Por ocasião das celebrações dos 500 anos da
evangelização de Timor-Leste cujo ponto culminante será o dia 15 de agosto, Solenidade
da Assunção de Maria, ocorrerá, entre os dias 13 e 15, a visita do cardeal secretário de Estado do Vaticano, D. Pietro Parolin,
que é o enviado especial do Papa Francisco às comemorações daquele evento
histórico neste jovem país lusófono.
Segundo o que
se pode ler no perfil da Secretaria de Estado, no site da Santa Sé, “primeiro colaborador do Papa no governo da Igreja universal, o
Cardeal Secretário de Estado pode ser considerado o máximo expoente da atividade
diplomática e política da Santa Sé, representando, em circunstâncias particulares,
a própria pessoa do Sumo Pontífice”.
Além das preditas comemorações da primeira
evangelização, a que preside a eminentemente figura vaticana, preponderante responsável
pela gestão dos assuntos da Santa Sé, logo a seguir ao Pontífice, e responsável
máximo pelas relações exteriores, a visita ficará marcada pela assinatura, no
dia 13, da concordata entre a Santa Sé e a República Democrática de Timor-Leste – mais propriamente um
acordo que estabelece o quadro jurídico das relações da República Democrática
de Timor-Leste com a Santa Sé e a Igreja Católica presente no território.
Como é óbvio,
o documento será assinado, do lado da Santa Sé, pelo cardeal D. Pietro Parolin
(cujas funções se
entendem como as equivalentes às de Primeiro-Ministro dos outros Estados), e, pelo Estado de Timor-Leste, pelo
Primeiro-Ministro de Timor-Leste, Rui Maria de Araújo.
Este, referindo-se
ao acordo, diz que “é um marco histórico num momento histórico”.
A informação foi prestada oficialmente, no passado
dia 29 de julho, pelo Ministro de
Estado e da Presidência do Conselho de Ministros e Porta-voz Oficial do Governo de
Timor-Leste. Este membro do Governo e seu porta-voz oficial destaca: “A especial relação entre a Santa Sé
e Timor-Leste permite que esta seja uma das raras vezes em que um documento
deste tipo é assinado fora do Vaticano”.
A versão mais
recente do texto do acordo, que começou a ser negociado pelos dois Estados em
2009, foi analisada em detalhe pelo Conselho de Ministros na sua reunião do
passado dia 23 de junho. E as conclusões dessa análise foram transmitidas
depois à Santa Sé pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A cerimónia da assinatura da Concordata começará às
9h45 locais e seguir-se-lhe-á uma conferência de imprensa e os sucessivos
encontros entre o secretário de Estado do Vaticano e os representantes oficiais
do povo timorense.
Segundo o programa constante na página web de Timor-Leste, o cardeal Parolin
tem previstos encontros de cortesia com o Presidente da República timorense,
Taur Matan Ruak, e com o Presidente do Parlamento Nacional, Vicente Guterres, e
ser-lhe-á prestada Guarda de Honra no Palácio do Governo, em Dili, onde
vai reunir com o Primeiro-Ministro.
Rui Maria de Araújo revela que o desejo de celebrar a Concordata começara
a materializar-se já em 2006, com a criação de uma comissão para discutir os
termos do acordo e sublinhou que “a Igreja Católica, ao longo de 500 anos,
prestou um grande apoio espiritual, humano e material ao povo timorense, tendo
também contribuído de forma decisiva para o processo de libertação de
Timor-Leste”. Por outro lado, declarou que a Igreja Católica “continua” a ser
uma referência fundamental para a população pelo “empenho que continua a
manifestar em apoiar os caminhos do desenvolvimento nacional”, sobretudo na
área da educação.
Segundo o Primeiro-Ministro timorense, “tudo isso justifica
que Timor-Leste seja o país com maior percentagem de população católica em todo
o mundo”. Este responsável político do poder executivo recorda, ainda, que a
ação da Igreja é “reconhecida e valorizada” na Constituição da República e que
durante a luta pela Independência “fomentou a resistência do povo e legitimou
internacionalmente os propósitos da Resistência”.
Por seu turno, o Papa, que antecipou as comemorações
em carta dirigida ao cardeal Parolin, já divulgada, considerou explicitamente “justo
e oportuno que este acontecimento seja recordado adequadamente”. E definiu, no
discurso aos bispos timorenses, aquando da visita destes ad limina apostolorum, em 17 de março de 2014, as respetivas posições
da Igreja e do Estado:
“À Igreja
Católica cabe a liberdade de anunciar o Evangelho em modo integral, até quando
vai contracorrente, defendendo os valores que recebeu e aos quais deve
permanecer fiel”; ao poder político, “a responsabilidade do bem comum da sociedade e de promovê-lo”.
No entanto, os bispos não podem deixar de ser, segundo
as palavras de Francisco, a “consciência
crítica da nação, mantendo a tal fim a devida independência do poder político numa
colaboração equidistante”.
Finalmente e como já foi referido, no último dia de visita ao país, a
15 de agosto, o Cardeal Pietro Parolin presidirá às celebrações eucarísticas
dos 500 anos de evangelização do Povo timorense, que irão decorrer em Tasi
Tolu, em Dili.
É ainda de
anotar que a visita de Parolin a Timor-Leste ocorre numa altura em que o Papa
Francisco continua a deliberar sobre quem será o sucessor à frente da Diocese
de Díli do bispo Alberto Ricardo da Silva, que solicitado a resignação ao cargo
no início do ano, por motivos de saúde e que acabou por morrer a 2 de abril.
***
É desejável que a visita do cardeal secretário de Estado
contribua para resolver o problema da provisão da diocese de Díli de seu bispo
residencial (Como é possível tamanha demora na resolução sucessória do governo de uma
diocese! Faltarão as vocações ao episcopado?) e constitua inestimável ensejo propício ao reforço da maturidade da
Igreja atuante em Timor. Do lado do Estado, espera-se que, mais do que preito de
gratidão histórica à Igreja (aliás, merecido), o acordo
histórico, ora celebrado, sirva de pretexto para a institucionalização e
consolidação da liberdade religiosa, motor das outras inalienáveis liberdades,
e para a consecução das convenientes plataformas de cooperação entre entidades
que mais não pretendam que a satisfação do bem comum, espelhado no bem-estar dos
cidadãos e no desenvolvimento sustentável e progresso efetivo do povo –
salvaguardadas as respetivas autonomias.
Finalmente, que os demais países não tenham pejo em celebrar
acordos de respeito mútuo e de cooperação eficaz com as Igrejas e outras Organizações
de bem-fazer presentes no terreno.
2015.08.12 –
Louro de Carvalho
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