Vão passar a
ser 18 os elementos dedicados à análise do terrorismo no SSI (Sistema de
Segurança Interna). Com efeito,
9 representantes das polícias e serviços de informações – do SSI (referido), do SIS (Serviço de Informações de Segurança), do SIRP (Sistema de Informações da República
Portuguesa), do SIED (Serviço de
Informações Estratégicas de Defesa), da PJ (Polícia
Judiciária), da PSP (Polícia de
Segurança Pública), da GNR (Guarda Nacional
Republicana), do SEF (Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras) e da PM (Polícia
Marítima) – reforçarão a UCAT (Unidade de
Coordenação Antiterrorista), formando
uma estrutura de caráter permanente presidida pela secretária-geral do SSI. Estes
9 peritos juntam-se aos operacionais destes 9 organismos que já se reuniam
semanalmente para trocar informações. É esta a estrutura permanente de
coordenação da estratégia de combate ao terrorismo.
De acordo
com o regulamento da UCAT, aprovado em Conselho de Ministros no dia 21 pp.,, esta
“equipa técnica” contribuirá para
“Assegurar e incrementar a partilha de informações; garantir e desenvolver
a coordenação dos planos e das ações previstas na Estratégia Nacional de
Combate ao Terrorismo; assegurar, no plano de cooperação internacional, a
articulação e a coordenação relativa à rede de pontos de contacto para as
diversas áreas de intervenção em matéria de terrorismo”.
A “equipa
técnica” será destacada em permanência, 24 horas dia/7 dias por semana, apenas em
situações de crise, pois, um dos problemas que a sua manutenção ininterrupta acarretava
era a necessidade de recrutar entre 4 a 5 pessoas de cada organismo para
garantir todos os turnos.
Na
conferência de imprensa após o aludido Conselho de Ministros, a Ministra da
Administração Interna declarou:
“Com este decreto regulamentar o que se visa é reforçar o apoio operacional
a esta estrutura, que já existe, funciona e congrega todas as forças e serviços
de segurança”.
Por seu
turno, a Ministra da Justiça esclareceu:
“A UCAT existia já informalmente, trabalhava na
partilha de informação, mas neste momento aquilo que se pretende é
institucionalizar e dar corpo a uma estrutura, que prossiga essa atividade, mas
de modo permanente, reforçado e com outro nível de capacitação, não só ao nível
da recolha e da partilha de informação, como também ao nível do acompanhamento
de execução dos vários planos que existem em matéria de combate ao terrorismo”.
Mais acrescentou esta governante que a estrutura
funciona independentemente da existência ou não de ameaça iminente de ataque terrorista
na Península Ibérica da parte do Daesh,
ameaça que, apesar de dada como certa por algumas fontes, não passou de
especulação.
***
Julga-se que
a visita de François Hollande, no passado dia 19, fez antecipar a decisão
governamental de reforço da UCAT. Na verdade, o Presidente francês visitou oficialmente
Portugal no dia 19, numa deslocação aprazada e anunciada a 10 de junho, durante
as comemorações do Dia de Portugal que decorreram em parte em Paris, e que foi
encurtada devido ao atentado de Nice, do dia 15.
A
visita ocorre num momento de desafios vários para a Europa e, em especial, para
Portugal e França: o atentado de Nice trouxe de novo à tona o combate ao
terrorismo, ao mesmo tempo que os efeitos do “Brexit” e eventuais sanções a Portugal
por défice excessivo continuam a pairar, por mais injustas e descabidas que
sejam: por mais que digam que é para penalizar o incumprimento de 2015, quem
ficará com o ónus será o atual Governo. A UE penaliza Portugal por ter mudado
de Governo e distrai os cidadãos do descalabro da banca italiana (e
de outros países) e dos
efeitos do “Brexit”.
Hollande reuniu com o Primeiro-Ministro, depois de um
encontro em Belém com o Presidente da República. E a conversa terá reiterado o
que foi enunciado a 10 de junho, em Paris, por Marcelo e Costa, que sinalizaram a convergência de
Portugal e França “na visão sobre questões como a parte orçamental, como os
refugiados, como as migrações”. Obviamente que “a parte orçamental” inclui as
sanções – trate-se de sanção zero ou simbólica, trate-se de sanção efetiva traduzida
em multa máxima, média ou mínima ou em retenção de fundos total ou parcial.
E, se
Hollande também se manifestou contra a aplicação de sanções a Portugal, por
injustas e ineficazes, a sua preocupação central é o combate ao terrorismo e a
segurança europeia. Assim, de semblante carregado e com uma expressão de
tristeza, o Presidente francês afirmou no final do encontro com Marcelo Rebelo
de Sousa, no Palácio de Belém:
“No quadro
do novo impulso que pretendemos dar à construção europeia, a primeira
prioridade é a proteção, a defesa e a segurança das nossas fronteiras”.
Mais referiu
que na cimeira europeia de Bratislava, em setembro, serão tomadas iniciativas
para reforçar a segurança das fronteiras europeias, dizendo:
“Temos
consciência da ameaça terrorista, mas a França é um alvo preferencial por ser a
liberdade, a democracia. Se os terroristas nos atingem é por saberem o que a
França representa.”.
Hollande
sente que “Portugal e os portugueses partilham a dor” sentida no seu país mercê
dos atentados terroristas que o têm atingido. Por isso, declarou aos jornalistas
depois do almoço com Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém:
“Partilhamos os mesmos valores de democracia, liberdade e igualdade e,
quando os terroristas atacam a França, estão a atingir todos os países que os
partilham”.
Sublinhou,
ainda, que “o anima” o facto de saber que estes países “estão unidos contra os
terroristas que os querem dividir e são capazes de reagir com a força
necessária”, apontando a segurança
como uma das prioridades para a UE. E, considerando que Portugal tem estado
sempre ao lado da França, nomeadamente após os atentados de 13 de novembro, em
Paris, o Presidente francês afirmou que Portugal “sabe que a democracia
defende-se” e que “a Europa não é apenas procedimentos, contas e disciplinas”,
mas “valores e princípios” – “uma comunidade de destino”.
Por sua vez,
Marcelo lembrou a “antiga aliança” entre os dois países e agradeceu “do fundo
do coração” a visita do seu homólogo “numa altura tão complexa em França”.
***
Há mais de um ano (fevereiro de 2015), foi aprovada a ENCT (Estratégia Nacional de Combate ao
Terrorismo), mas estava por definir a nova
organização da UCAT e o seu reforço operacional, previsto neste documento
orientador. Ora, a UCAT, enquanto estrutura de troca de informações sobre
terrorismo entre as polícias e as secretas, deve transformar-se numa estrutura
permanente com representantes de todos os serviços de informações e das diversas
forças de segurança com responsabilidades acrescidas. Além da troca de informações,
deverá assumir a execução da ENCT, no atinente aos planos previstos, como a
prevenção da radicalização, a proteção das infraestruturas críticas e a
articulação operacional.
Estava
agendada para ser discutida a nova organização em Conselho de Ministros do dia
28 de julho, mas António Costa anunciou que o novo regulamento da UCAT seria
aprovado ainda na semana em curso. A antecipação teve como pretexto a visita do
Presidente francês que ele reduziu para 4 horas, mas, apesar de tudo, não adiou
como fez com outras. De facto, está ainda lá muito agitado o ambiente e é
profunda a consternação pela vitimação letal de 84 pessoas originada pelo
ataque de Nice. É preciso tratar dos feridos, fazer o luto e reforçar a
segurança.
***
Sobre as sanções,
o Chefe do Estado francês garantiu que o seu país está ao lado de Portugal na
oposição à aplicação de sanções por causa do incumprimento do défice em 2015, sustentando
que UE será injusta se o fizer. A este respeito declarou:
“O que venho hoje dizer a Portugal é que precisamos de regras comuns,
fazemos parte de um todo, mas precisamos de solidariedade e de esperança. O
povo não pode viver apenas de procedimentos e deve viver de projetos e o
projeto europeu não se pode reduzir simplesmente a regras e à disciplina, são
necessárias, sim, mas também não podem constituir o caminho que queremos seguir
para a Europa”.
O visitante também
afirmou que a Comissão Europeia não pode pedir a Portugal mais do que aquilo que
o país já fez e relembrou os "esforços e sacrifícios" dos portugueses.
E, considerando Portugal e a França “dois grandes países europeus”, Hollande
recordou a “lucidez” de François Mitterrand, que, “logo após a queda da
ditadura”, a 25 de abril de 1974, convidou Portugal a aderir à então a
Comunidade Económica Europeia (CEE), atual
União Europeia (UE).
Recorde-se,
em abono da verdade, que, segundo um estudo do Institut of Economic Research, a França foi o país europeu que mais
vezes violou a meta do défice (11 vezes). Desde
2002 apenas cumpriu o défice em 2006 e 2007.
***
Sobre o “Brexit”,
o visitante defendeu a necessidade de se acelerar o início do processo de
negociações com Londres, tema que será aprofundado na cimeira de Bratislava, e
esclareceu:
"É preciso acelerar a abertura das negociações com o Reino Unido, para
que, depois, a Europa possa, ela própria, definir a sua relação com países
amigos, como o Reino Unido”.
Além disso, espera
o lançamento da nova estratégia da construção europeia nos domínios da
segurança, proteção, investimento, emprego e juventude, bem como o reforço da
zona Euro.
***
François
Hollande chegou a Portugal quatro dias depois do atentado de Nice. Deixou um
país de luto e uma onda crescente de contestação ao governo por causa da
insegurança.
O visitante
francês foi recebido no Palácio de Belém ao som da banda da GNR, que tocou o
hino francês, seguido do português. Depois, Hollande e Marcelo entraram no
Palácio onde o chefe de Estado francês assinou o livro de honra, escrevendo:
“França e Portugal partilham dos mesmos valores de liberdade e da mesma
visão da Europa. A minha visita testemunha a profunda amizade que une os dois
povos nestas circunstâncias difíceis em que a França vive”.
De Belém
Hollande seguiu para a residência oficial do Primeiro-Ministro, para uma
reunião de trabalho e terminou a sua visita numa receção na embaixada francesa,
para contactar com a comunidade residente em Portugal.
Dado o ambiente
que rodeia a França, o programa elaborado na sequência do 10 de junho fica adiado
ou os seus objetivos – por exemplo, avaliar potenciais investimentos no nosso país
ou visitar o Mosteiro dos Jerónimos e a Museu de Arte Antiga – serão atingidos
de outra forma.
Não obstante,
espera-se o reforço da segurança na Europa, o combate efetivo ao terrorismo e o
efetivo relançamento do projeto europeu. Será a Europa capaz disto? E qual o
efetivo papel de Portugal? Capachos dos grandes não queremos ser, pois não?! Nem
bons alunos…
2016.07.22 – Louro de Carvalho
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