Celebra-se
anualmente, a 18 de maio, o
Dia Internacional dos Museus. É uma
celebração que se faz desde 1977, por proposta do ICOM – Conselho Internacional
de Museus, organismo da UNESCO. Em cada ano é escolhido um tema central para
comemorar a efeméride. O de 2016 é “Museus
e paisagens culturais” – ou seja, a relação dos museus com a paisagem cultural –, visando promover a ideia do museu enquanto “centro
territorial de proteção ativa da paisagem cultural”. Esta função
museológica pode ser concretizada em diferentes níveis, nomeadamente através da
sensibilização das comunidades para o papel interventivo que podem desempenhar
na conservação e valorização de tão vulnerável universo patrimonial e para
contribuírem para a minimização da sua degradação ou mesmo do seu
aniquilamento.
De há bastantes anos a esta parte, se vem desfazendo a velha
ideia de que o museu se limitava a funcionar como repositório de testemunhos do
passado artístico sem implicações significativas no presente ou para o futuro,
de tal modo que, ao topar-se uma coisa rara, velha e de certo valor ou uma
pessoa antiga e sabedora, se gracejava chamando-lhe objeto ou peça de museu.
Hoje o conceito de museu está alterado e, sem negar a sua
função de testemunho do passado artístico, acentua-se a vertente patrimonial
enquanto testemunho da história das mentalidades, das atividades e dos grandes
desígnios da humanidade a nível mundial, nacional regional e local. Além disso,
o museu configura um espaço e um instrumento de diálogo com a sociedade e ganha
um dinamismo social e cultural que põe ao serviço das pessoas e da comunidade
em geral, criando oportunidades especiais de educação e enriquecimento
cultural.
Assim, o tempo de museu encurtou-se e, ao lado de museus de
arqueologia, de arte antiga, dos coches e quejandos, temos museus de arte
contemporânea, do traje, da eletricidade, do automóvel, do carro elétrico, da
ciência, do amanhã, do brincar, etc. Por outro lado, além das coleções
permanentes, os museus dispõem de coleções temporárias, muitas das quais se
destinam à promoção de talentos e valores emergentes no hoje e promissores de
futuro. Ademais, organizam encenações, visitas guiadas, percursos, videogramas,
exibição de filmes, publicações, bibliotecas, arquivos e tantas outras
iniciativas.
Como justificação desta afirmação de aposta na atualidade e
no constante desenvolvimento de mecanismos de diálogo com a sociedade,
recordam-se os temas dos três últimos anos, que falam por si: 2013 – “Museus (Memória + Criatividade) = Mudança Social”; 2014 – “Museus: as coleções criam conexões”; e 2015 – “Museus
para uma sociedade sustentável”.
Está visto
que é preciso que o Ministério da Cultura disponha de orçamento bem mais opimo
ao serviço dos museus e de outros bens culturais. E, enquanto se saúda o
crescimento da frequência dos museus por parte dos jovens e dos diplomados com
cursos superiores, entende-se necessário e oportuno o incentivo a que muitos
mais frequentem os museus e o façam com olhos de ver e mente de entender. Por
outro lado, são sempre bem-vindas todas as manifestações significativas de
mecenatismo cultural e educativo que não tenham em vista o mero prestígio
pessoal e/ou a simples caça a benefício fiscal.
***
Neste dia, vários museus tiveram entrada gratuita,
tornando-se possível visitar as suas exposições e obras, assim como participar
nas iniciativas preparadas para comemorar o Dia
Internacional dos Museus. O horário de funcionamento dos museus foi
alargado com o objetivo de mais pessoas poderem visitar os espaços museológicos
do país. Em especial, os museus, palácios e monumentos tutelados pela DGPC (Direção-Geral
do Património Cultural) tiveram
entrada livre, o que também sucederá na Noite
dos Museus, a 21 de maio, pois estarão abertos e gratuitamente acessíveis,
a partir das 17,30 horas.
Cerca de 44
municípios aderiram às celebrações, nos seus 79 museus, monumentos e palácios,
participando com aproximadamente quatro centenas de atividades muito variadas,
como visitas guiadas, percursos, exposições, ateliês, teatro, palestras,
concertos e lançamentos de livros.
Em Lisboa, o
Museu Nacional dos Coches promoveu,
entre as 10 horas e as 17 horas e meia, o “Passeio
Real por Belém”, que fez um percurso pela zona histórica de Belém em
charrete, com partida do novo edifício. E,
no âmbito da parceria entre a Direção Geral do Património Cultural e a
Volkswagen, foi inaugurada, às 17,30 horas, no Museu Nacional da Música, também em Lisboa, uma das rotas da
iniciativa Museus em Movimento, com
um dos concertos integrados no ciclo Um
Músico, Um Mecenas. Terminado
o concerto, as direções das entidades envolvidas e jornalistas dos principais
meios de comunicação nacional foram levados até ao Museu Nacional dos Coches, onde a viatura VW Pão-de-Forma, de 1953,
está em exposição ao público entre hoje, Dia
Internacional dos Museus, e o dia 21, Noite
Europeia dos Museus.
Para
assinalar a data, o Primeiro-Ministro, António Costa, visitou a partir das 12
horas, a exposição “Lusitânia Romana.
Origem de dois povos”, no Museu Nacional de Arqueologia, organização
conjunta do museu português, com o Museo
Nacional de Arte Romano, de Mérida, Espanha, com a colaboração científica
da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa.
***
Conexa com o Dia
Mundial dos Museus, vem a Noite
Europeia dos Museus,
criada pelo Ministério Francês da Cultura e da Comunicação, que decorrerá
a 21 de maio e a cuja celebração os museus portugueses
irão associar-se uma vez mais. Na Noite Europeia
dos Museus, os museus estarão abertos gratuitamente, a partir das 17,30
horas.
Também na
capital, mas no dia 21 de maio, Noite Europeia dos Museus, às 18 horas, o Museu
da Água realizará “Os fantasmas do
Loreto”, uma visita comentada na galeria subterrânea do Loreto, com
animação histórica que irá percorrer 1,2 quilómetros, entre o reservatório da
Mãe d'Água, das Amoreiras, e o Reservatório da Patriarcal, no jardim do
Príncipe Real.
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Como foi
referido, estiveram em destaque: o MNA (Museu Nacional de Arqueologia do
Doutor Leite de Vasconcelos – é esta a designação oficial) com a vista do chefe do Governo e a exposição por ele
visitada; e o MNC (Museu Nacional dos Coches), pelos eventos referidos. Dos respetivos sites respigam-se alguns dados, como
segue.
Fundado,
em 1893, pelo Doutor José Leite de Vasconcelos, em mais dum século de
existência, o MNA constituiu-se como a instituição de referência da Arqueologia
Portuguesa, que se corresponde regularmente
com museus, centros de investigação e universidades no Mundo.
Fazem
parte do seu acervo as coleções iniciais do fundador
e de Estácio da Veiga, a que se juntaram muitas mais: umas por integração, a
partir de outros departamentos do Estado, vg.: coleções de arqueologia da
antiga Casa Real Portuguesa,
incorporadas no Museu após na I República; coleções de arqueologia do antigo Museu de Belas Artes, incorporadas a
quando da criação do Museu Nacional de
Arte Antiga; etc; outras por doação ou legado de colecionadores e grandes
amigos do Museu (vg.: doações de Bustorff
Silva, Luís Bramão, Samuel Levy, etc.); outras, mercê da intensa atividade
de campo do Museu e de outros arqueólogos; outras por despacho governamental,
ao abrigo da legislação aplicável, sempre que se considere o valor nacional de
bens arqueológicos descobertos no País.
Além
das coleções e exposições, o MNA oferece à sociedade muitos mais serviços: a edição
regular de publicações (de
que sobressai a revista científica “O
Arqueólogo Português”, editada desde 1895 e a mais importante do género em
Portugal, com uma rede de mais de 300 correspondentes institucionais no Mundo); a conservação
e restauro de bens arqueológicos; seminários, conferências e cursos da
especialidade; serviço educativo e de extensão
cultural; biblioteca especializada (a
mais importante e a única que hoje continua regularmente aberta ao público no
conjunto dos museus nacionais), a
loja e
a livraria; a investigação científica fundamental, etc.
Concebido
pelo fundador como uma espécie de “Museu do Homem Português”, o MNA continua
com a mesma vocação básica: contar a história do povoamento do território,
desde as origens até à fundação da nacionalidade. É a única instituição
portuguesa capaz de o fazer: pelas coleções de que dispõe, pelos seus recursos
técnicos, pelo espaço que ocupa no Mosteiro dos Jerónimos (verdadeiro
centro de confluência de nacionais e estrangeiros, com especial relevo para as
escolas do país, que anualmente ocupam plenamente a capacidade do serviço
educativo do
Museu).
Por seu turno, o MNC reúne uma coleção única no mundo das
viaturas de gala e de passeio dos séculos XVI a XIX, a maioria proveniente da Casa Real Portuguesa, a que se
acrescentaram veículos vindos dos bens da Igreja e de coleções particulares. O
Museu apresenta um excelente conjunto que permite ao visitante a compreensão da
evolução técnico-artística dos meios de transporte de tração animal, das cortes
europeias, até ao aparecimento do automóvel. No novo edifício estão expostas 70
viaturas, de que a mais antiga data do século XVI e a mais recente é uma
Mala-Posta do século XIX. Para lá das viaturas hipomóveis, o MNC detém um
conjunto de peças utilizadas no serviço das viaturas e cortejos de gala e
outras ligadas à arte da cavalaria e aos jogos equestres, bem como uma coleção
de retratos da família real portuguesa.
O novo MNC
surge em Belém como um equipamento cultural e um lugar público. Convergiram nele
assim duas preocupações: por um lado, o imperativo do aumento da área
expositiva e da infraestrutura técnica de apoio; por outro lado, a
indispensabilidade de criar novas valências para o público do museu mais
visitado do país.
O novo
edifício é, pois, constituído por um pavilhão principal com nave suspensa e um
anexo, com ligação aérea a assegurar a circulação entre os dois edifícios. A
disposição espacial destes corpos cria um pórtico que aponta para uma praça
interna de livre acesso, para onde se voltam as antigas construções da rua da
Junqueira, autoconstituídas como memória de vivências históricas e zona de
passeio público. O novo MNC inclui: espaços para exposição permanente e temporária;
áreas de reservas; oficina de conservação e restauro, com vista ao
desenvolvimento da conservação e restauro deste tipo de património; espaços
destinados à Biblioteca, ao Arquivo assim como um Auditório que potencia a realização dum
conjunto de atividades culturais que engrandecem a programação pública do Museu.
E, para acolhimento dos visitantes, foram programados espaços de restauração e uma
Loja do Museu.
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A
amostra ilustra bem a articulação que o museu
faz entre passado/futuro, acervo/ comunidade.
2016.05.18 – Louro de Carvalho
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