terça-feira, 2 de janeiro de 2024

A guerra na Ucrânia está para continuar e durar

 

 

No contexto do temido inverno russo, a guerra correrá a favor da Rússia. E Vladimir Putin aproveitará todos os pretextos para intensificar as operações militares.

A 1 de janeiro deste ano, o presidente russo referiu que o seu exército tem estado a utilizar “armas de precisão” contra locais de “tomada de decisão, onde se reúnem soldados e mercenários” e outro tipo de instalações militares. E anunciou que a Rússia vai intensificar os seus ataques contra alvos militares na Ucrânia, em retaliação ao bombardeamento do exército ucraniano sobre a cidade russa de Belgorod, no último fim de semana de 2023.

“Vamos intensificar os ataques. Nenhum crime contra civis ficará impune. Isso é certo”, afirmou o chefe de Estado russo, durante uma visita a um hospital militar, ressalvando que estas ofensivas serão realizadas contra “instalações militares”.

O presidente russo classificou de “ato terrorista” o bombardeamento de 30 de dezembro à cidade de Belgorod, que matou 24 pessoas e feriu mais de uma centena, e acusou as forças ucranianas de atacarem “mesmo no centro da cidade”, onde as pessoas caminhavam antes da véspera do Ano Novo. Todavia, assegurou que “a Ucrânia não é um inimigo” e responsabilizou o Ocidente por usar as autoridades ucranianas para “resolver os seus próprios problemas” com a Rússia.

No entanto, é de referir que o ataque ucraniano à cidade russa de Belgorod ocorreu na sequência de uma série de bombardeamentos russos contra cidades ucranianas, a 29 de dezembro, de que resultou a morte de cerca de 40 pessoas. As imagens disponíveis “online” mostraram viaturas em chamas, imóveis com janelas partidas e nuvens de fumo negro no horizonte.

A Ucrânia leva a cabo, regularmente, ataques na Rússia, sobretudo nas regiões mais próximas do seu território, mas o balanço de baixas é, regra geral, bastante mais baixo.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os mais recentes dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a pior crise de refugiados na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa – justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e de “desmilitarizar” a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, a Ocidente, que tem respondido com o envio de armamento para a Ucrânia e com a imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

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Também neste 1 de janeiro, a Ucrânia denunciou um “ataque recorde” da Rússia, durante a noite de Ano Novo, às cidades de Lviv e Odessa, com recurso a 90 drones, causando, pelo menos, um morto, avançou a AFP, segundo a qual, citando a Força Aérea ucraniana, 87 dos 90 drones explosivos ‘Shahed’, lançados pelas forças russas, a partir de quatro locais, foram destruídos em voo. “O inimigo utilizou um número recorde de drones de ataque”, denunciou a Força Aérea ucraniana, citado pela AFP. E as forças militares da Ucrânia revelaram também ataques com quatro mísseis terra-ar S-300 na região de Kharkiv (no nordeste) e três mísseis antirradar Kh-31 e um Kh-59 nas regiões de Kherson e Zaporíjia (no sul).

Na região de Lviv, no oeste do país, os ataques destruíram uma universidade e um museu, cuja História está ligada a duas figuras nacionalistas ucranianas que colaboraram com os nazis, durante a Segunda Guerra Mundial, aponta a AFP.

Aquele ataque noturno, reportaram as autoridades locais, causou um morto e feriu oito pessoas na região de Odessa, no sul da Ucrânia, e em Khmelnytsky, uma criança ficou ferida.

Já a Rússia comunicou bombardeamentos ucranianos e ataques de drones na região fronteiriça de Belgorod, que não causaram vítimas.

Moscovo e Kiev têm assistido a uma escalada de violência, nos últimos dias, com um ataque sem precedentes em Belgorod, na Rússia, no dia 30 de dezembro, que matou 24 pessoas, após um ataque com mísseis na Ucrânia no dia 29, que Kiev descreveu como “maciço” e que fez cerca de 40 mortos.

É a força e a violência da guerra, com ataques e baixas de um lado e de outro.

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Falam por si as mensagens de Ano Novo proferidas, a 31 de dezembro, por Volodymyr Zelensky e por Vladimir Putin.

Kiev está a preparar-se para “produzir mais armas”, em 2024. E o presidente da Ucrânia diz estar grato a “todos os líderes que estão a ajudar” a Ucrânia.

Zelensky garantiu que o país continua “a lutar pela justiça” para a Ucrânia, independentemente do que “acontecer noutros países”, e que 2024 vai ser um ano de “decisões globais”.

Segundo a agência de notícias espanhola Europa Press, que cita um comunicado divulgado pela presidência ucraniana, o presidente ucraniano afirmou que Kiev está a preparar-se para “produzir mais armas”, em 2024, e que tem um “calendário claro para o trabalho internacional”.

“Vamos continuar a lutar pela influência e pela justiça para a Ucrânia. Estou muito grato a todos os líderes que nos estão a ajudar e que têm estado connosco desde 24 de fevereiro [de 2022] e que estarão connosco em 2024”, afirmou Volodymyr Zelensky.

E, referindo que 2024 será ano de “decisões globais”, defendeu que, “aconteça o que acontecer nos outros países, sejam quais forem as mudanças ou os humores políticos”, a Ucrânia tem de ter “potencial suficiente” para fazer o que lhe compete e, assim, atingir os seus objetivos. “Estamos a trabalhar com os nossos parceiros nas soluções de que todos os soldados ucranianos precisam, toda a nossa nação, o nosso Estado”, garantiu.

O chefe de Estado aproveitou o ensejo para agradecer a todos os seus parceiros pelo “trabalho operacional que serviu para reforçar o sistema de defesa aérea do país”. “Não somos apenas nós a trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana, e isso é importante. É fundamental que a resistência contra o terrorismo não cesse nem por um dia, para que a Rússia não possa ganhar esta guerra”, vincou.

Por sua vez, o presidente da Rússia, numa declaração de Ano Novo, garantiu, sem nunca se referir ao conflito com a Ucrânia, que o seu país nunca recuará e que “não há força capaz de dividir” os Russos, noticiou a agência Efe.

Segundo aquela agência de notícias, Vladimir Putin, que, neste ano, ao invés do que é usual, apareceu sozinho a desejar felicitações aos russos, aproveitou o momento para salientar os feitos da Rússia ao longo de 2023 e agradeceu aos militares, a quem apelidou de heróis.

“Mais de uma vez provámos que somos capazes de resolver as tarefas mais complexas e que nunca recuaremos, porque não há força capaz de nos dividir, de [nos levar a] esquecer a memória e a fé dos nossos pais, de parar o nosso desenvolvimento”, disse o líder do Kremlin.

A mensagem do chefe de Estado da Rússia, que é tradicionalmente transmitida, alguns minutos antes de os sinos do Kremlin anunciarem o início do novo ano, foi transmitida, primeiro, no extremo oriente russo, onde, devido à diferença horária, o dia 1 de janeiro surgiu mais cedo.

“No ano que passou, trabalhámos arduamente e conseguimos muito, orgulhámo-nos das nossas conquistas comuns, regozijámo-nos com os nossos sucessos e mantivemo-nos firmes na defesa dos interesses nacionais, da nossa liberdade e segurança, dos nossos valores, que foram e continuam a ser um apoio inabalável para nós”, sublinhou, para vincar, a seguir, que o país está a atravessar “uma fase histórica” e que será “ainda mais forte”, no próximo ano, porque a “correção moral e histórica” está “do lado da Rússia”.

Dirigindo-se aos militares, sem nunca se referir à guerra na Ucrânia, Vladimir Putin salientou o orgulho nacional pelo exército russo: “[Por] todos vós que estais no vosso posto, na linha da frente da luta pela verdade e pela justiça”, disse.

“Vós sois os nossos heróis. Os nossos corações estão convosco. Estamos orgulhosos de vós e admiramos a vossa coragem”, salientou.

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Enfim, cada um dos chefes de Estado destes dois países beligerantes puxa pelo sentido patriótico e pelo moral dos seus militares. Ao mesmo tempo, acusam-se mutuamente dos ataques de um lado e do outro, para ganharem posições no terreno, o que está difícil. Cada um faz questão em engrandecer os seus passos vitoriosos, em superlativar os ataques de o seu país é objeto em desvalorizar os seus reveses.

Ambos os chefes de Estado garantem que os ataques são apenas a militares e a instalações militares, mas, em ambos os países, se registam mortes e ferimentos de civis, migração forçada, destruição de património natural e do edificado. É a hipocrisia a juntar-se à violência da guerra!  

Entretanto, cada um agradece aos seus militares e aos seus aliados e jura continuar a guerra, supostamente em defesa da suas soberanias e do que pensam ser os seus territórios e a missão dos seus países no concerto das nações. Ninguém cede, ninguém negoceia, ninguém aceita mediações. A guerra continua a destruir património e a ceifar vidas. Os víveres estão em risco de esgotar, a fome avança e a economia de guerra entra em falência. Os povos sofrem e os cidadãos matam cidadãos de países irmãos, em nome dos direitos humanos, sendo o principal o direito de viver.  

A guerra é o monstro cuja sede de sangue é insaciável!  

2024.01.02 – Louro de Carvalho

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