domingo, 9 de abril de 2023

A atual situação da localização e do modelo do novo aeroporto

 

A 29 de junho de 2022, era dado público conhecimento de o Governo já tinha uma decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa (NAL). Anularia o concurso de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) ganho pelo consórcio internacional composto pela empresa portuguesa de engenharia COBA e pela Ingeniería Y Economía Del Transporte – INECO (empresa participada pelo Estado espanhol), para lançar um novo com nova agenda: avançar para a construção imediata do aeroporto complementar do Montijo, com uma pista apenas, e para o início dos trabalhos de um novo aeroporto em Alcochete, que viria a substituir o Aeroporto Humberto Delgado, em 2035.

Pedro Nuno Santos, então ministro das Infraestruturas, admitiu “dúvidas” e “inquietações” pelo facto de ser uma empresa controlada pelo Estado espanhol. O júri do concurso não viu problemas, mas o problema político era considerado inultrapassável.

Por outro lado, a referida AAE serviria para avaliar três possibilidades alternativas: Humberto Delgado como principal infraestrutura e Montijo como complementar; Montijo com o estatuto progressivo de aeroporto principal; e Alcochete. Mas o Governo, convencido da impossibilidade de o Montijo ter mais do que uma pista por razões ambientais, queria acelerar o processo para ultrapassar os constrangimentos do atual aeroporto para suportar o aumento de turistas.

Segundo fonte do Ministério das Infraestruturas, o calendário do Governo, do Partido Socialista (PS), previa que os primeiros aviões estariam a aterrar no Montijo dentro de quatro anos. Mas, primeiro, avançaria a AAE a fazer pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), o que dispensava novo concurso, durante um ano. Seguiam-se três anos de obras. A Declaração de Impacto Ambiental (DIA) existente seria aproveitada, ainda que a ANA, a concessionária dos aeroportos, tivesse de voltar a submeter o projeto à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Numa primeira fase, o Montijo, destinado sobretudo às companhias low cost, teria capacidade para cinco milhões de passageiros por ano, podendo chegar aos 10 milhões. Para garantir que as autarquias afetadas não pudessem vetar a construção da infraestrutura, como aconteceu em março de 2021, seria reapresentado o projeto de Lei que dispensa a consulta aos municípios envolvidos, o que aconteceu efetivamente, com a aprovação da maioria parlamentar.

Além do Montijo, o Governo pediria ao LNEC também uma AAE de Alcochete, com o objetivo de ter o aeroporto operacional em 2035, altura em que a capacidade do atual aeroporto de Lisboa em conjunto com o Montijo estaria esgotada. A nova infraestrutura, que iria substituir o Humberto Delgado (e, previsivelmente, também o Montijo), teria duas pistas e capacidade para 60 milhões de passageiros (cerca do dobro da Portela). Teria de ser realizado um novo estudo de impacto ambiental (EIA). Quando a obra estivesse pronta, o aeroporto da capital seria desmantelado.

O Governo avançava sozinho, sem consenso com o Partido Social Democrata (PSD), depois das declarações de Luís Montenegro e de Joaquim Miranda Sarmento a acusarem António Costa de incompetência na gestão do dossiê do novo aeroporto.

Este plano foi objeto de despacho, publicado em Diário da República, do então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes. Porém, mal teve conhecimento do despacho, o primeiro-ministro, alegando desconhecimento prévio (“apanhado de surpresa” na cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte – NATO), ordenou a sua revogação. “Compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da ação governativa. O primeiro-ministro procederá, assim que seja possível, à audição do líder do PSD, que iniciará funções este fim de semana, para definir o procedimento adequado a uma decisão nacional, política, técnica, ambiental e economicamente sustentada”, sublinhava o gabinete de António Costa em nota.

Pelos vistos, também nem o Presidente da República, nem os ministros sabiam da decisão.

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Após conversações entre o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição, o Governo, ouvido o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), avançou com a constituição de uma Comissão Técnica Independente (CTI), liderada por Rosário Partidário, para estudar as opções e as possíveis localizações do novo aeroporto de Lisboa (NAL), a qual deverá proceder à receção de sugestões dos candidatos localização, crivá-las e submetê-las à Comissão de Acompanhamento, presidida por Carlos Mineiro Aires.   

A CTI tem até 31 de Dezembro de 2023 para apresentar ao Governo um relatório que permita uma decisão política.

Começaram por estar cima da mesa cinco opções: Portela mais Montijo; Montijo mais Portela; Alcochete; Portela mais Santarém; e Santarém sozinho. Santarém garantia que o investimento era inteiramente privado e compensado pelas taxas aeroportuárias.

Entretanto, a 9 de fevereiro deste ano, foi publicada uma recomendação da Assembleia da República (AR) ao Governo, visando o aproveitamento do Aeroporto de Beja “nas suas diversas dimensões e potencialidades”, para promover a “fixação” de população e de indústria neste distrito alentejano. Tal recomendação partiu de um projeto de resolução do Partido Comunista Português (PCP), apresentado ao plenário pela Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, aprovado, a 26 de janeiro, com os votos favoráveis das bancadas do PS, do Chega, da Iniciativa Liberal, do PCP e do Bloco de Esquerda, tendo optado pela abstenção o PSD e os deputados únicos do Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e do Livre.

Entre as recomendações da AR surge a criação de uma “intermodalidade de serviços e transportes, conjugando as valências rodoviária, ferroviária e aérea”. De facto, a infraestrutura aeroportuária implica a ligação por autoestrada e a ferroviária, incluindo transporte de alta velocidade (TGV).

Efetivamente, a 28 de janeiro, fora anunciado que Beja e Alverca entraram na lista de possíveis localizações para o NAL, depois de propostas recebidas pela CTI, que as analisaria. Na verdade, foi apresentada, em Lisboa, a plataforma cidadã Sim ao Aeroporto Internacional de Beja, que defende a infraestrutura alentejana como “solução sustentável” para o país e como “complemento do Aeroporto de Lisboa”.

A 18 de março, como previsto, ficou encerrada a fase de audição dos candidatos à sugestão de opção e de localização do novo aeroporto, que pode não ser de Lisboa.

Está, pois, terminada a fase de audição pela CTI dos responsáveis pelas cinco localizações para o futuro aeroporto: Alcochete, Alverca, Beja, Montijo e Santarém, como avançou Carlos Mineiro Aires, presidente da comissão de acompanhamento dos trabalhos da CTI.

Todas as apresentações dos projetos e planos foram feitos pessoalmente à CTI. O projeto da localização do Campo de Tiro de Alcochete foi apresentado por António Lemonde Macedo; o do Montijo ficou a cargo dos técnicos da ANA e de José Luís Arnaut; o de Alverca foi representado por José Furtado, Segadães Tavares e, entre outros, por Carmona Rodrigues; o de Beja foi defendido por Carlos Gaivoto; e o de Santarém, pelo promotor Carlos Brazão e, entre outros, pelo presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves.

Mineiro Aires esclareceu que a CTI tem estado aberta a ouvir todas as câmaras que podem ser afetadas pela construção de novos aeroportos, bem como as associações ambientalistas. Em breve, como adiantou, será feita apresentação pública do ponto da situação desta primeira etapa.

A segunda fase, que arrancará em breve, será para “peneirar” as propostas já apresentadas. Ou seja, a CTI fará uma espécie de hierarquização das propostas.

São cinco localizações, mas sete hipóteses em análise: Portela principal + Montijo secundário; Montijo + Portela secundário; Alcochete; Portela + Santarém, Santarém, Beja e Alverca. Este é um dos nós que a CTI tem de desatar, já que, até ao final do ano, será preciso decidir se será a solução dual (um aeroporto principal e um secundário) ou a monista (um aeroporto internacional). Mineiro Aires prevê que os prazos serão cumpridos.

Entretanto, a 8 de abril, ficou a saber-se que, além das cinco opções propostas pelo Governo, a CTI tem luz verde para alargar o leque de localizações em estudo. Assim, depois de terem incluído Alverca e Beja, os peritos equacionam também Monte Real e avançam com a combinação de Alcochete com Portela, segundo referiu a presidente da comissão ao jornal Público.

Assim, a CTI, que está a estudar a localização do novo aeroporto de Lisboa, que pode não ser aeroporto de Lisboa, tem já nove hipóteses em cima da mesa. Além das cinco opções estabelecidas pelo Governo à cabeça (Portela mais Montijo, Montijo mais Portela, Alcochete, Portela mais Santarém, e Santarém), entraram as opções Alverca e Beja, estando agora em jogo também duas outras soluções: Monte Real e a combinação Alcochete mais Portela.

Segundo declarações de Rosária Partidário ao Público, a “solução Monte Real” foi acolhida pela comissão depois de a câmara municipal de Leiria ter apresentado a proposta, e a hipótese Alcochete+Portela foi acrescentada pela própria comissão, que tem luz verde do Governo para o fazer até ao dia 27 de abril, altura em que a lista final de hipóteses será apresentada. “A solução Portela como aeroporto principal, com o Campo de Tiro de Alcochete como complementar é a única colocada por nós, por uma questão de coerência”, disse a presidente da CTI ao jornal. A hipótese Ota, segundo o Público, não foi proposta por ninguém.

Da lista final terão de constar, obrigatoriamente, as cinco hipóteses apresentadas pelo Governo quando, em novembro de 2022, após acordo com o PSD. de Luís Montenegro, mandatou a CTI para dar seguimento ao processo. Além das várias combinações possíveis entre Portela, Montijo e Alcochete, também a hipótese de Santarém entrou no leque ‘obrigatório’, a pedido do PSD. Agora, juntam-se Alverca, Beja e Monte Real. E caíram, em definitivo Ota e Rio Frio.

Criada no final do ano passado e instalada no LNEC, em Lisboa, a CTI, presidida pela professora Rosário Partidário, conta com uma equipa de seis coordenadores técnicos, entre os quais a professora universitária Rosário Macário, especialista em Planeamento e Operação de Sistemas de Transportes, que ficou responsável pela coordenação da área de planificação aeroportuária.

Depois de fechada a lista de possíveis localizações, a CTI terá de levar as hipóteses à Comissão de Acompanhamento, liderada pelo engenheiro Carlos Mineiro Aires.

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Anda o país a discutir a localização do Novo Aeroporto de Lisboa desde 1969 (mais de meio século: 54 anos), que até pode nem ser aeroporto de Lisboa; cada um puxa a brasa para a sua sardinha; outros atiram com o aeroporto para bem longe, independentemente do sítio onde pensem localizá-lo; e gastaram-se já 650 milhões de euros em estudos, sendo que alguns, como a AAE de Alcochete caducaram (Inexplicável!). Outros países, ao longo destes quase onze lustros, já teriam construído 11 aeroportos.

Enfim, Oliveira Salazar mandava que cada um estudasse e, depois, agisse em conformidade. Porém, os atuais líderes estudam, mandam estudar, mas agir fica para as calendas gregas. Ou, então, os estudos são contemplativos: não geram ideias-força. Decidam e operem!

2023.04.09 – Louro de Carvalho

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