De
acordo com o divulgado por vários órgãos de Comunicação social, o Presidente da
República, entende que a espanholização da banca portuguesa é nefasta para o
país, sendo que a internacionalização da banca deve repartir-se por
nacionalidades diferentes. Parece ter visado a exigência europeia de engrossar o
capital da banca espanhola à custa da fragilidade do sistema bancário do
parceiro ibérico e, em concreto, refrear a apetência do Caixa Banco de
monopolizar o BPI contra as pretensões angolanas. E, no contexto da visita ao
monarca espanhol, Marcelo referiu que o investimento espanhol em Portugal é
bem-vindo e útil, mas não em exclusivo.
No
encalço das declarações conhecidas do Presidente, o Primeiro-Ministro, cujas
críticas ao Governador do Banco de Portugal são publicamente conhecidas, terá
mediado o caso entre os concorrentes ao controlo do BPI e Isabel dos Santos,
levando a que esta aceitasse prescindir da participação da sua empresa no
capital social do BPI em troca da autorização de participar no capital social do
BCP. Tal postura, que tem em conta as relações com Angola parece ser preferível
à elaboração de lei que obrigue à desblindagem dos estatutos da banca, evitando
que acionista com a participação de 20% possa impedir alteração de estatutos e
estratégia do banco.
Passos
Coelho, por sua vez, veio a terreiro criticar o Primeiro-Ministro e o próprio Presidente
da República por ingerência em assuntos dos privados.
Por outro
lado, sabe-se que o BdP (Banco
de Portugal) rejeitou o pedido de
deputados de PS, BE e PCP, que solicitaram ao supervisor o relatório de
avaliação sobre a sua atuação no âmbito do caso BES/GES. O BdP
justifica a recusa de entrega aos deputados do relatório, que o próprio
supervisor solicitou para avaliar a sua atuação no caso BES,
com o argumento do “sigilo bancário”.
O requerimento
destes deputados prende-se com a Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso Banif,
processo que já levou o BdP a facultar diversa informação confidencial, tendo a
recusa do relatório sido denunciada por Mariana Mortágua, deputada do BE.
O relatório,
elaborado pela BCG (Boston Consulting Group), avalia a atuação do BdP no caso
que levou à resolução do BES. É certo que as conclusões desta auditoria foram
divulgadas, mas o seu conteúdo concreto não o foi, sob a justificação do “dever de confidencialidade”.
Este argumento
não satisfaz os deputados, nomeadamente Mariana Mortágua, entendendo os
bloquistas que este relatório é “fundamental” para proceder a uma “avaliação
integrada” da atuação do BdP.
Os deputados
acreditam que o documento conterá nota de alguma “falta grave” do BdP, o que
abriria o caminho a uma saída legítima do governador Carlos Costa, conforme é
pretensão da maioria parlamentar de Esquerda, o qual, segundo a lei, só pode ser demitido em circunstâncias muito especiais.
Segundo a deputada do Bloco de Esquerda, face à resposta do BdP, a
questão seria discutida na reunião, de ontem dia 22, da Comissão Parlamentar de
Inquérito ao Banif. O objetivo da reunião era delinear os próximos passos para
voltar a pedir este relatório interno do supervisor – que teve o contributo da
BCG e que os bloquistas consideram essencial para avaliar o desempenho do
supervisor. Mais: segundo Mariana Mortágua, o relatório não pode ser recusado à
Comissão de Inquérito ao caso Banif.
***
Parece, no entanto, que o
problema não é de fácil solução, já que, por força dos Tratados da UE, a soberania Portuguesa e,
neste caso, o poder da Assembleia da República, se encontra limitada face
à
independência e imunidades do Banco Central Europeu e dos Bancos Centrais,
que fazem parte do sistema.
E, como é do conhecimento, ao menos
implícito, de todos, o Banco de Portugal não serve necessariamente os
interesses de Portugal, a não ser por acaso ou por engano.
O Banco de Portugal faz parte da
estrutura do Banco Central Europeu, que não depende de nenhum outro Órgão da
União Europeia e tem direitos e imunidades próprias.
Segundo os Tratados, o banco
central de um Estado-Membro não pode solicitar uma opinião, qualquer que ela
seja, ao Governo do seu país, nem o Governo pode mandar ou solicitar seja o for
ao seu banco central.
Assim o Governador do BdP, este
ou qualquer outro, embora nomeado pelo Governo, depois de se apresentar ao Parlamento,
é um alto funcionário do Banco Central Europeu. E é deste que recebe ordens e
instruções a que tem de obedecer. Do Governo Português não pode receber ordens
e, mesmo que pudesse, a obediência a elas
estava-lhe contraindicada.
No entanto, é sabido que, enquanto
membro do conselho de governadores, tem uma palavra a dizer e tem voto na matéria,
bem como a capacidade de fazer as suas pressões. Assim o queira.
É óbvio que, como é sabido, as
políticas do Banco Central Europeu são tudo menos transparentes e amigas das
economias dos Estados-Membros, por mais esforços que faça o atual Presidente do
BCE.
***
Neste aspeto,
acompanho a posição crítica de Marques Mendes. É salutar que Presidente e o Governo
envidem todos os esforços no sentido de que a banca não fique enfeudada nem a
um país estrangeiro em exclusivo nem fique umbilicalmente dependente do todo-poderoso
BCE. Ademais, negociar, mediar e criticar não são formas de ingerência. Ingerência
seria tentar por lei alterar, rever, forçar a mudança de estatutos e de estratégia
ou pressionar oportuna é importunamente à alteração do status quo.
Quererá o PSD
– que não o CDS, pelos vistos – a manutenção dos ditames discricionários do BCE
sobre o sistema bancário impedindo o sistema financeiro de cada país de cumprir
os seus desígnios nacionais mínimos?
Os tratados
nem foram referendados nem são intocáveis, muito menos eternos. Por isso, importa
que o país se levante a uma só voz para a real defesa de seus interesses
legítimos. Saudando iniciativas de Mario Draghi, as boas, é de rejeitar por absurdas
as medidas tomadas pelo seu antecessor, que exigiu que a Irlanda, em 2010, solicitasse
o resgate ao Eurogrupo sob pena de – como refere o jornal The Irish Times, de 17 de março – ser travada a “torneira”
dos fundos atribuídos aos bancos irlandeses ao abrigo da linha de Assistência
de Liquidez de Emergência (conhecida pelo acrónimo ELA). Mais: Jean-Claude Trichet desviou o peso da crise na banca Irlandesa de
credores para os contribuintes – lê-se no Jornal de Negócios de 27 de janeiro
pp.
Está visto
que a inevitabilidade tem laboratório e delegados de propaganda. Até quando?
2016.03.23 – Louro de Carvalho
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