sexta-feira, 4 de março de 2016

Consumo de álcool e outras substâncias por jovens

Os dados do “Estudo sobre Consumos de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências – 2015” apresentado, no dia 3 de março, pelo SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências) permitem-me a interrogação sobre o mérito da educação que estamos a dar aos adolescentes e jovens. Com efeito, há toda uma política de restrições da parte da família, da escola e da opinião pública no atinente ao consumo de álcool, que em si mesma é de aplaudir, mas cujos efeitos práticos se revelam muito aquém do desejável. Nas escolas é proibida a ingestão de bebidas alcoólicas aos alunos – crianças, adolescentes e jovens – como o consumo de drogas e tabaco. E, em regra, a família fá-lo.
Porém, facilmente o consumo de álcool fica associado ao consumo de vinho, até porque se difundiu o consumo de cerveja sem álcool (?!). Por outro lado, foi criminalizado o tráfico de drogas, que não o consumo; o tabaco, apesar dos malefícios, surge em muitos ambientes como sinal da assunção da personalidade perante os outros; e as bebidas brancas são consideradas ao alcance de pessoas ou da alta sociedade ou da arraia-miúda. E, se muitos não aspiram a ser da alta-roda, também não querem ser conotados com os estratos mais baixos da sociedade.
Acresce que – e este pode ser um fator de “deseducação” – a estas crianças, adolescentes e jovens se ministra a proibição em vez do esclarecimento, provavelmente sem a pedagogia da diferenciação e sem medidas eficazes de prevenção e acompanhamento. Recordo que, a este propósito, nos era referida muitas vezes a insuficiência de idade, que teríamos direito a determinadas coisas mais tarde e quando adquiríssemos outro estatuto social. De há uns tempos a esta parte, o igualitarismo tem imposto que aquilo que é proibido a crianças, adolescentes e jovens o seja inexoravelmente aos adultos, mesmo que as situações sejam diferenciadas.
Ora, o igualitarismo é muito interessante, mas somente quando não bate à nossa porta. E os jovens facilmente se dão conta da quebra do igualitarismo por parte dos adultos, sobretudo quando ela acontece às escondidas. É ainda de referir como fator importante para o insucesso da educação a mentalidade e o interesse do empresário que, mais do que a finalidade de família ou de escola, almeja o lucro, mediante a saída dos seus produtos, mesmo que para tal necessite de utilizar o disfarce e a dissimulação sob a capa da publicidade. Tanto assim é que junto das escolas não raro se instalam cafetarias, cafés e snack-bares e raramente há evento desportivo, cultural ou festivo que não conte com a bebida, que não é água ou leite. E é de perguntar por onde param as entidades reguladoras e fiscalizadoras.
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O site da DGE (Direcção-Geral da Educação) tem disponível um documento intitulado “Consumo de Substâncias Psicoativas e Prevenção em Meio Escolar” (2007), resultado de um trabalho coordenado por Maria Isabel Machado Batista e Ângelo de Sousa, do NES (Núcleo de Educação para a Saúde) da antiga DGIDC (Direção-Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular). O estudo tem ainda a colaboração da DGS (Direção-Geral de Saúde) e do IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência).
Na referida publicação, de 106 páginas, as notas de abertura”, de Luís Capucha explicitam:
“Se há crianças e jovens que fumam, que consomem álcool ou outras substâncias psicoativas, então estamos perante um problema grave face aos dias que hão de vir para esses jovens e crianças e para o futuro da sociedade”.
A seguir às notas de abertura, vêm: “Introdução – Reflexões sobre o Papel da Escola”; “Promoção da Saúde – O papel da Escola e da Comunidade Educativa”; “Tabaco e Saúde”; “Problemas ligados ao Consumo de Bebidas Alcoólicas”; e “Prevenção do Consumo de Substâncias Psicoativas”.
É relativamente abundante a bibliografia referenciada para cada um dos temas: tabaco; álcool; drogas; e promoção e educação para a saúde.
Por fim, regista-se um conjunto alargado de endereços úteis, designadamente em páginas web.  
Por outro lado, quase todas as escolas desenvolvem projetos de educação para a saúde ou similares, com a colaboração assídua das unidades de saúde de expressão local.
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Por contraste, os dados de 3 de março vêm no alinhamento de dados de estudos anteriores, mas com forte agravamento. O estudo baseia-se em 6 amostras, distribuídas por distritos, que pretenderam cobrir toda a realidade nacional. Na totalidade, terão sido considerados cerca de 18 mil alunos e uma média 3000 alunos por cada grupo etário, dos 13 aos 18 anos. Assim:
As estatísticas revelam que, no geral, os jovens consomem mais bebidas brancas que cerveja.
O estudo sobre consumos e comportamentos aditivos dos jovens portugueses, na faixa etária dos 13 aos 18 anos, refere que as bebidas destiladas, conhecidas como “bebidas brancas”, excedem a cerveja e que são as jovens quem mais contribui para esta realidade, considerada nova.
Nos últimos 30 dias à data da realização do inquérito, as bebidas alcoólicas que estavam no topo do consumo entre jovens eram bebidas como gin e vodka, a perfazer 31% dos consumos, contra os 30% atribuído à cerveja e os 22% ao vinho.
Os dados recolhidos por diferenciação com base no sexo evidenciam que os rapazes preferem a cerveja e as raparigas optam preferencialmente pelas bebidas destiladas. 36% dos jovens bebeu cerveja e 30% bebidas destiladas. Entre as raparigas, a ordem é outra: 25% para a cerveja e 32% para as bebidas de nível alcoólico mais elevado.
O estudo revela também que 5,3% dos rapazes dos 13 aos 18 anos consomem apenas bebidas espirituosas, enquanto mais do dobro das raparigas (11%) o faz.
Outros dados mostram que o primeiro contacto com o álcool começa aos 13 anos para 31% dos jovens; e que, aos 18 anos, são poucos os que nunca o experimentaram – 91% já o fez.
Também esta pesquisa, que integrará um estudo que abrange 40 países, revela “a tenra idade com que se começa a beber “shots” de enfiada, o que tecnicamente se designa por “binge drinking” e que, na prática, corresponde à ingestão de cinco ou mais doses de bebidas numa só ocasião. Por esta experiência passaram 4% dos miúdos com 13 anos nos últimos 30 dias, sendo que ela foi uma realidade, aos 18 anos, para 36%. Há também mais raparigas a começar mais cedo este tipo de consumo intensivo de álcool. Aos 13 anos, 4% já o fizeram.
Genericamente e considerando todos os alunos (é óbvio que estamos a falar de pessoas em idade escolar) considerados entre os 13 e os 18 anos, continuam a ser os rapazes quem mais bebe segundo este método.
As conclusões permitem dizer que “apanhar uma bebedeira acontece bem antes da idade legal para adquirir e consumir álcool. A experiência de embriaguez foi mencionada por 2% dos jovens com 13 anos e por 22% dos que atingiram 18 anos – isto no último mês.
Apesar de tudo e tendo em conta os dados de 2011 (o estudo tem-se realizado a de 4 em 4 anos), o SICAD faz saber que houve uma diminuição da embriaguez registada em todos os grupos etários, à exceção dos jovens com 18 anos, que estabilizou. Exemplo disso é o facto de 10% dos rapazes e 3% das raparigas terem consumido álcool vinte ou mais vezes nos últimos 30 dias.
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Passando aos dados sobre consumo de sedativos e tranquilizantes, verifica-se que “uma em cada cinco raparigas com idades entre os 13 e os 18 anos toma tranquilizantes ou sedativos, a maioria com prescrição médica” – realidade a preocupante na ótica das autoridades de saúde.
De acordo com Fernanda Feijão, coautora do estudo, importa perceber “como é que há uma percentagem tão elevada de raparigas a precisar de medicamentos”, sabendo-se que este é um indicador em que “costumamos estar acima da média europeia”.
O subdiretor geral do SICAD, Manuel Cardoso, explicou aos jornalistas que ainda não há uma explicação para estes consumos, mas considerou que 20% “é um valor muitíssimo alto” e que esta “questão tem de ser estudada”.
Fernanda Feijão sustenta que “há um problema no feminino que deve ser investigado e sobre o qual a saúde se deve debruçar” – problema no feminino que se estende a outras áreas, como o consumo de bebidas alcoólicas, em que as raparigas levam a dianteira sobre os rapazes, no que respeita às bebidas espirituosas, como já foi referido.
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No atinente à droga, o estudo indica que só aumentou a experimentação na faixa etária entre os 13 e 18 anos.
Ainda entre os jovens de 18 anos se verificou que 10% (cerca de 10 mil jovens) revelaram ser consumidores frequentes de álcool, droga e tabaco. Segundo Fernanda Feijão, este é também um grupo de consumidores “que deve ser objeto de especial preocupação”.
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O estudo do SICAD também faz estatística sobre apostas desportivas entre os adolescentes e jovens. Assim, as apostas online são apenas uma das modalidades, sendo que as lotarias têm maior expressão: 12% dos rapazes com 13 anos jogou na lotaria tradicional; e, aos 18 anos, a experiência foi relatada por 28% dos ouvidos.
Também o uso intensivo da internet apresenta uma percentagem significativa de jovens que já ali faz as suas compras ou vende os seus produtos: 14% exerceu estas atividades recorrendo ao computador aos 13 anos; e a percentagem sobe para os 29% aos 18 anos.
O uso da internet nos últimos 7 dias, muito similar por géneros, está nos 92% aos 13 anos e nos 98% aos 18 anos, sendo. O uso das redes sociais está em 82% para os que têm 13 anos e nos 95% para os que possuem 18. Porém, há mais raparigas a participar nas redes sociais do que rapazes: 87% das raparigas, aos 13 anos, contra 77% dos rapazes, aos 13 anos.
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Perante os efeitos da crise e a falta de expectativas de muitos (nomeadamente a falta de emprego e de interesses válidos), parece que tem de rever-se a perspetiva educacional, o empenhamento de todos, a prevenção, regulação e fiscalização e a remediação e recuperação – para que a juventude seja efetivamente o futuro que esperamos!

2016.03.04 – Louro de Carvalho

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