Está
a decorrer, desde 9 a 16 de agosto, a Semana Nacional
das Migrações 2015, em que a Igreja Católica convida “a colocar os migrantes e
refugiados no coração da Igreja”, através de “gestos concretos”. Em mensagem oportunamente
divulgada, a OCPM (Obra Católica
Portuguesa das Migrações) salienta a condição da Igreja como uma porta “aberta ao mundo” e
“por isso sem fronteiras”.
Sob o tema “Igreja
sem Fronteiras: somos um só corpo”, a 43.ª Semana Nacional das Migrações
estimula toda a Igreja Católica a “mergulhar nas suas raízes” do Evangelho e da
História da Salvação e a “redescobrir” uma “identidade cristã” que tem de estar
impregnada pelo exemplo de Jesus.
Uma
vez que o corpo eclesial é “composto por diversos
membros”, unidos “num só”, é vital que os cristãos consigam, seguindo as pegadas
de Cristo, isto é, como Cristo fez, olhar para “o rosto dos migrantes e
refugiados”, para os que hoje buscam fora do seu país alternativas ao
desemprego, à pobreza e à guerra, e ter para com estas pessoas uma atitude de
abertura e “fraternidade”.
Num tempo em que os portugueses tiveram de sofrer coletivamente na
carne o êxodo numeroso de muitos concidadãos para fora do seu lar e país, a
maior parte por deparar com circunstâncias adversas à consecução e/ou
manutenção do emprego (embora alguns, acusando tudo
e todos, tenham espreitado a ingrata oportunidade de sair do país, que lhes
forneceu quase gratuitamente os saberes) e viram também o abandono dos imigrantes que ajudavam o país a afirmar-se
como comunidade solidária – há que refletir a sério em que medida falhou o projeto
coletivo de desenvolvimento e de esperança num futuro de fraternidade.
Perante os fenómenos indicados e face à
necessidade de fornecer acolhimento fraterno aos que se viram desalojados do
seu território e seus lares e despojados dos seus haveres e – sentindo o peso dos
sacrifícios que o desmando económico-financeiro e o desgoverno político de quem
tinha obrigação de zelar pela boa gestão da coisa pública – tem de erigir-se a
oportunidade de colocar de lado “medos, egoísmos, invejas e indiferenças”,
aspetos que muitas vezes “encerram as pessoas no seu bem-estar” e as “isolam do
convívio com aqueles que parecem diferentes”.
A este respeito, a OCPM, enquanto organização
católica integrada na CEPSMH (Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana) sublinha que “a Igreja
na sua solicitude maternal não faz aceção de pessoas”, mas, antes, “acolhe,
cuida, reconhece, valoriza, promove o encontro e o diálogo entre pessoas,
culturas e religiões…, porque é perita em humanidade”.
No texto do seu comunicado, a OCPM fala ainda
numa “Igreja peregrina também através dos seus filhos que partem pelo mundo,
numa aventura profética de denúncia de injustiças, conflitos, corrupções” e que
“recorda a centralidade da dignidade da pessoa humana e do destino universal
dos bens da terra”, sendo necessário, neste campo, seguir “desafiando
governantes, nações e instituições a percorrer os caminhos do diálogo e
cooperação, da injustiça e solidariedade”.
Também a OCPM recorda que “a comunidade cristã não
só é chamada à conversão pessoal e comunitária, como também é enviada ao mundo
para estar e ser luz, sal, fermento, a fim de transformar relações pessoais,
familiares, institucionais, sociais”.
Aludindo ao apelo do Papa no sentido da solidariedade
por palavras e gestos portadores da proximidade eficaz junto dos irmãos, a Obra
Católica Portuguesa das Migrações pretende que os cristãos promovam “gestos
concretos” de atenção a todos os migrantes, que passem “pela oração, pelas
ações de sensibilização/formação, pelas ocasiões de encontro/convívio e gestos
solidários que possam surgir em cada diocese, paróquia e missão católica”.
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É inegável o interesse deste instrumento prático
de doutrina e ação em que é explanado o essencial do ser e da missão da Igreja
encarnada num mundo de sofrimento e mudança profunda – a unidade do corpo na diversidade
de membros, a imersão no Cristo do Evangelho, a senda da oração como fator de
união ao Pai e suporte do apostolado, a atenção próxima e eficaz ao outro, a
edificação da comunidade, mesmo sobre os escombros humanos plantados pelo
desastre, desmando, egoísmo hostilidade e indiferença de tantos e tantas.
Neste sentido, a 43.ª Semana Nacional das
Migrações culmina na habitual peregrinação dos migrantes ao Santuário de
Fátima, nos dias 12 e 13 de agosto – a peregrinação internacional de agosto, com o tema próprio
“Formamos um só corpo” (Ef 4,4) – que, este ano, é presidida
por Dom Manuel das Silva Rodrigues Linda, bispo das Forças Armadas e de
Segurança e vogal da CEPSMH – evento que estará em destaque na emissão do
Programa ECCLESIA, na RTP2, com reportagens para acompanhar entre os dias 13 e
18 de agosto.
No términus da Semana Nacional das Migrações 2015,
a 16 de agosto, as dioceses e paróquias portuguesas estão convocadas para uma
“jornada de solidariedade” a favor dos migrantes e refugiados. Nessa data,
todas as eucaristias serão celebradas em “ação de graças” por toda a proteção
de Deus aos seus filhos e de prece pelo êxito do trabalho pastoral que a Igreja
desenvolve em favor dos migrantes e refugiados. E os ofertórios desse dia
reverterão para a missão da pastoral da
mobilidade humana da Igreja Católica em Portugal.
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Sobre
a peregrinação internacional de agosto e tendo em conta a temática da 43.ª Semana Nacional das Migrações, o Bispo
das Forças Armadas e Segurança de Portugal teceu algumas considerações em
entrevista a Leopoldina Simões,
do Centro de Comunicação Social do Santuário de Fátima.
As
suas declarações gravitam em torno do eloquente mote temático “Os
migrantes devem tornar-se evangelizadores de uma Europa que carece da luz da fé”.
É usual as diferentes realidades que caraterizam a
migração serem evidenciadas nestas peregrinações de migrantes, seja pela
elevada presença de comunidades e famílias migrantes em demanda do santuário,
seja pela consonância com as preocupações da Igreja relevadas na Semana
Nacional das Migrações.
Assim, Dom Manuel Linda antecipa as principais
ideias-chave que deixará aos peregrinos: “que
a Igreja é, por natureza, migrante” e que “a Europa estaria a lutar contra a história se
construísse muros de qualquer espécie para barrar a entrada de emigrantes”.
O bispo vogal da CEPSMH apoia-se no exemplo de Abraão e no fenómeno da difusão do
cristianismo após o martírio de Estevão devido, precisamente, às migrações dos
cristãos por motivos de segurança”, para comprovar a natureza migrante da
Igreja. E assegura que também hoje os migrantes “têm de sair das suas legítimas
preocupações económicas e tornarem-se evangelizadores de uma Europa que carece
da luz da fé”.
Verificando que a sociedade e a Igreja da Europa se
deparam com a intempestiva chegada de muitos migrantes, em grande número em
situações de extrema gravidade humana e social, este bispo adverte que o
projeto de Deus deve estar acima de todos os interesses. E explicita:
“Quanto ao acolhimento dos migrantes na Europa, embora
com critérios de racionalidade, é preciso lembrarmo-nos de que Deus criou o mundo, como casa comum de
todos os homens, e nós criamos as
nações, enquanto linhas imaginárias de fronteiras, mas o projeto de Deus tem de
se sobrepor aos regionalismos humanos”.
Quanto à oração e seu enquadramento na peregrinação internacional
aniversária, o bispo antecipa a principal intenção da oração que pretende promover
e fazer em Fátima: “rezar por todos os
pobres do mundo que arriscam tudo para atingirem uma existência minimamente
humana” e, de “uma forma especial,
pelos africanos que intentam chegar à Europa através do Mediterrâneo e os
do Médio Oriente que fogem às guerras fratricidas”. E a quem menospreza o
valor da oração, D. Manuel Linda esclarece que a oração pela paz “não é para mover ou demover o mundo ou
os que mandam nele: é para que Deus lhes humanize o coração, para que sejam
menos selvagens, é para se tornarem mais pessoas”.
Depois lembra que a oração intensa e solidária
corresponde ao cumprimento de muitos pedidos de Nossa Senhora: Rezai,
rezai muito. E sublinha que, por estas palavras ou outras semelhantes, “o
apelo à oração percorre todas as aparições de Fátima”.
***
Finalmente, a entrevistadora não desperdiçou o ensejo que
teve de lhe suscitar declarações e solicitou-lhe um balanço sobre o trabalho
desenvolvido no Ordinariato Castrense, diocese que se apresenta como aquela
que, em Portugal, detém a missão de estar “ao serviço daqueles que vivem das
armas mas que anseiam a paz do Senhor” – num momento em que Dom Manuel está a governar
a diocese há sensivelmente um ano e meio.
A este propósito, o bispo começou por referir que
“seria presunçoso dizer que já se transformou tudo, até porque o objetivo da
Igreja, nas suas estruturas, é sempre o mesmo: que sejamos mais santos, isto é,
mais amigos de Deus e dos outros irmãos; e esta tarefa nunca está
suficientemente cumprida”.
Depois, avaliou o saldo como “imensamente positivo” e
“de forte amizade e aceitação do bispo; da revalorização da figura dos
capelães, pois cada vez me pedem mais… e eu cada vez tenho menos...; e de
escuta da palavra do bispo”.
Releva os aspetos positivos em outras áreas,
nomeadamente, a “credibilização do dado da fé no meio militar ou nas Forças de
Segurança e o sentido de proximidade da Igreja a setores muitas vezes
desprezados pela sociedade”.
Enfim, a avaliação que faz é extremamente positiva,
quer sob o ponto de vista humano, pelo carinho que lhe dedicam, quer sob o
ponto de vista da fé, pela assistência espiritual, que efetivamente se está a
prestar.
***
Só me resta fazer votos pelo bom êxito da Semana
Nacional das Migrações, da peregrinação internacional dos migrantes e do trabalho
pastoral deste grande bispo (de vida interior, aguda consciência
crítica e audácia pastoral)!
2015.08.10
– Louro de Carvalho
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