domingo, 9 de agosto de 2015

Comunidade Ecuménica de Taizé celebra 75 anos com 'juventude solidária'

O encontro de jovens ‘por uma nova solidariedade’ começou este domingo, 9 de agosto e termina a 16. O termo do encontro constitui o ponto culminante do triplo aniversário que os monges de Taizé (Cluny, França) vivem, celebram e partilham neste ano de 2015: os cem anos do nascimento do irmão Roger (1915), os dez anos da sua morte (16 de agosto de 2005) e os 75 anos da fundação da comunidade ecuménica (1940).
Para a celebração do dia 16 de agosto, a Comunidade Ecuménica de Taizé espera entre 6000 a 7000 jovens. De modo especial, a comunidade convida todos os que o desejam ir a Taizé a uma oração em memória do irmão Roger, naquele dia, às 16 horas. A este propósito, o irmão Alois, prior da comunidade escreve numa mensagem dirigida aos jovens:
“A partir de Taizé, saudamos todos os que, em todo o mundo, escolhem a esperança. Eles esperam e vivem já uma globalização da solidariedade. Com eles, gostaríamos de dar mais um passo neste caminho comum”.
O encontro reúne uma centena de responsáveis de Igrejas – católicos, ortodoxos, protestantes e evangélicos (ecumenismo) – e representantes de outras religiões (diálogo inter-religioso).
De Portugal estão presentes: D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, e D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana e presidente da Assembleia Geral do COPIC.
Em comunicado recebido a 7 de agosto pela agência Ecclesia, a Comunidade de Taizé salienta que preparou um “programa muito especial” para o encontro de jovens ‘por uma nova solidariedade’ que se realiza, como referido acima, entre 9 e 16 de agosto. O documento, destacando a presença de D. Manuel Clemente, dos jornalistas António Marujo, João Miguel Tavares, Felipe Pinto, Mariana Abranches e seis eurodeputados, entre outros, adianta que em “cada dia, cerca de vinte pessoas convidadas vão apresentar aos participantes a sua visão da solidariedade, em ateliês temáticos”.
Na aludida mensagem do irmão Alois, publicada no site da comunidade ecuménica, pode ler-se:
Primeiro, uma retrospetiva do que se viveu no último triénio:
“Durante os três últimos anos, a nossa ‘peregrinação de confiança através da terra’ foi alimentada pela escuta de jovens de todos os continentes, em busca de uma ‘nova solidariedade’. Partilharam as suas experiências e as suas reflexões nos encontros em Taizé, nas visitas a numerosos países ou nos encontros na Europa, na África, na América do Sul e do Norte, na Ásia e na Oceânia.”.
Em segundo lugar, fica em evidência a posição de uns e de outros face à situação dramática por que passa a humanidade:
“A humanidade atravessa um período de transição difícil e de destino incerto. Há pessoas que fixam o seu olhar nos aspetos negativos, ao ponto de perderem a esperança. Outros sabem ver novas manifestações de vida: frágeis ainda, mas muitas vezes levadas por uma criatividade incrível, mostram que o ser humano não foi feito para o desespero. As crises podem libertar energias de que não se suspeitava e podem juntar vontades.”.
A seguir, na convicção de que é necessário “fazer crescer novas solidariedades”, uma vez que
“Em toda a terra, há novos problemas, novas solidões, novos desafios – movimentos de populações, desastres ambientais, desigualdades, desemprego em massa, violências... – que reclamam novas formas de solidariedade e interpelam todos os crentes das diferentes religiões e também os não crentes.”,
É lançado a cada um o desafio pessoal à disponibilidade de oferecer todas as forças “para fazer crescer estas novas solidariedades”, que vêm, a seguir, explicitadas:
. Que a globalização se construa na justiça e na fraternidade, e não através da opressão dos pobres e das culturas das minorias;
. Que cessem finalmente a exploração dos outros, as tragédias de tantos migrantes e que a dignidade de todos, até do mais fraco, seja defendida;
. Que a salvaguarda do ambiente seja reconhecida como uma prioridade para assegurar o futuro às próximas gerações;
. Que o progresso tecnológico não aprofunde as desigualdades, mas beneficie todos e torne a vida mais humana;
. Que a solidariedade não tenha um sentido único, mas seja recíproca, de modo a que aqueles que dão aprendam também a descobrir a generosidade dos mais pequenos, dos pobres e dos estrangeiros.

E, perante a necessidade de promover todas estas solidariedades, a Comunidade afiança que “mesmo com quase nada, cada um pode contribuir para a criação destas novas formas de solidariedade, para que todos possamos conseguir juntos a alegria de viver”.
Porém, a primeira condição que se exige é a convicção de que isso é possível a cada um. Por isso, a Comunidade deixa a cada um o repto: Acreditas nisso?
***
No contexto do triplo aniversário acima referido, este ano pela “primeira vez” todos os irmãos da comunidade que vivem em fraternidades nos diferentes continentes regressam a Taizé para uma reunião geral.
Além disso, “os irmãos vão falar sobre a sua vida nas fraternidades durante os ateliês propostos cada tarde”. Com efeito, no contexto do encontro internacional que está a decorrer, uma centena de convidados aceitaram animar ateliês para evocar uma grande diversidade de facetas da procura de uma “nova solidariedade”. Estes ateliês têm lugar todas as tardes de segunda-feira a sábado às 15 horas e domingo às 14. A título de exemplo, se deixa a descrição da estrutura do Ateliê de dia 10 de agosto:
. Fé, espiritualidade e vida interior
- Caminhar e rezar em silêncio até à fonte de Santo Estêvão, acompanhando cenas do Evangelho feitas a partir de recursos locais pelos ateliês dos irmãos de Taizé que vivem em Nairobi.
- Ser o ‘sal da terra’. Como viver este apelo nas sociedades de hoje?
- Deus e o universo: as perspetivas da ciência e da fé. Reflexão com um irmão de Taizé.
- ‘A beleza salvará o mundo’. Que lugar e que importância tem a beleza na nossa vida?
. Arte – Solidariedade sem palavras: uma representação mímica sobre o tema da interdependência.
. Diálogo inter-religioso – Estar confiante e empenhado num mundo onde as religiões coexistem. Encontro com Claudio Monge, um dominicano que habita em Istambul.
. Ecologia – Alterações climáticas e perda da biodiversidade: entre a urgência e a esperança. Partilha animada por Younous Omarjee, eurodeputado (França).
. Economia – Projeção do filme A Troika: poder sem controlo, do jornalista Harald Schumann (Alemanha), a propósito das medidas de austeridade adotadas na Europa, seguida de um debate com o produtor do filme e o jornalista João Miguel Tavares (Portugal).
. Migrações – Segurança alimentar, projetos hidroagrícolas, urgências sociais: descobrir projetos de ajuda a refugiados no Chade.
. Política – Como intensificar a solidariedade entre países na Europa? Encontro com Sven Giegold, eurodeputado (Alemanha) e Pavel Fischer, diplomata e conselheiro político (República Checa).
. Saúde – Enfrentar a doença com a espiritualidade de São Francisco de Assis: encontro com uma irmã que trabalha com pessoas portadoras da doença de Parkinson.
. Solidariedade
- Derrubar os preconceitos sobre a pobreza. Jogo interativo sobre preconceitos de que os mais frágeis são vítimas. Com Frédéric Félicien (Cáritas de França).
- Os desafios que a juventude queniana enfrenta... Podem as dificuldades ser um trampolim para uma grande solidariedade? Encontro com Monalisa Okello.
- Excluídos e descriminados: as populações ciganas em Itália. Que perspetivas para a sua integração? Encontro com Danilo Giannese, de uma ONG italiana que trabalha pela promoção dos direitos dos ciganos.
- Rumo a uma sociedade onde é reconhecido o valor de cada um: qual é o papel das Igrejas na ação social? Encontro com Konrad Meyer (responsável pelo diaconado na Suíça).
- A pobreza é uma fatalidade? O que fazer para a erradicar? Encontro com Fintan Farrell e Christine Mahy, da Rede Europeia da Luta Contra a Pobreza.
. A vida dos irmãos de Taizé no mundo
- Taizé no Brasil: uma vida nas periferias.
- Novo filme sobre o irmão Roger: «Momentos na vida do irmão Roger» (duração: 1h40).
***
Depois, na mensagem do irmão Alois, vem um duplo apontamento/repto sobre a compaixão:
Se a compaixão desaparecesse… Onde vais encontrar o estímulo necessário? A consciência cristã tem acordado há muitos anos e compreendeu melhor que Cristo veio reunir todos os seres humanos: pela sua ressurreição fez de nós irmãos e irmãs de uma mesma família. Unindo-se visivelmente ao seu redor, deixando-se conduzir pelo sopro do Espírito Santo, os cristãos conseguirão fazer brotar melhor uma fonte de compaixão e de solidariedade. Bebendo nesta fonte, podem sempre voltar a partir renovados.
Se a compaixão desaparecesse das nossas sociedades, o que seria da humanidade? O irmão Roger colocou no centro da vida da comunidade que fundou três valores do Evangelho, acessíveis a todos: alegria – simplicidade – misericórdia.
O desafio/interpelação é, pois:
Ao longo dos próximos três anos, será que estas três palavras poderiam acompanhar a tua caminhada, ajudando-te a abrir completamente as portas da solidariedade, no teu coração, à tua volta e na sociedade?
E, em consonância com o Ano da misericórdia proclamado pelo Papa, surge a proposta:
Em 2016, comecemos pela misericórdia! Redescubramos a bondade de Deus e a bondade humana; elas são mais profundas do que o mal! Através delas, atingimos o coração da mensagem de Cristo. Foi neste espírito de Evangelho que o Papa Francisco lançou um ano da misericórdia: todos são chamados a refletir, através da sua vida, o perdão e a compaixão sem limite de Deus.
Finalmente, face ao ícone textual da misericórdia – Lc 10,29-37 – surge a interpelação pessoal:
Consagras as tuas forças para ir em auxílio do teu próximo, para reparar as injustiças? Cristo está presente no ferido abandonado à beira da estrada e espera a tua compaixão. És tu mesmo posto à prova? Cristo olha para ti com bondade. Ele cuida de ti como de toda a humanidade. O seu rosto de amor é-te, por vezes, revelado através de uma pessoa desprezada, tal como este estrangeiro, o Samaritano.
***
A Comunidade Ecuménica informa também a Comunicação Social sobre a equipa de acolhimento aos jornalistas enviados para a cobertura do encontro internacional, entre 8 e 17 de agosto. A sala de imprensa, uma pequena casa chamada ‘Isba’, ao lado da igreja da Reconciliação, está aberta das 9H15 às 12H00 e das 14H00 às 20H15.
Além disso, dá conta das próximas atividades:
. Um colóquio internacional sobre o contributo do irmão Roger para o pensamento teológico, de 30 de agosto a 6 de setembro. Este encontro dirige-se a jovens teólogos até aos 40 anos – padres jovens, seminaristas, professores de moral, estudantes de teologia (o padre Nuno Folgado está a organizar um grupo de Portugal para participar neste encontro);
. O Encontro Europeu de Jovens que a Comunidade Ecuménica promove anualmente, nos últimos dias do ano (o deste ano tem lugar na cidade de Valência, em Espanha, de 28 de dezembro a 1 de janeiro de 2016.

2015.08.09 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário