No passado dia 22 de julho, um jovem de 18 anos de
nacionalidade alemã e iraniana atirou sobre os circunstantes, primeiro, na filial
do McDonald's anexa ao Shopping Central
Olympia, em Munique, e, a seguir, no próprio Centro Comercial. O atentado
vitimou mortalmente 9 pessoas e deixou feridas 27, das quais 16 estão
internadas e 3 a inspirar cuidados especiais.
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Devido ao
elevado número de vítimas mortais adolescentes do referido tiroteio, a polícia
está a investigar, com base em fundadas suspeitas, se Ali David Sonboly tinha como principal alvo pessoas jovens,
pois, como refere a Sky News –
citando o Ministro do Interior alemão – algumas pistas indicam que Sonboly sofria de “bullying” já há algum tempo na escola, o que pode ter induzido
a perpetração do ataque. Com efeito, na filial do McDonald’s, local onde começou
a disparar primeiro, 4 das pessoas que estavam sentadas a uma mesa e acabaram
por morrer, foram 2 raparigas kosovaras de 14 anos e os seus 2 amigos turcos,
de 14 e 15 anos; outra das vítimas, Hussein Daitzik, com 17 anos, era de
nacionalidade grega e terá morrido a tentar proteger a irmã; e Guiliano Kollman, de 18 anos,
morreu à porta do estabelecimento.
As
autoridades acabaram por excluir a hipótese de o ataque estar ligado ao Estado
Islâmico, mas relacionaram-no com o assassino Andreas Breivik, que matou 77 pessoas e feriu outras 51 na Noruega,
no dia 22 de julho de 2011. Por outro lado, Buscas feitas ao quarto do jovem atirador
revelaram que Ali David estava
obcecado com mortes em grande escala. E o tabloide alemão Bild noticiou, no dia 23, que o rapaz tinha uma foto do norueguês no
seu perfil do WhatsApp,
uma aplicação de conversação instantânea por telemóvel – o que leva a concluir
que a data escolhida para o ataque não foi uma coincidência (passam exatamente 5 anos e foi a 22 de
julho).
Entretanto,
informações policiais, citadas pela BBC,
indicam que Sonboly estava a planear
o ataque há cerca de um ano – comportamento típico nestes casos, segundo vários
especialistas. A arma, uma Glock de 9mm que tinha o número de série raspado,
terá sido comprada pela Internet, no submundo da Internet conhecido como a Deep Web. E uma tese da investigação já validada pelas
autoridades policiais defende que Sonboly,
conhecido como “o filho do taxista”, terá colocado um post na rede social Facebook a oferecer comida gratuita no restaurante McDonald’s (onde viria a cometer o crime) – post feito em nome de um
perfil falso, criado por Sonboly, de
uma rapariga, Selima Akim. Segundo a Sky News, ainda antes do sucedido, um jovem
terá respondido ao post de “Selima Akim”, alertando que “isto é uma conta falsa criada por um
miúdo chamado Ali Sonboly” e que não
criassem expectativas de que haveria comida grátis naquele McDonald’s às 16
horas. E acrescentou que o rapaz era “psicologicamente perturbado” e só queria “atenção”.
Ademais, a
polícia alemã também revelou que Sonboly
terá visitado a cidade de Winnenden – onde, em 11 de março de 2009, houve um
tiroteio semelhante (um
rapaz de 17 anos disparou sobre os estudantes de uma escola secundária, matando
16 pessoas) – e tirou fotografias visando preparar o massacre que
viria a concretizar no passado dia 22 de julho. E, numa curta conferência de
imprensa, a polícia forneceu detalhes sobre os tratamentos psiquiátricos a que Sonboly terá sido sujeito, de que
ressalta que o jovem estivera internado durante dois meses numa clínica psiquiátrica, em 2015, e
depois continuara a receber terapia enquanto paciente externo. E, ao invés do
que era defendido a princípio, embora não haja evidências de ligações a grupos
terroristas ou jhiadistas, o jovem atirador, que acabou por se suicidar, não
terá agido sozinho. Assim, a polícia do estado da
Baviera revela, em comunicado, que um jovem afegão de 16 anos, amigo do atirador, foi detido por suspeitas de
conhecer os planos do ataque e que o pai do
rapaz responsável pelo tiroteio reconheceu o filho pelas imagens divulgadas na
internet e avisou as autoridades.
***
O que se diz
do rapaz? Os vizinhos adultos de Ali
David Sonboly descreveram o atirador como um miúdo relativamente normal,
ainda que muito resguardado e “um pouco nervoso” e até “pacato” e um “bom ser
humano”. Telfije Dalpi, um vizinho da família oriundo da Macedónia, afirmou à Reuters:
“Estou chocado, o que aconteceu ao rapaz? Só
Deus sabe o que aconteceu” (…). “Não faço ideia o que aconteceu – mas ele era
um bom ser humano. Não faço ideia se fez outras coisas más noutras ocasiões”.
Apesar de ser
uma pessoa recatada e de não ser visto muitas vezes, foi facilmente reconhecido
nos vídeos que surgiram na televisão e Internet logo após o incidente. “Eu
via-o de vez em quando a passar. Era uma pessoa muito tímida e alta, quase
1,90m de altura”, notou o vizinho, que tem uma padaria na zona. “Não era muito
virado para o desporto, era um pouco gordinho”.
Apesar de ser
alto, o jovem não tinha um aspeto intimidante. “Tinha uma personalidade um
pouco estranha, parecia sempre um pouco nervoso“,
disse ao The Guardian o vizinho, Stephan Baumanns. Opinião
distinta tem outro vizinho que falou com a televisão local Bayerischer Rundfunk. “O rapazinho foi sempre muito, muito
simpático. Não tenho nada a dizer de negativo sobre ele”.
A descrição mais
negativa que um deles sublinha que parecia ser “preguiçoso”, por ter tido um
emprego a distribuir jornais gratuitos, nomeadamente o gratuito Münchener Wochenblatt, mas ter preferido
colocá-los todos no caixote do lixo.
Contudo, descrição totalmente diferente
é feita por quem partilhava os bancos da escola com o jovem, sustentando que ele era vítima de bullying e várias vezes avisou: “um dia, mato-vos a todos”. Uma ex-colega afirmou ao Daily Mail que “Ele sempre disse que um dia nos ia
matar”. Segundo ela, ele chamava-se a si próprio “o Psycho” nos
jogos online de combate
que frequentava. Uma outra colega, descrevendo-o como um solitário, obcecado
por computadores e jogos de tiros, diz que terá sido várias vezes incomodado
por alguns colegas e que “Ele não era uma pessoa bem vista na escola, só tinha
dois ou três amigos que passavam algum tempo com ele”. E, ainda numa discussão
recente com colegas de escola e vizinhos, o atirador deixou claro que
tencionava, um dia, levar a cabo um massacre. “Um dia, mato-vos a todos”, terá
dito, de acordo uma colega que, segundo o Daily
Mail, chegou a ver Ali David horas antes do massacre e referiu que “ele estava sozinho de pé, a olhar
para o chão; normalmente costumava dizer ‘olá’, mas nesse dia
nem olhou para mim quando passei por ele”.
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O caso está a
levar vários responsáveis políticos na Alemanha a exigir um controlo mais
apertado. Sigmar Gabriel,
vice-chanceler alemão, diz que se deve fazer “tudo o que for possível” para
limitar o acesso a armas mortíferas. E Thomas
de Maiziere, Ministro do Interior, disse já existirem planos para rever as
leis associadas à posse de armas
na Alemanha.
Talvez a
estratégia estivesse escrita num dos vários livros sobre massacres que foram
encontrados no quarto em que dormia. Horas antes de sair de casa para cometer o
crime, Ali David quis assegurar que
não faltariam jovens no restaurante para onde se dirigiu com uma Glock
9mm e cerca de 300 balas na mochila, para os atacar, embora sem ter especificado
quem estaria sob a sua mira.
O seu corpo
foi encontrado a um quilómetro de distância do local do crime. O corpo tinha
uma bala alojada na cabeça e o facto de ser esquerdino ajudou a perícia a confirmar que ele se terá
suicidado. Na noite do dia 22, chegou a admitir-se a possibilidade de
o atirador ter sido baleado pela polícia e ter fugido, para morrer minutos mais
tarde.
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Sonboly é descrito como um jovem viciado em
jogos de computador em que o jogador veste a pele de um atirador. Ao contrário
do que fora avançado inicialmente, Heimberger
informou que nas buscas feitas à casa do jovem a polícia não encontrou o
manifesto de Anders Breivik, o homem
que cinco anos antes matara 77 pessoas em Utoya e Oslo, na Noruega. Na véspera,
colocara-se a hipótese de Sonboly se
ter inspirado nos atos do norueguês, tendo sido dado como certo que o jovem
alemão era obcecado por assassínios em massa.
Era conhecido
como “o filho do taxista” – nasceu
em Munique, mas só vivia na zona há cerca de dois anos, com os pais (alguma informação permitia sustentar
que vivia sozinho) – e nunca
deu aos vizinhos especiais razões para memorizarem o seu nome até ao dia 22 de julho.
E a polícia diz que era um “obcecado” por massacres a tiro.
As
autoridades fizeram saber, poucas horas após o massacre, que o autor não tem
ligações com grupos terroristas ou jiadistas, como se suspeitou. E não é claro
que o massacre tenha tido motivações políticas. Certo é que Sonboly sofria de depressão e “tinha
medo de contactar com os outros”, afirmou Thomas
Steinkraus-Koch, porta-voz do Ministério Público em Munique.
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O caso merece reflexão do ponto de vista da política, da pedagogia e da
saúde. São cada vez mais conhecidos casos de “bullying” na escola e fora
da escola – o que parece passar bastante ao lado das
autoridades escolares e policiais, começando por não valorizar pequenas
amostras, pois as remetem para brincadeiras de crianças ou comportamentos próprios
da idade. Daí pode resultar a via para o suicídio, como forma de evasão, ou o planeamento
da vingança (afirmação de autossuperação) que pode dar em formas de violência que
pode chegar a situações extremas, como foi o caso, que infelizmente é um entre
tantos. Por outro lado, sabe-se como se tornam invasivos os filmes, os jogos (nomeadamente pela Internet), que respiram e transpiram obsessão e violência e criam dependências.
Aqui, é necessária a definição de políticas públicas de prevenção, acompanhamento
e punição; é exigível o tratamento pedagógico dos comportamentos desviantes,
prevenindo, debatendo, desmontando, vigiando, cuidando e sancionando; e as
autoridades de saúde têm de estar mais atentas e reconhecer que o tratamento
temporário e assente na adesão voluntária do paciente não basta e entregar posteriormente
o paciente a terapia não acompanhada não resulta. Depois, o acesso fácil às
armas facilita o aparecimento de tragédias que, depois, resolvemos com flores e
declarações de repúdio e solidariedade. Coisa similar se diga da violência no namoro,
muita da qual nasce na própria escola, se curte nela e a partir dela se
exporta.
Não quero ser injusto para com a escola, pois a mentalidade empresarial e
hedonista criada e alimentada pela sociedade traz mais malefícios. Mas a escola
deve cultivar a maestria da vida.
2016.07.24 – Louro de Carvalho
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