terça-feira, 22 de março de 2016

Os atentados em Bruxelas

Hoje, 22 de março, em plena Semana Santa, a Europa dos cidadãos e das instituições tomou-se de pânico. Às 8 horas de Bruxelas, o aeroporto de Zaventem, na capital da Bélgica, foi objeto de explosões e, horas mais tarde, uma estrondosa explosão ocorreu na movimentada estação do Metropolitano de Maelbeek, na Rue de La Loi, situada bem perto da gare central de Bruxelas e do edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu.
O balanço de vítimas continua a aumentar, com pelo menos 34 mortos (14 vítimas mortais das explosões no aeroporto e 20 da ocorrida no Metro), já confirmados, além de mais e 200 feridos, incluindo uma cidadã portuguesa, de 30 anos, natural de Coimbra, ferida em Maelbeek, mas já livre de perigo.
Estas ações de atentado acontecem poucos dias depois da captura de Salah Abdeslam, envolvido nos ataques terroristas de Paris em novembro, que esteve a viver escondido em Bruxelas até ao passado dia 18, assumindo perante a polícia, depois da captura, que estava a preparar um atentado em Bruuxelas. Desde esse dia tem estado detido na prisão da cidade de Bruges, para onde, segundo o L’Echo, terá sido destacada uma brigada de minas e armadilhas ao final da manhã face a suspeitas de mais explosivos.
O correspondente da SkyNews, que estava no duty free do aeroporto à hora do ataque, apontou, desde logo, para a forte probabilidade de atentado terrorista, o que veio a ser oficialmente confirmado, pouco depois, pelo Ministério Público federal a explicar que dois bombistas-suicidas se fizeram explodir na zona das partidas do predito aeroporto belga.
Embora não tenham sido oficialmente confirmadas notícias de um tiroteio ocorrido minutos antes das explosões, a estação RTBF avançou com a informação de que foi encontrada uma Kalashnikov no hall de partidas do aeroporto. E, segundo o canal televisivo VTM, foi descoberto um colete suicida no aeroporto, que poderá ser pertença de um terceiro terrorista possivelmente em fuga.
Quanto à explosão na estação do Metro, o alerta foi dado pelas 11 horas locais nas redes sociais por jornalistas concentrados em torno dos edifícios das instituições europeias, que passaram a divulgar imagens de fumo a sair da estação de Maelbeek, após ter sido ouvida uma estrondosa explosão. O jornal La Capitale assegura que a explosão se deu durante uma operação policial efetuada após denúncias de um pacote suspeito dentro da estação. A televisão belga RTBF, citando uma fonte oficial anónima, explicou que a bomba detonada estava na segunda carruagem do Metro que passava àquela hora na estação.
Estes são os primeiros atentados no coração da União Europeia, que estava sob alerta desde que militantes do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, levaram a cabo uma série de atentados em Paris, a 13 de novembro, provocando 130 mortos. A possibilidade de Bruxelas vir a ser palco de ataques semelhantes aos da capital francesa ganhou força no passado dia 18, quando a polícia belga e as forças especiais francesas capturaram, como foi já referido, Salah Abdeslam no bairro bruxelense de Molenbeek. Este cérebro dos atentados de Paris, de nacionalidade francesa, mas nascido e criado em Bruxelas, era o último dos suspeitos envolvidos daqueles atentados, em fuga.
Apesar da informação privilegiada por ele fornecida, as autoridades não conseguiram evitar os ataques que varreram a capital belga nesta fatídica manhã de terça-feira.
Pouco depois das primeiras explosões no aeroporto de Zaventem, o jornal belga L’ Echo citou um relatório  de inspetores do setor dos transportes de uma das principais centrais sindicais da Bélgica, a CGSP, apresentado em janeiro, onde eram apontadas graves falhas de segurança no aeroporto. Segundo o relatório, “uma bomba numa mala de viagem tem hipóteses de passar despercebida”.
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Como consequência, mais de mil soldados armados estão a patrulhar a cidade de Bruxelas. A segurança foi reforçada na sede da NATO, situada a meio caminho entre o centro da cidade e o aeroporto atingido; o aeroporto foi encerrado até ser afastada a hipótese de perigo; o Presidente do Parlamento Europeu recomendou aos eurocratas e funcionários o trabalho a partir de casa, sendo que os que estavam já nos euro-edifícios não saíssem à rua; o Governo decretou três dias de luto nacional; e os sinais de solidariedade e protesto multiplicam-se.
Pelas 11 horas e meia de Lisboa, mais uma hora em Bruxelas, o L' Echo avançava que Bruges estava sob alerta, após uma brigada antiexplosivos ter sido chamada à prisão daquela cidade, onde Salah Abdeslam está recluso. A notícia do jornal avançava que um pacote suspeito tinha mobilizado uma equipa de minas e armadilhas naquela cidade da costa noroeste da Bélgica, a cerca de 100 quilómetros da capital.
Na noite do dia 21, o jornal francês Libération tinha avançado que a cidade poderia estar a funcionar há vários meses como segundo centro de operações de militantes do Daesh infiltrados na Bélgica.
Por volta das 13 horas locais deste dia do atentado, a CNN avançou que a família real belga fora levada para um local seguro, com os media a confirmarem que o aeroporto se encontra encerrado ao tráfego e está totalmente vazio. Muitas das pessoas retiradas do local pelas autoridades foram levadas para um ginásio das proximidades. Entretanto, o rei já falou à nação belga, dizendo que o país irá dar a resposta merecida.
Apesar de simpatizantes do Daesh começarem a celebrar estes atentados nas redes sociais bastante cedo, o grupo que, em 2013, anunciou a instalação de um califado islâmico no Iraque e na Síria veio a reivindicá-los pelos seus canais oficiais só a meio da tarde.
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É bem-vinda a expressão da solidariedade por parte do Presidente Barack Obama e a cooperação do FBI, pois o terrorismo está a tornar-se uma pecha e mesmo flagelo mundial. E a Europa deve articular com maior eficiência e eficácia o equilíbrio entre as exigências da liberdade e da defesa/segurança. A Europa das liberdades tem de continuar a oferecer a liberdade e a tolerância, mas não pode dar azo a subserviências perante as culturas alienígenas que se lhe queiram impor nem dar tréguas às tentativas e às ações terroristas. A abertura das fronteiras – por terra, mar e ar – a pessoas e bens não pode significar falta de vigilância, embora não excessiva e descontrolada, de fronteira e no interior de cada Estado-Membro. Além da liberdade e tolerância, a Europa é obrigada a proporcionar a segurança e a defesa de pessoas e bens, incluindo capitais e valores éticos e políticos.
Por outro lado, impõe-se a cooperação solidária entre órgãos de informação e segurança e entre entidades policiais e judiciárias com vista a intervenção ao mínimo sinal de suspeita, no pressuposto de que o combate ao terrorismo é uma atividade de muito longa duração e mui grande intensidade.
E os cidadãos devem procurar, quanto possível, levar uma vida normal sem pânico ou exagerado temor e observar as normas que as entidades de defesa e segurança sugerirem. Além disso, farão bem em manifestar a confiança nas suas autoridades, as quais, mais do que fazer contas aos votos ou às tendências dos respetivos eleitorados, devem zelar pelo bem-estar, liberdade e segurança das populações. E é de ter em conta que por cada atentado fica um sem número de intenções e tentativas goradas.
Sem oferecer aos inimigos a vitória do medo nem a arrogância da vingança, a Europa terá de saber confecionar a defesa e a segurança comuns e não deixar a cada Estado-Membro o ónus do seu zelo pelos seus cidadãos e instituições. Em vez dos muros e dos calculismos de “capelinha”, a UE deverá construir a solidariedade em todas as áreas – política e diplomática, económica e financeira, social e organizacional e, pelo menos, a da ética dos mínimos –, tentar falar a uma só voz, montar uma estratégia racional e humana para a resolução do problema dos refugiados e dos migrantes económicos, substituir a política da “guetização” pela da integração e do retorno dos que desejarem regressar aos países de origem, combater a exploração dos migrantes e o tráfico de pessoas e bens e, tanto quanto possível, reparar os erros cometidos até ao presente, sem necessidades de pedir desculpas – o que seria inútil – e sem deixar que outros exprimam a sua vingança contra os erros da Europa.
Por mim, já que não sou Charlie nem Bataclan nem Estádio de Paris, também não sou Zaventem nem Maelbeek nem Bruges. Porém, porque sou cidadão, prezo a liberdade; porque sou limitado, prezo a segurança; como não estou a salvo de riscos, prezo a defesa; porque sou português, quero viver num país livre, seguro e próspero; porque sou europeu, gostaria de confiar nas instituições da UE que dizem garantir a subsidiariedade e a solidariedade, mas esmagam os Estados-Membros e empobrecem as populações; e, como cosmopolita, gostaria de, sempre que possível, circular livre, adaptado e seguro pelo mundo, sem receio de penúria, cataclismos, ataques e quaisquer outras formas de hostilidade e intolerância. E, ao invés, gostaria de que todos os demais se sentissem livres, seguros e integrados neste país e nesta Europa.
Resta-me censurar os atentados, homenagear as vítimas – mortais e outras – e, sobretudo, reconhecer o mérito daqueles que abdicam livremente de algumas das liberdades e seguranças pessoais, saindo da sua zona de conforto, para que os outros possam sentir-se livres, seguros e a circular, trabalhar e viver os seus momentos de ócio. Honra aos mártires, glória aos heróis e mérito aos trabalhadores pela paz e segurança!

2016.03.22 – Louro de Carvalho

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