Está em marcha a peregrinação
aniversária de maio, neste ano que antecede o que marca efetivamente o
centenário das aparições de Nossa Senhora, ressalvando que o centenário das propedêuticas
aparições do anjo já começou. O santuário é o mesmo, mas a peregrinação de maio
de 2016 fica marcada por equipamentos novos (ou renovados) para que as comemorações
centenárias decorram com o brilho e a dignidade que ficam bem ao santuário e
possam redundar em fruto espiritual dos peregrinos e crentes em geral.
***
Assim, a 2 de
fevereiro, foi reaberta ao culto a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, depois
de um período de obras, que é o culminar dum conjunto de intervenções num dos
espaços mais importantes do Santuário, a par da Capelinha das Aparições. Com efeito,
a Basílica foi alvo de profunda intervenção de limpeza, conservação, restauro e
requalificação de alguns dos espaços. Entre esses espaços estão o presbitério (espaço onde se acomoda o celebrante e acólitos
ou, se for o caso, o presidente da celebração e os concelebrantes) “totalmente reconstruído” e toda a
zona de acesso às relíquias dos videntes, que fica muito mais facilitado. A
novidade da obra consiste nos “percursos devocionais”, concebidos e desenhados pelo
designer Francisco Providência. Criou-se,
na verdade, um “itinerário devocional” que faculta aos peregrinos a oração
junto das relíquias dos videntes em condições de recolhimento tranquilo,
valorizando deste modo, a visita aos túmulos dos Pastorinhos. Ao mesmo tempo, requalificou-se
o presbitério que passa a contar com uma escultura de Bruno Marques, um Cristo
Crucificado em bronze que integra a escultura da Virgem Peregrina, reabilitando
a imagem da Senhora aos pés de Jesus. Este escultor orientou a construção de todas
as peças do mobiliário litúrgico: cadeira, altar e ambão – concebidos a partir
da ideia do rosário, com pequenas esferas lembrando os terços.
Segundo informações
obtidas junto da Sala de Imprensa,
toda esta requalificação passou pelo rigoroso crivo de “técnicos altamente qualificados
de acordo com o que é aceite junto da comunidade científica de conservação e
restauro”.
***
Também no
domingo de Ramos, o Bispo de Leiria-Fátima presidiu à bênção do órgão, evento que
foi assinalado por um concerto pelo francês Olivier Latry, organista titular da
catedral de Notre Dame de Paris, a devolver a “voz” ao órgão da Basílica de N.ª
Senhora do Rosário de Fátima, depois de um prolongado silêncio.
Este concerto
integrou a estreia mundial da peça Hû yeshûphekâ rô’sh, do compositor português
João Pedro Oliveira, baseada na 1.ª profecia sobre Maria e foi o ponto alto da
celebração de inauguração deste instrumento requalificado. Foi o primeiro dum
ciclo de 6 concertos para órgão que se realizam até outubro, no âmbito das comemorações
centenárias, com um repertório criado em diversas épocas, regiões geográficas,
estilos e atitudes composicionais variadas: música alemã, música francesa,
música sacra, música contemporânea e hinos marianos alusivos a um período de
tempo centenário e com uma ótica abrangente das capacidades expressivas do novo
órgão. E, a 8 de maio, realizou-se o segundo concerto do ciclo, que esteve a
cargo de António Esteireiro com música alemã dos séculos XIX e XX, incluindo grandes
clássicos do órgão da época e a Ave-Maria (de Max Reger e Karg-Elert).
O reitor do Santuário, salientando a importância deste instrumento que “volta
a marcar este espaço tão significativo não apenas do ponto de vista visual, mas
sobretudo do ponto de vista musical”; esclareceu:
“A motivação primordial para a sua
recuperação não foi de ordem patrimonial, mas celebrativa: devolver às
celebrações que têm lugar nesta Basílica a beleza e a imponência do órgão de
tubos, instrumento musical tradicional da liturgia romana”.
Segundo o mesmo reitor, o culto e a
cultura convivem no mesmo espaço, e assim o órgão “fica para a posteridade como
marca da celebração do Centenário das Aparições de Fátima”.
Por seu turno, o Bispo da diocese afirmou
que o reestruturado instrumento “vai contribuir para o enriquecimento da
liturgia” e, citando Bento XVI, encareceu a importância deste instrumento – “o
rei dos instrumentos musicais” – porque “retoma todos os sons da criação e dá
ressonância à plenitude dos sentimentos humanos, desde a alegria à tristeza, desde
o louvor até à lamentação”, o que nos remete de algum modo para “a imensidade e
a magnificência de Deus”.
Considerando-o uma imagem da Igreja, o prelado diocesano afirmou:
“Como no órgão
uma mão perita deve sempre conduzir as desarmonias à reta consonância, assim
também na Igreja devemos encontrar, na variedade dos dons e dos carismas,
mediante a comunhão na fé, o acorde no louvor de Deus e no amor fraterno” […] “Quanto
mais, através da Liturgia, nos deixarmos transformar em Cristo, tanto mais
seremos capazes também de transformar o mundo, irradiando a bondade, a
misericórdia e o amor de Cristo pelos homens”.
E para, João
Santos, o organista titular deste órgão, passados 4 anos de intensos trabalhos,
foi o culminar dum processo que se transformou numa “oportunidade para devolver
à Basílica o instrumento que sempre mereceu, apostando na renovação sonora e
estética, bem como na durabilidade e fiabilidade do sistema de funcionamento,
que nos permitirá ter um instrumento para muitas décadas de serviço e de
cultura”.
A reestruturação do maior instrumento do género em Portugal (construído pela empresa italiana
Fratelli Ruffatti, em 1951, com 90 registos e cerca de 6.500 tubos) foi levada a cabo pela empresa italiana
Mascioni Organi, conservando parte considerável da tubaria original, mas
acrescentando alguns registos para conferir ao órgão uma sonoridade homogénea e
moderna.
A parte frontal, redesenhada pela arquiteta Joana Delgado (autora do projeto de reformulação do
presbitério da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima), contou com a intervenção do escultor
Bruno Marques, autor do crucifixo, bem como das obras de arte que materializam
os lugares litúrgicos do presbitério da Basílica. A restante caixa foi dotada dum
revestimento em madeira desenhado em articulação com os organeiros da Mascioni.
Também os eco-órgãos, instalados nas galerias, foram objeto dum trabalho
conjunto na definição estética da solução.
***
Também o
Santuário está a estrear, nesta Peregrinação
Internacional Aniversária de maio, o novo Centro de Imprensa dotado de todas as facilidades técnicas para o
apoio ao trabalho dos jornalistas. O novo espaço possui uma sala preparada para
as conferências de imprensa e três salas de trabalho equipadas, uma delas com
quatro estúdios de gravação áudio, para acolher os profissionais de comunicação
social que se desloquem à Cova da Iria para a cobertura das atividades do
Santuário. Nestas novas instalações os jornalistas encontram ainda meios
técnicos como sinal de vídeo em alta definição e de áudio de todos os espaços
celebrativos do Santuário.
***
Porém, a
grande novidade e de maior impacto litúrgico e peregrinacional é o novo altar
do recinto de oração. Assim, no passado dia 8 de maio, Solenidade da Ascensão
do Senhor, o Bispo de Leiria-Fátima,
Dom António Augusto dos Santos Marto, presidiu à dedicação do novo altar do
recinto de oração do Santuário e à consagração do respetivo presbitério.
Obra, totalmente nova, foi projetada pelo arquiteto
grego Alexandros Tombazis, que assinou o projeto da Basílica da Santíssima
Trindade, e pela arquiteta portuguesa Paula Santos.
A zona de
intervenção da obra, que decorreu desde março do ano passado, ocupa parte do
antigo presbitério (que foi desmobilizado), as escadarias do Recinto e a zona das Colunatas.
O presbitério,
entendido como uma peculiar obra de arte, consegue a integração harmónica
no espaço envolvente. Tem três pontos fundamentais – o altar, o ambão e a
cátedra –, a que se somam a cruz e o suporte para a imagem de N.ª Senhora, como
elementos significativos daquele espaço, que terá capacidade para 120
concelebrantes e descerá 2,4 metros na escadaria face à anterior estrutura,
tornando-se assim mais próximo da assembleia.
A estrutura,
em frente da Basílica de N.ª Senhora do Rosário, substitui o presbitério que
desde 1982, ocasião da primeira visita de João Paulo II, marcou a
fisionomia do Recinto. O presbitério conta com 2 pisos, sendo o piso inferior
subterrâneo destinado a serviços de apoio, Sagrada Reserva e Sacristia, com
acesso direto ao piso do Presbitério por escadas e elevador – o que implicou a
reformulação da escadaria que mantém o calcário típico da região.
A obra
contempla, para lá da estrutura da pala, uma parede elevatória, junto do lugar
da imagem de N.ª Senhora, que lhe dará recorte; uma escultura de Fernanda
Fragateiro na parede de tardoz do presbitério; uma cruz e uma escultura de
Cristo crucificado, de Filip Moroder Doss, e o ambão, o altar, as cadeiras da
presidência, desenhados pelo arquiteto João Mendes Ribeiro. O desenho destes
três últimos elementos obedeceu a princípios de adequação aos pressupostos litúrgicos
e funcionais de cada peça, materializando um conjunto de intenções simbólicas e
de coerência que dão origem a um conjunto significante e expressivo, mas também
funcional e em acordo absoluto com o caráter litúrgico que lhes é inerente. Foram
ainda tidas em conta todas as premissas relevantes do Projeto de Execução do Presbitério do Recinto de Oração, a que se
procurou responder da forma mais integrada possível. Destaca-se a Cruz e o
Cristo ressuscitado, peças desenhadas pelo escultor Filip Moroder Dosso, com
2,40 e 3 metros de altura, respetivamente, e que simbolizam o mistério da
salvação.
Na homilia
da celebração eucarística, o prelado explicou a milhares de pessoas o
simbolismo do ato de consagração, sublinhando que “o altar da Eucaristia é o
altar da misericórdia de Deus”. E o tema da misericórdia fica neste Ano Santo a
marcar o Santuário.
O Bispo
sublinhou a importância da Eucaristia, em que “Jesus ressuscitado se torna
realmente presente com todo o seu mistério de amor com que se entregou até à
Cruz”. Altar e cruz constituem “a expressão suprema da misericórdia de quem se
dá todo e dá tudo para eliminar todas as distâncias, para oferecer o
perdão, restabelecer a comunhão, vencer o ódio e a violência, curar as feridas
do coração humano, dar vida nova, trazer a paz”. Assim, diz o prelado sobre
sacrifício, comunhão e misericórdia:
“É este mistério do seu corpo dado e sangue derramado que celebramos no
altar da eucaristia onde nos é oferecido em comunhão. O altar da eucaristia é
também altar da misericórdia”.
Dom António
Marto, a propósito desta dedicação, enunciou as condições para seremos
instrumentos da misericórdia de Deus para Jesus atuar no mundo através de nós. Esta
dedicação – disse – interpela-nos a comungar na entrega de Jesus com o
pedido que N.ª Senhora fez aos pastorinhos, o que significa “oferecer-lhe a
nossa carne, com a humildade e a coragem de Maria para Ele “continuar a habitar
no meio dos homens; oferecer-lhe as mãos para acariciar os pequenos e pobres;
os braços para acolher e apoiar quem é fraco e trabalhar no serviço dos necessitados;
a mente para pensar e fazer projetos à luz das bem-aventuranças e das obras de
misericórdia; e, sobretudo, oferecer o coração para amar e tomar decisões
segundo a vontade de Deus. E aos participantes na peregrinação nacional dos
jovens católicos, o 'Fátima Jovem' 2016, um dos 21 grupos inscritos naquele dia
8 no Santuário, maioritariamente portugueses, disse:
“Caros jovens, levai a chama do amor misericordioso aos ambientes da vossa
vida, a todas as pessoas que vivem nas periferias para que a misericórdia de
Deus se estenda de geração em geração”.
Depois, solicitou
o apoio na edificação de “uma Igreja de coração grande, próxima dos
feridos e humilhados da história, ao serviço dos mais pobres”.
***
Fora
de dúvida, o altar do recinto de oração e o respetivo presbitério constituem uma
obra atraente, perfeitamente integrada no completo das edificações do santuário
e reenquadradora de todo o recinto, com beleza, harmonia, dignidade e uma boa
nota de modernidade. São a coroa de um conjunto de edificações cuja estética
não estava fácil de conseguir.
Penso
constituir mais um motivo para peregrinar até Fátima ou, pelo menos, visitar o Santuário
e respirar acolhimento e interioridade. Face a estas iniciativas não se pode
rotular Fátima de reduto de pietismo desencarnado, mas antes de espaço que, no contacto
com o Sagrado, retempera o retorno à vida do quotidiano em casa e no trabalho,
na azáfama ou no lazer.
206.05.12 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário