quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Metro do Porto: Linha Rubi pode avançar – obra começa em janeiro

 

A consignação da empreitada da Linha Rubi do Metro do Porto foi assinada, a 9 de janeiro, nas Caves Ferreira, em Vila Nova de Gaia, em cerimónia presidida por António Costa, primeiro-ministro (PM) demissionário. O investimento no projeto é de 435 milhões de euros, sem incluir material circulante e a obra tem de estar concluída até ao final de 2026, para não desperdiçar o financiamento proveniente do Plano de Recuperação e Resiliência PRR.

A Linha Rubi, cuja obra começará em janeiro, contempla a construção de nova travessia sobre o Rio Douro, a Ponte da Ferreirinha, que permite, além do Metro, o trânsito de peões e de velocípedes, e é a única ponte que, atualmente, é construída com exclusão do trânsito rodoviário.

O PM deixou o aviso de que o financiamento do PRR para a Linha Rubi é uma “oportunidade única” que tem “imensas vantagens, mas um “único problema”: “Tem de estar mesmo tudo pronto até às 24h do dia 31 de dezembro de 2026.” Para António Costa, “a última das obras do atual plano de expansão do metropolitano do Porto é um momento de grande significado” e “o investimento na mobilidade urbana é absolutamente crítico”, o que “significa investir, cada vez mais, em modos alternativos de mobilidade e, em particular, no transporte coletivo”.

A Linha Rubi terá oito estações, uma extensão de 6,3 quilómetros e fará a ligação entre a Casa da Música, junto à Rotunda da Boavista, e Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia, criando uma nova travessia entre o Porto e Vila Nova de Gaia. Estima-se que o novo trajeto venha, anualmente, a servir 12,7 milhões de utilizadores. O projeto inclui a construção da Ferreirinha, nome da nova ponte sobre o Rio Douro, em homenagem à célebre empresária vinhateira Antónia Adelaide Ferreira, que servirá para a passagem do metro e permitirá a circulação pedonal e de bicicleta.

“Esta nova ponte é uma peça de engenharia extraordinária, uma lindíssima peça de arquitetura que vai homenagear uma das grandes figuras de Portugal e do Norte do nosso país”, vincou o PM, referindo-se à empresária vinhateira, mas advertindo que “as pontes são sempre corpos estranhos naquilo que a natureza fez” e “um implante que se crava na carne da cidade”, sobretudo quando a interseção se faz “num terreno densamente urbanizado como o Porto”. Porém, o transporte público de qualidade é “aquilo que permite reinventar as cidades e a deslocação nas áreas metropolitanas, sem excluir ninguém”.

Na cerimónia de consignação, apresentada por Catarina Furtado, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, disse que a Linha Rubi é um “eixo fundamental” e exprimiu o desejo de que “seja um novo paradigma de mobilidade”. Frisou que “as vantagens destas obras são evidentes e muito significativas” e que a nova ponte “será das poucas vias de comunicação em Portugal que não se dedica à circulação rodoviária e será a mais extraordinária de todas as pontes com estas caraterísticas”. Além disso, afirmou que “a política de mobilidade sustentável não é um acessório nem um capricho”, mas um “compromisso central do governo e do país”, pois, “só com mobilidade coletiva conseguimos cumprir os nossos ambiciosos objetivos ambientais”.

Por seu turno, Tiago Braga, presidente da Metro do Porto, salientou que a Linha Rubi tem um valor “singular para a descarbonização do país, dado o seu impacto nas emissões evitadas pela mudança do transporte individual para o transporte coletivo”, já que o novo trajeto “permitirá que mais de cinco milhões de utilizadores de automóvel mudem para o transporte coletivo, evitando dessa forma mais de 12 milhões de toneladas de CO2 [dióxido de carbono] por ano”. Esta linha é “sinónimo dos vinhos do Porto que duram muito para além das gerações que os produziram”, enfatizou, com a “convicção absoluta” de que a obra estará concluída até ao final de 2026.

Também presente na cerimónia Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e líder da Área Metropolitana do Porto, sublinhou que a Linha Rubi é um “testemunho do compromisso da cidade e da região com o desenvolvimento sustentável, com a conectividade eficiente e com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”. Para o autarca, a nova rota “evidencia um papel vital na transformação do panorama urbano e na promoção da mobilidade inteligente da região” e, por ligar importantes áreas das duas cidades, “torna-se numa espinha dorsal de um verdadeiro sistema de transporte público, criando uma verdadeira lógica de rede, proporcionando uma alternativa eficaz e eficiente ao tráfego rodoviário constantemente congestionado”.

Já Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, afirmou que a nova linha representa a “possibilidade de vir a mudar completamente o perfil das ligações entre as duas cidades”, mas que é preciso “desenvolver a oferta de transporte público de qualidade para depois se criarem inibições ao transporte individual”.

A empreitada da Linha Rubi foi atribuída ao consórcio Alberto Couto Alves (ACA), FCC Construcción e Contratas y Ventas, pelo valor de 379,5 milhões de euros.

O Metro do Porto já tem seis linhas atualmente em funcionamento, às quais se juntarão a Linha Rosa (já em construção) e a Linha Rubi. Também o metrobus entre a Boavista e a Anémona, em Matosinhos, vai reforçar a rede de transportes.

Até 2030 estão previstas mais quatro novas linhas: Trofa, Maia II, São Mamede e Gondomar II.

Assim, até àquele ano a Metro do Porto duplicará as linhas, sendo que Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Maia e Gondomar vão ter segunda rota. E o metro chegará à Trofa. As novas ligações, que servirão 58,5 milhões de clientes, por ano, custarão mais de dois milhões de euros.

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Os turistas e quem tenha de visitar a cidade do Porto poderão ficar com a ideia de que o burgo está encerrado para obras. Tantas são as áreas urbanas cercadas por taipais e montões de terra a assombrar as ruas e avenidas. Avança, com supino vagar, a expansão da rede metropolitana, exercitando a paciência dos portuenses e dos que visitam a cidade ou dos que nela trabalham.

Atualmente com seis linhas em funcionamento, a Metro do Porto pretende duplicar o número de ligações até ao final desta década. O investimento nas linhas em construção, adjudicadas e em concurso, será de 2.171 milhões de euros, se não existirem novas revisões orçamentais e sem contar com a aquisição de material circulante. Os novos traçados podem servir 58,5 milhões de clientes, por ano.

No terreno avançam as obras da Linha Rosa, de três quilómetros e com quatro estações, que fará a ligação entre a Casa da Música e estação ferroviária de São Bento em sete minutos (considerando a velocidade média de 26 km/h). Segundo as estimativas da Metro do Porto, a Linha Rosa servirá, anualmente, 9,5 milhões de pessoas e permitirá retirar 12.870 carros por dia da Baixa da cidade, o que evitará a emissão de 1,5 toneladas de CO2, por ano. As obras ainda em curso implicam o investimento de 304,7 milhões de euros, sendo o financiamento assegurado, essencialmente, pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiên­cia no Uso de Recursos (POSEUR), além de uma parte que vem do Fundo Ambiental e outra que é proveniente do Orçamento do Estado. Esta linha, que ficará concluída até ao final deste ano, deve entrar em funcionamento no segundo trimestre de 2025.

Os trabalhos, em Vila Nova de Gaia, para o prolongamento da Linha Amarela (Santo Ovídio –Vila d’Este) estão em fase de acabamentos, nas estações e os ensaios de veículos devem começar em meados de fevereiro. O novo troço será aberto à circulação de veículos em abril, acrescentando mais três estações e 3,15 quilómetros de extensão à linha que atravessa o Douro. O prolongamento da Linha Amarela tirará 3790 automóveis de circulação, travando a emissão de 2,3 toneladas de CO2, por ano.

Está em marcha a construção da linha do metrobus, novo modo de mobilidade mais ecológico, com autocarros alimentados por hidrogénio, que garantirão as ligações Boavista-Império e Boavista-Anémona. Por ter prioridade sobre todos os outros meios de transporte, fará a viagem entre a Boavista e Matosinhos em menos de 20 minutos. A nova linha, de oito quilómetros, terá 12 estações. As obras devem ficar concluídas em julho, mas, a partir de abril, o impacto na circulação será mais ligeiro, na Avenida da Boavista. O metrobus custa 99 milhões de euros e é financiado pelo PRR. Começará a operar no terceiro trimestre deste ano e as previsões apontam para que transporte 10,3 milhões de passageiros, anualmente. Isso levará a que 3.672 automóveis fiquem na garagem, o que dará menos 3,5 toneladas de emissões de CO2, por ano.

A Linha Rubi, a segunda a assegurar a ligação entre o Porto e Vila Nova de Gaia, é o projeto mais ambicioso. Terá oito estações, 6,7 quilómetros de extensão e obriga à construção da nova travessia sobre o Douro. Por isso, é a obra mais cara, orçamentada em 435 milhões de euros, que, vindo do PRR, obrigarão a linha a ficar pronta até ao final de 2026. Se o prazo derrapar, o financiamento esfuma-se. “É uma obra pesada”, admite a Metro do Porto, e ainda não arrancou. A montagem dos 12 a 16 estaleiros acontecerá em janeiro. E, quando se viajar entre a Casa da Música e Santo Ovídio, em 16 minutos, a Linha Rubi servirá 12,7 milhões de clientes todos os anos, retirando das ruas 14.228 carros, o que evitará 11,9 toneladas de emissões de CO2, por ano.

Estas são as linhas já em construção ou prestes a arrancar, mas há quatro novos traçados contemplados pelo projeto de expansão Metro 3.0: Gondomar II (Dragão-Souto), S. Mamede (IPO-Estádio do Mar), ISMAI/Trofa e Maia II. O objetivo é ter estas ligações prontas até 2030 e o investimento total será de cerca de 1.126 milhões de euros. Assegurando a ligação à Trofa, o metro do Porto chegará a mais um concelho. Já Matosinhos, Gondomar e Maia terão duas linhas.

A linha Gondomar II será utilizada por 10,3 milhões de clientes, por ano, acima dos 9,3 milhões de passageiros que potencialmente usufruirão da ligação a S. Mamede. A linha da Trofa assegurará o transporte de 1,6 milhões de pessoas, anualmente, enquanto 1,3 milhões de passageiros beneficiarão da linha Maia II.

Em construção estão a Linha Rosa (Casa da Música-São Bento), o metrobus (que ligará a Casa da Música à Praça do Império e à Anémona) e o prolongamento da Linha Amarela (Santo Ovídio-Vila d’Este). As obras da Linha Rubi (Casa da Música-Santo Ovídio) começam este ano e têm de ficar concluídas até ao final de 2026. Há outros quatro traçados já anunciados: ISMAI/Trofa, Maia II, São Mamede e Gondomar II. As linhas Gondomar II e S. Mamede serão as primeiras a sair do papel. As obras no terreno avançam em 2026. A ligação até à Trofa e a rota Maia II ainda não têm data prevista para o início dos trabalhos de construção.

A linha Maia II, de 14,3 quilómetros, é a mais cara da próxima fase de expansão e vai custar 434,1 milhões de euros. A rota de S. Mamede é a mais curta, tendo 6,5 quilómetros, e implica um investimento de 332,7 milhões de euros. A ligação Gondomar II terá 7 quilómetros e obriga a construir oito estações, representando um custo de 224,9 milhões de euros. A opção para a Trofa passa por uma solução mista: um troço de metro (entre o ISMAI e o Muro) e outro de metrobus (do Muro até à Trofa).

A Metro do Porto transportará 150 milhões de passageiros, anualmente, até 2030, mas preciso de quase duplicar o recorde anual atingido em 2023: cerca de 80 milhões de validações do título Andante, bem acima dos 71,5 milhões de utilizadores, o anterior máximo registado em 2019. Isto mostra que a utilização do metro do Porto foi, no ano passado, 10% superior ao perío­do pré-covid. Em 21 anos, mais de mil milhões de pessoas usaram o transporte que aproximou o Grande Porto.

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Enfim, tudo se conflui para mudar a configuração da Cidade Invicta e concelhos do Grande Porto e criar melhores condições de mobilidade para as populações num ambiente urbano de alguma asfixia e de distâncias, até agora, difíceis de superar. O norte aprecia, precisa e merece.

2024.01.11 – Louro de Carvalho

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