sábado, 16 de julho de 2016

Participação Portuguesa na JMJ de 2016

Decorrerá de 26 a 31 de julho, em Cracóvia, na Polónia, a XXXI Jornada Mundial da Juventude tendo como tema a bem-aventurança evangélica Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5,7) – sugerido pelo Papa Francisco em mensagem de 15 de agosto de 2015 e como 3.º vetor e remate do tríptico temático das últimas três JMJ. Os anteriores elementos são também formulação de bem-aventuranças registadas pelo Evangelho de São Mateus – “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu (Mt 5,3 – JMJ de 2014) e Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8 – JMJ de 2015).
Além dos jovens de todo o mundo e dos conteúdos da JMJ no contexto do Ano da Misericórdia, o Papa Francisco será uma das principais atrações da Jornada. Porém, a Organização da JMJ, que integra o Conselho Pontifício para os Leigos e a Arquidiocese de Cracóvia, estima em 2 milhões o número de peregrinos participantes na JMJ. Portugal é, até ao momento, o nono país, com mais de cinco mil peregrinos inscritos.
A organização tinha um pré-anuncio de 160 mil peregrinos e, na última semana de junho, o número de participantes registados saltou para os 360 mil. Nas celebrações e eventos com o Papa chegam a estar quatro vezes mais participantes do que os registados.
O prazo de inscrição fechara a 30 de junho, mas, atendendo aos pedidos que chegavam um pouco de toda a parte, foi alargado até 22 de julho, quase até às portas da JMJ. Este módulo de inscrição ‘Last minute’ permite a inscrição tanto de grupos até 150 pessoas como de peregrinos individuais, mas apenas inclui a possibilidade de participação nos atos centrais, em Cracóvia.
A chegada dos jovens provenientes das diversas partes do Orbe ocorrerá nos dias 25 e 26; e a cerimónia de abertura será no dia 26 com a missa concelebrada pelos bispos presentes e pela maior parte dos sacerdotes participantes. Pelos dias 26 a 29, realizar-se-á a feira das vocações, o festival da juventude e as catequeses com os bispos. No dia 28, far-se-á o acolhimento ao Santo Padre durante um encontro no Parque de Blonia, um dos maiores da Europa. Próximo deste local, está a ser montada uma “Área da Reconciliação”, com centenas de confessionários abertos aos jovens que queiram confessar-se e também uma tenda para a adoração ao Santíssimo Sacramento.
A Via Sacra terá lugar ao fim da tarde de sexta-feira, dia 29, revelando o lado penitencial da jornada, e a Cruz da JMJ será transportada em procissão pelas ruas da cidade, podendo os vários momentos de oração decorrer simultaneamente em vários pontos importantes da cidade.
A edição deste ano da JMJ termina em Brzegi, num “Campus da Misericórdia” com mais de 200 hectares e onde decorrerão a vigília e a missa conclusiva do evento, que deverá ser acompanhada por cerca de 2,5 milhões de pessoas, sendo que os jovens serão convidados a atravessar a “Porta Santa” ali instalada.
Durante a vigília, jovens de vários países vão ter oportunidade de expressar ao Papa as suas preocupações e dificuldades, desde o desemprego às dependências, passando pelas perseguições a que estão sujeitos nos dias de hoje.
O grande destaque da JMJ vai obviamente para a vigília, que decorrerá no final do dia de sábado (dia 30) e na manhã de domingo (dia 31). O Santíssimo Sacramento será exposto ao fim do dia de sábado diante do Papa e dos jovens peregrinos.
No domingo, terá lugar o último ato central, a Missa de Encerramento e envio, na qual o Papa Francisco anunciará o local da próxima Jornada Mundial da Juventude.
Após a Missa, está previsto um encontro do Papa com os voluntários que apoiaram a JMJ.
***
A escolha de Cracóvia para sede da 31.ª edição da JMJ não foi por acaso. A jornada de 2016 releva a famosa devoção da Divina Misericórdia, cuja festa de origem polaca foi instituída para toda a Igreja pelo Papa João Paulo II, no ano 2000 (Provavelmente quando agendou, em 2013, a XXXI JMJ para Cracóvia, o Papa já teria em mente a celebração do Ano da Misericórdia nesta ocasião). Cracóvia, aliás, foi o local onde João Paulo II viveu boa parte da sua vida, tendo-se tornado arcebispo desta arquidiocese antes de ser eleito Papa. Atualmente, até os museus da cidade contam a história do antigo padre, antigo pastor da arquidiocese e Sumo Pontífice da Igreja Católica.
Importa referir que, entrosado com o programa da JMJ, o Papa cumprirá também um programa próprio de visita à Polónia. Este programa inclui visitas aos antigos campos de concentração nazis de Auschwitz e Birkenau, no dia 29 de julho. Durante a sua permanência no local, o Papa rezará junto ao chamado “muro da morte”, no Bloco n.º 11, e na cela de São Maximiliano Kolbe. Antes disso, depois de aterrar em solo polaco, no dia 27, Francisco vai encontrar-se com o Presidente da República da Polónia, Andrzej Duda, com membros do Governo do país e com os bispos e responsáveis pela Conferência Episcopal Polaca. Além do encontro com os representantes católicos, o Papa terá a oportunidade de rezar na Catedral de Cracóvia e no templo nacional de Wawel, onde estão as relíquias do bispo e mártir Santo Estanislau. No dia 28, o destaque vai para a missa que Francisco irá celebrar no Santuário Mariano de Czestochowa, por ocasião dos 1050 anos do Batismo da Polónia. E, no dia 30, o programa papal inclui uma visita ao Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia, e ao Santuário de São João Paulo II, onde celebrará uma Missa com sacerdotes e consagrados de toda a Polónia. Estes dois santuários são igrejas jubilares, no quadro do Ano Santo da Misericórdia em curso, e a data constituirá ensejo para Francisco transpor as suas “portas santas” e convidar à prática da misericórdia e da solidariedade para com todos. 
***
Como era de esperar, Portugal não podia deixar de comparecer com os seus jovens e seus mentores da JMJ – bispos, sacerdotes e leigos empenhados. Por isso, são de destacar algumas situações interessantes.
Leopoldina Reis Simões, assessora de Imprensa, é membro da Equipa Sénior Internacional de Comunicação para a JMJ 2016 e vai, nesta condição, participar na XXXI JMJ. Após o primeiro encontro do grupo de trabalho, em abril, em Roma, e da participação numa ação de formação em Cracóvia, promovida pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa, em maio, e do restante trabalho em equipa à distância, uma distância que novos meios e tecnologias atenuam – a participante levará consigo um cachecol de Portugal, convicta de que “será bom encontrar na Polónia o tão grande número de portugueses que se anuncia”.
Segundo informação do DNPJ (Departamento Nacional da Pastoral Juvenil), seis bispos portugueses participarão na JMJ de 2016: D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa, que acompanha o DNPJ como vogal da Comissão Episcopal para o Laicado e Família; D. Manuel Felício, bispo da Guarda, D. José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança, e D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra (que “vão apresentar em cada dia um tema diferente relacionado com a misericórdia”) no jubileu dos jovens; e D. Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa, e D. António Francisco dos Santos, vogais da Comissão da Educação Cristã e Doutrina da Fé, que decidiram acompanhar os portugueses.
Porém, a novidade reside na escolha de Cuca Roseta para participar na festa portuguesa da juventude em Cracóvia. Na verdade, o diretor do DNPJ revelou que a fadista Maria Isabel Rebelo do Couto Cruz Roseta vai participar na ‘LusoFesta’, o encontro dos portugueses durante a JMJ, na Polónia. Em entrevista à agência Ecclesia, o padre Eduardo Novo explica que a ‘LusoFesta’, que decorrerá no dia 27 de julho, em Cracóvia, vai contar com o testemunho e voz da fadista Cuca Roseta (é este o seu nome artístico), uma participação que “que muito privilegia e alegra” por apresentar a música como “arte de bem combinar os sons e a espiritualidade”.
E Cuca Roseta, de 34 anos, entrevistada pela mesma agência Ecclesia, cantora porque tem esse talento, afirma que “o fado é oração” e diz que a Igreja Católica é a “casa” aonde vai “buscar o sentido para tudo”, insistindo na dimensão espiritual da sua vida, desde pequena, que nunca esquece apesar da “vida fútil” do ambiente artístico. Referindo que “é importante não ter vergonha de ser católico”, aceitou como presente participar na JMJ, um encontro onde nunca conseguiu estar, apesar de muitas expectativas criadas. Vai cantar e falar aos jovens portugueses que estarão na Polónia. O DNPJ desafiou-a a estar presente na ‘LusoFesta’ e o seu fado vai ser apresentado no Krakow Congress Centre, na Polónia.
Sobre a mensagem a transmitir aos jovens, diz que “o fado é uma espécie de prece”. Assim:
“Quem é espiritual consegue encontrar poemas que lhe digam muito nesse sentido. Eu canto muitos fados, tenho até amigos padres que às vezes escrevem letras para mim, que têm este sentido mais espiritual e vou poder cantar esses fados todos. O meu fado, que é uma música extremamente emocional e sentimental, tem tudo a ver com a mensagem católica.”.
Nega que o fado se tenha modernizado, pois, do seu ponto de vista:
“O fado mantém-se o mesmo, se calhar juntou-se umas baterias e percussões que não existiam (a Amália também juntou o baixo), mas o fado acima de tudo é a palavra, é o poema. Nós escolhemos poemas que têm a ver connosco e os jovens identificam-se com as nossas histórias. Pessoas da minha idade, ou mais novos, identificam-se com uma história de amor, de tristeza, perda ou esperança. É por isso que também têm vindo tantos jovens ao fado. É uma geração de muitos fadistas novos, com letras mais modernas.”.
Quanto ao modo “como o fado pode ajudar os jovens” ou se “quem procura o sentido da vida encontra pistas no fado”, explicita a dimensão interior, espiritual e de oração do fado:
“Cada fadista passa o seu interior. E o meu sentido, toda a minha vida, tem um sentido espiritual. Quer queira, quer não, esta espiritualidade passa de uma forma muito forte. O fado é muito sentimental, muito emocional, muito intenso e, por si, toca as pessoas. Se tiver uma mensagem espiritual, esta luz, só pode ser explosiva. Pelo menos é isso que tento, ser instrumento dessa explosão de luz. Através do fado, da música, da arte, consegue-se chegar à alma. Dizem que o fado é a música da alma e é a alma que nos liga a Deus.”.
De Francisco – embora tenha gostado muito de Bento XVI (para este cantou em Lisboa, no Terreiro do Paço a 11 de maio de 2010) e de João Paulo II – sente que é fantástico, “chega realmente muito próximo das pessoas” e “tem feito muito pela Igreja Católica”.
Confessa que sem a religião a sua vida “não faz sentido”, que não se “imaginaria a viver sem ser católica, tudo o que fizesse seria vazio, não teria sentido, morreria, pois “pertencer à Igreja Católica é viver, é dar sentido à vida”. Belo testemunho por ocasião da JMJ 2016!
2016.07.16 – Louro de Carvalho


Sem comentários:

Enviar um comentário