Disseminadas
por todo o país, aliás como em todos os países desenvolvidos, as bibliotecas dispõem,
dum conjunto bibliográfico de variadas dimensões, consoante as possibilidades da
entidade proprietária e a mobilização dos benfeitores que esta logrou obter,
bem como duma panóplia, mais ou menos rica, dos coevos meios de ocupação dos
frequentadores das bibliotecas, nomeadamente, microfilmes, volumes
digitalizados, arquivos digitais, computadores com ligação à internet,
videogramas, etc. Isto, além do serviço itinerante para lugares mais periféricos.
Na
otimização do serviço da biblioteca, ganha relevo o bibliotecário, enquanto
profissional de informação que facilita o uso do material da biblioteca. Assim,
por exemplo, o professor-bibliotecário e os seus colaboradores, conhecedores do
acervo que a biblioteca escolar contém, poderão dar suporte ao professor ao
orientarem o aluno nas ações de pesquisa bibliográfica escolar. Tal inteiração
com o âmbito escolar e o mundo do trabalho abrirá o leque de caminhos e de
escolhas de trabalho em setores diferentes ligados à informação. Para refinar
esse perfil de pesquisador, é louvável que o pesquisador avance, sem medo do
novo, mas com segurança nas metas e peculiaridades, e que desenvolva múltiplas
habilidades recheadas de competências.
Pormenor
importante a levar em conta, em bibliotecas escolares e universitárias, é o
estudo dos utilizadores. Assim, é preciso saber qual e que tipo de público-alvo
será contemplado num presente que reserva o grande desafio da internet e das
novas tecnologias. Em tempos idos, as mudanças ocorriam em intervalos longos,
mas, com o advento da informática, as mudanças surgem com enorme velocidade, afetando
a sociedade, provocando diferentes reações, tanto positivas como negativas,
modificando desde o comportamento social até ao comportamento profissional e
atingindo a segurança, o controlo e as perspetivas dos indivíduos.
Entretanto,
a biblioteconomia oferece rumos que atendem a estas necessidades, capacitando os
profissionais para escolhas certeiras e seguras. Segundo Müeller, “o
profissional que devemos ser é vivo e atuante”, através do “aprimoramento contínuo
e afinado com a realidade”. E deve o bibliotecário atualizar-se e aprimorar os seus
conhecimentos. Para tanto, são de observar estes seis itens: a realidade, a
identidade, o foco, os processos, os recursos e as perspetivas.
Comparativamente
com o tempo passado, no atual e no futuro, é nítida a mutação que perpassa toda
a indústria da informação. Assim, o profissional, para agir no terceiro milénio
com qualidade, deve equacionar as seguintes questões: a remodelagem da unidade/sistema
de informação, gerando uma interação profunda entre os atores deste cenário; a
capacitação dos profissionais de informação, pela busca do conhecimento
necessário para agir neste cenário; a vocação voltada para serviços
informacionais, provocando a curiosidade e o encantamento do utente; a visualização
da unidade/sistema de informação de forma crítica, almejando a melhoria contínua.
O
campo de ação é amplo, mas ainda é pequeno o número de profissionais
contratados, que trabalham nos centros de informação ou nas bibliotecas.
A
área do conhecimento responsável pela organização e gestão de bibliotecas e de
outras unidades de informação é a Biblioteconomia, que visa disponibilizar
informações confiáveis aos seus utentes sob os mais diferentes suportes ou
tecnologias, em espaços propícios, como estantes, salas e edifícios. A primeira
turma de Biblioteconomia formou-se nos Estados Unidos, em 1887, com um curso de
quatro meses na School of Library Economy, dirigida por Melvil Dewey.
O
termo “biblioteconomia” é composto por três elementos gregos: biblíon (livro) + thêkê (caixa) + nomos
(regra) + mais o sufixo ia. Diferente
da Documentação e da Ciência da Informação, a Biblioteconomia é a área do
conhecimento que otimiza a organização e a gestão das bibliotecas e das demais unidades
de informação. Dos vários objetivos da Biblioteconomia cabe elencar a formação,
a informação e a recreação através de todos os tipos de documentos, bem como a
democratização da cultura em bibliotecas públicas, a preservação e a difusão do
património bibliográfico de cada país ou região.
Para
conhecer um pouco desta área rica e nobre do saber, é de ter em conta a obra de
Shiyali Ramamrita Ranganantlhan, nascido a 9 de agosto de 1892, em Shialy, na
Índia, conhecido como “o pai da Biblioteconomia”, que publicou o livro As Cinco Leis da Biblioteconomia, em
1931.
A sua família pertencia à casta dos Bramanides. E Shiyali era extremamente religioso, vegetariano e admirador de
Gandhi. Graduou-se em Matemática na Universidade de Madras, em 1916, e
tornou-se professor de Matemática, exercendo essa atividade durante sete anos
em três das faculdades daquela Universidade. Porém, além de professor de
Matemática, era um homem politizado: lutava pela melhoria de condições de
trabalho da sua classe e preocupava-se com o ensino e a pesquisa no país.
Assim, iniciou uma campanha para a melhoria das condições da biblioteca da
Universidade de Madras. E, quando ali vagou o cargo de bibliotecário, em 1924,
foi levado pelos colegas a candidatar-se ao cargo, que acabou por acarretar uma
profunda mudança na sua vida e na área da Biblioteconomia.
Um dos requisitos do cargo era que o bibliotecário que
assumisse deveria estudar Biblioteconomia na Grã-Bretanha. Assim, em 1924,
ingressa na Escola de Biblioteconomia na College University, em Londres, para
se especializar. Inicia uma rota de estudos e observações que o levou a entender
o complexo mundo da Biblioteconomia, mundo que se situava entre o que produzia
e registava o conhecimento e o que necessitava do conhecimento contido nos
documentos.
Um dos professores daquela Escola de Biblioteconomia,
W. C. Berwick Sayers, logo de início viu em Ranganathan uma personalidade
marcante na investigação. E, como seu orientador de estudos, aconselhou-o a
entrar em contacto com o maior número possível de profissionais, bem como a
visitar o máximo possível de bibliotecas, a trocar experiências e a ouvir e a
verificar tudo, pois, como dizia Sayers, a Biblioteconomia é “uma área que
possui uma peculiaridade, a da criação” e “o que aprendemos na Universidade e
nos livros são somente os princípios”.
Isso leva-nos a assumir que o profissional desta área
não se deve caraterizar como o caracol, que fica dentro da casca, mas deve ter
a coragem de conhecer o novo, de investigar, de criar.
Ora, ao visitar cerca de cem bibliotecas de tipos
diferentes, Ranganathan encontra-as em diferentes estados de desenvolvimento, o
que lhe facilita o estudo comparativo das práticas biblioteconómicas, percebendo
que havia pacotes de diversas práticas, sem uma relação integral. A sua
experiência anterior no estudo científico e as observações realizadas acabam
por levá-lo a ocupar-se com uma série de questionamentos, que o acompanham até
à primeira metade de 1925, quando já tinha reassumido o cargo na Biblioteca de
Madras, sobre a possibilidade de reduzir os agregados empíricos de práticas e informações a um
punhado de princípios básicos; a possibilidade de aplicar aqui o processo de
indução; a possibilidade de alcançar todas as práticas conhecidas pelo processo
de dedução de algum dos princípios básicos; se os princípios básicos contêm implicações
necessárias e se propiciam outras práticas não correntes no presente; e se
estas serão necessárias e como, quando mudarem as condições-limite colocadas
pela sociedade.
Todas estas questões, segundo Ranganathan, fazem parte
do campo das Ciências Sociais e não das Ciências Naturais. Mas o método
científico era aplicável em ambos os campos, pois o que era hipótese nas
Ciências Naturais era princípio normativo nas Ciências Sociais. E o que fascinava
Ranganathan era tentar desvendar os princípios normativos que podiam apontar
para tendências futuras, ao tempo, não tão óbvias, na área da Biblioteconomia.
E, a partir da observação e do trabalho com as práticas
biblioteconómicas, empreendeu esforços para teorizar a área, tendo contribuído grandemente para que
todos valorizassem o património que se perpetua no tempo, observando as
seguintes leis, que se implicam reciprocamente:
1.ª
– Os livros são para serem usados, não para ficarem guardados ou escondidos,
como sucedeu na antiguidade. Por isso, requer-se um bom acolhimento ao usuário e
a disponibilização dum espaço apropriado para que ele se sinta à vontade para
fazer as suas pesquisas e leituras, contando com pessoas qualificadas para o
atenderem de forma ideal. Nada de ar pesado e/ou escuro.
2.ª
– A cada leitor o seu livro, pois o livro destina-se a uma pessoa independentemente
da raça, cor ou género, que o apreciará conforme a sua escolha.
3.ª
– Para cada livro o seu leitor, pois cada pessoa possui um gosto diferenciado
para a leitura, o que deve ser respeitado pelo bibliotecário, no quadro do
livre acesso. E Rangananthan lembra que as estantes não podem ser muito altas,
não ultrapassando dois metros e meio.
4.ª
– Poupe-se o tempo do leitor, pois, devido à falta de tempo, vem com pressa e
quer ser logo atendido, pelo que têm de se adotar estratégias para agilizar o
atendimento de forma profissional.
5.ª
– A biblioteca é organização em crescimento: os livros vêm chegando e a
tecnologia também.
Em 1931, Rangananthan não sabia da existência da
internet, mas as suas leis aplicam-se nos dias de hoje, com a necessária
adaptação ao uso das novas tecnologias, sendo a base de todas as atividades biblioteconómicas:
seleção e aquisição, administração de bibliotecas, recuperação de informação,
classificação e indexação, atendimentos aos utilizadores, etc. – num quadro
ético de assunção dos valores (democracia, livre acesso, promoção do
conhecimento, rigor…).
2022.05.25 – Louro de Carvalho
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