domingo, 1 de maio de 2016

Em Dia da Mãe de 2016

“Mãe” é nome misterioso de ser misterioso. À mãe está ligado o fenómeno mais maravilhoso de que o ser humano pode fruir – a vida. Vida no começo, vida no desenvolvimento, vida no termo, vida depois da vida.
Fazendo a conveniente digressão por algumas línguas, topa-se a palavra portuguesa “mãe” (na linguagem familiar infanto-juvenil, “mamã” e, no português do Brasil, “mamãe”) correspondida noutras línguas por termos como mater (no latim), méter (no grego), madre (no espanhol), madre e mamma (no italiano) e mère (no francês). E, em línguas, não latinas, temos: mother (no inglês), Mutter (no alemão), Mamadi ou Mami (nalgumas línguas indianas), MaTb, pronunciado mat’ (no russo) e mǔ qīn (no mandarim, no chinês).
Tal amostragem remete-nos para a fonia específica da ternura amorosa. O inefável som nasal consonântico contamina as vogais das palavras que chamam pela mãe e que os filhos e filhas balbuciam ou proferem claramente.
Mãe significa e faz procurar e sentir o beijo, o carinho, a carícia, a festinha. Serve para exprimir o choro e o pranto, o sorriso e a alegria, a dor e a tristeza, o enlevo e a euforia, o à vontade e a proteção. E, na forma ternurenta de mamã (mama grande), evoca o calor da intimidade, o contacto alimentício como o seio materno que, na fórmula de “leite materno”, figura como a matriz modeladora do caráter daquele ou daquela que se alimentou aos peitos da progenitora (genitrix). Mais: chamar pela mãe equivale a clamar pelo colo mais terno, fagueiro, caloroso e abrigado, sem profanação.
A mãe constrói a vida a partir do exterior com intimidade, conjugado com o interior vivo – uma construção tantas vezes em continuidade solitária. Concebe, faz a gestação, alimentando e esperando; prepara entre alegrias e temores, o advento de um novo ser autónomo, embora dependente dos seus cuidados e de quem a ajude em família. A mãe é a matriz em que se concebe e modela a vida, e é modelo. Porque gera, ela era entre os romanos a genitrix. Porque ela dá à luz, era a puerpera e é a parturiente. Como era a familiar mais que próxima, era a parens. Como alimenta nos primeiros tempos e provê aos alimentos corporais e espirituais, é a nutrix. Mas é também educadora, apoio e arrimo ao longo de toda a vida. Fraco ou forte, rico ou pobre, prestigiado ou anónimo, o filho que não perca o tino da vida, precisa sempre da mãe. Aquele que é livre sabe (quer dizer: conhece e sente) que foi a mãe a grande educadora para liberdade e para a responsabilidade perante a consciência.
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Biologicamente, ser mãe é a caraterística específica do ser feminino, expressa na capacidade de gerar em seu ventre um novo ser vivo. Não obstante, todos sabemos que os conceitos de mãe e de maternidade ultrapassam as malhas da biologia e da fisicidade. Ser mãe é entregar-se sem conta, peso e medida, é padecer no paraíso da vida. Por isso, a maternidade realiza-se também na alimentação da criança e do adolescente, na sua educação e amparo. E isso realiza-se na maternidade biológica, na maternidade adotiva, na maternidade de entrega em religião, em educação, em saúde e em prestação social.
Ora, se a ventura da maternidade é indizível, também são enormes as responsabilidades da mãe. Por isso, ela recebe uma preciosa ajuda da mãe natureza através do denominado instinto materno. Este insondável instinto leva a mãe a entregar-se pelo e para o filho em circunstâncias e riscos que seriam impensáveis em contextos não atinentes à maternidade.
Porém, não podemos esquecer que muitas mulheres, que não são mães no campo biológico por opção sublimada que as leva à entrega sem reservas e sem medida, são verdadeiramente mães nas indispensáveis funções de apoio pessoal e social a tanta gente que precisa. É a expressão viva do espírito da maternidade, em que também o instinto dá ajuda preciosa à inteligência e à vontade.
Ser mãe também significa a sobrevivência da espécie humana, a continuidade da vida, a expressão pujante do fulgor do viver, a luta pela dignidade.
A maternidade é o modo de a mulher se evolver carinhosa e vitalmente de modo efetivo e definitivo com seus filhos e/ou filhas gerados fisicamente ou assumidos socialmente a fim de lhes proporcionar as condições adequadas de sobrevivência e bem-estar, além da oferta educativa e da generosa preparação para a vida adulta.
O sábio sente que a mãe é fonte que dá vida (neste sentido, aproxima-se da função do Espírito Santo, dominum et vivificantem), a mãe é a floresta em cujo coração se alapou um segredo tão antigo como as montanhas, segredo de renovação diária. E, como a natureza se renova-se a cada dia, a mãe levanta-se no início de cada dia mais perfeita, mais bela, mais mãe. Mãe é o ser inteligente e voluntarioso que se deixa levar pela intuição, pela força da vontade e pelo pulsar do coração
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Por isso, hoje, dia um de maio, o Bispo do Porto agradeceu às mães presentes na bênção das pastas dos finalistas das academias portuenses e declarou com o poder da sua palavra que a mãe tem um rosto que não envelhece, marca a memória em qualquer momento da vida e nunca morre. Tem razão o prelado da cidade da Virgem, porque a mãe é projeto de vida em desenvolvimento e ação, é rosto de mistério, é espelho do coração de Deus.
Quando Dom António Francisco rezou pelas mães à Mãe cuja imagem peregrina de Fátima percorrera a diocese e que recebia ali, na avenida dos Aliados, os olhares de tantos e tantas e o preito da devoção compromissiva para mais vida, fez a ponte para os desafios que hoje se levantam aos jovens em termos sociais e profissionais. Disse-lhes que têm eles, enquanto “herdeiros do amanhã”, o direito de esperar um mundo justo e solidário, bem como o dever de trabalhar pela construção desse mundo melhor. E pediu-lhes que não desistam do sonho e não abdiquem do dever da construção do mundo justo e solidário.
Ora, se as mães, levadas pelo instinto materno, se deixarem contaminar pelo espírito materno e forem persistentes no rumo, teremos criadas as condições para a consecução do mundo melhor, que será mais justo e mais solidário, onde todos desfrutem da terra, do teto e do trabalho.
Porém, é também imperioso que os decisores políticos e económicos se vinculem ao profundo espírito materno que as mulheres acalentam, desenvolvem e partilham. Não é pensável que os desmandos do mundo continuem a atraiçoar o verdadeiro sentido do mistério materno, fomentando, em torno da soberba, da avareza e da inveja, o conflito, a ganância e o espezinhamento das mulheres e das crianças.

2016.05.01 – Louro de Carvalho

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