica” da Igreja no território amazónico há quatro séculos, vincando que “não se pode falar da Amazónia sem falar da história da Igreja na região” e reivindicando a bagagem eclesial acumulada no decorrer dos séculos. E, embora reconheça que a “Igreja não é competente em determinações técnicas”, assegurou que “apresentará princípios para orientar os que buscam essas soluções”.
O relator-geral falou das críticas recebidas do Governo, afirmando que “em parte foram superadas” depois de encontros com membros governamentais. E reiterou: “Para a Igreja, a soberania da Amazónia é intocável”.
Depois, referindo-se ao Instrumento de trabalho, que foi objeto de várias críticas, o Cardeal Hummes recordou que esse documento “não é do Sínodo, mas para o Sínodo”, “a voz do povo local”. Em sintonia, o Cardeal Baldisseri destacou que não se trata dum “documento pontifício”, mas de um levantamento das expressões do povo da Amazónia – “o ponto de partida para começar a trabalhar”.
Por seu turno, Dom Fabio Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos, explicitou as fases de elaboração da Assembleia, com ênfase no andamento dos trabalhos durante o Sínodo, e disse que, tratando-se de uma Assembleia Especial, a metodologia foi parcialmente renovada em relação aos Sínodos precedentes.
O secretário-geral abrirá os trabalhos ilustrando o percurso sinodal. Depois, o relator apresentará os conteúdos que emergiram na fase preparatória e traçará os argumentos principais para a discussão na Sala e nos círculos menores. As intervenções na Aula Sinodal terão a duração de 4 minutos. E, nos dias de congregações gerais, haverá um tempo, no final, para pronunciamentos livres dos padres sinodais.
A comunicação do Sínodo será confiada ao Dicastério para a Comunicação. Diariamente, serão realizados briefings com a participação dos padres sinodais e de outros participantes. As redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram) de Vatican News e da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos contribuirão para a difusão das notícias. Está ativa a mesma hashtag #SinodoAmazonico para todas as línguas para uma informação mais adequada sobre o Sínodo.
Os padres sinodais estarão disponíveis para entrevistas fora da Aula Sinodal. Como nos últimos Sínodos, as intervenções na Aula Sinodal não serão publicadas oficialmente no Boletim da Sala de Imprensa. Já os pronunciamentos dos círculos serão divulgados pela Sala de Imprensa.
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Em razão da componente ecológica e da atenção à pobreza, o Papa consagrou o Sínodo para a Amazónia a São Francisco de Assis, o Irmão Universal, em cerimónia que decorreu nos Jardins Vaticanos, onde abriu “simbolicamente” o Sínodo reunindo representantes dos povos originários da Amazónia.
A cerimónia de 4 de outubro, dia da memória litúrgica do Pobrezinho de Assis, foi marcada por cânticos, reflexões, orações e gestos simbólicos. Foram convidados cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e representantes dos povos originários da Amazónia.
O relator-geral do Sínodo foi um dos participantes e fez uma reflexão sobre “O papel de São Francisco como modelo e santo padroeiro do Sínodo para a Amazónia”.
Dom Cláudio Hummes, acompanhado de dois representantes indígenas, ajudou o Papa Francisco a irrigar uma árvore nos Jardins Vaticanos – uma azinheira de Assis, como gesto visível de uma ecologia integral –, sob o som de uma versão cantada do Cântico das criaturas. O solo em que a árvore foi plantada foi enriquecido com a terra de lugares simbólicos para a preservação do meio ambiente.
Depois da fórmula de consagração, foi concluída a cerimónia com o Papa Francisco a rezar o Pai-Nosso com os presentes. 
A oração de consagração do Sínodo à intercessão de São Francisco visa que este processo constitua um passo fecundo para discernir novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral na Amazónia.
A celebração e o gesto simbólico da azinheira de Assis, plantada no coração da Igreja universal, foram uma oportunidade para “comunicar a importância do Templo da Criação”. É – dizem – o primeiro gesto visível de Francisco depois do seu convite à Igreja mundial para celebrar este “período com muita oração e ações em benefício da casa comum”, e para “comunicar a importância do sínodo amazónico e propor São Francisco como modelo e guia para o processo sinodal”.
No entanto, o novo Cardeal Português, Dom José Tolentino Mendonça, recordou hoje, dia 5, em artigo no Expresso:
Em 2015, por ocasião do Ano Santo da Misericórdia, o Papa Francisco fez um gesto inédito e que carregava consigo a visão do que pode ser o presente e o futuro do cristianismo. Oficialmente, esse ano jubilar teria início a 8 de dezembro, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, em Roma. Mas o Papa decidiu simbolicamente antecipá-lo, abrindo uma semana antes, numa geografia periférica e improvável, a primeira Porta Santa. Fê-lo em Bangui, a capital da República Centro-Africana, dizendo então: ‘Hoje Bangui torna-se a capital espiritual do mundo”. Francisco escolheu como protagonista uma região pobre, ferida pela guerra, alheia ao radar das grandes atenções, para dizer ao mundo que “todos precisamos de pedir paz, misericórdia e reconciliação”. Com o Sínodo para a Amazónia, que tem o seu arranque este domingo no Vaticano, ocorreu um facto semelhante. O quilómetro zero do Sínodo, e que lançou todo o seu percurso de preparação, foi Puerto Maldonado, a fronteira de ingresso na Amazónia peruana, que o Papa visitou no final de janeiro de 2018. Ele quis propositadamente sentar-se no meio dos chefes e dos anciãos dos diferentes povos indígenas para ver de perto o reflexo daquela terra.”.
Se calhar Puerto Maldonado foi mesmo o primeiro gesto de Francisco oferecido à Igreja e ao mundo sobre este Sínodo.
A cerimónia deste dia 4 de outubro, que teve a participação de líderes indígenas e da Igreja, foi uma iniciativa da Ordem dos Frades menores, da REPAM (Rede Eclesial Pan-amazónica) e do GCCM (Global Catholic Climate Movement).
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Para que os trabalhos e a mensagem do Sínodo tenham o máximo de repercussão mundial, os Jornalistas que não estão em Roma têm a possibilidade de aceder à documentação para a imprensa, participar em ‘briefings’ e conferências de imprensa e fazer perguntas diretamente aos participantes do Sínodo.
Com efeito, por ocasião da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos da Região Pan-Amazónica, a Sala de Imprensa da Santa Sé está a ativar um sistema telemático de credenciamento que oferece a jornalistas que não estão em Roma a possibilidade de aceder à dinâmica do Sínodo: é o CREDENCIAMENTO TEMPORÁRIO À DISTÂNCIA.
Jornalistas e operadores da mídia visual com este tipo de credenciamento receberão um número whatsapp ao qual enviarão as suas perguntas em texto, áudio ou vídeo, sempre que houver ‘briefings’ ou conferências de imprensa, até às 12 horas. Em todos os encontros com a imprensa haverá tradução simultânea em italiano, inglês, francês, espanhol, alemão e português. Os ‘briefings’ estão programados para 13,30 horas de Roma de segunda-feira a sábado, conforme calendário. 
Os pedidos de credenciamento TEMPORÁRIO À DISTÂNCIA devem ser feitos exclusivamente ao Setor Mídia e Credenciamento da Sala de Imprensa da Santa Sé. E, para mais informações sobre o processo de credenciamento, deve ser consultada a documentação logística do Sínodo publicada em: press.vatican.va/accreditations.
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Entretanto, paralelamente decorrerá o desenvolvimento do projeto “Amazónia: Casa Comum”, iniciativa que irá promover uma centena de eventos que acompanharão o Sínodo Amazónico que começa no domingo, dia 6.
A abertura oficial dos trabalhos do projeto é marcada pela Vigília de Oração de preparação para o Sínodo Amazónico neste sábado, dia 5, a partir das 19,30 horas, na Igreja de Santa Maria em Traspontina, na Via della Conciliazione, rua que dá acesso ao Vaticano. O momento é animado pelos Jovens do Empenho Missionário (GIM) provenientes de várias cidades italianas: Milão, Pádua, Verona, Nápoles e Bari. Com mochilas e sacos de dormir, a viagem trouxe-os até Roma para apoiar com a oração os padres sinodais.
O Irmão Antonio Soffientini, comboniano, da secretaria executiva do projeto, disse que os jovens têm demonstrado uma grande sensibilidade ambiental e eclesial:  
Essa maneira de ser Igreja, de se mostrar próximo dos mais vulneráveis, interessa muito aos jovens, em especial, aos do GIM, que escolheram esse percurso de formação justamente para compartilhar com os seus coetâneos momentos de análise crítica da realidade e de empenho concreto”.
A Vigília de Oração também abriu espaço para um momento dedicado à lembrança dos mártires em defesa do povo e da floresta amazónica, como o Padre Ezequiel Ramin, a Irmã Dorothy Stang e Chico Mendes. Personalidades que serão recordadas também nos próximos eventos, como na conferência do dia 8 de outubro, intitulada “Igreja que dá a vida pela Amazónia”, e na “Peregrinação pela Amazónia”, prevista para a manhã do dia 19 de outubro.
Neste sábado, a Igreja de Santa Maria também está aberta à diversidade dos povos, aos elementos da natureza, à partilha e à escuta, graças aos momentos de espiritualidade amazónica, orientados pela Equipa Itinerante e por indígenas presentes na Vigília de Oração, como os representantes do grupo étnico Sateré Mawé, do Brasil. Também presentes, além de alguns padres sinodais, o Cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, Arcebispo de Huancayo e vice-presidente da Repam.
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Que o Sínodo seja um momento em que a Igreja escuta verdadeiramente a Deus e ao povo excluído, a quem os decisores políticos e económicos querem tirar o seu território e pô-lo ao serviço da lógica do lucro, mesmo que o preço seja a degradação do planeta e o esbulho dos autóctones, que têm dignidade e direitos como qualquer ser humano.
2019.10.05 – Louro de Carvalho

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