Correspondendo ao convite do Patriarca Latino de Jerusalém, Dom
Fouwad Twal, e do Vigário Patriarcal para a Jordânia, Dom Maroun Lahhan, está a
decorrer, desde 6 de agosto e com términus no dia 9, a visita à Jordânia do
Secretário-Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Dom Nunzio Galantino. A visita
realiza-se a um ano do primeiro aniversário da chegada à Jordânia dos
refugiados sírios e iraquianos, ocorrida em 8 de agosto de 2014, e pretende acompanhar a ajuda fornecida pela
Igreja italiana aos refugiados que vivem naquele país.
A Jordânia é
um dos principais países de acolhimento de refugiados oriundos da Síria, onde a
guerra fratricida dilacerou o país e fez milhões de deslocados.
De acordo
com os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em junho, existiam 629.000 refugiados sírios
registados na Jordânia, a maioria a viver fora dos campos de refugiados.
Já agora,
estas pessoas serão consideradas “prófugos” ou “refugiados”? É natural que se
lhes aplique uma e outra qualificação, consoante as fases em que se encontrem
após o abandono forçado de suas casas e pátria. Se, ao verem-se cercados e
esmagados pela guerra ou pela perseguição política, étnica ou religiosa,
conseguem evadir-se são prófugos ou fugitivos. Porém, quando, a salvo do
ambiente bélico ou dos perseguidores, se encontram em lugar protegido e com
algum apoio, mesmo que precário, são refugiados. E, se ainda conseguiram
evadir-se das fileiras militares ou milicianas ou de outras estruturas comprometedoras
no âmbito do Estado opressor, podem ser considerados trânsfugas ou desertores, sobretudo
se a sua fuga for passível de julgamento em tribunal militar ou marcial.
Segundo
a Rádio Vaticana, o
programa do Secretário-Geral da CEI prevê a visita a alguns centros de
acolhimento, com encontros e testemunhos dos refugiados. Além disso, na tarde
de 8 de agosto, Dom Galantino participará num encontro de oração em Amã,
promovido pela Cáritas da Jordânia em colaboração com a comunidade caldeia e
siríaca, as associações, os sacerdotes e os voluntários que prestam assistência
aos refugiados e com a participação da Família Real, das autoridades estatais
jordanianas e de expoentes de outras Igrejas.
Por ocasião desta visita, o Papa Francisco enviou ao bispo
auxiliar de Jerusalém dos Latinos e vigário patriarcal para a Jordânia –
através do Secretário-Geral da CEI – uma carta em que exprime a sua proximidade
junto de todos aqueles que, “perseguidos” e “oprimidos pela violência, se sentiram
constrangidos a abandonar as suas casas e a sua terra”.
Confessa o Papa:
“Várias
vezes quis dar voz às atrozes, desumanas e inexplicáveis perseguições a quem em
tantas partes do mundo – e sobretudo entre os cristãos – é vítima do fanatismo
e da intolerância, muitas vezes sob os olhos e o silêncio de todos”.
E adianta que “são os mártires de hoje, humilhados e
discriminados por causa da sua fidelidade ao Evangelho”. Pelo que a recordação
papal, que “se faz” apelo à solidariedade, “quer ser o sinal de uma Igreja que
não esquece e não abandona os seus filhos exilados por causa da sua fé”. E faz uma
constatação pertinente: “sabei que uma oração quotidiana se eleva por eles,
junto com o reconhecimento pelo testemunho que nos oferecem”.
O Santo Padre dirige também o seu pensamento às Comunidades
que souberam e quiseram acolher estes irmãos, evitando voltar o olhar para o
outro lado, explicitando:
“Vós
anunciais a ressurreição de Cristo com a partilha da dor e com a ajuda solidária
que prestais às centenas de milhares de refugiados; com o vosso inclinardes-vos
sobre os seus sofrimentos, que correm o risco de sufocar a esperança; com o
vosso serviço de fraternidade, que ilumina também momentos tão escuros da
existência.
Depois, formula a invocação de que o Senhor os “recompense a
todos, como somente Ele pode fazer, com a abundância de seus dons”.
Na conclusão da carta sobre os refugiados sírios e iraquianos,
presentes neste momento na Jordânia, o Papa Francisco faz votos para que a
opinião pública mundial possa estar cada vez mais atenta, sensível e partícipe
diante das perseguições realizadas contra os cristãos e, mais em geral, contra
as minorias religiosas:
“Renovo
o desejo de que a Comunidade Internacional não permaneça muda e inerte diante
de tão inaceitável crime, que constitui uma preocupante violação dos direitos
humanos mais essenciais e impede a riqueza da convivência entre os povos, as
culturas e os credos”.
Finalmente, roga a todos que rezem por ele e implora do Senhor
a bênção e de Maria a proteção.
***
Esta
constitui mais uma das chamadas à atenção que o Papa Francisco faz
recorrentemente para o problema dos refugiados por via da guerra ou por causa
das infra-humanas condições de vida e de trabalho e exploração – ora disfarçada
ora descarada – nos países de origem. E, embora compreenda que o afluxo contingental
de refugiados e/ou imigrantes seja um problema para os países de acolhimento e
para os países de trânsito, insiste em evidenciar o drama humano daquela enorme
quantidade de pessoas que sofre a exploração forçada e, tantas vezes, a morte, em
vez do cumprimento das promessas de vida condigna e da obtenção do sustento
através do trabalho em condições humanas. E é problema a que é necessário dar
resposta concertada e eficaz por parte dos Governos e das ONG.
Francisco
esteve fisicamente em Lampedusa e na Jordânia. Escutou os refugiados e aqueles
que lhes dão atenção. E está presente pela palavra pública, pela oração e pela
mediação de seus representantes um pouco por toda a parte onde emerge o drama
humano.
Que
dirá a Igreja do Papa, que sobrevive em França, a propósito dos episódios que
ocorrem todos os dias, nos últimos tempos, na zona de Calais à entrada do
eurotúnel para aqueles que demandam ilegalmente o Reino Unido, combatidos por
agentes policiais e seus meios de dissuasão e por cães de farejamento mandados pelas
autoridades britânicas? Que diz a opinião pública, que diz a União Europeia (qual
é a política de imigração/emigração da UE?),
que diz a Igreja em Portugal?
2015.08.07 –
Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário