sexta-feira, 11 de março de 2016

Congresso Internacional Portugal na Grande Guerra

Decorreu, de 8 a 10 de março, no Auditório da Brigada de Intervenção – no Aquartelamento de Santana, na Rua de Infantaria 23, Coimbra – o Congresso internacional Portugal na Grande Guerra, numa organização conjunta do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20-UC) e da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial, para um balanço científico e historiográfico da intervenção portuguesa.
Este encontro científico insere-se em pleno no programa da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial e decorre, a par de muitas outras atividades, no ano em que se assinala o centenário da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, a de 9 de março de 1916. Nele se encontrou a oportunidade privilegiada de estudo, reflexão e debate em torno das consequências da participação, na política interna e externa, do Exército e da Marinha de Portugal no 1.º conflito militar à escala mundial (1914-1918), nas frentes africana (meio esquecida) e europeia.
A paz alcançada na Conferência de Versalhes, em 1919, redundou, no ano seguinte, na criação da Sociedade das Nações e, consequentemente, numa nova ordem internacional.
Em função do predito balanço científico e historiográfico das consequências, na política interna e externa, da participação de Portugal na Grande Guerra (1914-1918), o Congresso estruturou-se em três eixos temáticos fundamentais: as campanhas militares em África; a participação na guerra europeia; e a política externa portuguesa e a nova ordem internacional.
Em termos organizativos, o Congresso internacional Portugal na Grande Guerra desenvolveu-se nos seguintes painéis especializados: Os Ministérios da Guerra e das Finanças: armamento, mobilização, campanha dos corpos expedicionário; Política externa portuguesa e conjuntura internacional; Prisioneiros, mutilados, veteranos de guerra; Serviços médicos e sanitários; Imagens, literatura e memoriais de guerra; e Propaganda, jornalismo e ensino.
***
Em consonância com os objetivos e com a pluralidade de eixos e painéis do significativo encontro histórico e científico, além das conferências singulares e breve debate subsequente ao final de cada conjunto destas, são de salientar: a inauguração da exposição “Portugal e a Grande Guerra / O Regimento de Infantaria 23 na Flandres e a Chama da Pátria” (antes do almoço do dia 8); as conferências plenárias – “A Sociedade Civil e os Militares na Beligerância Portuguesa” (pelo Prof. Doutor Luís Alves de Fraga, UAL/Universidade Autónoma de Lisboa, a meio da tarde do dia 8) e “Farmácia, farmacêuticos e medicamentos na Grande Guerra (1914-1918). Traços gerais do caso português” (pelo Prof. Doutor João Rui Pita, FFUC-Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra /CEIS20, e Prof. Doutora Ana Leonor Pereira, FLUC- Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra /CEIS20, a meio da tarde do dia 8) –; e a mesa redonda – “A saúde, a medicina e a Grande Guerra (1914-1918) – (com a Prof. Doutora Ana Mafalda Reis, ICBAS da UP-Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto/CEIS20, a Prof. Doutora Victoria Bell, FFUC/CEIS20 e o Dr. José Morgado Pereira, doutorando do CEIS20; e sendo seu moderador o Prof. Doutor João Rui Pita FFUC/CEIS20, Coordenador do Grupo de Investigação História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia).
É de destacar ainda o relevo dado à literatura infantil sobre a I Grande Guerra, à poesia e às memórias, bem como à propaganda e imprensa noticiosa. Por outro lado, ficam evidenciados: o enquadramento político, com a presença do Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Azeredo Lopes, na sessão de abertura, e com a do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Doutor Manuel Heitor, na sessão de encerramento; a componente artística, com o “Concerto do Grupo de Câmara Banda do Exército”, na Biblioteca Joanina, no fim do 1.º dia; e o tão português “Porto de Honra”, a seguir à sessão de encerramento.
***
Enquanto se aguardam a atas do Congresso, segue-se o levantamento dos demais números do programa, que teve a abordagem e o desenvolvimento adequados como previsto. Assim:
- No dia oito de março, a sessão de abertura contou com as presenças e intervenções de: General Carlos Hernandez Jerónimo, Chefe do Estado-Maior do Exército; Tenente-General Mário de Oliveira Cardoso, Presidente da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial; Prof. Doutor António Pedro Pita, Coordenador Científico do CEIS20; Prof. Doutor João Gabriel Silva, Reitor da Universidade de Coimbra; e Prof. Doutor Azeredo Lopes, Ministro da Defesa Nacional.
Seguiram-se as conferências: “Os militares traídos pela má política”, pelo Prof. Doutor António José Telo, da AM (Academia Militar); e “A Entrada de Portugal na I Grande Guerra: Escaramuças Políticas, Económicas e Jurídicas”, pelo Prof. Doutor Rui de Figueiredo Marcos, da FDUC (Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra); e o subsequente debate moderado pelo Tenente-General Mário de Oliveira Cardoso.
Depois, foram proferidas as conferências: “Lançamento do Inteiro Postal e Carimbo Comemorativo”, pelo Dr. Raul Moreira; “Portugal na Grande Guerra: o Teatro de Operações Africano”, pelo Coronel de Infantaria Nuno Correia Barrento de Lemos Pires, da AM; e “Portugal na Grande Guerra: O Teatro de Operações Europeu”, Tenente-Coronel de Artilharia Pedro Marquês de Sousa, da AM – a que se seguiu o debate moderado pelo Major de Infantaria Anselmo Melo Dias, do ISM (Instituto de Estudos Superiores Militares).
- Já no dia 9 de março, os congressistas foram brindados pelas conferências: “Vivências da Grande Guerra nas Memórias de Ricardo Jorge”, pelo Doutor Rui Pinto Costa, CEIS20; “Em Quarentena de Guerra. Uma leitura dos relatos de viagem de Ricardo Jorge”, pelo Mestre Luís Timóteo Ferreira, CEIS20; e “A Literatura Infantil e a Grande Guerra”, pelo Mestre Augusto Monteiro, CEIS20 – com o subsequente debate moderado pelo Major-General Aníbal Flambó.
Seguiram-se as conferências: “Poesia e narrativa da Grande Guerra – Constantes e contrastes”, pelo Prof. Doutor José Carlos Seabra Pereira, da FLUC/CIEC (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra/Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos); “O Serviço de Saúde Militar e a visão do médico militar”, pelo Tenente-Coronel Médico Manuel Nunes Gaspar; e “O Serviço de Saúde do CEP e a internacionalização médico-militar portuguesa” pela Dra. Margarida Portela, doutoranda da FCSH-UNL (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) – e o debate, que teve como moderadora a Prof. Doutora Ana Leonor Pereira, da FLUC.  
- E, no dia 10 de março, começaram por ser proferidas as seguintes conferências: “Portugal e a I Guerra Mundial: Propaganda e Cartografia Geopolítica”, pelo Prof. Doutor Luís Miguel Moreira, da Universidade do Minho; “As Operações de Ação Psicológica na Grande Guerra”, pelo Major de Cavalaria José Pedro Rebola Mataloto, da AM, e pelo Major de Infantaria Anselmo Melo Dias, do ISM; “A revista ‘Ocidente’ e os primórdios da I Guerra Mundial (1914-1915)”, pelo Prof. Doutor Júlio Rodrigues da Silva, da FCSH-UNL; “Pincéis, lápis e baionetas: A Ilustração como instrumento de Propaganda durante a I Guerra Mundial”, pela Mestre Vera Mariz, da FLUL (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa); e “Espólio Fotográfico Inédito do Batalhão de Infantaria n.º 23 na Flandres”, pelo Major Jorge Costa Carvalho, LC – a que se seguiu o debate sob a moderação da Doutora Noémia Malva Novais, IHC/Instituto de História Contemporânea-UNL, CEIS20.
A tarde foi preenchida pelas conferências: “Pensões de Sangue em Portugal à época da Grande Guerra”, pelo Doutor João Figueira, do ISEG/Instituto Superior de Economia e Gestão-UL; “Portugal no Pós-Guerra: José Relvas e a pasta do Interior (janeiro a março de 1919)”, pela Dra.
Vanessa Batista, mestranda da FLUL; “O Soldado Desconhecido Português”, pelo Mestre Manuel Santos Simões, da FLUC; “Alfonso XIII e os Prisioneiros de Guerra Portugueses”, pelo Mestre Fátima Mariano, FCSH-UNL; e “Afonso Costa e as negociações do verão de 1916 sobre as condições financeiras de participação de Portugal na Grande Guerra. Na proto-história da integração europeia”, pelo Doutor Jorge Pais de Sousa, CEIS20 – com o debate sob a moderação da Prof.ª Doutora Isabel Nobre Vargues, FLUC/CEIS20.
Ainda antes da sessão de encerramento, teve lugar a conferência de encerramento subordinada ao tema “Guerra e Paz – práticas e meios do pacifismo” pela Prof.ª Doutora Maria Manuela Tavares Ribeiro, FLUC/CEIS20, a que se seguiu breve debate moderado pela Doutora Isabel Maria Freitas Valente, CEIS20
Por fim, a sessão de encerramento contou com a presença do Presidente da Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial, Tenente-General Mário de Oliveira Cardoso, do Comissário do Congresso, Doutor Jorge Pais de Sousa, do Coordenador Científico do CEIS20, Prof. Doutor António Pedro Pita, do Representante do Reitor da Universidade de Coimbra, Prof. Doutor Amílcar Falcão, e do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Doutor Manuel Heitor.
Como se pode verificar a temática é multifacetada, atingindo aspetos políticos, militares, de saúde, de farmácia, de imagética e simbólica, de jornalismo, de literatura (incluindo poesia, memórias e outras narrativas, literatura infantil), de diplomática, de pensões, etc.
***
É, finalmente, de salientar, da intervenção do Ministro da Defesa Nacional, o facto de esta “iniciativa engrandecer as comemorações e colocar a tónica na reflexão global sobre a Defesa Nacional e sobre os seus desafios num contexto de presente e de futuro” e o estabelecimento de paralelo que fez entre as duas épocas, sustentando, contra a subvalorização corrente das FA:
“Importa que a Defesa Nacional e as Forças Armadas assegurem, não só, os objetivos vitais enquanto Estado soberano, independente e seguro, mas também que nos permitam responder com a devida eficácia e, sobretudo, com competência perante os nossos parceiros e aliados”.
Reconhecendo que as FA (Forças Armadas) têm, cada vez mais, um papel relevante a desempenhar enquanto instrumento da política externa do Estado, hoje, “porventura, num patamar mais exigente do que há um século” afirmou serfundamental reequipar, modernizar e construir capacidades para as Forças Armadas”, de forma racional e segundo critérios de necessidade e eficiência – o que passa pela aplicação das leis de Programação Militar e de Infraestruturas.
Assim se crê, espera e ambiciona apesar da magreza do Orçamento para o setor. Estado sem forças armadas, só o da Santa Sé, que, mesmo assim não dispensa a polícia e os tribunais!

2016.03.11 – Louro de Carvalho

2 comentários:

  1. Pena que, no relato referente às actividades do primeiro dia, tenha esquecido a minha conferência, que encerrou os trabalhos e propositadamente tornei polémica, por discordar frontalmente com a perspectiva dada pela conferência inicial de todos os trabalhos.

    ResponderEliminar
  2. Pena que, no relato referente às actividades do primeiro dia, tenha esquecido a minha conferência, que encerrou os trabalhos e propositadamente tornei polémica, por discordar frontalmente com a perspectiva dada pela conferência inicial de todos os trabalhos.

    ResponderEliminar