A celebração da solenidade da
Assunção de Nossa Senhora, a 15 de agosto, é dedicada, neste ano de 2015, aos
500 anos da evangelização do País e conta com a participação do cardeal Pietro
Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé, que o Papa Francisco nomeou Delegado
Pontifício para as celebrações programadas para a cidade de Díli, a capital.
Em carta datada de 23 de julho,
Francisco constituiu o predito cardeal Secretário de Estado como Legatum Nostrum para que ali possa estar presente
e atuar na pessoa do Papa (personam
nostram), considerando-o idóneo para esta missão, até porque os dois costumam
partilhar diariamente pensamentos e preocupações sobre o governo da Igreja.
Esta decisão visa corresponder ao desejo da Conferência Episcopal de Timor em
ordem a que as comemorações adquiram maior envolvência e brilho e produzam
abundantes frutos espirituais.
Além disso, a carta compagina uma boa
síntese do labor evangélico naquelas paragens distantes aonde chegaram os “empreendedores missionários” que, animados de
admirável coragem, “realizaram uma grande viagem”, superando “incontáveis
dificuldades” para levar àquelas pessoas o Evangelho, aportando em 1515 na
parte oriental da ilha de Timor, a cujos habitantes prestaram incalculáveis
auxílios. E o Pontífice entende que “é justo e oportuno que este acontecimento
seja recordado adequadamente”. Por outro lado, esta memória implica que se
destaquem os exemplos de fé vigorosa e de apostolado profícuo que ao longo do
tempo se evidenciaram e podem servir de modelo aos cristãos de hoje de modo a
fomentarem a ação promocional e evangelizadora no “Hoje” da História e a
mostrarem um rosto de Igreja próxima de Deus e dos homens, mormente dos que
mais sofrem pela penúria ou pelas agruras da vida.
É óbvio que o Papa não esquece que a obra
evangelizadora acompanhou a ação expansionista dos povos ibéricos, designadamente
os portugueses, mas não sei em que ponto da carta terão alguns visto a
referência à colonização portuguesa da ilha.
Sabe-se que a seguir à independência conquistada tardiamente e proclamada
unilateralmente em 1975, Timor-Leste foi, quase de imediato, invadido e anexado
pela Indonésia, que já ocupava o território restante da ilha, ocasionando novas
e sanguinárias lutas pela liberdade. E não surtiram efeito os apelos da ONU e
da Comunidade Internacional para evitar a dura repressão de Jacarta também
sobre a população civil de maioria católica até que, após a Administração do
território sob a égide das Nações Unidas, entre 1999 e 2002, finalmente foi
proclamada em definitivo e reconhecida internacionalmente a República
Democrática do Timor-Leste.
A partir daí – como lembrou, em 17 de
março de 2014, o Papa aos bispos que vieram a Roma em visita ad Limina – “do suspirado e feliz
nascimento da vossa Pátria, não faltaram dolorosas surpresas ligadas ao concerto
nacional, com a Igreja a recordar as bases necessárias de uma sociedade que
quer ser digna do homem e de seu destino transcendental”.
Neste contexto, Francisco entende que o
episcopado e os agentes pastorais em geral devem ser a “consciência crítica da
nação, mantendo a tal fim a devida independência do poder político em uma
colaboração equidistante que deixe a este a responsabilidade do bem comum da
sociedade e de promovê-lo”. À Igreja cabe reivindicar insistente e pacientemente “a liberdade
de anunciar o Evangelho em modo integral, até quando vai contracorrente,
defendendo os valores que recebeu e aos quais deve permanecer fiel” – os mesmos
valores que inspiraram os primeiros evangelizadores de Timor-Leste, há cinco séculos.
***
É natural que seja grande a expectativa em
Timor-Leste relativamente as estas comemorações semimilenares num país com
estatura política jovem, mas já de longo percurso histórico e agora de economia
emergente.
Por seu turno, o Papa garante que, não
obstante a grande separação geográfica, estará presente em espírito. Assim,
deseja que o seu legado pessoal manifeste a sua benignidade de pastor pontifical
a todos os participantes no evento e a todos os fiéis e, por conseguinte, conceda
a todos, em seu nome e por sua autoridade, a bênção apostólica, a qual, com o
auxílio da Bem-aventurada Virgem Maria Assunta ao céu, seja sinal de renovação
dos corações e penhor de inúmeras graças do Alto no tempo futuro. Ao mesmo
tempo, o Sumo Pontífice, como recorrentemente o faz, solicita as preces de
todos para a eficácia do seu ministério Petrino.
Deus queira que a celebração dos 500 anos
do início da evangelização em Timor-Leste, em que Portugal se pode rever na sua
onda missionária e de promoção do encontro de culturas, constitua um marco de
relançamento da Igreja no país, cada vez com mais pujança e força, pela paz e
pela construção de uma sociedade mais humana e mais fraterna. Que se extingam
de vez os laivos perniciosos da simples colonização ativa ou passiva e se
reforcem os laços da interculturalidade e da sã convivência entre os povos.
2015.08.07 – Louro de Carvalho
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