segunda-feira, 2 de maio de 2022

Como Simão Pedro, lançar-se em direção a Jesus

 

O Papa Francisco, antes da oração do “Regina Coeli”, comentou o trecho evangélico da liturgia do III domingo da Páscoa (Jo 21,1-19) que narra a terceira aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos nas margens do mar da Galileia e envolve sobretudo Simão Pedro. É uma cena de pesca semelhante àquela em que, há três anos, Simão e outros pescadores foram atraídos do mundo da pesca de peixes para o da pesca de homens e no mesmo cenário da Galileia, mas agora com outro sentido, o que lhe dá a ressurreição.

Tudo começa com a decisão petrina “vou pescar”, normal no pescador, mas excecional em quem deixara as redes. Agora, enquanto o Ressuscitado os faz esperar, Pedro, quiçá desmoralizado, propõe o regresso à vida anterior. E os outros seguem-no: “Nós também vamos contigo”. Mas “naquela noite nada apanharam”.

Isto também acontece connosco quando, por cansaço, deceção ou preguiça, nos esqueçamos do Senhor e descuramos as escolhas que fizemos. Não conversamos em família e preferimos hobbies pessoais; esquecemos a oração e cedemos às nossas necessidades; negligenciamos a oração e a caridade, com a desculpa da pressa e das ocupações que nos tomam todo o tempo.  Esquecemos que há um tempo para tudo…

No caso de Pedro, Jesus volta de novo à margem do lago onde o chamara, como sucedera a André, Tiago e João, os quatro que ali escolhera. Não repreende, mas toca o coração, chama com ternura os discípulos: “Filhinhos(“paidía”). E exorta-os, como no passado, a lançar as redes. E mais uma vez as redes ficam cheias ao ponto da implausibilidade. Há aqui um recomeço com novo dinamismo. E o Papa sugere três verbos: começar, recomeçar, zarpar de novo – face à deceção ou a uma vida que perdeu um pouco o sentido.

Pedro precisava agora do choque vocacional. Quando ouve João gritar: “É o Senhor!”, pula na água e nada até Jesus estava. É um gesto de amor, porque o amor vai além do útil, do conveniente, do devido, gera admiração e inspira impulsos criativos. E, enquanto João, o mais novo, reconhece, na clarividência amorosa, o Senhor, Pedro, o mais velho, pula na água para O encontrar. Pedro recuperou todo o seu ímpeto do seguimento do Senhor.

No final o episódio, Jesus dirige a Pedro, por três vezes, a pergunta: “Tu amas-me?”, uma pergunta que, segundo o Papa, que vale para nós, porque, na Páscoa, Jesus quer que o nosso coração ressuscite e porque a fé não é questão de saber, mas de amar. É a pergunta que o Senhor lança a cada um que tem as redes vazias e medo de recomeçar, que não tem a coragem de se lançar e perdeu o entusiasmo. Desde então, Pedro parou de pescar para sempre e dedicou-se ao serviço de Deus e dos irmãos, até ao ponto de dar a sua vida em Roma, no Vaticano. E o Pontífice lança a questão se nós também queremos amar Jesus como Pedro.

Por tudo isto, a palavra de hoje é lançar-se na direção de Jesus. Diz o Papa que, se as nossas redes estão vazias na vida, não é o momento da comiseração, do ócio, da volta a velhos passatempos, mas é “o momento de recomeçar com Jesus, de encontrar a coragem de reiniciar, de retomar o largo com Ele”, pois “Ele está à espera” de cada um de nós. E, como sucedeu com aqueles discípulos, se nos manda lançar as redes e nós obedecemos, o resultado será grandioso.  

O Pontífice, observando que Pedro, ao reconhecer o Mestre, se lançou nas águas na sua direção, recomenda-nos e encoraja-nos esta mesma atitude: lançar-nos no bem sem medo de perder algo, sem calcular, sem esperar que os outros comecem. Para ir ao encontro de Jesus, é preciso decidir-se. É uma atitude ditada pela fé na pessoa de Jesus que tivemos o ensejo de professar e de reiterar e do amor que prometemos aos Senhor.

***

Após a recitação do “Regina Coeli” e tendo em conta que se inicia o mês dedicado à Virgem Maria, a Santa Mãe de Deus, Francisco fez um pedido a todos os fiéis e a todas as comunidades no sentido de rezarem o Terço todos os dias de maio pela paz. E, dirigindo o pensamento para a cidade ucraniana de Mariupol, “cidade de Maria”, tão barbaramente bombardeada e destruída, solicitou novamente a criação de corredores humanitários para as pessoas refugiadas na área siderúrgica da cidade. “Sofro e choro”, disse o Papa, “pensando nos sofrimentos da população ucraniana e, em especial, nos mais frágeis, nos idosos e nas crianças”. E mencionou as notícias terríveis de crianças expulsas e deportadas.

Neste contexto de “macabro retrocesso de humanidade”, o Papa interroga-se, juntamente com tantas pessoas angustiadas, se realmente se está em busca da paz, se há vontade de evitar uma contínua escalada militar e verbal, se, de facto, se está a fazer todo o possível para que se calem as armas. E, convidando os fiéis a um momento silencioso de oração, exortou:

Eu vos peço, não nos rendamos à lógica da violência, à perversa espiral das armas. Empreenda-se o caminho do diálogo e da paz. Vamos rezar.”.

E, considerando que este, o primeiro dia de maio, é o feriado do trabalho, o Dia do Trabalhador, que a Igreja colocou sob a égide de São José operário, o Papa formulou o voto por que o dia seja um estímulo para renovar o compromisso de que o trabalho seja digno em todos os lugares e para todos. E declarou que “a vontade de fazer crescer uma economia pacífica vem do mundo do trabalho”. Além disso, evidenciou o facto de tantos serem os trabalhadores que morreram em acidentes de trabalho: “uma tragédia generalizada, talvez demasiado generalizada”.

E, lembrando que, a 3 de maio, se assinala o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, promovido pela UNESCO, prestou homenagem aos jornalistas que prestam pessoalmente o seu serviço a este direito, sublinhou que, o ano passado, em todo o mundo, foram mortos 47 jornalistas e mais de 350 foram presos e deixou agradecimentos especiais “àqueles que corajosamente nos falam sobre as chagas da humanidade”.

Violência contra os povos, violência no trabalho, violência contra os jornalistas! Onde está o zeloso cumprimento de imbuir do espírito evangélico as realidades humanas, ónus que impende sobre os leigos cristãos sob orientação e apoio da hierarquia? Que é feito do fermento evangélico?

Por fim, é de relevar o pensamento especial que dirigiu à Associação ‘Metro’, que há muitos anos luta contra a violência e abuso de menores, sempre do lado dos mais pequenos. 

2022.05.01 – Louro de Carvalho

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