domingo, 22 de maio de 2016

Importância e significado do Congresso Eucarístico Nacional de 2016

Decorrerá, de acordo com programa atempadamente elaborado e difundido, de 10 a 12 de junho, no Santuário de Fátima, o 4.º Congresso Eucarístico Nacional, promovido pelo Episcopado Português, em torno do lema Viver a Eucaristia, fonte de Misericórdia.
O Papa nomeou o cardeal brasileiro D. João Braz de Aviz, um dos ilustres oradores convidados pelos promotores para este evento eclesial, como seu “enviado especial” a Fátima presidir ao encerramento deste acontecimento eucarístico, ao mesmo tempo celebrativo e reflexivo, com a participação de mais de meio milhar de congressistas.  
Na verdade, o Cardeal Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica já integrava o elenco dos conferencistas estrangeiros com a apresentação do tema “A misericórdia na missão da Igreja”, às 17 horas do dia 11 de junho, no Centro Pastoral Paulo VI. Agora, com a incumbência de enviado especial do Santo Padre, também lhe caberá presidir à celebração da Eucaristia de encerramento do 4.º Congresso Eucarístico Nacional no dia seguinte, 12 de junho, a partir das 11 horas, na esplanada do Recinto de Oração do Santuário de Fátima.
O semanário Ecclesia, do passado dia 20 de maio, publica uma entrevista com o padre Manuel Morujão SJ, coordenador da comissão designada pelas entidades promotoras para a organização do Congresso, que nos dá conta da importância, significado e oportunidade desta ação eclesial. Respigam-se as ideias consideradas mais pertinentes, aqui expostas de forma um tanto liberta da estrutura da entrevista e, por vezes, formalmente desviada do seu estrito conteúdo.
Sendo a Eucaristia, “o centro e o cume de toda a vida cristã”, o Congresso Eucarístico Nacional constituirá uma ajuda, pelas celebrações e pela reflexão aprofundante de temas com ela conexos, de modo que o “memento” subversivo do banquete sacrificial e eucarístico seja percebido na devida relevância e sentido para a vida dos cristãos, a começar pelos agentes de pastoral.
Em razão da sua importância e pertinência e tendo em conta o decurso do Ano Santo da Misericórdia, para que a Igreja foi convocada, e o centenário das aparições do Anjo em Fátima, de teor predominantemente eucarístico, a organização do Congresso – a Conferência Episcopal, o Santuário de Fátima e o Secretariado Nacional do Apostolado da Oraçãoprivilegiou a seleção de temas relacionados com o Ano Jubilar e com a mensagem de Fátima.
Por outro lado, a pertinência dos temas escolhidos torna-se mais evidente quando deparamos com noticiários repletos de histórias de ímpia “anti-misericórdia”, pelo que os cristãos devem oferecer ao mundo, como contraponto evidente, a luz e o calor da misericórdia justamente no momento em que a escuridão da falta de misericórdia teima em impor-se – seja através do terrorismo organizado ou da guerra, seja através das diversas formas de escravidão, como a exploração, o tráfico de pessoas, a violência doméstica e de rua, ou os ódios clubísticos, as diferenças ideológicas e as divisões religiosas. A par disso, avizinha-se o ano centenário das aparições da Senhora em Fátima, cuja mensagem vem muito centrada na misericórdia de Deus, bastando que os homens estejam abertos para ela, a solicitem, a acolham e a repliquem.
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Mas a Eucaristia não pode ficar circunscrita aos agentes de pastoral; ela tem de chegar à vida de todos os cristãos e de cada um e configurar um testemunho eloquente face aos não cristãos e aos não crentes. Isto, “muito simplesmente porque a Eucaristia é Cristo” – sustenta o entrevistado. A Eucaristia é “o próprio Cristo que viveu cerca de 33 anos no mistério da sua encarnação humana”. Portanto, assegura o padre Morujão, “não podemos ser cristãos não eucarísticos, pois isso seria uma contradição”.
Assim, a Eucaristia, quer na vertente de celebração quer nas vertentes de comunhão e de adoração, deve levar os cristãos à identificação com Cristo e com o seu estilo de vida, que foi amar e servir, a começar pelos que mais precisam: pobres, doentes, pecadores, marginalizados. Este Cristo, celebrado e recebido na Eucaristia é “fonte de misericórdia”, de amor e serviço – como sugere o lema do Congresso.
O padre Morujão assegura a ligação do Congresso a Fátima e ao Ano da Misericórdia como uma ligação espontânea e natural, já que a Eucaristia “torna presente o ato supremo da misericórdia de Deus que dá a vida por nós na cruz do calvário”. Depois, cita São João Paulo II, que, na sua última Encíclica, que foi sobre a Eucaristia (Ecclesia de Eucharistia, de 17 de abril de 2003), tem uma exclamação poderosa: “Mistério grande, mistério de misericórdia! Que mais poderia ter feito Jesus por nós?!”. Por seu turno, o Anjo, na 3.ª aparição aos pastorinhos de Fátima, no outono de 1916, apresentou-se com o cálix e a hóstia, que lhes deu a comungar, ensinando-lhes uma oração vincadamente trinitária e eucarística. As próprias aparições de Nossa Senhora, em 1917, têm uma clara vertente eucarística, conduzindo os pastorinhos à devoção da Eucaristia: “Meu Deus, meu Deus, eu vos amo no Santíssimo Sacramento” (1.ª aparição). E a última aparição, relatada por Lúcia nas suas memórias, ocorreu a 13 de junho de 1929, em Tuy, na casa das Doroteias, num contexto eucarístico e mariano, em que tudo se resume no binómio “Graça e Misericórdia”. Por isso, pode inferir-se que os temas da Eucaristia e da Misericórdia integram o núcleo central da mensagem fatimita.
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Além das celebrações e das reflexões temáticas, o Congresso Eucarístico ficará marcado por uma megacampanha de doação de sangue. Com efeito, comentando o refrão “dar sangue é dar vida”, presente nas diversas campanhas de doação de sangue, o entrevistado da Ecclesia estabelece a conexão pragmática com a Eucaristia:
“Celebra-se a doação da vida de Jesus, por inteiro e até ao fim, derramando o seu sangue pela salvação da humanidade. Por isso, o cristão deve ser particularmente sensível à necessidade da doação de sangue, muitas vezes urgente e premente, que experimentam os hospitais e centros de saúde para as necessárias transfusões.”.
Mais: descobre-se que a doação de sangue é uma vertente daquela obra de misericórdia “assistir/visitar os doentes”, incluindo todos os que, de qualquer forma, precisam de restabelecer a saúde. Trata-se, pois, duma ação de misericórdia “que se deve promover”, pois todos poderemos vir a ter necessidade duma transfusão de sangue. A realização desta campanha passará pela motivação das pessoas para a doação de sangue próprio e/ou inspirando outros a que o façam, bem como pelo fornecimento das indicações práticas das unidades de saúde a que se devem dirigir com a finalidade de oferecer vida através da oferta de sangue.
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É óbvio que o grande escopo do Congresso é a renovação pastoral, que se faz “por pequenos passos” e não resulta “de solenes decretos reais, pontifícios ou episcopais”. Esta renovação precisa de orientações, programas, estratégias e planos – que são o corpo da renovação. Mas, para que o corpo da renovação “funcione e seja fonte de vida” é precisa a alma, que advém pela oração, sacramentos e sobretudo pela Eucaristia, onde se encontra e toma o Cristo real e vivo, que se nos dá em alimento. Todos podem apreciar o bem que a Igreja faz nas suas múltiplas obras sociais. Porém, o motor de toda a ação benéfica da Igreja “vem de Cristo, que a inspira e anima”.
Este é o 4.º Congresso Eucarístico Nacional promovido pelo Episcopado Português, tendo o 3.º e mais recente decorrido em 1999 na varanda do grande Jubileu do ano 2000. É justo questionar o impacto que ele teve na vida da Igreja em Portugal nestes primeiros anos do 3.º milénio.
A isto o padre Morujão reconhece que “todas as dioceses têm os seus planos pastorais e não têm faltado iniciativas de dinamização espiritual, sacramental e social”. Todavia reconhece que “há ainda muito caminho a percorrer para concretizar o que o Papa João Paulo II chamou de fantasia da caridade, com criatividade pastoral”. Além disso, no encalço do desígnio do Papa Francisco, o Papa da misericórdia, “precisamos de nos formatar como Igreja em saída, indo ao encontro dos que precisam das boas notícias do evangelho da alegria.  
Por fim, o coordenador da Comissão promotora do congresso – a par do padre Manuel Barbosa, pela Conferência Episcopal Portuguesa; do padre Vítor Coutinho, vice-reitor do Santuário de Fátima e do padre Sérgio Henriques, diretor do seu Serviço de Liturgia; e do padre António Valério, diretor do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração – referiu-se à reposição dos feriados religiosos, com elevo para o da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, que se celebrará, este ano, a 26 de maio, uma quinta-feira, 60 dias depois da Páscoa.
Sobre o significado de a sua celebração voltar às ruas no seu dia litúrgico, o padre Morujão, em termos históricos, no quadro da tradição eclesiástica e da economia da salvação, diz:
Esta solenidade remonta já aos meados do século XIII, realçando que a Eucaristia é o centro da vida da Igreja, porque é o próprio Cristo. O nosso povo chama à solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo a festa do Corpo de Deus, porque Deus encarnou na nossa humanidade, fazendo-se um de nós, demonstrando até que extremo chega o amor de Deus por nós, pela nossa humanidade.”.
Ora, se efetivamente a Eucaristia atualiza o mistério da encarnação, Jesus cumpre através dela a sua promessa de ficar convosco até à consumação dos séculos (vd Mt 28,20). A celebração deste dia costuma ser assinalada, além da missa, pela procissão eucarística, manifestando assim os cristãos a sua fé, expondo publicamente o tesouro ou a joia da coroa da sua fé, o Cristo, que “se faz pão da nossa fome mais profunda”. E o facto de a festa voltar a ser celebrada em quinta-feira, dia da semana em que foi instituída a Eucaristia, dá-lhe peculiar importância, uma vez que não é apenas mais uma festa do Senhor, mas a valorização do Cristo eucarístico, centro da nossa fé e vida, que se dispõe a viver no nosso mundo, na nossa comunidade, na nossa pessoa.
Finalmente, é de referir que a celebração do Congresso Eucarístico fica no espaço temporal que medeia entre a peregrinação das crianças e a peregrinação aniversária da segunda aparição. A peregrinação das crianças evoca as aparições do anjo trinitário e eucarístico e a afeição das crianças videntes à Senhora e a Jesus Eucaristia; a segunda aparição é a da obrigação de aprender a ler e da referência ao Coração de Maria como ícone da misericórdia amorosa de Deus espelhada no coração maternal enquanto rosto da dimensão materna de Deus.

2016.05.21 – Louro de Carvalho

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