segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Propostas dos Círculos Menores do Sínodo da Amazónia


Durante a 13.ª Congregação Geral foram apresentados, na Sala do Sínodo, os relatórios dos Círculos Menores. Estavam presentes junto com o Papa 177 Padres Sinodais. As contribuições, entregues à Secretaria-Geral, não constituem um documento oficial, nem mesmo um texto de magistério, mas a síntese de uma discussão franca e livre entre os participantes da assembleia.
O Sínodo é um dom precioso do Espírito para a Amazónia e para toda a Igreja no aspeto teológico pastoral e pela inevitável tarefa do cuidado da Casa Comum. É um kairós (tempo de graça, ocasião propícia para a Igreja se reconciliar com a Amazónia). Este é ponto comum dos 12 relatórios dos círculos menores (4 em português, 2 em italiano, 5 em espanhol, um em francês e em inglês).
Os textos lidos publicamente exprimem a esperança de que se desenvolva um novo caminho sinodal na Amazónia e que desta assembleia resulte fervorosa paixão missionária de uma verdadeira Igreja em saída. O desejo é de que o “viver bem” amazónico se encontre com a experiência das bem-aventuranças, pois, à luz da Palavra de Deus, alcança a sua plena realização. As propostas concretas são muitas e variadas e provêm de vários círculos que fazem questão de esclarecer:
Este não é um Sínodo regional, mas universal, o que acontece na Amazónia refere-se a todo o mundo”.
As propostas foram apresentadas sob dimensões específicasdimensão pastoral/missionária, social, espiritual e ecológica. E, entre outras questões, tratam a possibilidade de ordenações de diaconisas e padres casados, os viri probatihomens casados, de fé comprovada, que se podem tornar padres (algo muito praticado no primeiro milénio, mas que depois foi sendo deixado de lado). Outros dos temas abordados foram: 
1) Formação dos leigos e dos missionários, o que pressupõe a formação “inculturada” de leigos indígenas, para que ali a Igreja “deixe de importar modelos” e assuma o seu próprio rosto;
2) Violência contra os povos, pessoas e natureza,  que postula o combate ao narcotráfico, violência institucionalizada, feminicídio, abuso e exploração sexual e o respeito plenos direitos dos povos originários – encarando as “ameaças constantes sobre os que defendem a verdade e a justiça sobre os direitos à terra”, dentro daquilo que chamam de “realidade de sangue”;
3) Culturas amazónicas e evangelização, o que requerdiálogo inter-religioso e ecuménico, o diálogo interinstitucional entre Igreja e Poder Público, a Ecologia Integral, a opção preferencial pelos pobres, a justa memória dos mártires amazónicos, a criação de comunidades eclesiais de base e uma pastoral urbana para acolhimento de imigrantes e refugiados;
4) Piedade popular: prevê o desenvolvimento de um rito amazónico com património teológico, disciplinar e espiritual que expresse a universalidade e catolicidade da Igreja na Amazónia;
5) Vida Consagrada na Amazónia, ligada à urgente necessidade de ministérios ordenados, como uma oportunidade de a Igreja se reconciliar com a Amazónia, diante da dívida acumulada durante longos anos de colonização;
6) Juventude e Ministérios: na corresponsabilidade e participação do povo e uma educação inculturada com elementos dos povos, favorecendo o protagonismo da região pela criação de escolas e universidade indígenas com linguística própria até para traduzir a Bíblia e o catecismo.
Por fim, os relatórios pedem uma ampla divulgação das conclusões do Sínodo
Fomentem a espiritualidade do encontro entre todos os rostos da Amazónia. Divulguem o que acontece na Amazónia, principalmente o que diz respeito ao que no projeto destrói a biodiversidade. Anunciem os valores dos povos originários que contribuem com a civilização do amor. Abram espaços para os indígenas. Em tempos fakenews, dar a conhecer ao mundo a verdade da Amazónia.”.
E os documentos ainda deixam um recado direto ao Santo Padre, em “portunhol”:
Querido Papa Francisco, os Rios da Amazónia transbordam, “tienen sus desbordes” e levam vida à floresta e aos povos da floresta. Rezamos para que este Sínodo, este Rio Sinodal transborde, “tenga sus desbordes” em novos caminhos para a evangelização e por uma ecologia integral. Que o Espírito nos guie, nos ajude, nos dê coragem, parresia e paz. Muito obrigado[s].”.
Propostas por círculo
Para o círculo italiano A (relator Padre Darío Bossi e moderador Dom Flavio Giovenale), é possível ordenar homens casados ​​na Amazónia devendo a discussão universal do tema ficar para um evento eclesial futuro.
O círculo italiano B (relator Dom Filippo Santoro e moderador Cardeal Luis Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé) propõe a criação de um “Rito amazónico” que permita “desenvolver sob o aspeto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar a riqueza única da Igreja Católica na Amazónia”. Abre-se discretamente à ordenação homens casados ​​e de diaconisas, embora não o mencione diretamente.
O círculo português A (relator Dom Neri J. Tondello e moderador Dom Jesús Cizaurre Berdonces) propõe abertamente o sacerdócio de homens casados ​​e a ordenação de diaconisas, precisando:
Além dos ministérios do leitor, acólito, diácono permanente, ministério da palavra, ministério do Batismo, entre outros, pedimos ao Santo Padre que admita para a região Pan-amazónica homens no ministério presbiteral e mulheres no diaconado, de preferência indígenas, respeitados (as) e reconhecidos (as) por sua comunidade, que já possuem uma família estável e estabelecida, a fim de garantir os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã da comunidade”.
O círculo português B (relator Dom Evaristo P. Spengler e moderador Dom Pedro Brito Guimarães) também propõe abertamente a ordenação de homens casados ​​e diaconisas. E indicou:
A ordenação dos viri probati foi considerada como necessária para Pan-Amazónia. Os homens casados ​​candidatos à ordenação, após um diaconado frutífero, devem responder aos seguintes critérios, entre outros: vida de oração e amor à Palavra de Deus e à Igreja, vida eucarística que se reflete em uma vida de doação e serviço, vivência comunitária, espírito missionário. (…) Na implementação da ordenação dos viri probati, apresentamos dois caminhos para a região Pan-amazónica: 1) Delegar a implementação deste ministério às conferências episcopais presentes na Pan-Amazónia. 2) Confiar aos bispos a realização dessa experiência.”.
E apresentou a seguinte justificação:
Dada a presença decisiva das mulheres na história da salvação, como Maria na missão da Igreja, das santas, doutoras e conselheiras dos Papas, dado que a presença das mulheres é decisiva na vida e na missão da Igreja na Amazónia e que o Concílio Vaticano II restaurou o diaconado permanente para os homens – porque é bom e útil para a Igreja –, julgamos que o mesmo argumento é válido para criar o diaconado para as mulheres na Igreja na Amazónia”.
O círculo português C (relator Dom Vilson Basso e moderador Dom José B. da Silva) também solicita a ordenação de homens casados, precisando: 
Na dimensão pastoral missionária, destacamos a necessidade de conversão pessoal e pastoral, de recuperar a centralidade da Palavra e da Eucaristia, de aprofundar no tema da ministerialidade e as várias possibilidades em relação ao diaconado, viri probati, mulheres, sacerdotes casados, do protagonismo dos leigos, destacando as mulheres”.
O círculo português D (relator Dom Wilmar Santin e moderador Dom Alberto Taveira Correa) reafirma o valor do celibato e considera que o tema dos viri probati e diaconisas deve ser aprofundado:
Reafirmamos o valor do celibato e a necessidade de um maior compromisso na pastoral vocacional. Consideramos essencial a valorização dos ministérios existentes e as instituições de novos ministérios conforme as necessidades. (…) A escuta realizada previamente no Sínodo expressou o desejo de conferir a ordenação presbiteral aos viri probati, assim como o ministério do diaconado para as mulheres. Esses dois pontos pedem um posterior amadurecimento e aprofundamento.”.
O círculo espanhol A (relator Dom José Luis Azuaje Ayala e moderador o Arcebispo Primaz do México, Cardeal Carlos Aguiar Retes) não se pronuncia sobre os viri probati ou diaconisas, mas vinca:
É necessário que na Igreja Sinodal a mulher assuma responsabilidades pastorais e de direção, deve haver um reconhecimento da mulher na Igreja através da ministerialidade; portanto, propõe-se a realização de um Sínodo dedicado à identidade e serviço da mulher na Igreja, onde as mulheres tenham voz e voto”.
Por sua vez, o círculo espanhol B (relator Dom Francisco J. Múnera Correa e moderador Dom Edmundo Valenzuela) exprimiu o seu apoio à ordenação dos viri probati, declarando: 
A proposta visa pedir ao Santo Padre a possibilidade de conferir o presbiterado a homens casados ​​para a Amazónia, de forma excecional, em circunstâncias específicas e para alguns povos determinados, estabelecendo claramente as razões que o justificam. Não se trataria, de nenhuma forma, de presbíteros de 2.ª categoria. É preciso levar em consideração que são muitas as vozes que insistem para que este tema seja decidido para a Amazónia na atual Assembleia Sinodal. Outras vozes, pelo contrário, pensam que deveria ser estudado e definido em uma Assembleia Sinodal específica.”.
E, sobre a possibilidade do diaconado para as mulheres na Igreja, indicou:
Acolhendo e em sintonia com várias opiniões expressas na Sala Sinodal, este círculo incentiva um estudo mais aprofundado sobre esse assunto, olhando mais para as possibilidades futuras do que para a história passada”.
O círculo espanhol C (relator o Padre Roberto Jaramillo e moderador Dom Jonny E. Reyes Sequera) também falou a favor da ordenação de viri probati e de diaconisas, referindo:
Dada a tradição da Igreja, é possível reconhecer o acesso das mulheres aos ministérios instituídos do leitorado e do acolitado, assim como ao diaconado permanente. (…) Verificamos também que muitas das comunidades eclesiais do território Amazónico têm enormes dificuldades de acesso à Eucaristia. No entanto, o Espírito Santo continua agindo nessas comunidades e distribuindo dons e carismas, de tal maneira que também haja homens casados ​​de boa reputação, responsáveis, exemplo de virtudes cidadãs e bons líderes comunitários, que sentem a chamada para servir o povo de Deus como instrumentos da santificação do povo de Deus. Será importante discernir, por meio de consultas com o povo de Deus e do discernimento do ordinário do lugar, a conveniência de essas pessoas se prepararem adequadamente e serem posteriormente escolhidas para o serviço presbiteral.”.
O círculo espanhol D (relator Padre Alfredo Ferro Medina e moderador Dom Omar de Jesús Mejía Giraldo) manifestou-se a favor da ordenação dos viri probati, assinalando:
E, nesse sentido, afirmando que o celibato é um dom para a Igreja, solicita-se que das comunidades se promova a ordenação presbiteral de pessoas virtuosas, apresentadas por suas próprias comunidades e respeitadas pela mesma”.
E o círculo espanhol E (relator Dom José J. Travieso Martín e moderador o Cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga) não propõe a ordenação de homens casados ​​e manifesta-se contra a ordenação de diaconisas, mas é a favor de alguma alternativa ministerial para as mulheres.
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Uma Igreja viva e missionária ao lado dos pobres e contra toda a forma de violência
É imperativo a Igreja escutar o grito dos povos e da terra, estar ao lado dos pobres e afirmar “chega de violência”. Na Amazónia a violência assume várias faces: violência em cárceres lotados, abuso e exploração sexual; violação dos direitos das populações indígenas; assassinato de defensores dos territórios; tráfico de droga e narco-business; extermínio da população jovem; tráfico de seres humanos, feminicídios e cultura machista; genocídio, biopirataria, etnocídio – males a combater porque matam a cultura e o espírito. É clara a condenação da violação extrativista e do desmatamento, bem como do abuso dos mais frágeis e do abuso da natureza. E, entre as emergências evidenciadas, foi dado muito espaço ao tema da crise climática. São os nativos quem paga o maior preço. Pagam com as suas vidas, porque não são apoiados nem protegidos nos seus territórios. Assim, vários círculos solicitaram a instituição de um Observatório Internacional dos Direitos Humanos, na certeza de que a defesa dos povos e da natureza é prerrogativa da ação pastoral e eclesial. Além disso, sugerem que as paróquias criem espaços seguros para as crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis. Reiteram o direito à vida de todos desde a conceção até à morte natural.
A Igreja, segundo um dos relatórios, tem a tarefa de acompanhar a obra dos defensores dos direitos humanos muitas vezes criminalizados pelos poderes públicos. Porém, não pode agir como uma ONG. Este risco, acompanhado com o de se apresentar de forma exclusivamente ritualista, provoca muitas vezes o abandono de muitos fiéis que buscam respostas à sua sede de espiritualidade nas seitas religiosas ou noutras confissões. Portanto, os círculos pedem que se dê maior energia ao diálogo ecuménico e inter-religioso com a proposta de dois centros de confronto, um na Amazónia e outro em Roma, entre os teólogos do RELEP (Rede de estudos pentecostais latino-americanos) e os teólogos católicos.
Invocando um ministério de presença, que rejeite o clericalismo, encoraja-se um maior protagonismo dos leigos. De quase todos os círculos chega o pedido de aprofundar o significado de “Igreja ministerial”, uma Igreja onde possa coexistir corresponsabilidade e compromisso dos leigos. Um círculo pede um modo equilibrado de ministérios a homens e mulheres, mas afastando o risco de clericalizar os leigos. E, em geral propõe-se uma cuidadosa reflexão sobre os ministérios do leitorado e do acolitado também a mulheres, religiosas ou leigas.
O tema da mulher está presente em vários relatórios com o pedido de reconhecer, em papéis de maior responsabilidade e liderança, o valor da presença feminina no serviço específico à Igreja na Amazónia. Pede-se a garantia do respeito dos direitos das mulheres e a superação de todos os estereótipos. Vários círculos pediram atenção à questão do diaconado para as mulheres na perspetiva do Vaticano II, considerando que muitas das suas funções já são desempenhadas pelas mulheres na região. E foi sugerido dedicar ao tema um aprofundamento noutra assembleia dos bispos, na qual talvez se possa reconhecer às mulheres o direito ao voto.
Foi sugerido um sínodo Universal específico sobre o tema dos viri probati. Sobre esta temática as perspetivas diversificam-se entre os grupos. Ao evidenciar-se que o valor do celibato, dom a ser oferecido às comunidades indígenas, não está em discussão, um círculo alerta para o risco de este valor ser enfraquecido ou de a introdução dos viri probati  vir a desestimular o impulso missionário da Igreja Universal ao serviço das comunidades mais distantes. A maior parte dos relatórios, almejando uma Igreja “de presença” mais do que “de visita”, exprime-se a favor da conferição do presbiterado a homens casados, de boa reputação, preferencialmente indígenas escolhidos pelas comunidades de proveniência, mas em condições específicas. Especifica que estes não podem ser considerados de 2.ª ou 3.ª categoria, mas verdadeiras vocações sacerdotais. Não deve esquecer-se o drama de muitas populações da Amazónia que recebem os sacramentos só uma ou duas vezes por ano e pede-se às comunidades locais que reforcem a consciência de que não só a Eucaristia, mas também a Palavra representa um alimento espiritual para os fiéis.
Considerando a dimensão do território pan-amazónico e a escassez de ministros foi cogitada a criação dum fundo regional para a sustentabilidade da evangelização. Além disso, um dos círculos exprime “perplexidade” em relação à “falta de reflexão sobre as causas que levaram à proposta de superar de algum modo o celibato sacerdotal como foi expresso pelo Concílio Vaticano II e pelo magistério sucessivo”. Também se espera uma formação permanente para o ministério com o objetivo de configurar o sacerdote a Cristo e se exorta o envio à Amazónia de missionários que exercem o ministério sacerdotal no norte do mundo. Ante da crise vocacional, os círculos relevam a diminuição substancial da presença de religiosos na Amazónia e esperam a renovação da vida religiosa que seja promovida com novo fervor, sob impulso da CLAR (Confederação latino-americana dos religiosos), de modo especial no atinente à vida contemplativa. E foi focalizada a formação dos leigos, que seja integral - e não só doutrinal, mas também querigmática - fundada na doutrina social da Igreja e que leve à experiência e ao encontro com o Ressuscitado. Propõe-se o fortalecimento da formação dos sacerdotes, que não deve ser só académica, mas também realizada nos territórios amazónicos com experiências concretas de Igreja em saída, ao lado dos que sofrem nos cárceres ou nos hospitais. Foi pedida a constituição de seminários indígenas onde se possa estudar e aprofundar a teologia local.
Os círculos pedem a consolidação duma teologia e duma pastoral de rosto indígena, pois diálogo intercultural e inculturação não são entendidos como opostos. A tarefa da Igreja não é decidir pelo povo amazónico ou assumir uma posição de conquista, mas acompanhar, caminhar junto numa perspetiva sinodal de diálogo e escuta. A este respeito, foi proposta a introdução de um “Rito amazónico” que ajude a desenvolver, sob o aspeto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar, a riqueza singular da Igreja católica na região. Um dos relatórios explica:
Devem ser valorizados os símbolos e gestos das culturas locais na liturgia da Igreja na Amazónia, conservando a unidade substancial do rito romano, visto que a Igreja não quer impor uma uniformidade rígida no que não afeta a fé”.
Foi instada a promoção do conhecimento da Bíblia, favorecendo a tradução nas línguas locais. Nessa ótica, foi proposta a criação do Conselho Eclesial da Igreja Pan-amazónica, estrutura eclesiástica ligada ao CELAM, REPAM e Conferências Episcopais dos países amazónicos. E um dos relatórios discorre:
A cosmovisão amazónica tem muito para ensinar ao mundo Ocidental dominado pela tecnologia, muitas vezes a serviço da ‘idolatria do dinheiro’. Os povos amazónicos consideram o seu território sagrado. Portanto, deve ser incentivada uma reflexão sobre o valor espiritual do bioma, da biodiversidade e do direito à terra. Por outro lado, o anúncio do Evangelho e a originalidade da vitória de Cristo sobre a morte, respeitando a cultura dos povos, devem ser considerados um elemento essencial para abraçar e entender a cosmovisão amazónica.”.
O missionário é chamado a despojar-se da mentalidade colonialista, superar os preconceitos étnicos e respeitar os costumes, ritos e crenças. Por isso, devem ser apreciadas, acompanhadas e promovidas as manifestações com que os povos expressam a fé. Foi sugerida a criação de um Observatório Sócio-pastoral Pan-amazónico em coordenação com o CELAM, as comissões de Justiça e Paz das dioceses, a CLAR e a REPAM. Devem ser reconhecidas luzes e sombras na história da Igreja na Amazónia. Deve-se distinguir entre Igreja “indigenista”, que considera os indígenas destinatários passivos da pastoral, e Igreja “indígena”, que os vê como protagonistas da própria experiência de fé, segundo o princípio “Salvar a Amazónia com a Amazónia”. Neste sentido, é importante valorizar o exemplo brilhante de muitos missionários e mártires que deram a vida na Amazónia por amor ao Evangelho. E um dos círculos propôs a incentivação dos processos de beatificação dos mártires da Amazónia.   
Nos textos lidos na sala sinodal não faltaram os povos isolados voluntariamente e foi pedido que sejam acompanhados pelo trabalho de equipas missionárias itinerantes. Foi dado espaço ao tema da migração, sobretudo juvenil. Hoje, 80% da população da Amazónia encontra-se nas cidades – fenómeno de consequências negativas como a perda da identidade cultural, a marginalização social, a desintegração ou instabilidade familiar. É cada vez mais urgente a evangelização dos centros urbanos e a adequação da pastoral às circunstâncias sem esquecer favelas, periferias e realidades rurais. É urgente a renovação da pastoral juvenil. No âmbito pedagógico, pede-se à Igreja a promoção da educação intercultural bilingue e o incentivo uma aliança de redes de universidades especializadas na ciência da Amazónia e na instrução superior intercultural para as populações indígenas.
A dimensão ecológica é central nos relatórios dos círculos, que reiteram que a Criação é obra-prima de Deus, que toda a Criação está interligada. Pede-se que não se esqueça que “uma conversão ecológica verdadeira começa na família e passa por uma conversão pessoal, de encontro com Jesus”. A partir daí, importa abordar questões práticas como as  temperaturas elevadas ou combate às emissões de CO2 (dióxido de carbono). Incentiva-se o estilo de vida sóbrio e a proteção de bens preciosos incomparáveis, como a água – direito humano fundamental – que, privatizada ou contaminada, pode prejudicar a vida de comunidades inteiras. Deve ser relevado o valor das plantas medicinais e o desenvolvimento de projetos sustentáveis, através de cursos que levem ao conhecimento de segredos e da sacralidade da natureza e propõe-se o desenvolvimento de projetos de reflorestação nas escolas de formação em técnicas agrícolas.
Nessa ótica, insere-se a proposta de inserir o tema da ecologia integral nas diretrizes das Conferências Episcopais e incluir na Teologia Moral o respeito pela Casa Comum e os pecados ecológicos, bem como rever os manuais e rituais do Sacramento da Penitência. A humanidade está, de facto, a caminhar em direção ao reconhecimento da natureza como sujeito de direito. É de considerar obsoleta “a visão antropocêntrica utilitarista”, pois “o homem não pode mais submeter os recursos naturais a uma exploração ilimitada que coloca em perigo a humanidade”. É necessário contemplar o imenso conjunto de formas de vida no planeta em relação umas com as outras, promovendo um modelo de economia solidária e instituindo um ministério para o cuidado da Casa comum, como proposto por um dos círculos.
Por fim, alguns relatórios deram espaço ao tema dos meios de comunicação. E referiram que as redes católicas de comunicação devem ser incentivadas a colocar a Amazónia no centro da sua atenção com o escopo de difundir boas notícias, denunciar todas as agressões contra a terra-mãe e anunciar a verdade. Foi proposto o uso das redes sociais na Web Rádio, na Web TV e na comunicação rádio para difundir as conclusões do Sínodo. Deseja-se que o “rio” do Sínodo, com a força do “rio amazónico”, transborde dos muitos dons e sugestões oferecidos nas reflexões dos padres sinodais, na Sala do Sínodo, e que dessa experiência de caminhar juntos possam jorrar novos caminhos para a evangelização e a ecologia integral.
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Concluindo
Do exposto, é de relevar, como essencial no Sínodo, o escopo da Evangelização da Amazónia de olhos e ouvidos quer nos textos bíblicos quer na realidade amazónica, de modo que a Igreja ali viva, aja e se expanda de forma incarnada e inculturalizada. Este escopo poderá muito bem ser secundado pelo proposto “Rito Amazónico” assumido de forma holística e sustentando em sólida formulação teológico-pastoral. Esta postura impõe que se abra decididamente o caminho para a ordenação presbiteral dos preditos viri pobati (o que a teologia não impede, impediu-o a tradição eclesiástica pela via da omissão confundindo sacerdócio e celibato) e a conferição do diaconado também a mulheres religiosas e leigas, mesmo que o debate da aplicação destas prerrogativas amazónicas a toda a restante malha da Igreja Latina fique para ulterior evento eclesial. Mas a Amazónia, dada a sua especificidade, não pode esperar mais. Chegou o tempo da ousadia!
2019.10.21 – Louro de Carvalho

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