domingo, 8 de maio de 2016

Igreja em Portugal cria prémio de jornalismo

A Igreja em Portugal tomou a iniciativa da criação de um prémio de jornalismo. O prémio foi lançado no dia 5 de maio, dia litúrgico da solenidade da Ascensão do Senhor (solenidade que se transfere para o domingo seguinte nos países em que a quinta-feira da Ascensão não é feriado), antecipando a celebração do 50.º Dia Mundial das Comunicações Sociais (8 de maio).
Recorde-se que esta é a única efeméride prescrita pelo Concílio Vaticano II, que sobre os meios de comunicação social produziu o decreto Inter Mirifica, que estabelece no seu n.º 18: 
“Para que se revigore o apostolado da Igreja em relação com os meios de comunicação social, deve celebrar-se em cada ano em todas as dioceses do mundo, a juízo do Bispo, um dia em que os fiéis sejam doutrinados a respeito das suas obrigações nesta matéria, convidados a orar por esta causa e a dar uma esmola para este fim, a qual ser destinada a sustentar e a fomentar, segundo as necessidades do orbe católico, as instituições e as iniciativas promovidas pela Igreja nesta matéria”.
Paulo VI houve por bem proceder à escolha do dia e estabeleceu o uso de para ele elaborar uma mensagem temática. Foi a 23 de maio de 1971, a marcar o 5.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que foi dada à estampa a instrução pastoral Communio et Progressio, a magna carta cristã da comunicação social, cujas bases modelam a estruturação da Comunicação Social em geral. Este ano, celebra-se a 50.ª edição deste Dia Mundial e, por consequência, o sumo pontificado presenteou a Igreja e o mundo com a 50.ª mensagem. É o “jubileu de ouro”.
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Foi por se ter na devida conta a índole redonda do 50.º Dia Mundial das Comunicações Sociais que, no dizer do padre Américo Aguiar, o diretor do SNCS (Secretariado Nacional das Comunicações Sociais), se pensou em assinalar a data de uma forma especial. Exprime-se assim o sacerdote diretor do SNCS:
“Quando constatámos que a mensagem deste ano do Papa Francisco era a quinquagésima, saltou-nos o desejo de oferecer a todos aqueles que trabalham e vivem o seu serviço na área da pastoral das comunicações sociais uma compilação de todas as mensagens publicadas até agora”.
E sobre esta compilação faz o seguinte juízo factual e apreciativo:
“É um objeto de trabalho muito útil, que nos permite fazer uma viagem de meio século, através daquilo que os Papas, de Paulo VI até ao Papa Francisco, têm dito, refletido e feito como desafio à Igreja e, de um modo especial, à Pastoral das Comunicações Sociais”.
É assim, com o livro “50 Mensagens”, que inclui todas as mensagens pontifícias divulgadas até hoje e também o discurso que João Paulo I (que só foi Papa por 23 dias) fez aos jornalistas depois de eleito que se assinala o ano jubilar desta efeméride. “É uma magnífica reflexão sobre a importância e a necessidade da comunicação gerar comunhão, que nos pareceu muito oportuno também divulgar” – afirma Américo Aguiar.
Mas, além do livro, foi criado o “Prémio de Jornalismo Dom Manuel Falcão”, pelo qual, no dizer de Américo Aguiar, se reconhecerá o mérito dos jornalistas – quer da Igreja quer de fora da Igreja – sublinhando e bendizendo todos os que “nesta profissão tão especial, e tão difícil nos tempos de hoje, se esforçam por serem arautos da verdade”, pois “aquilo que os jornalistas fazem e aquilo que a Igreja quer, é exatamente a mesma coisa, que a verdade tenha prioridade, independentemente de serem órgãos de comunicação social da Igreja ou generalistas” – assume.
Por outro lado, o prémio constitui uma expressiva homenagem ao antigo bispo, falecido em 2012. Na verdade, Dom Manuel Franco da Costa Oliveira Falcão é referência incontornável em comunicação. Enquanto sacerdote, que foi engenheiro, promoveu os estudos de sociologia religiosa, o lançamento do Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado, a criação do Secretariado de Informação Religiosa, a publicação do Boletim de Informação Pastoral (1959-1970) e a publicação do Boletim de Diocesano de Pastoral do Patriarcado (1968-1975).
Foi bispo auxiliar de Lisboa, coadjutor e depois bispo de Beja. A partir de Beja, promoveu a realização do 1.º recenseamento da prática dominical em todas as dioceses (1977) e criou, em 1984, o Departamento do Património Histórico e Artístico da diocese de Beja, que a Igreja Católica em Portugal viria a distinguir em 2010 com o “Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes”, atribuído pelo SNC (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura).
Este bispo, com que travei conhecimento em Fátima, no ano de 1975, no âmbito de um encontro nacional da imprensa de inspiração cristã, foi um entusiasta do lançamento de pontes entre a herança da tradição histórica do cristianismo e o notável vanguardismo da multímoda criação contemporânea. Lembro-me do modo como apreciava a intervenção positiva de Sousa Franco na redação material da primeira lei de imprensa pós-abrilina, apelando à necessária sensatez.
Ainda como bispo emérito de Beja colaborava no semanário diocesano Notícias de Beja até morrer e é o autor da Enciclopédia Católica Popular, obra de referência disponível e em livro e na Internet. O padre Américo Aguiar, que o conheceu já “na sua fase do outono da vida, como bispo emérito de Beja”, diz que sempre ouviu falar dele como uma referência:
“É uma figura de total consenso, um percursor daquilo que foi o trabalho na Igreja, na produção de um boletim de informação diocesano e nacional, no estudo da sociologia, do fenómeno da religião. Foi, portanto, um estudioso e um percursor daquilo que hoje acaba por ser o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e da agência Ecclesia. Com este prémio homenageamos a pessoa, o bispo, o pastor, o especialista, e, ao mesmo tempo, todos os que no futuro o vierem a receber.”.
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O prémio e o livro foram lançados, como se disse, a 5 de maio, num encontro com jornalistas na Igreja de S. Roque, em Lisboa, onde D. Pio Alves, Bispo Auxiliar do Porto e Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais refletiu sobre a mensagem de Francisco para o Dia das Comunicações Sociais. Na mesma sessão, a vaticanista da Renascença, Aura Miguel, falou sobre a relação de João Paulo II, Bento XVI e Francisco com os meios de comunicação social e o padre Américo Aguiar fez a apresentação do livro e do novo prémio de jornalismo.
Dom Pio Alves, citado pela Rádio Vaticano, sustenta que os “Media” têm de dizer “de que lado querem estar” e alerta para a necessidade de contrariar a tendência de uma comunicação não independente, mas regida “normativamente por uma qualquer entidade exterior, por mais estatal que seja”. Depois, acentua a “ausência de misericórdia” que marca os “Media”.
Por seu turno, o diretor do SNCS e vice-presidente do grupo r/com (renascença comunicação multimédia), espera que este Dia seja assinalado nas várias comunidades e dioceses:
“É preciso refletir sobre o que cada um pode fazer. Quais são as capacidades e dons que tenho, individualmente ou como instituição, para poder realizar este serviço tão urgente da pastoral das comunicações sociais? Que aquilo que fazemos, dizemos e escrevemos, seja no continente digital, seja num jornal, numa rádio ou na televisão, que em todas as plataformas transpire a misericórdia de Deus”.
Este ano, o primeiro do prémio, foram distinguidos de forma honorífica os cónegos António Rego e João Aguiar, dois antigos responsáveis do SNCS. A propósito, Américo Aguiar, falou numa “edição prévia” que visou distinguir estas duas personalidades a quem a Igreja Católica “deve muito”.
António Rego (nomeado por Bento XVI consultor do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais), como estudante e jovem sacerdote trabalhou em projetos jornalísticos, na imprensa, na rádio e na televisão, primeiro em território açoriano e depois em órgãos de comunicação nacionais. Tendo estudado Comunicação Social em França, realizou centenas de programas na Rádio Renascença e na Radiodifusão Portuguesa, criou o programa de rádio ‘Hoje é Domingo’ e tem assinado textos de opinião no ‘Diário de Notícias’.
João Aguiar, que estudou Ciências da Informação na Universidade de Navarra, é o atual presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença, integrando há décadas os quadros da emissora católica portuguesa, onde desempenhou, entre outras, as funções de diretor do Centro de Produção do Porto e de diretor de Informação. Foi ainda diretor do ‘Diário do Minho’, da Arquidiocese de Braga. Nomeado, em 2011, diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, desempenhou o cargo até ao início do último mês de abril.
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A assinalar a Jornada Mundial das Comunicações Sociais, realizou-se no dia 7, em Campo-Basso, no Sul da Itália, o Jubileu dos Jornalistas sob o tema “Comunicação e Misericórdia”.
De entre os relatores estiveram o padre Ciro Benedettino, ex-vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé e Alessandro Gisotti, jornalista da Rádio Vaticano. O título da sua intervenção foi “Papa Francisco e o Decálogo do Bom Comunicador”.
Esse Decálogo é: comunicar com todos, sem exclusão”; “criar pontes, favorecer encontros”; “não romper nunca a relação e a comunicação”; “ativar uma nova forma de falar e de dialogar”; “orientar as pessoas em direção a processos de reconciliação”; “ultrapassar a lógica que separa drasticamente os pecadores dos justos”; “para comunicar é preciso escutar”; “favorecer as relações nas redes sociais”; “construir uma verdadeira cidadania mesmo nas redes sociais”; e “gerar uma proximidade que cuida…”.
Agrada-me sublinhar que este decálogo é decalcado nas ideias-mestras da mensagem papal para o jubileu de ouro do Dia Mundial das Comunicações Sociais e vem na esteira da ação do Bispo Dom Manuel Falcão, que, no dizer de Jorge Pulido Valente, que foi Presidente da Câmara de Beja, “soube sempre apaziguar os ânimos” especialmente nos tempos conturbados que se seguiram à Revolução dos Cravos, tendo deixado a sua “marca indelével” no “património espiritual, religioso e civil”.
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Também a equipa pastoral da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé) promoveu uma sessão alusiva ao Dia Mundial das Comunicações, num dos pátios do ICRA (Instituto de Ciências Religiosas de Angola), em torno do tema “Comunicação e misericórdia: um encontro fecundo”, com a presença de professores e muitas pessoas interessadas, em que os vários palestrantes apontaram os vários benefícios do uso correto da comunicação e a prática da misericórdia no quotidiano.
Júlio Kuvalela, conselheiro para as relações internacionais e diplomática do Centro de Estudo Populorum Progressio, disse que “as pessoas precisam de ser comunicativas reunindo o amor, abnegação, assim como de criar pontes entre os seus semelhantes”. Considerou oportuno o tema papal comunicação e misericórdia por ser atual e importante no modo de vida moderno. E sustentou que as pessoas, “ao se comunicarem, devem saber que estão a educar e formar, bem como a denunciar o mal”.
Também Teresa Galiano, subdiretora pedagógica do ICRA, afirmou ser necessário “as pessoas mudarem o comportamento para melhor e primarem pela reconciliação e saberem se comunicar”.
Por seu turno, Frei Mário Rui, diretor administrativo do Centro Cultural Mosaico, disse que “as pessoas devem se comunicar com coerência, de forma passiva e sábia, julgar as situações, sem julgar as pessoas”.
Os estudantes da Escola de Educadores Sociais afeta ao ICRA, Ismael Sebastião e Anastácia Calende, ambos da 12.ª classe no curso de comunicação social, elogiaram a organização do fórum por debater assuntos importantes para os seus estudos, principalmente a misericórdia, qualidade excelente no progresso da vida do homem.
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São algumas iniciativas que testemunham o poder da palavra do Papa Francisco e o modo como a misericórdia pode galgar as fronteiras do Vaticano e da própria Igreja. Por outro lado, fica evidenciado o facto de a misericórdia, além de manifestável em obras corporais e espirituais, ter de valer como atitude permanente com poder de resposta nas diversas situações em que se torna necessária e salutar para as pessoas e para colocar as instituições ao serviço do bem superior da pessoa humana.

2016.05.08 – Louro de Carvalho

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