terça-feira, 24 de maio de 2022

A fraternidade humana insta à paz em todos os lugares

 

Dom Paolo Martinelli, recentemente nomeado vigário apostólico da Arábia do Sul, declarou, entrevista ao Vatican News que vai trabalhar numa realidade eclesial intercultural, sendo o documento assinado em Abu Dhabi um dos critérios para viver a vida de fé em harmonia.

Este bispo deixou o ministério de vigário episcopal na arquidiocese de Milão no início deste mês de maio, para gradualmente mergulhar na nova realidade, em que sucede a Dom Paul Hinder.

O documento em referência surgiu, num contexto específico, para dar um novo horizonte à relação entre cristianismo e islamismo, e afirma o valor universal da fraternidade que hoje pode favorecer de forma crucial a paz na Europa, interrompida que foi pela guerra.

A primeira abordagem do prelado para a parte da Igreja e das relações inter-religiosas que o Papa lhe confiou passou por tentar “aprofundar ainda mais o que esta tarefa significa”. Para tanto, ouviu o seu antecessor e os outros membros da Casa dos Bispos de Abu Dhabi, em busca duma visão da situação naquele Vicariato Apostólico.

Algumas semanas antes do início da sua nova missão, considera a ação na Arábia do Sul “uma realidade muito complexa, muito variada”, mas também muito promissora, bonita e significativa para a Igreja de hoje. É uma Igreja inteiramente composta de migrantes que ali trabalham, provenientes de países e culturas diferentes, e que devem ser servidos na sua fé e no seu estar ali, onde é diário o confronto com a realidade do Islão. Por outro lado, é naquele território que está o lugar onde o Papa Francisco assinou o Documento de Abu Dhabi, há três anos, com o Grão Imame de Al-Azhar. Por isso, entende o novo Pastor que lhe incumbe a tarefa de preservar a memória daquele ato profético, “cuja importância certamente é ainda maior agora do que era há três anos”.

Questionado sobre se o Documento sobre a Fraternidade Humana já direcionou, de alguma forma, o seu ministério, adianta que partirá para Abu Dhabi no final de junho, onde haverá a missa de início do meu ministério pastoral naquele território. Seguir-se-á um encontro com as autoridades civis, uma oportunidade de entrar em contacto mais direto com elas. Sabe que a comunidade cristã já está a tomar o evento do Documento sobre a Fraternidade Humana como um importante critério para viver a própria fé e estabelecer as relações naquele contexto social. Pessoalmente, julga o tema particularmente significativo hoje, não só para aquela terra, mas também para o mundo inteiro, ao qual o documento terá algo a dizer.

No atinente à presente guerra na Europa, que está a perturbar “todos os arranjos geopolíticos do continente”, refere que a História daqueles países árabes e as boas relações que estão a estabelecer-se nos dizem, “diante de um acontecimento tão dramático e perturbador”, da importância da mensagem do Papa sobre a guerra e sobre a promoção das relações de fraternidade. O prelado acha que o tema é inevitável e deve ser tido em mente para enfrentar e ultrapassar “uma crise internacional de proporções tão devastadoras”. Na verdade, se não assumirmos “um espírito de fraternidade” e o não tornarmos “uma mensagem difundida na cultura”, estaremos realmente a caminhar para uma situação cada vez mais complexa de que “será muito difícil nos erguermos”. Assim, a mensagem da fraternidade deverá ser uma mensagem para exportar, “como se a terra onde nasceu o Documento sobre a Fraternidade Humana pudesse enviar uma mensagem para outra terra onde, neste momento, a fraternidade foi totalmente destruída...”.

Efetivamente, o documento nasceu no âmbito da relação entre cristianismo e islamismo, afirmando “algo que é importante para cada homem e mulher de nosso tempo”.

O ministério de Dom Paolo Martinelli como vigário apostólico da Arábia do Sul está para começar. E, interpelado sobre as suas metas a curto e médio prazo, promete estudar as atividades que são realizadas pelo vicariato apostólico, pois existe a rede paroquial que permite responder às grandes necessidades dos fiéis, o que “deve ser consolidado, levado adiante, onde o território o permita, serenamente”. O seu coração vai muito para a realidade do Iémen, que faz parte do vicariato e que, neste momento e durante anos, está a experimentar uma situação de conflito muito forte. Tem em mente as Irmãs de Madre Teresa de Calcutá que sofreram a perda de quatro das suas irmãs, por não quererem sair daquele lugar, movidas pelo dever da fé e da vocação de cuidar dos deficientes a elas confiados, apesar das ameaças.  

E há outra coisa impressionante e interessante: a presença de muitas escolas promovidas pelo vicariato com a colaboração de alguns institutos religiosos. É, de facto, tradicional no Oriente Médio haver lugares escolares como ponto de encontro intercultural e inter-religioso, pois muitos dos que frequentam essas escolas são muçulmanos. Ora, merecem ser desenvolvidas e consolidadas as virtualidades do “lugar onde se aprende a ter relações positivas com pessoas que trazem diferenças culturais e religiosas, que podem construir uma vida boa para todos”.

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No domingo, 1.º de maio, o papa Francisco nomeou Dom Paolo Martinelli, até agora bispo auxiliar de Milão, como Vigário Apostólico do Vicariato Apostólico da Arábia do Sul (Península Arábica), aceitando a renúncia apresentada devido ao limite de idade pelo seu coirmão, o frade menor capuchinho Paul Hinder.

Nascido em Milão a 22 de outubro de 1958, Martinelli amadureceu a sua vocação franciscana em 1978 e entrou na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores da Província de São Carlos, na Lombardia. Ordenado presbítero em setembro de 1985, estudou Teologia e ensinou-a em várias universidades pontifícias. A 24 de maio de 2014, foi nomeado bispo auxiliar de Milão. A ordenação episcopal ocorreu na Catedral a 28 de junho do mesmo ano. Ainda em Milão, exerceu o ministério de vigário episcopal para a Vida Consagrada e para a Pastoral escolar e desempenhou o cargo de delegado da Conferência Episcopal Italiana (CEI) para a Vida consagrada e a Pastoral da saúde. Na CEI, é presidente da Comissão Episcopal para o Clero e a Vida Consagrada. Colabora também em vários dicastérios da Santa Sé.

Dom Mario Delpini, arcebispo de Milão, numa mensagem do domingo, 1.º de maio, deu a notícia e lembrou que a nova missão convida o bispo Martinelli a “cuidar dos fiéis católicos presentes numa região muito grande”, fiéis que são, na maioria, migrantes trabalhadores de países asiáticos. Na verdade, o vicariato apostólico da Arábia do Sul inclui os Emirados Árabes Unidos, Omã, Iémen, para uma população total de cerca de 43 milhões de pessoas.

E Dom Delpini escreveu: “Em nome da Diocese de Milão e da Conferência Episcopal da Lombardia gostaria de expressar minha gratidão e admiração por frei Paolo”.

Uma nova etapa em prol da fraternidade na ação pastoral do novo prelado da Arábia do Sul, um terreno tão complexo como promissor em prol de um mundo mais pacífico, mais fraterno e mais humano!

2022.05.24 – Louro de Carvalho

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