Foi a
intenção da paz que levou Dom Andrew Yeom Soo-jung, Cardeal sul-coreano e
Arcebispo de Seul, a aceitar o convite para vir a Fátima presidir à Peregrinação Internacional Aniversária da 6.ª Aparição de
Nossa Senhora na Cova da Iria, para a qual se inscreveram no Santuário
157 grupos de mais de três dezenas de países, entre eles muitos da Ásia. Disse o purpurado asiático na conferência de
imprensa que antecedeu o início da peregrinação na tarde do dia 12, no
final de uma intervenção que percorreu a história da evangelização da Coreia do
Sul:
“Na Coreia, a oração pela paz é diária. Vim
a Fátima, sob o manto de Maria, trazer essa intenção pelos que sofrem e são torturados,
na península coreana.”.
A paz é
também uma das preocupações que traz a esta Peregrinação o prelado de
Leiria-Fátima, que lembrou a ameaça da nova frente de guerra iniciada contra os
curdos, na Síria (já morreram pelo menos 440
combatentes curdos das Forças Democráticas Sírias).
Tanto Dom
Andrew Yeom Soo-jung como Dom António Marto apontaram a paz como primeira intenção para as celebrações destes dois
dias (12 e 13), na Cova da Iria. A
respeito da paz e do Santuário, o prelado fatimita afirmou:
“A presença do arcebispo de Seul quer ser um
sinal da atenção que o Santuário de Fátima dedica à paz, bem como ao crescente
número de peregrinos que aqui afluem vindos da Coreia do Sul e de toda a Ásia”.
Porém, o
Cardeal Dom António Marto não esqueceu o que se passou a 6 de outubro e alertou
para a importância de uma maior
consciência democrática. Debruçando-se sobre a atualidade nacional,
o purpurado congratulou-se com a “maneira cívica” como decorreram as eleições
legislativas do passado fim-de-semana, mostrando-se, no entanto, preocupado com
os “níveis tão elevados de abstenção” e a “crescente onda de populismos”, que,
em sua opinião, exigem uma “elevação da qualidade da atividade política” e uma
maior consciência democrática.
“É preciso responder às questões de fundo da
sociedade. A classe política deve mostrar que tem classe!” – afirmou
deixando votos para que a nova legislatura traga “paz social; estabilidade; uma maior atenção à solidariedade social,
para com os mais pobres, frágeis e vulneráveis e para com as instituições de
solidariedade que a eles se dedicam”.
No âmbito da
Igreja universal, Dom António Marto sublinhou a “especial importância para a
Igreja” do Sínodo sobre a Amazónia, que está a decorrer no Vaticano, dizendo:
“Podemos dizer que a Amazónia é um lugar
concreto onde se centram e manifestam os grandes desafios globais do nosso
tempo e onde se retomam as grandes linhas pastorais do Santo Padre”.
Ao nível da
Igreja em Portugal, lembrou o encerramento do Ano Missionário, convocado pela
Conferência Episcopal Portuguesa – dentro do mês missionário extraordinário,
proclamado pelo Papa – que acontecerá a 20 de Novembro, no Santuário de Fátima,
evocando o seu propósito:
“A finalidade deste Ano Missionário era dar
um abanão à Igreja, para reavivar o ardor e a paixão pela missão de Jesus e
reacender o dinamismo missionário de uma Igreja em saída da sua zona de
conforto e da sua autorreferencialidade”.
Na sua
intervenção, o purpurado português referiu-se ainda à viagem apostólica que o
Papa vai fazer ao Japão e à Tailândia, no próximo mês, e às canonizações que
hoje, dia 13, tiveram lugar em Roma, nomeando, pela “particular atualidade”, os
nomes da Irmã Dulce Lopes Pontes, que se distinguiu pelas suas obras sociais em
favor dos mais pobres, e o Cardeal Dom John Henry Newman, percursor e
inspirador do Concílio Vaticano II.
Por seu
turno, o Reitor do Santuário destacou a
ida da Imagem Peregrina ao Panamá como um dos momentos altos da
dinâmica pastoral do Santuário em 2018-2019 e deixou um balanço prévio do
presente ano pastoral, relevando a continuidade da estabilização do número de
peregrinos em Fátima, ao apresentar dados que revelam a participação de cerca
de 4,5 milhões de peregrinos nas celebrações do Santuário nos primeiros 9 meses
de 2019. E, sobre a dinâmica pastoral na Cova da Iria em 2018-2019, o Padre
Carlos Cabecinhas destacou como um dos momentos mais marcantes a ida da
Imagem Peregrina de Nossa Senhora ao Panamá, à Jornada Mundial da Juventude,
lembrando o programa paralelo que levou a Virgem Peregrina aos lugares mais
periféricos daquele país, como foi o caso da visita a uma prisão, a um
hospital oncológico e a um bairro degradado. A este propósito, revelou:
“Um dos frutos desta visita vai
ser anunciado amanhã (hoje, dia 13)
pelo senhor Arcebispo do Panamá: a construção de um santuário dedicado a Nossa
Senhora de Fátima, na cidade do Panamá”.
E vincou que
um o núcleo desse santuário será uma réplica da Capelinha das Aparições.
Sobre o presente
ano pastoral, o Padre Cabecinhas destacou ainda o incremento que o Santuário
levou a cabo nas ações de formação, nomeando algumas das iniciativas que
concretizam esta aposta: as diversas propostas formativas, de caráter
espiritual e de aprofundamento da mensagem de Fátima, oferecidas pela Escola
do Santuário; e a promoção de atividades de reflexão e estudo sobre Fátima,
quer nos espaços do Santuário, quer fora dele, na participação de fóruns de
reflexão mais alargados.
Por fim,
destacou a “especial atenção que o Santuário deu ao acolhimento dos peregrinos
mais frágeis” neste ano, nomeadamente através dos retiros de doentes, das férias
para pais de filhos com deficiência, da peregrinação dos idosos e da aposta no
acolhimento inclusivo através de propostas para a comunidade surda portuguesa. E
concluiu:
“Procuramos que o Santuário seja, cada vez
mais, lugar de acolhimento da fragilidade, na linha daquilo que tem defendido o
Papa Francisco”.
***
No momento da saudação à Virgem, na tarde do dia 12, o Cardeal Dom
António Marto renovou o pedido de Nossa Senhora aos pastorinhos, desafiando os peregrinos
a rezarem o terço todos os
dias pela paz nas famílias, nos países e no mundo, em especial na Coreia e na
Síria, vincando:
“Neste mês de outubro comemoramos Nossa
Senhora como a Senhora do Rosário. Foi assim que Ela se apresentou aos
Pastorinhos pedindo-lhes que rezassem o terço todos os dias. Também nós, hoje,
queremos apelar à oração pela paz nas famílias, nos países e no mundo, mas em especial
na Coreia e na Síria.”.
Em sintonia
com o Santo Padre, disse que, “nesta
peregrinação de outubro, mês missionário extraordinário, queremos ter em
intenção esta vontade do Papa para que o sopro do espírito frutifique no
coração dos homens” e sublinhou “o afeto e comunhão” com os cristãos
católicos da Coreia e de toda Ásia que “aqui vêm em número tão expressivo”.
Disse que a presença do cardeal sul-coreano nos alegra muito e permite exprimir
o afeto e comunhão com os cristãos católicos da Coreia e de toda a Ásia” e
assegurou que o caminho que faz cada se peregrino torna “uma expressão viva da
peregrinação interior”, que, por mais dolorosa que seja, se faz “sempre com
esperança porque sabemos que, no termo do caminho, alguém nos espera e espera
por nós”.
E rematou
com a afirmação de que “a peregrinação é uma viagem com fé”.
Por sua vez,
o prelado asiático garantiu:
“Eu sou peregrino como vós, também venho em
peregrinação ao encontro da Mãe. Vamos rezar e pedir a Nossa Senhora de Fátima
pela paz no mundo e pela nossa conversão.”.
Um manto de luz voltou a cobrir o Santuário de Fátima este sábado à
noite, durante a recitação do terço (em que a oração de alguns dos
mistérios foi assegurada pelo menos por três línguas asiáticas: indonésio,
coreano e tagalog) e na Procissão das Velas.
E, na homilia da Missa da vigília – concelebrada
por 178 sacerdotes, 6 bispos e dois cardeais e em que a oração dos fiéis teve
uma prece em coreano, centrada na questão da Paz – o Cardeal Arcebispo de Seul recordou a história do país, marcada
pela “provação” ao longo do século XX, para assinalar que, apesar de todas as
perseguições e “tragédias”, a fé do povo coreano não esmoreceu, como nunca é
destruída a fé de um povo, se ela for entendida como uma missão. Pediu a paz e
a reconciliação para a Península Coreana e rezou “pelo fim dos conflitos e das
divisões”, apelando:
“Peço as vossas orações pela paz e pela reconciliação na Península
Coreana, pelos vossos irmãos e irmãs na fé, geograficamente distantes, mas
unidos pela presença de Deus. Orai connosco pelo fim dos conflitos e das
divisões na península.”.
E, em dado
momento, observou:
“A fé, a missão como povo de Deus, continua, não obstante a tragédia da
destruição do templo e do exílio da comunidade. O templo foi, durante muitos
séculos, central para o culto de Israel, mas não é essencial. Deus permanece
connosco.”.
Sublinhando
a importância do Santuário como “o
verdadeiro centro da comunidade”, disse:
“Cada
geração tem celebrado a presença de Deus refletindo a sua própria história de
salvação”.
Sobre as
sombras da história do seu povo, vincou:
“Foi um período de provação para a nossa nação e a nossa comunidade de
fé. A combinação do colonialismo japonês e dos comunismos vizinhos da Rússia e
da China marcou a entrada da Coreia numa era turbulenta de dominação
estrangeira. Logo após a libertação colonial em 1945, a nação viu-se dividida:
Norte versus Sul, comunista versus capitalista. (…) Cinco anos depois, a guerra
devastou a península por três longos anos, causando morte, destruição e a divisão
de muitas famílias. Infelizmente, a guerra trouxe uma divisão ainda mais
profunda e hostilidade mútua entre o Norte e o Sul. Passadas sete décadas,
desde 1950, a nação continua dividida e a reconciliação permanece inalcançável.”.
Lembrando
que é também administrador apostólico de Pyong-yang, capital da Coreia do
Norte, país que nunca foi autorizado a visitar, confidenciou:
“Acredito que Nossa Senhora de Fátima, que apareceu há 100 anos, nos
instaria hoje a trabalharmos e a orarmos pela paz neste nosso século. (…) Ela
representa para nós a grande medianeira, apoiando a nossa jornada de fé até ao
Senhor. Além disso, a nossa Santa Mãe não está apenas a orar por nós, mas está
também a ensinar-nos: ‘Fazei tudo o que ele vos disser’ (Jo 2,5). As palavras
de Santa Maria chegam-nos como um convite para sermos ‘abertos na presença de
Deus’, tal como os israelitas que celebraram a reconstrução do templo.”.
***
Hoje, dia 13, na homilia da Missa Internacional Aniversária, concelebrada por 2 cardeais, 11 bispos e 232 presbíteros, Dom
Andrew Yeom Soo-jung salientou a importância do louvor a Deus e apresentou a oração, a Eucaristia e a
evangelização como expressões de agradecimento a Deus pela “dádiva da salvação”.
Disse ele:
“No Evangelho, ouvimos a narrativa de São
Lucas acerca da cura dos dez leprosos. Estes leprosos gritaram a oração que
deveria ecoar no nosso coração: ‘Jesus, Mestre, tem compaixão de nós’. Como
reagimos a esta dádiva de uma nova vida? Nós fomos perdoados. A nossa lepra foi
purificada. Precisamos de seguir o exemplo de Naamã e do leproso samaritano.
Precisamos de dar meia-volta e dar graças a Deus.”.
Bem podia
ser este o legado da peregrinação: “Dar meia-volta e dar graças a Deus”. Com
efeito, é preciso confiar na Misericórdia de Deus, pedir perdão e agradecer o
perdão.
Ao evocar o
Milagre do Sol, ocorrido na Aparição de 13 de outubro de 1917, como sinal da
intervenção de Deus “nas leis da natureza” e “na luta contra o Mal”, o prelado
apresentou os ensinamentos da Bíblia e o acontecimento de Fátima como garantia
da presença inequívoca de Deus na vida de cada homem, garantindo:
“As aparições de Nossa Senhora em Fátima
dizem-nos que, apesar das dificuldades, nunca estamos sós. Aprendemos que, se
as dificuldades existem, Nosso Senhor e Nossa Senhora estarão presentes para
nos ajudarem nas nossas necessidades. Não nos esqueçamos de que na nossa Santa
Mãe encontramos a ajuda e o apoio necessários para enfrentarmos os muitos
desafios que inevitavelmente enfrentamos enquanto seres humanos.”.
Tomando como
exemplo o fiat de Maria: “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim
segunda a vossa palavra” – que foi tema da última Jornada Mundial da
Juventude, no Panamá –, o cardeal sul-coreano exortou os peregrinos a responder
com “humildade, confiança e coragem”
às graças, bênçãos e misericórdia com que Deus reconforta a humanidade. E,
perspetivando a Jornada Mundial da Juventude de 2022, em Lisboa, como uma
ocasião para “proporcionar aos jovens uma
visão de um mundo melhor e encorajá-los a encarnar Cristo no nosso tempo”,
o Cardeal Arcebispo de Seul incentivou a assembleia a participar naquele
encontro, pedindo, no final da homilia, a oração pela paz e reconciliação das
Coreias.
***
Na palavra
dirigida aos doentes, durante o momento de Adoração ao Santíssimo Sacramento, o
Padre José Nuno Silva apresentou o acontecimento de Fátima como a resposta
compassiva de Deus ao sofrimento humano. Começou por interrogar:
“Quem não conhece a sensação íntima de
sofrimento que faz o coração lançar-se para Deus: ‘tem compaixão de nós, tem
compaixão de mim?’.”.
Depois,
apresentando Deus como lugar certo para recorrer no sofrimento e estabelecendo
um paralelo com o episódio da cura dos leprosos, narrado no Evangelho,
garantiu:
“Quando Deus aconteceu maternalmente em
Fátima, nas aparições da Sua e nossa Mãe, veio responder a esta prece: ‘tem
compaixão de nós’. A todos, a cada um, ele quer oferecer a experiência de se sentir
salvo no seu sofrimento.”.
E
prosseguiu, identificando Fátima como lugar que “ensina a voltarmo-nos para Deus”:
“Ainda que não vejamos a cura, somos salvos,
como atesta a resposta que Jesus deu ao único leproso que se voltou para ele
não apenas para suplicar, mas para agradecer. Voltar-se para Deus no sofrimento
– eis o que salva e nos permite sentir a salvação: voltar-se para Deus no
sofrimento.”.
Evocou o
sofrimento voluntário dos pastorinhos e o seu contributo para a causa de Deus e
disse:
“Voltar-se para Deus no sofrimento salva,
diz Fátima. E não salva apenas o que sofre. Aprendemo-lo com São Francisco e
Santa Jacinta Marto. Ofereceram-se a Deus e transformaram cada sofrimento num
ato missionário. (…) Sem saírem de Fátima, como Santa Teresinha sem sair do Carmelo
e, no entanto, proclamada padroeira das missões, foram missionários universais
no sofrimento e pelo sofrimento.”.
Ao
lembrar o mês de outubro dedicado às missões, o sacerdote desafiou os
doentes a participar na missão da Igreja, apesar da doença:
“A doença coloca-vos na fonte e no coração
da missão da igreja: no sofrimento, podeis escolher ser páscoa, podeis decidir
viver em Páscoa e podeis voluntariamente anunciar a Páscoa, com a autoridade
das testemunhas, que só o sofrimento oferecido dá”.
E exortou os
doentes que recebiam a bênção do Santíssimo Sacramento a “transformarem o
sofrimento em ato de amor missionário para a salvação da humanidade”.
***
Por fim, o
Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, deixou a última palavra
enaltecendo a coragem e a fé dos peregrinos de várias nacionalidades que,
apesar do frio e da chuva, encheram o Recinto de Oração. Agradeceu a presença
do Cardeal Dom Andrew Yeom Soo-jung e elogiou o testemunho “belo” de fé que o
povo coreano tem dado ao longo da sua caminhada em Igreja, destacando o papel
que Nossa Senhora de Fátima tem assumido como fonte de conforto neste percurso
de fé. E assegurou que Fátima é conforto para o povo Coreano, dizendo:
“No meio das provações, o povo cristão da
Coreia encontrou apoio, ajuda e conforto na Santa Mãe Celeste e na Mensagem de
Fátima”.
E concluiu
dirigindo uma saudação final aos peregrinos, em especial aos doentes ali
presentes, a quem se uniu espiritualmente em oração.
***
É Fátima no
seu melhor, no dinamismo evangelizador que inspira o ser e a missão do Santuário!
2019.10.13 –
Louro de Carvalho
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