quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Manter a árvore de Natal durante o ano é interessante

 

árvore de Natal é uma das tradições populares associadas à quadra natalícia. Normalmente, é uma árvore conífera de folhas perenes (um pinheiro, por exemplo), natural ou artificial, enfeitada com bolas coloridas, luzes e outros adornos natalinos, como o sino de Natal.

Já há muitos séculos, em culturas pagãs, existia o hábito de decorar plantas verdes como símbolo de fertilidade e vitalidade (ligado à adoração ao Sol), dados condicentes com o significado do Natal, em termos religiosos do cristianismo, cujo Sol nascente é Cristo

Povos antigos que habitaram os continentes europeu e asiático, no III milénio antes de Cristo (a.C.), viam as árvores como símbolo divino, pelo que as cultivavam e realizavam festivais em torno delas. Tal crença ligava as árvores a entidades mitológicas e a sua projeção vertical, desde as raízes fincadas no solo, marcava a simbólica aliança entre os céus e a mãe terra.

Nas vésperas do solstício de inverno, os povos pagãos dos países bálticos cortavam pinheiros, que levavam para casa e enfeitavam de forma semelhante à dos nossos dias. A tradição passou aos povos germânicos, que deixavam presentes para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin. Os Germânicos punham, no solstício de inverno, ramos de pinheiros em lugares públicos e nas casas, para evitar a entrada dos maus espíritos, e nutriam a esperança da vinda da primavera.

Uma das versões para a origem da tradição sustenta que o monge beneditino São Bonifácio, no início do século VIII, tentou acabar com essa crença pagã que havia na Turíngia, para onde fora enviado como missionário. Cortou, a machado, um pinheiro sagrado, que os locais adoravam no alto de um monte, mas, dado o insucesso na erradicação da crença, associou o formato triangular do pinheiro à Santíssima Trindade e as folhas resistentes e perenes à eternidade de Jesus. Nascia aí a Árvore de Natal. E, na Alemanha medieval, há relatos de árvores decoradas com maçãs na festa de São Nicolau (6 de dezembro).

A tradição de enfeitar a árvore de Natal tem mais de 500 anos. A tradição terá sido lançada, em 1419, pelos padeiros da cidade de Freiburg, na Alemanha. Decoravam a árvore, todos os anos, com lebkuchen (um tipo de pão de mel, coberto com chocolate), maçãs, frutas, nozes e frutas. Mas, só no dia de Ano Novo, as crianças sacudiam a árvore e comiam o que dela caía.

O primeiro uso registado de árvore para celebrar o Natal e o Ano Novo ocorreu em Riga, na Letónia, em 1510. Todavia, há quem diga que a tradição se consolidou, em 1530, na Alemanha, a partir de um episódio protagonizado por Martinho Lutero, reformador protestante. Numa noite, caminhando pela floresta, ficou impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve. As estrelas do céu ajudaram a compor a imagem que Lutero reproduziu em casa, com galhos de árvore, estrelas, algodão e outros enfeites, como velas acesas, para mostrar aos familiares a bela cena que presenciara na floresta.

Outras versões levam a crer que a moderna árvore de Natal terá surgido na Alemanha, entre os séculos XVI e XVIII, não se sabendo exatamente em que cidade. Durante o século XIX, a prática foi levada para outros países europeus e para os Estados Unidos da América (EUA). Só no século XX a tradição chegou à América Latina. Hoje, é tradição comum a católicos, a protestantes e a ortodoxos.

A árvore de Natal caseira, como muitos de nós temos, surgiu como tradição no final do século XVI, na Alsácia. Esta, que é uma bela região da França, já foi alemã. À época, uma parte das festividades de Natal era pôr uma árvore na sala de estar. Depois, decoravam-na com doces, nozes e maçãs. Aliás, uma grande evidência desta teoria é o registo de uma árvore de Natal na catedral de Estrasburgo (na Alsácia), em 1539.

A Igreja Católica, que era contra as árvores de Natal, afirmava que o presépio era o símbolo suficientemente significativo de Natal. Por outro lado, as grandes áreas florestais pertenciam à Igreja, e o povo saqueava estas áreas, nesta época, em demanda de árvores de Natal.

Apenas em meados do século XX, a Igreja católica autorizou as árvores de Natal. E, em 1982, o Papa São João Paulo II, iniciou a tradição no Vaticano. Nesse ano, colocou a primeira árvore de Natal na Praça de São Pedro, em Roma.

Os primeiros registos de árvores decoradas com velas surgiram em 1730. Dantes, as árvores eram enfeitadas com rosas de papel, maçãs, nozes e bolachas; depois, surgiram outras decorações, como luzes, bolas de vidro, estrelas, guirlandas, laços, anjos ou outras figuras. Em Berlim, na Alemanha, a primeira árvore de Natal foi erguida em 1785.

No século XVII, o costume espalhou-se entre os altos funcionários e os cidadãos ricos nas cidades, mas os enfeites eram escassos e, portanto, muito caros, mesmo na Europa Central. As primeiras bolas de vidro soprado apareceram para venda por volta de 1830. Eram artigo de luxo, a que só os mais abastados tinham acesso e podiam enfeitar as suas árvores com elas.

O costume de decorar árvores de Natal alastrou da Alemanha para o Mundo inteiro. Porém, foi só no século XIX que os emigrantes (alemães e holandeses) do século XVIII levaram o costume para os EUA. A primeira árvore de Natal na “Casa Branca” foi erguida em 1891, mas a primeira árvore de Natal nas Américas foi de Friederike Riedesel von Lauterbachm esposa do general comandante das tropas Brunswick e a árvore foi erigida em Sorel, no Canadá, em 1781.

A tradição foi introduzida em Inglaterra no início do século XIX pela rainha Charlotte, esposa do rei George III. A prática tornou-se mais popular na época vitoriana. No século XIX, com o relato do Príncipe Albert (marido da Rainha Vitória) trazendo uma árvore de Natal para o Palácio de Buckingham, a tradição espalhou-se ainda mais.

A tradição foi alastrando e ganhou inovações, como o surgimento das árvores artificiais. Deste modo, começou uma pequena guerra, já que os mais tradicionalistas fazem questão de ter a árvore natural decorada em casa, clamando que as de plástico não são biodegradáveis. Por outro lado, o cultivo de uma árvore natural leva anos. Assim, os adoradores de árvores artificiais argumentam que elas são cortadas para servirem de enfeite por poucos dias.

Na Europa Central, a árvore mais usada é o pinheiro conhecido como Nordmanntanne (abeto de altitude), originário do Cáucaso. A sua popularidade tem um motivo: os seus galhos não picam. Além dele, em alguns lugares, são usadas árvores como abeto, pinho, buxo, azevinho e zimbro.

Há a ilusão de que o pinheiro de Natal é produto natural da floresta, mas é uma raridade na floresta. Hoje, os pinheiros e abetos crescem em plantações. Na Alemanha e na Áustria, há terras agrícolas separadas para plantio das árvores de Natal. No entanto, boa parte ainda é importada, e a Dinamarca é a líder de mercado. Na Alemanha, as árvores de Natal são cultivadas em cerca de 15 mil hectares e são cobertas cerca de 70% das necessidades de consumo interno.

As sementes da Nordmanntanne vêm do Cáucaso e, em viveiros especializados, crescem na Alemanha. Com três anos, as mudas são transferidas para o campo. Até as árvores serem apresentadas com luzes brilhantes nas salas de estar, na Alemanha, têm até 10 anos de tratamento intensivo. Só na Alemanha, são comercializadas, por ano, quase 25 milhões de árvores de Natal.

Crescente número de muçulmanos na Alemanha passa as férias de Natal com a família. Fora isto, muitos ainda também têm iniciado o hábito de colocar uma árvore de Natal na sala e com muita decoração. Na Ásia, o costume da árvore de Natal está bem enraizado, principalmente para os Europeus que passam o Natal naquelas paragens, ficando tudo bem decorado.

As cores verde e vermelha são as cores símbolo do Advento e do Natal cristão. O verde simboliza a esperança de vida no inverno escuro e a lealdade. E o vermelho lembra o sangue de Cristo que derramou para que o Mundo seja salvo. Estas duas cores dominam decoração de Natal e parece impossível dissociá-las do espirito natalino.

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Em Portugal, não há dados apurados, relativamente ao comércio de árvores de Natal, ao invés de outros países. Os dados da Nielsen Research, obtidos em 2011, revelam que cerca de 21,6 milhões de árvores reais e 12,9 milhões de árvores artificiais são comprados pelas famílias dos EUA, na época de Natal. A Nielsen entrevistou quase 30 mil famílias nos EUA, em nome da American Christmas Tree Association (ACTA), descobrindo que o custo médio de uma árvore real era de 46 dólares (42 euros) e o de uma árvore artificial era de 78 dólares (71 euros).

As famílias gastam um total de 984 milhões de dólares na compra de árvores de Natal reais, mas gastam 1,01 mil milhões (920 milhões de euros) de dólares na compra de árvores artificiais.

A pesquisa descobriu que 11% dos lares dos EUA exibem árvores reais e artificiais, indicando a tendência crescente de celebrar o Natal com mais do que uma árvore; 29% dos agregados familiares compraram a árvore verdadeira num lote de árvores, por um custo médio de 48 dólares por árvore (43 euros); 24% compraram a árvore numa fazenda de árvores, por um preço médio de 46 dólares; 16% foram compradas numa loja de materiais de construção, por um preço médio de 44 dólares (40 euros); 7% foram comprados num Garden Center, por um preço médio de 53 dólares (48 euros); 7% disseram não ter certeza de onde a árvore foi comprada; e 17% das restantes árvores foram comprados em vários outros locais.

Segundo a British Christmas Tree Growers Association, seis a oito milhões de árvores de Natal são vendidas no Reino Unido, todos os anos. A verdadeira árvore de Natal comprada localmente tem a menor pegada de carbono. O Carbon Trust afirma que a árvore de Natal real tem pegada de carbono muito menor do que a árvore artificial, sobretudo se for descartada de modo cuidadoso. Uma árvore de Natal natural de dois metros, sem raízes, descartada em aterro gera pegada de carbono de cerca de 16kg de CO2. Se a árvore do mesmo tamanho for eliminada, queimando-a em fogueira, plantando-a ou cortando-a para espalhar num jardim, terá pegada de carbono de cerca de 3,5 kg de CO2 – pegada de carbono quatro vezes e meia menor.

Uma árvore de Natal plástica de dois metros tem pegada de carbono de cerca de 40kg de CO2, mais de 10 vezes maior que a de a árvore real descartada adequadamente. Ao invés das artificiais, a árvore de Natal real absorve CO2 e liberta oxigénio. E a Soil Association destaca como a árvore real fornece um habitat para a vida selvagem e captura carbono da atmosfera, durante os 10-12 anos que demora a crescer. E ao invés das artificiais, as árvores reais podem ser recicladas.

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Inicialmente, a árvore de Natal era decorada com frutas, nozes e doces. Com o tempo, passou a ostentar ornamentos feitos à mão, luzes elétricas e outros enfeites, criando a árvore de Natal que hoje conhecemos. Assim, a tradição da árvore de Natal combina várias influências culturais ao longo dos séculos, e a sua prática continua a evoluir em diferentes partes do Mundo.

Porém, há quem faça da árvore de Natal a “árvore de todo o ano” e não apenas a árvore de Natal”.

Uma família, em que a criança mais pequena ficou triste por, no primeiro Natal da pandemia de covid-19, a família não se reunir toda, resolveu só desmontar a árvore de Natal quando pudessem reunir-se todos. Não pensavam que a situação demoraria tanto tempo. Nunca mais desmontaram a árvore. Já reuniram e celebram as ocasiões familiares – uma situação negativa que redundou em algo de bom. Como neste caso, há mais pessoas que deixam a árvore de Natal sempre montada, embora por variados motivos. Há quem altere a decoração, consoante a época do ano: Páscoa, Halloween, Natal, etc. Há quem mantenha a árvore para ter “um bocadinho de Natal durante todo o ano”. Além da árvore montada, vão pondo presentes debaixo dela, quando podem e lhes apetece. Fazem a troca e vivem momentos especiais. Como fazem, regularmente, refeições com a família alargada, vivem o Natal, em casa, durante os meses todos.

É bom que o espírito do Natal se mantenha durante o ano todo. E, se a árvore ajudar, seja assim. De facto, o Natal é sempre que o homem queira, mas tem de haver vontade.

2024.01.03 – Louro de Carvalho

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