sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

O euro, que se tornou realidade a 1 de janeiro de 1999, celebra 25 anos

O Euro celebra 25 anos, após várias crises e uma pandemia global e depois de se ter tornado uma das moedas mais importantes do Mundo. Efetivamente, 11 países da União Europeia (UE), a 1 de janeiro de 1999, fixaram as suas taxas de câmbio e confiaram a política monetária ao Banco Central Europeu (BCE), com sede em Frankfurt, am Main, na Alemanha, ficando, assim, criada a moeda única europeia. 

Outros nove países aderiram à Zona Euro e o euro é uma das moedas mais importantes do Mundo, pois cerca de 350 milhões de pessoas utilizam-na todos os dias. E, à exceção do dólar americano, nenhuma outra moeda é mais transacionada nos mercados mundiais. “A criação do euro foi uma resposta à necessidade do verdadeiro mercado único. Foi uma decisão absolutamente importante, mas também uma espécie de afirmação, uma declaração da existência de uma Europa unida. E o que provámos é que os europeus são efetivamente capazes de criar uma moeda séria, uma moeda sólida: 79% dos europeus da Zona Euro aprovam o euro. Para mim, essa é a maior recompensa”, disse à Euronews Jean-Claude Trichet, antigo presidente do BCE.

Segundo Jean-Claude Trichet, houve dois momentos fortes. O mundo financeiro entrava em colapso, após a declaração de falência do Lehman Brothers, pelo teve de se tomar uma série de decisões importantes, depressa, o que exigiu esforço considerável. Depois, maio de 2010 trouxe o verdadeiro início da crise do risco soberano na Europa. Cinco países europeus ficaram numa situação muito difícil, o que exigiu decisões extraordinariamente corajosas dos países em causa, dos governos e do BCE, que esteve na vanguarda de todas estas questões. 

Na sequência destas crises, o Eurogrupo criou o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), para ajudar os países membros em dificuldades económicas.

Jean-Claude Trichet está convicto de que a evolução para uma verdadeira confederação europeia, com uma unidade muito maior, em termos orçamentais e económicos, e com uma verdadeira unidade em termos de defesa, segurança e diplomacia, é uma necessidade a longo prazo.

De acordo com o Eurobarómetro, 79% dos Europeus da Zona Euro aprovam a moeda única para a Europa; e 69% aprovam-na para o seu próprio país. Entre os mais satisfeitos, conta-se a Finlândia, a Irlanda e a Alemanha; os menos satisfeitos são a Croácia, Chipre e Itália.

No entanto, nem tudo são rosas; e a política monetária não é neutra. A par das vantagens para os países envolvidos, cria dificuldades. A este respeito, o economista italiano Giovanni Farese referiu: “Por exemplo, em Itália, o crescimento económico tem sido dececionante para muitos de nós, nos últimos 25 ou 30 anos. Mas é claro que a política monetária é uma parte da política económica. O que é necessário é reforçar outros aspetos e dimensões da política económica. Mas, obviamente, se tivermos uma política monetária única, sem termos uma política fiscal única, perdemos uma perna. O processo fica incompleto.” De facto, reformas como uma política fiscal unificada poderiam permitir à Zona Euro absorver melhor os choques económicos.

Desde a guerra na Ucrânia, a taxa anual de inflação na Zona Euro atingiu um pico de 10,6%, em outubro de 2022. A taxa de inflação média anual desde a criação do euro é de 1,95%. A missão do BCE é garantir a estabilidade financeira e manter a inflação anual abaixo dos 2%, um objetivo que a instituição se compromete a respeitar, às vezes, com medidas exageradas de contenção.

Piero Cipollone, Membro da Comissão Executiva do BCE, disse à Euronews: “Ao longo dos anos, o Eurossistema tem sido capaz de reagir à evolução das circunstâncias. Todos nos lembramos do ‘custe o que custar’ de Mario Draghi, que mudou e estabilizou o mercado. Por isso, o importante é estar preparado para compreender a realidade, para compreender como se adaptar, estar preparado para se adaptar. A economia muda, a sociedade muda, a tecnologia muda, os hábitos das pessoas mudam, e os pagamentos eletrónicos estão a tornar-se cada vez mais uma realidade quotidiana. Por isso, o Eurossistema tem de se preparar para isso. E está a fazê-lo, ao pensar na nota do futuro, uma nota digital, o euro digital.”

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A 30 de dezembro de 2023, o Blogue do BCE publicou um artigo que meios de comunicação social dos 20 países da área do euro transcreveram. O texto, subscrito por Paschal Donohoe, presidente do Eurogrupo, Christine Lagarde presidente do BCE, Roberta Metsola (presidente do Parlamento Europeu (PE), Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, vincava: “Há 25 anos, em 1 de janeiro de 1999, o euro foi introduzido como moeda única de 11 Estados-Membros da União Europeia (UE).

Presentemente, apoia a economia e torna mais fácil a vida de 350 milhões de pessoas em 20 países.

Frisando que o projeto europeu assenta na “resolução de problemas que os países não conseguem solucionar sozinhos”, os subscritores evocam os líderes visionários que, após a II Guerra Mundial, viram que a única forma de garantir a paz, no continente, “era unir as nossas economias” e que a Europa unida viria a exigir uma moeda única, para “tirar o máximo partido dos benefícios económicos gerados por este dividendo de paz”.

Assim, em finais da década de 1980, a Europa tomou medidas para aprofundar o mercado único e tornou-se um projeto “o sonho de uma moeda única”. Há 25 anos, o projeto tornou-se realidade. E o euro, “elemento indispensável da nossa vida quotidiana, proporcionando-nos simplicidade, estabilidade e soberania”, simplificou a vida dos cidadãos europeus, que podem facilmente comparar preços, comprar e viajar. Com a estabilidade, protege o crescimento e o emprego em contexto de crise. A emissão da segunda moeda mais importante a nível mundial conferiu-nos maior soberania num Mundo de turbulência, pelo que não surpreende que a área do euro tenha passado de 11 para 20 países.

Houve enormes desafios, incluindo o do futuro do euro, mas surgiram as respostas certas. Por exemplo, a crise financeira mundial e a crise da dívida soberana concitaram salvaguardas, como o sistema harmonizado de supervisão e resolução bancárias ou o MEE. Hoje, o apoio dos cidadãos da área do euro à moeda única está próximo de níveis recorde.

Porém, o trabalho não terminou. Há novos desafios que os países não resolvem a sós e as pessoas esperam soluções. Há tensões geopolíticas crescentes, como a guerra na Ucrânia, que instam a decisões coletivas ousadas. Está em aceleração a crise climática, que só resolveremos em conjunto: as emissões de carbono não têm fronteiras. E há desafios sem precedentes no atinente à competitividade, devido a políticas energéticas e industriais de outras partes do Mundo.

Por isso, questões como a defesa e as transições ecológica e digital tornam-se matérias urgentes de interesse comum. O mesmo se diz de como se aborda o financiamento do enorme investimento na descarbonização das economias, no fortalecimento das cadeias de abastecimento e na modernização tecnológica. Na UE, só a transição ecológica exigirá investimentos na ordem de 620 mil milhões de euros, por ano, até 2030.

As soluções devem contemplar a escala possibilitada pelo trabalho conjunto, criando “uma verdadeira união dos mercados de capitais que abranja o continente, para mobilizar financiamento privado”; a utilização das políticas e dos instrumentos para reforço da competitividade e da segurança, fortalecendo, por exemplo, as estruturas existentes, com regras orçamentais revistas e com uma união bancária mais robusta; e o transporte da moeda única para a era digital, construindo os alicerces de “um potencial euro digital que possa complementar o numerário”.

Ao mesmo tempo, com vários países em processo de adesão à UE, há que preservar a capacidade de agir com determinação. O alargamento e o aprofundamento não se excluem mutuamente. Contudo, o alargamento pode exigir alterações na organização da UE, mas sem a descaraterizar.

Os subscritores do texto consideram que “os cidadãos europeus sabem que o Mundo está a mudar” e que a força reside na unidade; e que “cerca de dois terços dos cidadãos europeus estão convictos de que a UE é um bastião de estabilidade”. Por isso, é necessário mostrar-lhes que “a Europa pode definir o perfil dessa mudança e satisfazer as suas expectativas”. Porém, tal exigirá ambição e perseverança (qualidades dos fundadores da integração europeia). Além disso, “será necessário reconhecer que nem todos os objetivos podem ser alcançados de imediato”, pois, “a integração europeia ensinou-nos que temos de tomar as medidas que estão à nossa frente, quando o momento surge”, e que “outras medidas se seguirão, quando chegar a hora propícia”.

E citando o escritor francês Anatole France, sustentam que, “para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir, mas também sonhar; não apenas planear, mas também acreditar”. Com efeito, estes anos do euro “mostraram como um sonho pode ser bem-sucedido”. Todavia, com a mudança do Mundo, a nossa atuação prova que “uma Europa unida dá as respostas de que os cidadãos europeus e o Mundo precisam”.

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A ideia do estabelecimento da moeda única na Comunidade Económica Europeia (CEE) nasceu na década de 70. Teve como principais defensores os economistas Fred Arditti, Neil Dowling, Wim Duisenberg, Robert Mundell, Tommaso Padoa-Schioppae Robert Tollison. Contudo, só pelo Tratado de Maastricht, de 1992, a ideia passou da teoria para o Direito. O tratado foi celebrado pelos 12 países que, à data, integravam a CEE. O Reino Unido e a Dinamarca optaram, no tratado, por ficar de fora da moeda única. Os países que aderissem posteriormente à União estariam legalmente obrigados a aderir à moeda única. A Suécia aderiu à UE, em 1995, mas negociou a entrada em fase posterior. Os critérios para adesão à nova moeda única foram estabelecidos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), de 1997.

O primeiro nome para o sistema de conversão entre as moedas que se uniriam foi o ECU (European Currency Unit, em Inglês). O nome de Euro é atribuído ao Belga German Pirloit que o sugeriu, em 1995, a Jacques Santer, então presidente da Comissão Europeia. O valor da nova moeda foi ancorado ao do ECU, por resolução do Conselho da União Europeia, de 31 de dezembro de 1998, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 1999, em forma não material (transferências, cheques, etc.), e em notas e moedas, a 1 de janeiro de 2002.

A Zona Euro é composta pelos 20 países da UE que adotaram a moeda única, prevendo-se que, com a expansão da UE, alguns dos aderentes mais recentes possam, nos próximos anos, partilhar o euro como moeda oficial. O governo dinamarquês anunciou, no seu programa de 22 de novembro de 2007, a intenção de organizar um referendo sobre a entrada do país na Zona Euro. Porém, Alguns países pequenos que não praticam políticas de moeda própria usam também o euro: Andorra, Mónaco, São Marino e o Vaticano. Montenegro também utiliza o euro como moeda oficial. E, no Cosovo, o euro passou a circular, ainda antes da declaração de independência.

Outros países tinham a sua moeda fixada a uma antiga moeda europeia. Era o caso do escudo cabo-verdiano, ligado ao escudo português, do franco CFA (colónias francesas da África), indexado ao franco francês, em circulação em diversos países africanos, e o Franco CFP (colónias francesas do Pacífico), também indexado ao franco francês.

Em 2018, o euro foi usado, diariamente, por cerca de 343 milhões de Europeus. É usado por mais 240 milhões de pessoas, no Mundo, 190 milhões delas em África, que usam moedas de câmbio fixo, relativamente ao euro. O euro é a segunda maior moeda de reserva e a segunda mais transacionada a seguir ao dólar dos Estados Unidos da América (EUA). Com mais de 1,2 biliões de euros em circulação, em 2018, o euro tem o maior valor combinado de notas e moedas em circulação, superando o dólar dos EUA. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) do produto interno bruto (PIB) e da paridade do poder de compra, permitem sustentar que a Zona Euro é a segunda maior economia mundial. É pena que o euro não puxe pela economia dos países periféricos (isto só lá vai com a alteração do paradigma económico centrado na produção e no social), antes a atrapalhe, em nome da política monetária.

2024.01.12 – Louro de Carvalho


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