O cardeal-arcebispo de Cracóvia Stanislaw Dziwisz presidiu,
na tarde de hoje dia 26, no Parque de Blonia situado naquela cidade polaca, à
celebração da missa de abertura da XXXI Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em cuja homilia se deteve no diálogo de Jesus ressuscitado
com Simão Pedro nas margens do Lago de Tiberíades. Neste diálogo (Jo 21,15-19)
Jesus perguntou três vezes a Pedro – mas sob o nome primevo e de família, Simão
filho de João – se O amava. E, face à tríplice confissão de amor em resposta ao
tríplice questionamento, Jesus confia ao apóstolo o encargo de apascentar os
seus cordeiros, as suas ovelhas. Isto significa que Jesus pretende o amor total
do discípulo com toda a sua personalidade (Simão),
a sua origem (Filho de
João) e o seu futuro (Pedro), como conditio
sine qua non para lhe entregar uma tarefa, uma missão de grande
responsabilidade: o apostolado, o pastoreio.
Hoje, Jesus não questiona apenas Simão Pedro e nas
margens do Lago, mas todos os jovens que estão em Cracóvia, fisicamente ou in mente, nas margens do rio Vístula,
que perpassa toda a Polónia desde os montes ao mar. E quere-os como cada um é,
donde vem e como há de ser.
É em torno da experiência de fé e de amor da parte de Pedro
que o purpurado suscita a reflexão dos jovens e de seus acompanhantes. Porém,
em vez de colocar por três vezes a mesma pergunta, Stanislaw Dziwisz coloca
três questões e motiva as respostas de cada um. E as perguntas são:
Donde viemos até chegar a este encontro? Onde estamos hoje, neste momento
da nossa vida? E, a partir deste momento, em que direção colocaremos o resto da
nossa vida ou o que é que vamos levar deste lugar?
Como resposta à 1.ª questão, o cardeal aponta medos e
desilusões, recordações e esperanças, e sobretudo o desejo de vida “num
mundo mais humano mais fraterno e solidário”. Damos conta das nossas fraquezas,
mas acreditamos que “tudo podemos naquele que dá força”. À 2.ª, sugere
como resposta o facto de Jesus, luz do mundo ter ali reunido os jovens à volta
do Pedro dos nossos tempos, agora sob o nome de Francisco, como garantia da
universalidade da fé católica. E, como não podia deixar de ser, em Ano da
Misericórdia e na terra da Misericórdia – através de São João Paulo II e de
Santa Irmã Faustina – acentuou o mistério da Divina Misericórdia. E como
resposta à 3.ª questão, quer que, regressando aos seus países, casas e
comunidades, levem a chama da misericórdia, lembrando a todos e a cada um: “bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia”. É efetivamente necessário levar a cada um dos
outros a chama da fé e acender com ela outras chamas, para que os corações
humanos batam no ritmo do Coração Misericordioso de Cristo, “fonte ardente de
caridade”. Urge que a labareda do amor “envolva todo o nosso mundo, para
que nele não haja mais egoísmo, violência e injustiça, e que na nossa terra se
reforce a civilização do bem, da reconciliação, do amor e da paz”.
Simão Pedro, fortalecido no Espírito Santo, mais do que
“testemunha corajosa de Jesus Cristo”, tornou-se “a rocha da Igreja nascente”.
E, nessa condição de pastor, pagou com a vida na capital do Império Romano,
pregado na cruz como o seu Mestre, tal como Jesus predissera:
“Quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para
onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há de atar
o cinto e levar para onde não queres” (Jo 21,18).
O sangue de Pedro tornou-se semente de fé e de crescimento da
Igreja, que abraça toda a terra.
***
O cardeal, que foi secretário do Papa polaco da Divina
Misericórdia, assemelhou este encontro da pluralidade de geografias, etnias,
culturas e línguas ao movimento do dia de Pentecostes, a inspirar atitudes e
comportamentos individuais e coletivos por toda a parte em mais de dois
milénios. E, de olhos postos no mundo de migrantes e refugiados a quem se abrem
as portas da exploração e da miséria, mas se fecham as do acolhimento e
integração ou regresso – ou os atentados cirúrgicos ou em massa, as
perseguições, as desigualdades e o tráfico de pessoas –, evocou a Polónia mártir
cuja história não foi fácil, mas cujos filhos procuraram “sempre permanecer
fiéis a Deus e ao Evangelho”.
Assegurando que quem segue Jesus “não caminhará nas trevas” (cf Jo 8,12), porque “Ele é o caminho, a verdade
e a vida” (cf Jo 14,6; 6,68), garantiu que somente Ele “pode
satisfazer os desejos mais profundos do nosso coração”. Ele, que “nos
conduziu até aqui” está no meio de nós e “nos acompanha como aos discípulos
no caminho para Emaús” (cf LC 24,13-35).
É certo que este encontro “dura apenas alguns dias”. Mas,
sendo uma experiência intensa de espiritualidade e catolicidade, “requer algum
esforço”. E, ao regressarmos às “nossas casas, aos nossos entes queridos, às
escolas, universidades e locais de trabalho”, teremos propósitos
significativos, novos objetivos na vida e talvez o convite claro de Jesus como
a Simão Pedro: “Tu, segue-me” (Jo 21,22). É claro que o prelado de Cracóvia acha melhor não antecipar
uma resposta definitiva àquela terceira das questões acima enunciadas. Sugere,
antes, que aceitem o desafio, partilhando nestes dias o que têm de mais
precioso: a fé, as experiências, as esperanças. Sugere que modelem agora os
pensamentos e os corações. Apela a que escutem as catequeses dos bispos,
“escutem a voz do Papa Francisco, participem com emoção na santa liturgia, experimentem
o amor misericordioso do Senhor no sacramento da reconciliação”. Além disso,
pede que tomem conhecimento “das igrejas de Cracóvia, da riqueza da cultura
desta cidade, bem como da hospitalidade dos seus habitantes e das outras
localidades próximas, onde encontrarão repouso depois das fadigas do dia”. E
citando o profeta Isaías, que fala dos “pés cheios de encanto do mensageiro da
boa nova” (cf Is 52,7), evoca João Paulo II como
mensageiro da paz, iniciador das Jornadas Mundiais da Juventude, amigo dos
jovens e das famílias. E, a seu exemplo quer que os jovens sejam mensageiros da
paz, portadores da boa nova de Jesus Cristo, testemunhas de que vale a pena
confiar a Ele o nosso destino e o que devemos fazer. Enfim, recomenda vivamente
que “escancarem as portas dos seus corações a Cristo” e que anunciem com
convicção, como Paulo, que “nem a morte, nem a vida [...], nem nenhuma outra
criatura, poderá separar-nos do amor de Deus, em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8,38-39).
***
O dia inaugural da XXXI JMJ surge na ressaca dum ataque em
Nice, dum ataque no Afeganistão, na proximidade dum atentado em Munique, dum
massacre num centro de deficientes no Japão, do baleamento dum médico num
Hospital de Berlim e hoje no sequestro e decapitação dum sacerdote de 84 anos
que estava acompanhado de alguns participantes (cinco) na missa numa igreja em Sant-Etienne-du-Rouvray, na Normandia, que
foram feitos reféns e de que morreu um. Parece que o mundo está podre de ódio
ou caduco de doidice.
Porém, o arcebispo de Rouen, Dominique Lebrun, presente em
Cracóvia para a JMJ, fez saber:
“De
Cracóvia soube da matança ocorrida esta manhã na Igreja de
Saint-Etienne-du-Rouvray. As três vítimas: o sacerdote, Padre Jacques Hamel, de
84 anos, e os autores do assassinato. Três outras pessoas ficaram
feridas, sendo uma delas gravemente. Eu clamo a Deus com todos os homens
de boa vontade. Convido os não-crentes para participarem deste clamor! Com os
jovens da JMJ, nós rezamos como rezávamos junto ao túmulo do Padre Popielusko,
em Varsóvia, assassinado durante o regime comunista”.
Referindo que o Vigário Geral, Padre Philippe Maheut, chegara ao local pouco depois do
ataque, o arcebispo, selecionando as armas da oração e da fraternidade,
prometeu regressar de imediato à Normandia:
“Eu estarei na noite de hoje na
minha Diocese junto das famílias e da comunidade paroquial que está chocada. A
Igreja Católica não pode usar outras armas que a oração e a fraternidade entre
os homens. Eu deixo aqui centenas de jovens que são o futuro da humanidade, é
verdade. Peço-lhes para não ceder à violência e se tornarem apóstolos da
civilização do amor”.
***
E, enquanto se
registam na JMJ presenças de jovens extraordinárias – como: “quase 700 jovens
da Terra Santa” e 17 jovens birmaneses
acompanhados por 4 sacerdotes” – referem-se três factos: crianças com
cancro rezam pela JMJ e convidam o Papa; a
fundação AIS lançou uma campanha denominada “Let’s Be One” (Sejamos
um); e jovens cubanos, que não podem ir a Cracóvia fazem a sua JMJ.
-
A ONG Peter Pan convidou o Papa a participar, com
crianças e adolescentes com cancro, numa oração no dia 27 de julho, às 8,45 horas,
antes de partir para Cracóvia, diante do túmulo de São João Paulo II. Pede-lhe
também que leve consigo à JMJ as orações destas famílias e
que as una às dos jovens participantes no evento, a fim de que, por intercessão
de São João Paulo II, os pequenos reencontrem a saúde. Todas as manhãs, a
partir de 27, o padre polaco Jarek Cielecki presidirá à oração no Vaticano e
serão acesas 2 velas com as imagens de Jesus Misericordioso e de João Paulo II.
- A AIS
sensibiliza os peregrinos que estão na Polónia para a existência de muitos,
oriundos de diversos países, não estão presentes na JMJ por diversas razões,
entre as quais, a perseguição religiosa. Nesta campanha, difundida sobretudo
pelas redes sociais, há vários filmes curtos, em que jovens explicam as razões
por que não vão à Polónia, mas garantem que estarão “todos juntos em oração”
com os participantes. E, se alguns não conseguiram viajar por questões económicas,
outros houve que decidiram ficar nos seus países para prosseguirem o trabalho que
não pode ser interrompido. Além dos pequenos filmes, os participantes na JMJ
vão assistir a um musical, “Por causa do
meu Nome”, dedicado aos cristãos perseguidos.
- Uma JMJ em miniatura (1400 jovens), com o Mar do Caribe como panorama, realizar-se-á, em
Havana, de 28 a 31. Participam os jovens cubanos que por várias razões não
podem estar presentes na JMJ em Cracóvia, que por carta partilharam com o Papa
a ideia desta experiência:
“Na JMJ do Rio de Janeiro, convidou-nos
a voltar às nossas dioceses e fazer barulho. Disse-nos que esperava que esse
barulho se tornasse o fruto dessa Jornada. Em Havana, exortou-nos a sonhar, e a
sonhar coisas grandes. Levamos a sério estes convites. Sonhamos alto e estamos
preparando um grande barulho”.
E prosseguem os jovens:
“No mesmo período da JMJ de Cracóvia
preparamos uma Jornada em Havana, com os mesmos esquemas e temas. Usaremos o
nome da JMJ porque não queremos que seja um evento somente nosso, mas queremos
daqui estar em comunhão com o senhor [o Papa] e todos os jovens que se reunirão
em Cracóvia. (…). Não nos resignamos diante das dificuldades económicas que nos
impedem ir numerosos a Cracóvia, que nos impedem de viver esta experiência.”.
Serão feitas catequeses e momentos comuns, uma
Via-Sacra e a passagem pela porta santa.
Oxalá que todo o bem arrede de vez o mal que tenta
sobrepor-se-lhe!
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