Passa hoje, 31 de maio, o Dia Mundial sem Tabaco,
criado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em 1987, como alerta sobre
doenças e mortes evitáveis relacionadas com o tabagismo.
E
todas as organizações empenhadas na causa da saúde lançam insistentes avisos sobre
os malefícios do tabaco. Dizem-nos, por exemplo, que metade dos fumadores morre à conta do vício. Ao todo,
são cerca de 6 milhões de óbitos por ano por via do tabagismo. O tabagismo é a principal causa
de morte evitável no mundo, respondendo por 63% dos óbitos relacionados com
doenças crónicas não transmissíveis, 85% das mortes por doença pulmonar crónica,
30% das mortes por diversos tipos de cancro (pulmão, boca,
laringe, faringe, esófago e outros),
25% dos óbitos por doença coronariana e 25% das mortes por doenças
cerebrovasculares. E, se nada for feito, o mundo passará
a registar mais de 8 milhões de mortes por ano a partir de 2030, sendo que mais
de 80% atingirão pessoas que vivem em países de baixa e média renda.
A doença cujo
espectro paira sobre a vida das pessoas é o cancro, sendo que o tabaco é a
causa número um de cancro em todo o mundo. Há quem diga que a maior parte das
mortes resulta dos acidentes cardíacos e vasco-cerebrais. Todavia, o fumador (tanto o
ativo como o passivo) é um dos
candidatos privilegiados a estas modalidades de acidentes.
A
propósito do Dia
Mundial sem Tabaco,
a OMS defende a adoção, por parte dos países-membros, de embalagens
padronizadas de cigarro e correlatos. Ou seja, todas as embalagens desse tipo
de produto passarão a ser iguais, segundo um padrão definido que determina a forma,
o tamanho, o modo de abertura, a cor e a fonte, mantendo-se apenas o nome da
marca. Tudo isto, porque, segundo a OMS, “a epidemia
do tabaco é uma das maiores ameaças à saúde pública que o mundo já enfrentou”. Mais:
é vício “cada vez mais sem idade, género ou classe social”. De acordo com a
OMS, os dados acerca do tabagismo têm tanto de claro como de alarmante. Destacam-se
alguns:
- O tabaco, como se referiu já, mata 50% dos
fumadores;
- Ao todo,
são cerca de 6 milhões as
pessoas que morrem anualmente à conta do vício, sendo que 5 milhões
de óbitos resultam do uso direto do tabaco;
- Perto de
80% dos mais de mil milhões de fumadores em todo o mundo vivem em países com economias fracas.
- Os jovens dos países mais pobres
são mais vulneráveis à propaganda do cigarro.
- É de mais de mil milhões o número das pessoas que
fumam.
O tabaco,
além de ser a principal causa de cancro a nível mundial, tem implicação no
aparecimento da doença de forma indireta, devido ao fumo passivo. Na verdade, o
fumo é capaz de causar doenças cardiovasculares e respiratórias graves em
adultos e provoca, todos os anos, mais de 600 mil mortes prematuras. Em 2004,
dessas mortes prematuras 28% correspondiam a morte de crianças. Todavia, como
já foi dito, o cancro está longe de ser a principal consequência do tabaco.
Existem outras, que vão da insuficiência renal às doenças infetocontagiosas.
Porém, o
consumo de tabaco traz outras consequências, que não diretamente a morte. Assim,
no caso das mulheres, do fumar desde cedo pode resultar como consequência o
aparecimento precoce da menopausa e fumar durante a gravidez tem um
impacto direto no ADN do feto.
Além disso, há que salientar que os efeitos nocivos
do vício tabágico não estão apenas relacionados com o cigarro tradicional. São
cada vez mais as evidências científicas de que os cigarros eletrónicos têm
impacto prejudicial para a saúde, não sendo, muitas vezes, a melhor opção para
deixar de fumar de vez, principalmente, porque, não induzindo a falta de hábito,
facilmente levam o sujeito a regressar ao cigarro tradicional. Por outro lado, mantêm
no utilizador alguns dos malefícios do cigarro nos lábios e língua, como o
excesso de calor e mesmo a nicotina e o alcatrão. Por isso, têm de ser encarados como tabaco e não como
medicamento que ajuda a deixar de fumar. Os E-cigarettes
vão, por isso, passar por rigorosos testes de controlo sanitário. De acordo com a nova diretiva europeia, os cigarros eletrónicos terão de
passar por testes de controlo sanitário e ser examinados exaustivamente antes da
eventual catalogação como medicamentos que ajudam a deixar de fumar.
***
Entre nós, o
tabaco continua a fazer mossa na saúde pública. De acordo com o relatório da
Direção Geral da Saúde (DGS), ‘Portugal –
Prevenção e Controlo do Tabagismo em Números 2015’, fumar foi a primeira
causa de morte em Portugal, correspondendo a 11% do total de óbitos registados.
O tabaco matou mais de 32 pessoas por dia. Por isso, este ano entrou em vigor
uma série de alterações legislativas e regulamentares à gestão da venda do
tabaco. Das imagens chocantes à ausência de aromas, passando por maços com
menos de 20 cigarros e pela proibição de publicidade, são muitos os aspetos em que
o panorama vai mudar. Assim:
As imagens
chocantes que, a partir de hoje, vão aparecer nos maços vão tentar dissuadir as
pessoas de fumar ou incentivá-las a deixar de o fazer. Mas há outras medidas
que visam uma informação melhor aos fumadores sobre os perigos do tabaco. Os
fabricantes dispõem de 12 meses para esgotar os stocks, mas, a partir de hoje, o fumador já poderá ser confrontado
com mudanças a nível nacional e europeu.
A Comissão
Europeia destaca, em comunicado às redações noticiosas, dez novas medidas
tomadas em consonância com o Parlamento Europeu:
1. Os maços
de tabaco passam a incluir com imagens
chocantes de grandes dimensões, frases de alerta e o número da
linha de saúde 24 que disponibiliza ajuda para deixar de fumar;
2. Os cigarros
e o tabaco de enrolar não poderão, a partir de 2020, ter aromas caraterísticos, como o
aroma a mentol ou a baunilha;
3. Em vez de
indicarem o teor de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono, as embalagens de
cigarros passaram a dizer que “fumo do tabaco contém mais de 70 substâncias causadoras de cancro”,
passando os fabricantes e importadores de produtos do tabaco a ser obrigados a
apresentar relatórios sobre os ingredientes usados em formato eletrónico;
4. Deixarão
de existir maços com menos de 20
cigarros, isto porque se acredita que os maços mais pequenos são
apelativos para os jovens com limitado poder de compra, pelo que as embalagens
passarão a ter todas o mesmo formato paralelepipédico para que os avisos sejam
bem legíveis;
5. É
proibido associar marcas de cigarros a determinado estilo de vida na publicidade, fazer ofertas
promocionais ou dizer que determinado produto é menos nocivo do que outro, tem
melhor biodegradabilidade ou outras vantagens ambientais;
6. Os cigarros eletrónicos vão
continuar a ser vendidos, mas vão incluir obrigatoriamente advertências de
saúde, uma lista de todos os ingredientes contidos no produto, informações
sobre o teor de nicotina do produto e um folheto com instruções de utilização e
informações sobre efeitos adversos, grupos de risco, potencial de criação de
dependência e toxicidade;
7. Passam os
cigarros eletrónicos a ser
sujeitos a normas de qualidade e
de segurança, como concentrações máximas de nicotina e volumes
máximos para cartuchos, reservatórios e recargas líquidas com nicotina;
8. Os
fabricantes de cigarros eletrónicos terão de notificar os Estados-Membros de
todos os produtos que colocam no mercado e serão investigados “quaisquer indícios de que os cigarros
eletrónicos conduzem à dependência da nicotina ou ao consumo do tabaco”;
9. Poderá
ser proibida a venda de determinados produtos tabágicos a consumidores doutros países, cabendo a
cada país decidir se quer implementar esta medida e, por outro lado, os retalhistas
passarão a ser obrigados a registar-se junto das autoridades competentes;
10. Novos
elementos (visíveis e invisíveis, como hologramas) facilitarão a apreensão
de produtos ilícitos.
***
Havendo que
salientar que não existem duas pessoas iguais e que tem cada uma o seu
organismo, o seu metabolismo e a sua forma de reagir a agressões externas, contudo,
todas as pessoas – umas mais do que outras – estão vulneráveis a agentes
cancerígenos.
Segundo a
OMS, os agentes cancerígenos estão divididos em 4 grupos (sendo o
segundo divido em dois subgrupos), consoante
a gravidade: grupo 1 – cancerígeno
para humanos; grupo 2A – provavelmente
cancerígeno para humanos; grupo 2B –
possivelmente cancerígeno para humanos; grupo
3 – não classificável; e grupo 4 –
provavelmente não cancerígeno.
E é dentro
do grupo 1 que estão os maiores
inimigos da saúde, entre os quais se destaca o tabaco, e que são, segundo a BBC:
O tabaco (metade dos fumadores morre devido ao vício e o cigarro
é de longe o maior cancerígeno do mundo moderno); o fumo passivo (mais
de 600 mil pessoas morrem em cada ano devido ao fumo passivo, sendo que 28% dos
óbitos são crianças); a poluição do ar (por muito adequado
que seja o estilo de vida – com uma alimentação equilibrada e prática de
exercício físico – a poluição do ar é altamente cancerígena, estando 1,6 mil cidades
a ser vigiadas pela OMS); a exposição a raios ultravioleta (não é só no verão que é preciso ter
cautela: o melanoma maligno é a principal consequência da exposição excessiva e
sem proteção ao sol e é dos tipos de cancro mais fatais); o fumo
dos carros a diesel (desde os anos 80 que este fumo consta no Grupo
1 dos agentes cancerígenos, pois os elevados níveis de nitroarenos afetam
diretamente a saúde); os químicos formaldeídos (usados no fabrico de resinas e
presente em produtos como o solvente de cola, químico que pode ainda ser
encontrado na forma líquida, o formol – a inalação pode ser fatal e dar azo ao
cancro no nariz, na faringe ou à leucemia); as pílulas contracetivas – hormonas progesterona e estrogénio para
reposição hormonal – cujo risco aumenta quando há uso de hormonas
combinadas, sendo que as mulheres na menopausa que tomam progesterona e
estrogénio correm um maior risco de sofrer de cancro da mama; o álcool
(aqui, o que conta é quantidade – quanto mais, pior, e o abuso pode ser fatal);
a carne processada (um
aumento no consumo de 50 gramas por dia de carne processada representa em 18% a
mais as probabilidades de desenvolver cancro colo-retal); e a exposição
a gás radónico (gás radioativo incolor, inodoro mas altamente prejudicial
à saúde, podendo originar cancro no pulmão).
***
Eis alguns
dos avisos em Dia Mundial sem Tabaco,
a que resiste o interesse empresarial e do Estado. Quantas empresas não
fechariam portas, com o subsequente surto de desemprego! Quanto não perderia o
Estado (em imposto
sobre o tabaco e em IVA) se todos abandonassem
o fumo! Mas vale a pena cessar e mandar parar o vício. E o grande requisito é a
força de vontade.
2016.05.31 – Louro de Carvalho
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