Hoje, 22 de março, em plena Semana Santa, a Europa dos
cidadãos e das instituições tomou-se de pânico. Às 8 horas de Bruxelas, o
aeroporto de Zaventem, na capital da
Bélgica, foi objeto de explosões e, horas mais tarde, uma estrondosa explosão
ocorreu na movimentada estação do Metropolitano de Maelbeek, na Rue de La Loi,
situada bem perto da gare central de Bruxelas e do edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia e
do Parlamento Europeu.
O balanço de vítimas continua a aumentar, com pelo
menos 34 mortos (14 vítimas mortais das explosões no aeroporto e 20 da
ocorrida no Metro), já
confirmados, além de mais e 200 feridos, incluindo uma cidadã portuguesa, de 30
anos, natural de Coimbra, ferida em Maelbeek,
mas já livre de perigo.
Estas ações de atentado acontecem poucos dias depois
da captura de Salah Abdeslam,
envolvido nos ataques terroristas de Paris em novembro, que esteve a viver
escondido em Bruxelas até ao passado dia 18, assumindo perante a polícia,
depois da captura, que estava a preparar um atentado em Bruuxelas. Desde esse
dia tem estado detido na prisão da cidade de Bruges, para onde, segundo o L’Echo, terá sido destacada uma brigada
de minas e armadilhas ao final da manhã face a suspeitas de mais explosivos.
O correspondente da SkyNews, que
estava no duty free do aeroporto à
hora do ataque, apontou, desde logo, para a forte probabilidade de atentado
terrorista, o que veio a ser oficialmente confirmado, pouco depois, pelo
Ministério Público federal a explicar que dois bombistas-suicidas se fizeram explodir
na zona das partidas do predito aeroporto belga.
Embora não tenham sido oficialmente confirmadas notícias de um tiroteio ocorrido
minutos antes das explosões, a estação RTBF avançou com a informação de que foi
encontrada uma Kalashnikov no hall de partidas do aeroporto. E, segundo
o canal televisivo VTM, foi descoberto um colete suicida no aeroporto, que
poderá ser pertença de um terceiro terrorista possivelmente em fuga.
Quanto à explosão na estação do Metro, o alerta foi dado pelas 11 horas
locais nas redes sociais por jornalistas concentrados em torno dos edifícios das
instituições europeias, que passaram a divulgar imagens de fumo a sair da
estação de Maelbeek, após ter sido ouvida
uma estrondosa explosão. O jornal La
Capitale assegura que a explosão se deu durante uma operação policial
efetuada após denúncias de um pacote suspeito dentro da estação. A televisão
belga RTBF, citando uma fonte oficial anónima, explicou que a bomba detonada estava
na segunda carruagem do Metro que passava àquela hora na estação.
Estes são os primeiros atentados no coração da União Europeia, que estava
sob alerta desde que militantes do Daesh,
o autoproclamado Estado Islâmico, levaram a cabo uma série de atentados em
Paris, a 13 de novembro, provocando 130 mortos. A possibilidade de Bruxelas vir
a ser palco de ataques semelhantes aos da capital francesa ganhou força no
passado dia 18, quando a polícia belga e as forças especiais francesas
capturaram, como foi já referido, Salah
Abdeslam no bairro bruxelense de Molenbeek.
Este cérebro dos atentados de Paris, de nacionalidade francesa, mas nascido e
criado em Bruxelas, era o último dos suspeitos envolvidos daqueles atentados,
em fuga.
Apesar da informação privilegiada por ele fornecida, as autoridades não
conseguiram evitar os ataques que varreram a capital belga nesta fatídica manhã
de terça-feira.
Pouco depois das primeiras explosões no aeroporto de Zaventem, o jornal belga L’
Echo citou um relatório de inspetores do setor dos transportes de uma
das principais centrais sindicais da Bélgica, a CGSP, apresentado em janeiro, onde
eram apontadas graves falhas de segurança no aeroporto. Segundo o relatório, “uma
bomba numa mala de viagem tem hipóteses de passar despercebida”.
***
Como consequência, mais de mil soldados armados estão a patrulhar a cidade
de Bruxelas. A segurança foi reforçada na sede da NATO, situada a meio caminho
entre o centro da cidade e o aeroporto atingido; o aeroporto foi encerrado até
ser afastada a hipótese de perigo; o Presidente do Parlamento Europeu recomendou
aos eurocratas e funcionários o trabalho a partir de casa, sendo que os que estavam
já nos euro-edifícios não saíssem à rua; o Governo decretou três dias de luto
nacional; e os sinais de solidariedade e protesto multiplicam-se.
Pelas 11 horas e meia de Lisboa, mais uma hora em Bruxelas, o L' Echo avançava que Bruges estava sob
alerta, após uma brigada antiexplosivos ter sido chamada à prisão daquela
cidade, onde Salah Abdeslam está
recluso. A notícia do jornal avançava que um pacote suspeito tinha mobilizado uma
equipa de minas e armadilhas naquela cidade da costa noroeste da Bélgica, a
cerca de 100 quilómetros da capital.
Na noite do dia 21, o jornal francês Libération
tinha avançado que a cidade poderia estar a funcionar há vários meses como
segundo centro de operações de militantes do Daesh infiltrados na Bélgica.
Por volta das 13 horas locais deste dia do atentado, a CNN avançou que a
família real belga fora levada para um local seguro, com os media a confirmarem que o aeroporto se
encontra encerrado ao tráfego e está totalmente vazio. Muitas das pessoas
retiradas do local pelas autoridades foram levadas para um ginásio das proximidades. Entretanto, o rei já falou à
nação belga, dizendo que o país irá dar a resposta merecida.
Apesar de simpatizantes do Daesh
começarem a celebrar estes atentados nas redes sociais bastante cedo, o grupo
que, em 2013, anunciou a instalação de um califado islâmico no Iraque e na
Síria veio a reivindicá-los pelos seus canais oficiais só a meio da tarde.
***
É bem-vinda a expressão da solidariedade por parte do Presidente Barack Obama
e a cooperação do FBI, pois o terrorismo está a tornar-se uma pecha e mesmo
flagelo mundial. E a Europa deve articular com maior eficiência e eficácia o
equilíbrio entre as exigências da liberdade e da defesa/segurança. A Europa das
liberdades tem de continuar a oferecer a liberdade e a tolerância, mas não pode
dar azo a subserviências perante as culturas alienígenas que se lhe queiram
impor nem dar tréguas às tentativas e às ações terroristas. A abertura das
fronteiras – por terra, mar e ar – a pessoas e bens não pode significar falta
de vigilância, embora não excessiva e descontrolada, de fronteira e no interior
de cada Estado-Membro. Além da liberdade e tolerância, a Europa é obrigada a
proporcionar a segurança e a defesa de pessoas e bens, incluindo capitais e valores
éticos e políticos.
Por outro lado, impõe-se a cooperação solidária entre órgãos de informação
e segurança e entre entidades policiais e judiciárias com vista a intervenção
ao mínimo sinal de suspeita, no pressuposto de que o combate ao terrorismo é
uma atividade de muito longa duração e mui grande intensidade.
E os cidadãos devem procurar, quanto possível, levar uma vida normal sem
pânico ou exagerado temor e observar as normas que as entidades de defesa e
segurança sugerirem. Além disso, farão bem em manifestar a confiança nas suas autoridades,
as quais, mais do que fazer contas aos votos ou às tendências dos respetivos eleitorados,
devem zelar pelo bem-estar, liberdade e segurança das populações. E é de ter em
conta que por cada atentado fica um sem número de intenções e tentativas
goradas.
Sem oferecer aos inimigos a vitória do medo nem a arrogância da vingança, a
Europa terá de saber confecionar a defesa e a segurança comuns e não deixar a
cada Estado-Membro o ónus do seu zelo pelos seus cidadãos e instituições. Em vez
dos muros e dos calculismos de “capelinha”, a UE deverá construir a
solidariedade em todas as áreas – política e diplomática, económica e financeira,
social e organizacional e, pelo menos, a da ética dos mínimos –, tentar falar a
uma só voz, montar uma estratégia racional e humana para a resolução do problema
dos refugiados e dos migrantes económicos, substituir a política da “guetização”
pela da integração e do retorno dos que desejarem regressar aos países de origem,
combater a exploração dos migrantes e o tráfico de pessoas e bens e, tanto quanto
possível, reparar os erros cometidos até ao presente, sem necessidades de pedir
desculpas – o que seria inútil – e sem deixar que outros exprimam a sua vingança
contra os erros da Europa.
Por mim, já que não sou Charlie
nem Bataclan nem Estádio de Paris, também
não sou Zaventem nem Maelbeek nem Bruges. Porém, porque sou
cidadão, prezo a liberdade; porque sou limitado, prezo a segurança; como não
estou a salvo de riscos, prezo a defesa; porque sou português, quero viver num
país livre, seguro e próspero; porque sou europeu, gostaria de confiar nas
instituições da UE que dizem garantir a subsidiariedade e a solidariedade, mas esmagam
os Estados-Membros e empobrecem as populações; e, como cosmopolita, gostaria
de, sempre que possível, circular livre, adaptado e seguro pelo mundo, sem
receio de penúria, cataclismos, ataques e quaisquer outras formas de
hostilidade e intolerância. E, ao invés, gostaria de que todos os demais se sentissem
livres, seguros e integrados neste país e nesta Europa.
Resta-me censurar os atentados, homenagear as vítimas – mortais e outras – e,
sobretudo, reconhecer o mérito daqueles que abdicam livremente de algumas das
liberdades e seguranças pessoais, saindo da sua zona de conforto, para que os outros
possam sentir-se livres, seguros e a circular, trabalhar e viver os seus
momentos de ócio. Honra aos mártires, glória aos heróis e mérito aos
trabalhadores pela paz e segurança!
2016.03.22 – Louro de Carvalho
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