sábado, 28 de maio de 2022

Morreu o cardeal que revelou a terceira parte do segredo de Fátima

 

De acordo com a agência de notícias italiana ANSA, citada pela Renascença, o cardeal Angelo Sodano, decano emérito do Colégio Cardinalício, que foi secretário de Estado de São João Paulo II e de Bento XVI, morreu, em Roma, aos 94 anos, no dia 27 de maio, vítima de complicações provocadas pela covid-19. Nos últimos dias, a sua condição de saúde agravou-se, fruto da infeção pelo novo coronavírus, associada a várias outras doenças de que sofria.

Na noite de 9 de maio, o purpurado havia sido hospitalizado devido a uma pneumonia no Hospital Columbus-Gemelli após testar positivo para covid.

A morte de Sodano suscita na alma do Papa “sentimentos de gratidão ao Senhor pelo dom deste estimado homem de Igreja, que viveu com generosidade o seu sacerdócio, inicialmente, na Diocese de Asti e, depois, no restante de sua longa existência, ao serviço da Santa Sé”.

Com estas palavras, Francisco iniciou sua mensagem de pesar pela morte do cardeal Sodano, que desempenhou o cargo de Secretário de Estado do Vaticano de 1991 a 2006, sucedendo ao cardeal Agostino Casaroli, e foi decano do Colégio dos Cardeais de 2005 a 2019.

“Lembro-me do seu solerte trabalho ao lado de muitos dos meus predecessores, que lhe confiaram importantes responsabilidades na diplomacia vaticana, até ao delicado ofício de secretário de Estado” – disse o Santo Padre, recordando que, nas representações pontifícias do Equador, Uruguai e Chile, Sodano se dedicou “com zelo ao bem dessas populações, promovendo o diálogo e a reconciliação”, e exerceu, na Cúria Romana, a sua missão “com dedicação exemplar”.

E o Papa reconhece que também foi beneficiado, de algum modo, pelas suas capacidades mentais e de coração, sobretudo enquanto exerceu a função de decano do Colégio Cardinalício. Com efeito, “em cada encargo, demonstrou ser um homem eclesialmente disciplinado, amável pastor, animado pelo desejo de divulgar em todos os lugares o fermento do Evangelho”.

Por fim, o Santo Padre eleva a Deus Pai misericordioso orações de sufrágio pelo purpurado, com toda uma vida dedicada à Igreja, para que seja acolhido na alegria eterna, ao mesmo tempo que expressa a sua proximidade aos seus familiares e à comunidade de Asti, onde nasceu, e concede a sua bênção “a todos quantos compartilham a dor pela sua partida, com um pensamento particular e agradecido às Irmãs de Santa Marta e a todos os que amorosamente o assistiram”.

Com o falecimento cardeal Angelo Sodano, o Colégio Cardinalício fica composto por 208 cardeais, dos quais 117 eleitores e 91 não eleitores.

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Angelo Raffaele Sodano nasceu em Isola, a 23 de novembro de 1927. Os seus pais, Giovanni e Delfina Sodano, eram de família rural piemontesa, que contribuiu, de modo especial, para a vida da Igreja e do Estado. Foi diplomata e cardeal. E era atualmente o cardeal protetor da Pontifícia Academia Eclesiástica e Decano emérito do Sacro Colégio.

Estudou no Seminário de Asti, na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde se doutorou em Teologia, e na Pontifícia Universidade Lateranense, onde se doutorou em Direito Canónico, e, a convite do cardeal Angelo dell’Acqua, na Pontifícia Academia Eclesiástica, onde se qualificou para a diplomacia. Ordenado sacerdote, a 23 de setembro de 1950, na Catedral de Asti, em cuja diocese trabalhou pastoralmente (sobretudo com jovens), foi membro da faculdade do seu seminário, de 1950 a 1959, onde ensinou Teologia Dogmática. De 1959 a 1968, continuou os estudos em Roma. Foi secretário das nunciaturas no Equador, do Uruguai e do Chile. Foi nomeado camareiro secreto supernumerário, a 15 de junho de 1961, e capelão de Sua Santidade, a 21 de junho de 1963. E foi Oficial no Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja, de 1968 a 1977.

Nomeado, a 30 de novembro de 1977, pelo Papa São Paulo VI, arcebispo-titular de Nova Caesaris e núncio apostólico no Chile (cujas dioceses visitou mediando no conflito Chile-Argentina), foi ordenado bispo, a 15 de janeiro de 1978, em Asti, pelo cardeal Antonio Samorè. Foi nomeado secretário do Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja, a 23 de maio de 1988; e, depois da reorganização da Cúria Romana, passou a secretário da secção para as relações com os Estados, na Secretaria de Estado, a 1 de março de 1989. Foi presidente da Pontifícia Comissão para a Rússia e representante da Santa Sé nas reuniões de ministros de assuntos exteriores da Conferência Europeia de Segurança e Cooperação, em Viena, Copenhaga, Nova Iorque e Paris. Nomeado pró-secretário de Estado, a 1 de dezembro de 1990, devido à aposentação do cardeal Agostino Casaroli, tendo sido nessa condição que acompanhou a segunda visita de São João Paulo II a Portugal, em maio de 1991. Como membro das Missões da Santa Sé, visitou a Roménia, Hungria e Alemanha Oriental. Em suas altas funções, acompanhou 54 viagens de João Paulo II.

Em 1991, criado cardeal-presbítero, a 28 de junho, recebe o barrete cardinalício e o título da Igreja de Santa Maria Nuova; é nomeado Secretário de Estado, a 29 de junho; e assiste à I Assembleia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, de 28 de novembro a 14 de dezembro.

Em 1992, foi legado pontifício à celebração dos 75 anos das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, Portugal, a 12 e 13 de maio; foi enviado especial do Papa ao Dia da Santa Sé na Exposição Universal de Sevilha 1992, em Sevilha, Espanha, a 29 de junho; foi enviado papal ao funeral do cardeal Frantisek, arcebispo emérito de Praga, na então Checoslováquia, a 12 de agosto; e assistiu à IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Santo Domingo, República Dominicana, de 12 a 28 de outubro, tendo sido um dos três presidentes delegados.

Em 1994, foi promovido à ordem dos cardeais-bispos com o título da sé suburbicária de Albano, retendo in comendam o título de Santa Maria Nuova, a 10 de janeiro; assistiu à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, no Vaticano, de 10 de abril a 8 de maio, e à IX Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, também no Vaticano, de 2 a 29 de outubro.  

Em 1995, foi legado pontifício no encerramento das celebrações pelo VIII Centenário do Nascimento de Santo António, em Pádua, Itália, a 8 de dezembro, bem como no encerramento das celebrações pelo VII Centenário do Santuário de Loreto, Itália, a 10 de dezembro.

Em 1997, foi legado pontifício ao XLVI Congresso Eucarístico Internacional, de Wroclaw, Polónia, de 24 e maio a 1 de junho e enviado especial do Papa ao funeral de Madre Teresa de Calcutá, Índia, a 13 de setembro; e assistiu à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, no Vaticano, de 16 de novembro a 12 de dezembro.   

Em 1998, foi legado pontifício ao Dia Mundial dos Enfermos, em Loreto, Itália, a 11 de fevereiro; assistiu à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Ásia, no Vaticano, de 19 de abril a 18 de maio; foi legado pontifício às celebrações pelos 750 anos do Domo de Colónia, Alemanha, a 15 de agosto, às cerimónias de clausura do Encontro Continental da Juventude, em Santiago, Chile, a 10 e 11 de outubro, e às celebrações comemorativas dos 350 anos da Paz de Vestfália, em Osnabrrück e em Münster, Alemanha, a 24 de outubro; e assistiu à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Oceânia, no Vaticano, de 22 de novembro a 12 de dezembro.  

Em 1999, foi legado pontifício no encerramento da celebração do Encontro Europeu da Juventude, em Santiago de Compostela, Espanha, de 4 a 8 de agosto; assistiu a II Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa, no Vaticano, de 1 a 23 de outubro. Foi legado pontifício à cerimónia de reabertura ao culto da Basílica Superior de São Francisco de Assis e da consagração do novo altar papal, em Assis, Itália, a 28 de novembro, e à dedicação da Igreja da Imaculada Conceição de Maria, em Moscovo, Rússia, a 12 de dezembro.

Em 2000, foi legado pontifício às celebrações pelo milénio da arquidiocese de Gniezno, Polónia, celebradas naquela cidade polaca, a 12 de março, às celebrações do V centenário da Evangelização do Brasil, Porto Seguro, Brasil, a 26 de abril, às celebrações pelo milénio de Santo Estêvão da Hungria, em Budapeste, Hungria, a 20 de agosto.

A 30 de novembro de 2001, foi eleito vice-decano do Colégio Cardinalício. E, a 30 de abril de 2005, o recém-eleito Papa Bento XVI confirmou-o no cargo de secretário de Estado da Santa Sé e aprovou a sua eleição a decano do Colégio Cardinalício, sendo elevado no título cardinalício da Sé Suburbicária de Ostia. E, a 15 de setembro de 2006, entregou o cargo de secretário de Estado da Santa Sé. Porém, veio como enviado especial de Bento XVI à abertura das comemorações dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, Portugal, a 12 e 13 de outubro a cujo encerramento presidiu o cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado, a 12 e 13 de maio de 2007, tendo procedido também à dedicação da igreja da Santíssima Trindade, agora basílica. 

A 18 de setembro de 2012, foi nomeado por Bento XVI como Padre Sinodal da 13.ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada no Vaticano, de 7 a 28 de outubro de 2012.

Participou como vice-decano do Colégio dos Cardeais no conclave para a eleição de Bento XVI, em 2005; já não participou no conclave, em 2013, para a eleição de Francisco, pois era o decano do Colégio de Cardeais, mas não era eleitor.

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Muito bela e diversificada folha de serviço de um purpurado devotado às causas da Igreja e frequente visitador de Fátima, que revelou ao mundo, a 13 de maio de 2000 – a pedido do Papa polaco e na sua presença –, a terceira parte do Segredo de Fátima.

2022.05.28 – Louro de Carvalho

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