sexta-feira, 28 de abril de 2023

Crescimento económico de Portugal ultrapassou as expectativas

 

O crescimento da nossa economia, no primeiro trimestre de 2023, superou a média da Zona Euro e a da União Europeia (UE), e foi um dos mais elevados entre os países da UE, para os quais já há dados disponíveis. São dados da autoridade estatística da UE (Eurostat) e do Instituto Nacional de Estatística (INE), nas respetivas estimativas rápidas, publicadas a 28 de abril.

A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) português foi a terceira maior, em termos homólogos, e a mais elevada, em cadeia, isto é, na comparação com o trimestre anterior.

O PIB português avançou 2,5% em termos homólogos, ou seja, por comparação com o mesmo período do ano passado, como indicam o Eurostat e o INE. É quase o dobro do crescimento homólogo de 1,3%, estimado tanto para a zona euro como para o conjunto da UE.

À frente de Portugal ficam apenas a Espanha (3,8%) e a Irlanda (2,6%).

A Alemanha, considerada a maior economia europeia, segundo o Eurostat, ficou no vermelho. Caiu 0,1% em termos homólogos, nos primeiros três meses de 2023, raiando a estagnação em dois trimestres consecutivos.

Numa análise em cadeia, o desempenho da economia portuguesa nos primeiros três meses deste ano, fica ainda mais bem colocado na UE. O PIB português avançou 1,6%, o que compara com 0,3%, no conjunto da UE, e apenas 0,1%, na Zona Euro.

No extremo oposto ficaram Irlanda e Áustria, com contrações de 2,7% e de 0,3%, respetivamente.

Comparativamente com os Estados Unidos da América (EUA), a economia da Zona Euro e a do conjunto da UE cresceram mais do que a daquele país norte-americano, no primeiro trimestre de 2023, em termos homólogos, segundo a dita estimativa rápida pelo Eurostat. Entre janeiro e março deste ano, o espaço da moeda única europeia cresceu 1,3%, em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a economia norte-americana se ficou por 1,1%, sofrendo, ao longo dos últimos seis meses, um abrandamento mais violento do que o da Zona Euro.

Porém, é a que China lidera o crescimento entre as grandes potências económicas que já publicaram as estimativas para o primeiro trimestre deste ano. A aceleração do crescimento económico chinês deve-se ao abandono da política da “Covid Zero” pelas autoridades de Pequim.

A UE cresceu ao mesmo ritmo que a Zona Euro. Não obstante, é de relevar que o crescimento na Zona Euro abrandou de 1,8%, no quarto trimestre de 2022, para 1,3% nos primeiros três meses de 2023, enquanto a desaceleração, nos EUA, foi ainda mais acentuada, com a taxa de crescimento a cair para menos de metade, de 2,6% para 1,1%, no mesmo período.

Entre as economias com melhor desempenho na Zona Euro, entre janeiro e março deste ano, contam-se, como já foi indicado, a Espanha (3,8%), Irlanda (2,6%) e Portugal (2,5%).

Na variação em cadeia, as estimativas apontam para a saída do risco de dinâmica de recessão. A variação em cadeia foi de 0,1% entre janeiro e março, para a Zona Euro, e de 0,3%, para a UE, no mesmo período. No trimestre anterior, a dinâmica registada na Zona Euro foi de estagnação (crescimento zero) e, na UE, foi mesmo recessiva (-0,1%). Para a saída do risco recessivo contribuiu a Alemanha, cuja economia registou um crescimento mínimo, em cadeia, de 0,05%, no primeiro trimestre de 2023, depois da recessão de 0,5%, entre outubro e dezembro de 2022.

A economia germânica escapou ao que os economistas designam por recessão técnica, a queda em cadeia do PIB em dois trimestres consecutivos, mas, praticamente, estagnou entre janeiro e março.

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Os números relativos a Portugal excedem as expectativas de alguns economistas da praça, expressas na semana anterior, que apontavam, em média, para o crescimento de 1,5%, em termos homólogos, e de 0,6%, em cadeia.

O INE remete a explicação das razões destes números para o final de maio. Não obstante, antecipa já as grandes linhas sobre a evolução da economia portuguesa nos primeiros três meses.

O contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB manteve-se positivo no primeiro trimestre, mas inferior ao observado no precedente, em resultado “da desaceleração do consumo privado e da redução do investimento, determinada por um contributo negativo da variação de existências”. E, na frente externa, verificou-se “uma aceleração das exportações de bens e de serviços e um abrandamento das importações de bens e de serviços”, aponta o INE, referindo que, em consequência, o contributo positivo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB “foi superior ao do trimestre anterior”.

O INE salienta que, no primeiro trimestre, se observou “um abrandamento significativo do deflator das importações em termos homólogos, mais intenso que o do deflator das exportações, traduzindo-se em ganhos dos termos de troca” – uma evolução positiva “que não acontecia desde o primeiro trimestre de 2021”.

Na prática, isto significa que se verificou um abrandamento dos preços das importações mais forte do que o abrandamento do preço das exportações. Uma evolução indissociável da baixa de preço dos produtos energéticos.

Já o crescimento em cadeia de 1,6%, nos primeiros três meses de 2023, reflete “o contributo positivo expressivo da procura externa líquida (que tinha sido negativo no quarto trimestre de 2022), em larga medida resultante do dinamismo das exportações”, revela o INE. Em sentido oposto, “o contributo da procura interna passou a negativo”.

As exportações portuguesas de bens aumentaram 13,3% e as importações subiram 8,7%, no primeiro trimestre deste ano, face ao mesmo período de 2022, abrandando pelo terceiro trimestre consecutivo. “No primeiro trimestre de 2023, de acordo com a estimativa rápida do Comércio Internacional de bens, as exportações aumentaram 13,3% e as importações cresceram 8,7%, em relação ao mesmo período de 2022, registando-se, pelo terceiro trimestre consecutivo, um abrandamento do crescimento das transações de bens”, refere o INE, lembrando que, no quarto trimestre de 2022, as exportações e as importações aumentaram16,0% e 17,8%, respetivamente.

Esta estimativa rápida é incorporada no cálculo da estimativa rápida das Contas Nacionais Trimestrais do INE e será atualizada no próximo destaque mensal das estatísticas do Comércio Internacional.

Por sua vez, a inflação em Portugal voltou a recuar em abril, para os 5,7%. Este valor compara com 7,4% em março, traduzindo o sexto mês consecutivo de descida da inflação no país.

Recorde-se que este mês de abril fica marcado pela entrada em vigor, em meados do mês, do IVA zero (a suspensão temporária do imposto sobre o valor acrescentado), em 44 produtos alimentares. Contudo, o INE alerta que “os eventuais efeitos desta medida só terão efetivamente impacto no Índice de Preços no Consumidor (IPC) em maio”. Isto, porque “a grande maioria dos preços considerados no apuramento do IPC de abril foram recolhidos antes da entrada em vigor da isenção de IVA num conjunto de bens alimentares essenciais”, adverte o INE.

Assim, esta desaceleração é, segundo a autoridade estatística nacional, “em parte, explicada pelo efeito de base resultante do aumento de preços da eletricidade, do gás e dos produtos alimentares verificado em abril de 2022”. Com efeito, os preços dos produtos energéticos caíram 12,7%, em abril, em termos homólogos, intensificando a queda de 4,4%, registada em março.

Já os preços dos produtos alimentares não transformados continuaram a subir, mas desaceleraram, com a variação homóloga de 14,1%, em abril, o que compara com o aumento de 19,3%, em março.

Além disso, o indicador de inflação subjacente (que exclui os produtos alimentares não transformados e energéticos, que têm preços mais voláteis) terá registado uma variação homóloga de 6,6%, segundo a estimativa do INE. Este valor compara com 7%, em março, e traduz o segundo mês consecutivo de redução deste indicador em Portugal.

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Tem alguma razão – mas sem embandeirar em arco – o ministro das Finanças, Fernando Medina, ao reagir aos dados do INE. Em declarações aos jornalistas portugueses, em Estocolmo (Suécia), no final da reunião informal do Eurogrupo, o governante vincou: “Este é um crescimento acima do esperado pela generalidade dos observadores e um crescimento que assenta, sobretudo, no crescimento das exportações.” E prosseguiu: “Este é um crescimento que demonstrou a capacidade de compensar o abrandamento da procura interna por um crescimento robusto das exportações e, por isso, [são] bons resultados na frente da economia acima do que tínhamos esperado.”

Por fim, salientou que este foi “o maior crescimento da zona Euro”, na variação em cadeia.

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Contudo, a situação da Europa e do Mundo é incerta e o bem-estar da grande maioria da população – os pobres, os pequenos assalariados, os beneficiários de pensões baixíssimas e a classe média baixa – mantém-se em lista de espera.

2023.04.28 – Louro de Carvalho

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