quinta-feira, 12 de maio de 2016

O novo altar de Fátima e outros equipamentos

Está em marcha a peregrinação aniversária de maio, neste ano que antecede o que marca efetivamente o centenário das aparições de Nossa Senhora, ressalvando que o centenário das propedêuticas aparições do anjo já começou. O santuário é o mesmo, mas a peregrinação de maio de 2016 fica marcada por equipamentos novos (ou renovados) para que as comemorações centenárias decorram com o brilho e a dignidade que ficam bem ao santuário e possam redundar em fruto espiritual dos peregrinos e crentes em geral.
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Assim, a 2 de fevereiro, foi reaberta ao culto a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, depois de um período de obras, que é o culminar dum conjunto de intervenções num dos espaços mais importantes do Santuário, a par da Capelinha das Aparições. Com efeito, a Basílica foi alvo de profunda intervenção de limpeza, conservação, restauro e requalificação de alguns dos espaços. Entre esses espaços estão o presbitério (espaço onde se acomoda o celebrante e acólitos ou, se for o caso, o presidente da celebração e os concelebrantes) “totalmente reconstruído” e toda a zona de acesso às relíquias dos videntes, que fica muito mais facilitado. A novidade da obra consiste nos “percursos devocionais”, concebidos e desenhados pelo designer Francisco Providência. Criou-se, na verdade, um “itinerário devocional” que faculta aos peregrinos a oração junto das relíquias dos videntes em condições de recolhimento tranquilo, valorizando deste modo, a visita aos túmulos dos Pastorinhos. Ao mesmo tempo, requalificou-se o presbitério que passa a contar com uma escultura de Bruno Marques, um Cristo Crucificado em bronze que integra a escultura da Virgem Peregrina, reabilitando a imagem da Senhora aos pés de Jesus. Este escultor orientou a construção de todas as peças do mobiliário litúrgico: cadeira, altar e ambão – concebidos a partir da ideia do rosário, com pequenas esferas lembrando os terços.
Segundo informações obtidas junto da Sala de Imprensa, toda esta requalificação passou pelo rigoroso crivo de “técnicos altamente qualificados de acordo com o que é aceite junto da comunidade científica de conservação e restauro”.
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Também no domingo de Ramos, o Bispo de Leiria-Fátima presidiu à bênção do órgão, evento que foi assinalado por um concerto pelo francês Olivier Latry, organista titular da catedral de Notre Dame de Paris, a devolver a “voz” ao órgão da Basílica de N.ª Senhora do Rosário de Fátima, depois de um prolongado silêncio.
Este concerto integrou a estreia mundial da peça Hû yeshûphekâ rô’sh, do compositor português João Pedro Oliveira, baseada na 1.ª profecia sobre Maria e foi o ponto alto da celebração de inauguração deste instrumento requalificado. Foi o primeiro dum ciclo de 6 concertos para órgão que se realizam até outubro, no âmbito das comemorações centenárias, com um repertório criado em diversas épocas, regiões geográficas, estilos e atitudes composicionais variadas: música alemã, música francesa, música sacra, música contemporânea e hinos marianos alusivos a um período de tempo centenário e com uma ótica abrangente das capacidades expressivas do novo órgão. E, a 8 de maio, realizou-se o segundo concerto do ciclo, que esteve a cargo de António Esteireiro com música alemã dos séculos XIX e XX, incluindo grandes clássicos do órgão da época e a Ave-Maria (de Max Reger e Karg-Elert).
O reitor do Santuário, salientando a importância deste instrumento que “volta a marcar este espaço tão significativo não apenas do ponto de vista visual, mas sobretudo do ponto de vista musical”; esclareceu:
“A motivação primordial para a sua recuperação não foi de ordem patrimonial, mas celebrativa: devolver às celebrações que têm lugar nesta Basílica a beleza e a imponência do órgão de tubos, instrumento musical tradicional da liturgia romana”.
Segundo o mesmo reitor, o culto e a cultura convivem no mesmo espaço, e assim o órgão “fica para a posteridade como marca da celebração do Centenário das Aparições de Fátima”.
Por seu turno, o Bispo da diocese afirmou que o reestruturado instrumento “vai contribuir para o enriquecimento da liturgia” e, citando Bento XVI, encareceu a importância deste instrumento – “o rei dos instrumentos musicais” – porque “retoma todos os sons da criação e dá ressonância à plenitude dos sentimentos humanos, desde a alegria à tristeza, desde o louvor até à lamentação”, o que nos remete de algum modo para “a imensidade e a magnificência de Deus”.
Considerando-o uma imagem da Igreja, o prelado diocesano afirmou:
“Como no órgão uma mão perita deve sempre conduzir as desarmonias à reta consonância, assim também na Igreja devemos encontrar, na variedade dos dons e dos carismas, mediante a comunhão na fé, o acorde no louvor de Deus e no amor fraterno” […] “Quanto mais, através da Liturgia, nos deixarmos transformar em Cristo, tanto mais seremos capazes também de transformar o mundo, irradiando a bondade, a misericórdia e o amor de Cristo pelos homens”.
E para, João Santos, o organista titular deste órgão, passados 4 anos de intensos trabalhos, foi o culminar dum processo que se transformou numa “oportunidade para devolver à Basílica o instrumento que sempre mereceu, apostando na renovação sonora e estética, bem como na durabilidade e fiabilidade do sistema de funcionamento, que nos permitirá ter um instrumento para muitas décadas de serviço e de cultura”.
A reestruturação do maior instrumento do género em Portugal (construído pela empresa italiana Fratelli Ruffatti, em 1951, com 90 registos e cerca de 6.500 tubos) foi levada a cabo pela empresa italiana Mascioni Organi, conservando parte considerável da tubaria original, mas acrescentando alguns registos para conferir ao órgão uma sonoridade homogénea e moderna.
A parte frontal, redesenhada pela arquiteta Joana Delgado (autora do projeto de reformulação do presbitério da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima), contou com a intervenção do escultor Bruno Marques, autor do crucifixo, bem como das obras de arte que materializam os lugares litúrgicos do presbitério da Basílica. A restante caixa foi dotada dum revestimento em madeira desenhado em articulação com os organeiros da Mascioni. Também os eco-órgãos, instalados nas galerias, foram objeto dum trabalho conjunto na definição estética da solução.
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Também o Santuário está a estrear, nesta Peregrinação Internacional Aniversária de maio, o novo Centro de Imprensa dotado de todas as facilidades técnicas para o apoio ao trabalho dos jornalistas. O novo espaço possui uma sala preparada para as conferências de imprensa e três salas de trabalho equipadas, uma delas com quatro estúdios de gravação áudio, para acolher os profissionais de comunicação social que se desloquem à Cova da Iria para a cobertura das atividades do Santuário. Nestas novas instalações os jornalistas encontram ainda meios técnicos como sinal de vídeo em alta definição e de áudio de todos os espaços celebrativos do Santuário.
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Porém, a grande novidade e de maior impacto litúrgico e peregrinacional é o novo altar do recinto de oração. Assim, no passado dia 8 de maio, Solenidade da Ascensão do Senhor, o Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Augusto dos Santos Marto, presidiu à dedicação do novo altar do recinto de oração do Santuário e à consagração do respetivo presbitério.
Obra, totalmente nova, foi projetada pelo arquiteto grego Alexandros Tombazis, que assinou o projeto da Basílica da Santíssima Trindade, e pela arquiteta portuguesa Paula Santos.
A zona de intervenção da obra, que decorreu desde março do ano passado, ocupa parte do antigo presbitério (que foi desmobilizado), as escadarias do Recinto e a zona das Colunatas.
O presbitério, entendido como uma peculiar obra de arte, consegue a integração harmónica no espaço envolvente. Tem três pontos fundamentais – o altar, o ambão e a cátedra –, a que se somam a cruz e o suporte para a imagem de N.ª Senhora, como elementos significativos daquele espaço, que terá capacidade para 120 concelebrantes e descerá 2,4 metros na escadaria face à anterior estrutura, tornando-se assim mais próximo da assembleia.
A estrutura, em frente da Basílica de N.ª Senhora do Rosário, substitui o presbitério que desde 1982, ocasião da primeira visita de João Paulo II, marcou a fisionomia do Recinto. O presbitério conta com 2 pisos, sendo o piso inferior subterrâneo destinado a serviços de apoio, Sagrada Reserva e Sacristia, com acesso direto ao piso do Presbitério por escadas e elevador – o que implicou a reformulação da escadaria que mantém o calcário típico da região.
A obra contempla, para lá da estrutura da pala, uma parede elevatória, junto do lugar da imagem de N.ª Senhora, que lhe dará recorte; uma escultura de Fernanda Fragateiro na parede de tardoz do presbitério; uma cruz e uma escultura de Cristo crucificado, de Filip Moroder Doss, e o ambão, o altar, as cadeiras da presidência, desenhados pelo arquiteto João Mendes Ribeiro. O desenho destes três últimos elementos obedeceu a princípios de adequação aos pressupostos litúrgicos e funcionais de cada peça, materializando um conjunto de intenções simbólicas e de coerência que dão origem a um conjunto significante e expressivo, mas também funcional e em acordo absoluto com o caráter litúrgico que lhes é inerente. Foram ainda tidas em conta todas as premissas relevantes do Projeto de Execução do Presbitério do Recinto de Oração, a que se procurou responder da forma mais integrada possível. Destaca-se a Cruz e o Cristo ressuscitado, peças desenhadas pelo escultor Filip Moroder Dosso, com 2,40 e 3 metros de altura, respetivamente, e que simbolizam o mistério da salvação.
Na homilia da celebração eucarística, o prelado explicou a milhares de pessoas o simbolismo do ato de consagração, sublinhando que “o altar da Eucaristia é o altar da misericórdia de Deus”. E o tema da misericórdia fica neste Ano Santo a marcar o Santuário.
O Bispo sublinhou a importância da Eucaristia, em que “Jesus ressuscitado se torna realmente presente com todo o seu mistério de amor com que se entregou até à Cruz”. Altar e cruz constituem “a expressão suprema da misericórdia de quem se dá todo e dá tudo para eliminar todas as distâncias, para  oferecer o perdão, restabelecer a comunhão, vencer o ódio e a violência, curar as feridas do coração humano, dar vida nova, trazer a paz”. Assim, diz o prelado sobre sacrifício, comunhão e misericórdia:
“É este mistério do seu corpo dado e sangue derramado que celebramos no altar da eucaristia onde nos é oferecido em comunhão. O altar da eucaristia é também altar da misericórdia”.
Dom António Marto, a propósito desta dedicação, enunciou as condições para seremos instrumentos da misericórdia de Deus para Jesus atuar no mundo através de nós. Esta dedicação – disse – interpela-nos a comungar na entrega de Jesus com  o pedido que N.ª Senhora fez aos pastorinhos, o que significa “oferecer-lhe a nossa carne, com a humildade e a coragem de Maria para Ele “continuar a habitar no meio dos homens; oferecer-lhe as mãos para acariciar os pequenos e pobres; os braços para acolher e apoiar quem é fraco e trabalhar no serviço dos necessitados; a mente para pensar e fazer projetos à luz das bem-aventuranças e das obras de misericórdia; e, sobretudo, oferecer o coração para amar e tomar decisões segundo a vontade de Deus. E aos participantes na peregrinação nacional dos jovens católicos, o 'Fátima Jovem' 2016, um dos 21 grupos inscritos naquele dia 8 no Santuário, maioritariamente portugueses, disse:
“Caros jovens, levai a chama do amor misericordioso aos ambientes da vossa vida, a todas as pessoas que vivem nas periferias para que a misericórdia de Deus se estenda de geração em geração”.
Depois, solicitou o apoio na edificação de  “uma Igreja de coração grande, próxima dos feridos e humilhados da história, ao serviço dos mais pobres”.
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Fora de dúvida, o altar do recinto de oração e o respetivo presbitério constituem uma obra atraente, perfeitamente integrada no completo das edificações do santuário e reenquadradora de todo o recinto, com beleza, harmonia, dignidade e uma boa nota de modernidade. São a coroa de um conjunto de edificações cuja estética não estava fácil de conseguir.
Penso constituir mais um motivo para peregrinar até Fátima ou, pelo menos, visitar o Santuário e respirar acolhimento e interioridade. Face a estas iniciativas não se pode rotular Fátima de reduto de pietismo desencarnado, mas antes de espaço que, no contacto com o Sagrado, retempera o retorno à vida do quotidiano em casa e no trabalho, na azáfama ou no lazer.

206.05.12 – Louro de Carvalho 

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