terça-feira, 18 de abril de 2023

Titulares de topo da Conferência Episcopal Portuguesa mantêm-se

 

Algumas vozes diziam e algumas penas escreviam que era provável que o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) viesse a ser substituído na 206.ª Assembleia Plenária, de 17 a 20 de abril, e que era possível que o secretário fosse um leigo.

Até se vincava que D. José Ornelas e D. Manuel Clemente iriam ao Parlamento falar aos deputados, a convite dos partidos com assento parlamentar, mas já não no exercício das mesmas funções. Porém, o patriarca de Lisboa é, por inerência, membro do conselho permanente da CEP, o que alguns esquecem. E o padre Anselmo Borges, referia, no Diário de Notícias, que era pena que D. José Ornelas, que ele preferia que se mantivesse à frente da CEP, eventualmente, não fosse reconduzido, pois é um homem muito culto, muito bem formado e terá sido ele a convencer a maior parte dos seus pares a alinhar na criação da comissão independente (CI) para o levantamento dos casos de abuso sexual de menores no âmbito da Igreja Católica em Portugal. E, entre os dois de quem se falava para assumir a presidência da CEP, apesar de reconhecer o valor do arcebispo de Braga e o do arcebispo de Évora, inclinava-se para o primeiro, por ser novo e ser perito em liturgia (efetivamente, a liturgia é um dos grandes espelhos da vida da Igreja, digo eu).   

Entretanto, a 18 de abril, soube-se que D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, de 69 anos – que abordou as eleições no discurso de abertura da assembleia, falando em ato de “sinodalidade” – foi reconduzido como presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para o triénio 2023/2026, como informou o organismo, em comunicado enviado à Ecclesia.

A eleição decorreu durante a 206.ª Assembleia Plenária da CEP, em curso, no Santuário de Fátima, de 17 a 20 de abril. Os bispos reelegeram como vice-presidente D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, e como secretário o padre Manuel Barbosa.

Foi escolhido para vogal do Conselho Permanente um novo membro, D. António Moiteiro, bispo de Aveiro, mantendo-se, em funções na mesma estrutura D. Manuel Linda, bispo do Porto, D. Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora D. José Traquina, bispo de Santarém, e o cardeal D. Manuel Clemente, membro nato na qualidade de patriarca de Lisboa.

Foram também eleitos os presidentes das comissões episcopais e os delegados da CEP.

Assim, a Comissão Episcopal da Educação Cristã e da Doutrina da Fé é presidida por D. António Augusto Azevedo, bispo de Vila Real; a Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, por D. José Traquina, bispo de Santarém; a Comissão Episcopal do Laicado e Família, por D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga; a Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, por D. Vitorino Soares, bispo auxiliar do Porto; a Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, por D. Nuno Brás, bispo do Funchal; a Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, por D. José Cordeiro, arcebispo de Braga; e a Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, por D. Armando Domingues, bispo de Angra.

Por outro lado, D. Rui Valério, bispo das Forças Armadas e de Segurança, foi escolhido para Delegado para as Relações Bispos/Vida Consagrada; e D. Nuno Brás, bispo do Funchal, para Delegado para a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE).

Por inerência do cargo, são delegados da CEP nos seguintes organismos: D. Manuel Clemente, enquanto patriarca de Lisboa e magno chanceler da Universidade Católica Portuguesa (UCP), no seu Conselho Superior; e D. José Ornelas, enquanto presidente da CEP, no Pontifício Colégio Português e no Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

Ficou agendada, para o dia 20, no encerramento da Assembleia Plenária da CEP, às 11h00, a celebração da Eucaristia pelas vítimas de “abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”, na Basílica da Santíssima Trindade, por todo o Episcopado Português; e, às 15h00, uma conferência de imprensa, no Centro Pastoral Paulo VI.

A CEP, entidade representativa da Igreja Católica em Portugal, é definida, nos estatutos, como “o agrupamento dos bispos das dioceses de Portugal que, em comunhão com o Santo Padre e sob a sua autoridade, ‘exercem em conjunto certas funções pastorais em favor dos fiéis do seu território, a fim de promoverem o maior bem que a Igreja oferece aos homens, sobretudo por formas e métodos de apostolado convenientemente ajustados às circunstâncias do tempo e do lugar, nos termos do direito’”, como determina o Código de Direito Canónico (cân. 447).

Os novos estatutos da CEP foram aprovadas na Assembleia Plenária de 7 a 10 de novembro de 2022, tendo obtido o Decreto de ‘recognitio’ do Dicastério para os Bispos (Santa Sé) a 30 de março de 2023. E o documento precisa que cada Comissão Episcopal é “composta, normalmente, por três bispos, incluindo o presidente, e pode ter um secretário não bispo, com voto consultivo”, competindo ao presidente de cada comissão escolher os outros membros, sujeitando-os à confirmação da Assembleia Plenária da CEP.

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Os principais assuntos da agenda da 206.ª Assembleia Plenária da CEP eram: palavras de abertura, pelo presidente da Conferência Episcopal; eleições dos órgãos da CEP – presidência e Conselho Permanente, presidentes das Comissões Episcopais e Delegados da CEP (Vida Consagrada e COMECE); informações e propostas das Comissões Episcopais e Delegados da CEP; proteção de menores e adultos vulneráveis: seguimento do processo; Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023; Sínodo 2021-2024: delegados da CEP às Assembleias Gerais do Sínodo dos Bispos; nomeações várias; e o Relatório de Contas do Secretariado Geral do ano 2022.

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No discurso de abertura, D. José Ornelas, deu o tom do espírito dos trabalhos. Registam-se algumas das ideias mais relevantes da sua intervenção.

Em tempo de Páscoa, “tomamos consciência do mal e dos sofrimentos por ele causados, mas igualmente da esperança, dos esforços generosos e do dom criativo do Espírito do Senhor ressuscitado, que torna sempre possível encontrar caminhos novos”, disse. Evocou o testemunho de vida e o pensamento teológico do Papa Bento XVI. Saudou os 10 anos do ministério do Papa Francisco, iniciado a 13-03-2013, que “não tem deixado de desafiar a Igreja a tomar consciência das suas raízes no discipulado de Jesus de Nazaré e no dom da Sua morte e ressurreição, deixando-se renovar pelo seu Espírito e aprofundando os rumos propostos pelo Concílio Vaticano II”. E saudou o início do ministério de D. Armando Domingues como bispo de Angra, desejando-lhe a assistência do Espírito do Senhor e a participação ativa do povo de Deus no caminho sinodal que a Igreja está a percorrer em cada uma das suas células vivas. Acompanha com fraterna congratulação, a nomeação do cardeal D. António Marto como membro do Dicastério para as Causas dos Santos, a eleição de D. Nuno Brás como vice-Presidente da COMECE e a nomeação da reitora da UCP, Isabel Maria de Oliveira Capeloa Gil, como consultora do Dicastério para a Cultura e Educação para toda a Igreja.

Sobe o drama dos abusos de menores e adultos vulneráveis, no seio da Igreja em Portugal, porfiou que os bispos continuam apostados no caminho que a Igreja tem vindo a percorrer, para que os ambientes eclesiais sejam cada vez mais seguros e para que os crimes cometidos no passado possam ser reparados, quanto possível, e não voltem a acontecer.

Referiu que o relatório da Comissão Independente (CI) “permitiu aprofundar o conhecimento dramático desta realidade e as consequências devastadoras que tais crimes tiveram na vida de tantas crianças”, pelo que “nunca é demais renovar o pedido de perdão e o sentimento de profunda gratidão” para com todos os que deram “voz ao silêncio” e tiveram a coragem de denunciar o que nunca lhes deveria ter acontecido.

Prosseguindo as linhas de ação definidas na Assembleia Plenária extraordinária de 3 de março, os bispos vêm analisando e integrando as recomendações do estudo da CI, em articulação com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas (ECN). Por conseguinte, foram tomadas, pelas diferentes dioceses, medidas cautelares provisórias de afastamento de funções de pessoas mencionadas no estudo realizado, o que não significa qualquer atribuição de culpa, mas a que se segue processo de investigação, “a fim de apurar a realidade e eventual responsabilidade dos factos concretos”. E, para acolher e acompanhar de perto as vítimas de abusos ocorridos em ambientes da Igreja, encontra-se em fase de organização, em ordem à sua aprovação e entrada em vigor, um Grupo de Acompanhamento, que terá a autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas e para assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por estas sofridos, dispondo de uma linha de atendimento e de condições para o contacto e para o acompanhamento pessoal, em articulação com a Equipa de Coordenação Nacional e com as Comissões Diocesanas, de modo a garantir a sua operacionalidade, que implica, necessariamente, cada Diocese e a Igreja em Portugal no seu conjunto.

O caminho para a implementação de uma verdadeira cultura de proteção e cuidado dos mais frágeis, na Igreja e na sociedade, exige medidas concretas de proteção e de formação. Nesse âmbito, preveem-se, entre outras medidas, a formação de todas as pessoas – clérigos e leigos – responsáveis pelo acompanhamento de pessoas menores ou fragilizadas e a revisão dos programas de formação dos seminários. E julga-se importante a colaboração da Igreja com as instituições civis, nomeadamente as que desenvolvem a sua ação na proteção dos menores.

Os bispos continuam comprometidos com uma Igreja mais sinodal, num percurso que envolva todos os cristãos, nas paróquias e nas dioceses. A Igreja em Portugal participou na etapa continental europeia, de Praga, de 6 a 12 de fevereiro, assumindo-se como parte da Igreja na Europa, com um passado marcado pelas suas raízes cristãs e profundamente confrontada com os desafios da atualidade, em que se vislumbram elementos portadores de esperança.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ Lisboa 2023) está na fase final e determinante de preparação e afirmação. A importância do acontecimento, de proporções nunca atingidas no país, cedo agregou a adesão da Igreja, das autoridades e de entidades públicas e privadas. Há, ainda, muito trabalho a fazer e soluções a procurar e ajustar, mas é motivo de esperança verificar a crescente adesão dos jovens, tanto a nível internacional, como a nível da Igreja em Portugal e de muitas instituições oficiais e da sociedade civil.

Também a Assembleia Plenária terá em consideração questão cruciais que são objeto de grande preocupação, a nível nacional e internacional, nomeadamente a guerra causada pela invasão da Ucrânia. E os bispos, em comunhão com o Papa, acreditam que, “em cada tempo, a paz é possível” e juntam-se ao seu apelo, em atitude orante e solidária, para ajudar as vítimas dos conflitos e para inspirar mediações na comunidade internacional, nomeadamente junto das organizações empenhadas na convivência entre nações e na igualdade entre povos. Por outro lado, consideram que, também no nosso país, se sentem os efeitos da “crise que se adensa sobre a vida de uma grande parte de famílias e se reflete na dificuldade de acesso aos meios elementares de vida, como a alimentação, a habitação e a saúde”, além de aumentar a “tensão social”. São, pois, de louvar os esforços que vão ao encontro dos mais frágeis, quer do governo, quer de entidades públicas e privadas, entre as quais muitas paróquias e outras instituições da Igreja.

E, neste contexto de preocupação e de esperança, se reafirma a disponibilidade da Igreja, presente e solidária, ao lado de quem mais precisa, segundo o espírito da Páscoa. Seja!

2023.04.18 – Louro de Carvalho

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