sexta-feira, 7 de abril de 2023

Criada a Agência Portuguesa para as Minorias, Migrações e Asilo

 

De acordo com o respetivo comunicado, o Conselho de Ministros aprovou, a 6 de abril, a criação da Agência Portuguesa para as Minorias, Migrações e Asilo (APMMA), agência que sucede ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM) em matéria de acolhimento e integração.

Segundo o comunicado, a APMMA, ao integrar competências que transitam do ACM, inicia uma mudança de paradigma na gestão das migrações e asilo. Enquanto país de acolhimento, Portugal passa a ter a APMMA a “garantir que a proteção internacional – asilo e proteção subsidiária –, proteção temporária, integração e acolhimento ficam a ser geridas apenas por uma entidade”, permitindo esta fusão “uma resposta adequada aos desafios, como o combate ao tráfico de seres humanos e a exploração laboral, e às oportunidades, como a integração no mercado de trabalho, o reagrupamento familiar e a aprendizagem da língua portuguesa”.

Assim, “em situações de pressão migratória ou de crise humanitária, Portugal estará preparado para responder, de forma mais coordenada e imediata, a estes desafios, salvaguardando os direitos fundamentais dos migrantes e refugiados”, precisa o comunicado.

Também foi aprovado o decreto-lei que estabelece o regime de transição de trabalhadores do SEF, na sequência do processo de fusão, para “salvaguardar os direitos dos trabalhadores do SEF, acautelando as transições de carreiras e reposicionamentos remuneratórios”.

Foi, ainda, aprovada a proposta de lei, a submeter à Assembleia da República (AR), que procede à transposição da Diretiva (UE) 2021/1883, relativa às condições de entrada e de residência de nacionais de países terceiros para efeitos de emprego altamente qualificado, definindo assim as condições para obtenção e manutenção do «cartão azul UE».

Quer dizer que, só agora, depois de dois adiamentos, se dá execução à Lei n.º 73/2021, de 12 de novembro, que aprova a reestruturação do Sistema Português de Controlo de Fronteiras, alterada pela Lei n.º 89/2021, de 16 de dezembro, e pela Lei n.º 11/2022, de 6 de maio. Com efeito, nos termos da redação que lhe foi dada por esta última, “a presente lei produz efeitos na data de entrada em vigor do decreto-lei a que se refere a alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º” (ver artigo 14.º-A), ou seja, o diploma da criação da Agência Portuguesa para as Migrações e Asilo (APMA), “serviço de natureza administrativa com atribuições específicas”.

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Entretanto, a 5 de março, o Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, visitaram o aeroporto de Lisboa, onde fizeram o balanço dos protocolos de cooperação no âmbito do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que já tinha o fim definido, embora com o atraso decorrente da pandemia de covid-19 e, creio eu, da complexidade da operação, que suscitou resistências. Porém, com o estabelecimento de protocolos de cooperação, a parte policial da reestruturação já estava a funcionar, faltando a parte respeitante à APMMA, que passa ter a competência relativa às minorias.  

José Caçador, diretor de Fronteiras de Lisboa, assegurava que já colaboravam noutras funções, “a novidade é que a [Polícia de Segurança Pública] (PSP) não estava tão virada para o controlo das fronteiras”. E relevou: “Desde sempre que SEF e polícia partilham operações nos aeroportos, até porque a falta de recursos humanos obrigou, em certos momentos, à solicitação do apoio da PSP. “Corre muito bem e dentro da expectativa. Peca, porque já devia ser há mais tempo, tendo em conta que é mesmo para avançar com o fim do SEF e já devia estar a ser mais gente formada, a ocupar as posições, para nós sairmos mais lentamente da função.”

Naquela altura, a PSP ainda só operava no aeroporto na chamada “primeira linha”: o controlo de documentos e entradas. Na segunda linha (entrevistas a quem é referenciado na fronteira e impedido de entrar imediatamente) e na terceira (os inspetores à paisana) a integração ainda não estava feita. “Tem de se começar a fazer, demora tempo a formar estes elementos”, dizia José Caçador. “Somos gestores locais e não tomamos a decisão de quando se começa cada etapa”, acrescentou, referindo que não sabe quando vai acontecer.

A reestruturação do serviço prevê que os inspetores sejam todos integrados na Polícia Judiciária (PJ), sendo alocados, depois, também à PSP e à GNR. O Governo assegurava que, até ao final de março, isso aconteceria e que uma das peças fundamentais para tal aconteça era a constituição da Agência Portuguesa para as Migrações e Asilo (APMA), onde devem ser integrados todos os funcionários do SEF não inspetores. Até lá, o Ministério da Administração Interna (MAI) vinha promovendo a formação de agentes e militares para que possam assumir as funções que até então estavam sob a alçada do SEF. A PSP assumirá o controlo das fronteiras nos aeroportos, enquanto a GNR assumira o dos limites marítimos no território nacional.

No atinente ao controlo da fronteira marítima, Jorge Tacão, inspetor do SEF nesta fronteira, garantia que estava tudo a correr bem e “quanto mais se trabalhar mais se aprende”, sendo que SEF e GNR trabalham em duplas para facilitar a integração.

No entanto, o inspetor (como outros) manifestava os seus receios. Com efeito, “as condições de trabalho e as remuneratórias são importantes”, mas, enquanto não souber em concreto o que vai fazer, teme um pouco pelo futuro. É certo que já via as coisas a comporem-se, mas “gostaria que a solução ou, pelo menos, a informação chegasse rapidamente e em força”.

Por seu turno, Manuela Santos, diretora da Unidade Nacional Contraterrorismo da PJ, onde foram criadas as equipas mistas, reconhece que o processo “tem sido longo”, mas pensa que já conseguiram “concretizar mais ações”. Também aponta que a colaboração com a PJ não é nova, pois ambas as forças têm a competência de investigação, com o SEF mais “vocacionado para áreas específicas”.

A queixa maior continua a ser o tempo. “Penso que não cometo nenhuma inconfidência ao dizer isto”, vincava o inspetor Paulo Pimenta, que relatava uma série de saídas ou candidaturas a outros empregos por parte de alguns colegas. “Não é viável esta incerteza. Se não houver decisões, o SEF extingue-se e naturalmente que as pessoas procuram outros caminhos.”

Há pouco mais de uma semana antes daquele dia 5 de março, os ministros da Administração Interna e da Justiça, duas das três pastas envolvidas no processo de reestruturação do SEF, tinham participado num encontro com responsáveis de todas as forças de segurança. O balanço da liderança é positivo. Os que assumem as funções não são tão taxativos. Dizem que tudo está a correr bem e que há boa vontade, mas que “ainda é preciso pedalar muito”. Na verdade, o SEF tem anos de experiência em funções específicas, o que não se ganha só com as ações de formação, mas no terreno, implicando tempo.

As fronteiras são reforçadas diariamente por 66 agentes e militares, que se juntam aos 43 inspetores do SEF. A GNR, que já controlava a fronteira terrestre, passa a estar também nos postos de fronteira marítima, com 37 elementos, todos os dias; e a PSP tem 29 pessoas empenhadas nos aeroportos. No ano passado, foram controlados 1,7 milhões de voos em todos os aeroportos nacionais, tendo o de Lisboa sido o ponto de partida ou de chegada de quase 70% das pessoas. Já foram constituídas três equipas mistas com inspetores da PJ e do SEF para ações de cumprimento de mandados judiciais em Lisboa e no Porto. E o 31 de março continuava a ser data apontada para o fim do SEF, com o ministro da Administração Interna a admitir que o cumprimento do prazo, que já foi adiado duas vezes, é um “objetivo político”.

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A 13 de março, em declarações aos jornalistas, à margem da partida de uma missão da Guarda GNR para Itália para apoiar as autoridades italianas no controlo das fronteiras europeias, o ministro da Administração Interna disse que o processo de reestruturação do SEF estava a decorrer e que estavam a ser cumpridos os prazos, prevendo-se que a reestruturação estaria concluída entre o final de março e os primeiros dias de abril, já com a presença de polícias nos aeroportos. Frisou, no entanto, que poderia haver “um ligeiro atraso de meia dúzia de dias” por causa de medidas atinentes ao processo legislativo. “Há aqui várias áreas que têm que se coordenar, (...) mas fundamentalmente o que estamos a dizer é que os objetivos que tínhamos de podermos estabelecer um quadro legislativo nas próximas semanas ficará concluído”, adiantou.

Sobre a alegada falta de polícias nos aeroportos nacionais, o ministro contrapôs que há hoje mais polícias do que em 2019 e que esse “é um dado objetivo”. E relevou que, em 2022, entraram cerca de 2000 efetivos para a PSP e para a GNR.

Acrescentou que nos aeroportos há, atualmente, cerca de duas centenas de polícias, “que estarão disponíveis nos termos em que seja necessário”, e salientou que, graças ao apoio da polícia e dos funcionários do SEF, foi possível reduzir os tempos de espera de 1h50m para 47 minutos.

Porém, a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) alegava que a falta de polícias nas esquadras da PSP dos aeroportos de Lisboa e do Porto se devia ao seu desvio para o SEF, situação que estava “a comprometer o serviço”.

E o governante lembrou que o Governo definiu dois “compromissos muito claros” para 2023, entre o reforço das equipas de intervenção permanente e do dispositivo especial de combate aos incêndios rurais.

Refira-se que missão da GNR que partiu para Itália, a bordo da lancha de patrulhamento costeiro Bojador, se inscreve no âmbito da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (FRONTEX), para apoiar o controlo dos fluxos de migração ilegal e de criminalidade organizada transfronteiriça. E José Luís Carneiro disse tratar-se de “uma missão de grande importância”, por se inserir na transformação da gestão integrada das fronteiras europeias, havendo cerca de 250 elementos das forças portuguesas integrados em missões internacionais.

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A transição em bloco dos inspetores do SEF para a PJ vai, na prática, ficar ainda suspensa. O diretor nacional da PJ, Luís Neves, que tinha considerado a medida como “vantagem para a investigação criminal, para a materialização da justiça e para o país”, terá de esperar.

A esmagadora maioria destes profissionais da Carreira de Investigação e Fiscalização (CIF) será distribuída por outras seis entidades (com a PJ são sete): cerca de 400 vão ficar ainda no controlo de fronteiras dos aeroportos e portos com a GNR e a PSP, afetados durante um ano prorrogável até dois; perto da centena ficará na nova Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros do Sistema de Segurança Interna (SSI), que irá gerir as bases de dados do SEF e coordenar a partilha de informação; e os restantes podem ser colocados no Instituto de Registos e Notariado (IRN), na APMMA, criada a 6 de abril, e ainda, a maior surpresa, na Autoridade Tributária (AT). Este último destino terá sido outra solução encontrada principalmente para os inspetores coordenadores superiores (no topo da carreira) do SEF, mais perto da idade da reforma, cujo enquadramento na PJ seria complicado por serem em número superior aos da PJ.

Será aplicado ao Conselho Diretivo da APMA – presidente e dois vogais – o estatuto de gestor público (EGP), cujos vencimentos podem ser superiores 25 a 56% dos salários dos chefes máximos das polícias, se tabelados pelos níveis máximos, a que acrescem os prémios previstos no EGP e um abono mensal para despesas de representação até 40% do vencimento.

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Qualquer cidadão gostaria de estar no auge do furacão de uma reestruturação com o bem remunerado e premiado estatuto de gestor público, a que se somam 40% do vencimento!

2023.04.07 – Louro de Carvalho

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