Dom Paolo Martinelli,
recentemente nomeado vigário apostólico da Arábia do Sul, declarou, entrevista ao
Vatican News que vai trabalhar numa
realidade eclesial intercultural, sendo o documento assinado em Abu Dhabi um
dos critérios para viver a vida de fé em harmonia.
Este bispo deixou
o ministério de vigário episcopal na arquidiocese de Milão no início deste mês de
maio, para gradualmente mergulhar na nova realidade, em que sucede a Dom Paul
Hinder.
O documento em
referência surgiu, num contexto específico, para dar um novo horizonte à
relação entre cristianismo e islamismo, e afirma o valor universal da
fraternidade que hoje pode favorecer de forma crucial a paz na Europa,
interrompida que foi pela guerra.
A primeira abordagem do prelado para a parte da Igreja e das relações
inter-religiosas que o Papa lhe confiou passou por tentar “aprofundar ainda mais o que esta tarefa significa”. Para tanto,
ouviu o seu antecessor e os outros membros da Casa dos Bispos de Abu Dhabi, em
busca duma visão da situação naquele Vicariato Apostólico.
Algumas semanas
antes do início da sua nova missão, considera a ação na Arábia do Sul “uma
realidade muito complexa, muito variada”, mas também muito promissora, bonita e
significativa para a Igreja de hoje. É uma Igreja inteiramente composta de migrantes
que ali trabalham, provenientes de países e culturas diferentes, e que devem
ser servidos na sua fé e no seu estar ali, onde é diário o confronto com a
realidade do Islão. Por outro lado, é naquele território que está o lugar onde
o Papa Francisco assinou o Documento de Abu Dhabi, há três anos, com o Grão
Imame de Al-Azhar. Por isso, entende o novo Pastor que lhe incumbe a tarefa de
preservar a memória daquele ato profético, “cuja importância certamente é ainda
maior agora do que era há três anos”.
Questionado sobre se o Documento sobre a Fraternidade Humana já
direcionou, de alguma forma, o seu ministério, adianta que partirá para Abu Dhabi no final de junho, onde haverá a missa
de início do meu ministério pastoral naquele território. Seguir-se-á um
encontro com as autoridades civis, uma oportunidade de entrar em contacto mais
direto com elas. Sabe que a comunidade cristã já está a tomar o evento do
Documento sobre a Fraternidade Humana como um importante critério para viver a
própria fé e estabelecer as relações naquele contexto social. Pessoalmente, julga
o tema particularmente significativo hoje, não só para aquela terra, mas também
para o mundo inteiro, ao qual o documento terá algo a dizer.
No atinente à
presente guerra na Europa, que está a perturbar “todos os arranjos geopolíticos do continente”, refere que a História daqueles
países árabes e as boas relações que estão a estabelecer-se nos dizem, “diante
de um acontecimento tão dramático e perturbador”, da importância da mensagem do
Papa sobre a guerra e sobre a promoção das relações de fraternidade. O prelado acha
que o tema é inevitável e deve ser tido em mente para enfrentar e ultrapassar “uma
crise internacional de proporções tão devastadoras”. Na verdade, se não
assumirmos “um espírito de fraternidade” e o não tornarmos “uma mensagem
difundida na cultura”, estaremos realmente a caminhar para uma situação cada
vez mais complexa de que “será muito difícil nos erguermos”. Assim, a mensagem
da fraternidade deverá ser uma mensagem
para exportar, “como se a terra onde
nasceu o Documento sobre a Fraternidade Humana pudesse enviar uma mensagem para
outra terra onde, neste momento, a fraternidade foi totalmente destruída...”.
Efetivamente,
o documento nasceu no âmbito da relação entre cristianismo e islamismo, afirmando
“algo que é importante para cada homem e mulher de nosso tempo”.
O ministério de Dom Paolo Martinelli como vigário apostólico da Arábia do Sul
está para começar. E, interpelado sobre as suas metas a curto e médio prazo,
promete estudar as atividades que são realizadas pelo vicariato apostólico,
pois existe a rede paroquial que permite responder às grandes necessidades dos
fiéis, o que “deve ser consolidado, levado adiante, onde o território o
permita, serenamente”. O seu coração vai muito para a realidade do Iémen, que
faz parte do vicariato e que, neste momento e durante anos, está a experimentar
uma situação de conflito muito forte. Tem em mente as Irmãs de Madre Teresa de Calcutá
que sofreram a perda de quatro das suas irmãs, por não quererem sair daquele
lugar, movidas pelo dever da fé e da vocação de cuidar dos deficientes a elas
confiados, apesar das ameaças.
E há outra
coisa impressionante e interessante: a presença de muitas escolas promovidas
pelo vicariato com a colaboração de alguns institutos religiosos. É, de facto,
tradicional no Oriente Médio haver lugares escolares como ponto de encontro
intercultural e inter-religioso, pois muitos dos que frequentam essas escolas
são muçulmanos. Ora, merecem ser desenvolvidas e consolidadas as virtualidades
do “lugar onde se aprende a ter relações positivas com pessoas que trazem
diferenças culturais e religiosas, que podem construir uma vida boa para todos”.
***
No domingo,
1.º de maio, o papa Francisco nomeou Dom Paolo Martinelli, até agora bispo auxiliar de Milão, como Vigário
Apostólico do Vicariato Apostólico da Arábia do Sul (Península Arábica),
aceitando a renúncia apresentada devido ao limite de idade pelo seu coirmão, o
frade menor capuchinho Paul Hinder.
Nascido em
Milão a 22 de outubro de 1958, Martinelli amadureceu a sua vocação franciscana
em 1978 e entrou na Ordem dos Frades Capuchinhos Menores da Província de São
Carlos, na Lombardia. Ordenado presbítero em setembro de 1985, estudou Teologia
e ensinou-a em várias universidades pontifícias. A 24 de maio de 2014, foi
nomeado bispo auxiliar de Milão. A ordenação episcopal ocorreu na Catedral a 28
de junho do mesmo ano. Ainda em Milão, exerceu o ministério de vigário
episcopal para a Vida Consagrada e para a Pastoral escolar e desempenhou o
cargo de delegado da Conferência Episcopal Italiana (CEI) para a Vida
consagrada e a Pastoral da saúde. Na CEI, é presidente da Comissão Episcopal
para o Clero e a Vida Consagrada. Colabora também em vários dicastérios da
Santa Sé.
Dom Mario
Delpini, arcebispo de Milão, numa mensagem do domingo, 1.º de maio, deu a
notícia e lembrou que a nova missão convida o bispo Martinelli a “cuidar dos
fiéis católicos presentes numa região muito grande”, fiéis que são, na maioria,
migrantes trabalhadores de países asiáticos. Na verdade, o vicariato apostólico
da Arábia do Sul inclui os Emirados Árabes Unidos, Omã, Iémen, para uma
população total de cerca de 43 milhões de pessoas.
E Dom
Delpini escreveu: “Em nome da Diocese de Milão e da Conferência Episcopal da
Lombardia gostaria de expressar minha gratidão e admiração por frei Paolo”.
Uma nova
etapa em prol da fraternidade na ação pastoral do novo prelado da Arábia do Sul,
um terreno tão complexo como promissor em prol de um mundo mais pacífico, mais
fraterno e mais humano!
2022.05.24 – Louro de Carvalho
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