sábado, 14 de novembro de 2020

Excursão errática em demanda pelo mundo da máscara

Motivação para a reflexão

Objeto que de uso esporádico em determinadas situações se tornou de uso corrente, porque obrigatório em certos espaços e tempos, apesar da sua duvidosa eficácia na proteção individual, merece que lhe dediquemos alguma atenção.

E a gota de água motivadora para a modesta reflexão da minha parte foi a recente crónica do Cardeal José Tolentino na “Revista” do “Expresso deste dia 14 de novembro.

Chama o purpurado a atenção para a multiplicidade de variantes aplicáveis ao termo “máscara”, o que remete para o facto de ter passado a integrar as práticas do quotidiano, pois, não obstante “a indecisão inicial”, este utensílio, antes suspeito, “tornou-se um elemento base de proteção contra a pandemia”. E José Tolentino entende que “este acessório que adicionamos ao rosto – uma ajunta provisória e associada a esta conjuntura sanitária, espera-se – tem sido motivo para alguma reflexão de natureza antropológica”. Assim, alguns assumem o seu uso “como um compromisso ético que realizamos”, manifestando o nosso empenho de colaboração para o bem comum nesta hora de vulnerabilidade como a presente, ao passo que outros a receiam como “um distúrbio que trará consequências”. Este segundo grupo suspeita que o uso da máscara venha “alterar a perceção que fazemos dos outros e de nós próprios” modificando os mecanismos de proximidade e contribuindo “para ampliar a indiferença e a invisibilidade social”. Enfim, é o medo de que este acessório venha a “cancelar o rosto ou substituir-se a ele”, começando por se colar a ele e vindo nós a descobrir que envelhecemos sem nos darmos conta, “um pouco na linha daquilo que Álvaro de Campos prevê no poema Tabacaria”.

Seja como for, a máscara levanta o problema da “comunicação interpessoal” fazendo-nos refletir sobre “a forma como nos encontramos e desencontramos em tempo de pandemia”.

Na verdade, como recorda o filósofo Giorgio Agamben, citado por Tolentino, “se todos os seres viventes existem no aberto, se mostram e comunicam, só o ser humano tem, porém, um rosto”, pelo que “tudo o que dizemos e trocamos se funda no rosto”. Ao mesmo tempo, para Agamben, o rosto é “o elemento político por excelência”, pois é “olhando-se no rosto que os humanos se reconhecem e apaixonam, percebem a semelhança e a diversidade, a distância e a proximidade”. E, chamando a atenção para a “salvaguarda necessária da essência do humano e do valor da comunidade nestes meses de emergência”, diz o filósofo que “um país que decida renunciar ao próprio rosto cancela de si toda a dimensão política” e arrisca a tornar-nos ainda mais isolados uns dos outros, tendo quase perdido “o fundamento imediato e sensível da sua comunidade”.

Por isso, embora não possamos evitar o uso máscara, não podemos esquecer “o que significa um rosto”. Tanto assim é que o teólogo PierAngelo Sequeri, a enfatizar “a persistência do rosto por outros meios”, conta que uma paciente que passou por longo e sofrido internamento por covid-19, ao despedir-se de médicos e enfermeiros, disse:

Quando vos encontrar de novo não serei capaz de recordar distintamente os vossos rostos, mas reconhecerei infalivelmente os vossos olhos”.

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O excursus etno-linguístico-antropológico

A palavra “máscara” chegou ao português a partir do italiano, mais concretamente da palavra “maschera” (o ‘che italiano lê-se como o nosso ‘quê’), que, veiculada pelo francês, se espalhou pela Europa e hoje aparece em línguas, como o inglês (‘mask’), o polaco (‘maska’) e muitas outras. Sem certezas, uns dizem que vem do árabe “maskhara”; outros supõem que será proveniente do latim tardio (mascus ou masca; “fantasma”), derivando do árabe (maskharah, palhaço; e do verbo sakhira, “ao ridículo”); e outros dizem que pode ter provindo do hebreu (masecha), cuja tradução: “ele zombou, ridicularizou”. Em latim, o objeto que significa máscara dizia-se “persona”, que é a antecedente da palavra “pessoa”, que significava “máscara” ou “careta”. De igual modo, sucedia em grego com a palavra “prosôpeîon” (máscara, careta), derivada de “prósôpôn”, que significava “máscara” e passou a significar “pessoa”. Assim, as máscaras que os atores usavam no teatro, para ganhar presença e ampliar a voz, davam identidade às personagens (repare-se na palavra “personagem”: derivada de “persona”) e daí até ao significado de “ser humano com identidade social” ou “ser com direitos e deveres” foi um saltinho que ocupou filósofos e pensadores durante séculos.

As palavras mantêm o significado primitivo por milénios ou dão pequenos ou grandes saltos, como a “luva”, que da palma da mão passou para a peça de vestuário correspondente e para “suborno”, e a “persona” latina, que saltou da máscara para a própria pessoa que a usa.

Desempenhando relevante papel histórico no entendimento do “ser humano”, a máscara levou à experiência da imaginação. Segundo Octavio Paz, “enquanto estamos vivos, não podemos escapar de máscaras e nomes”, pois “somos inseparáveis de nossas ficções” e feições. Feitas de diversos materiais (madeira, metal, conchas, fibra, marfim, argila, chifre, pedra, penas, couro, peles, papel, tecido e palha de milho), representaram seres sobrenaturais, divindades e antepassados. Uma das mais antigas práticas, o uso da máscara pelo homem primitivo teria ocorrido em 9.000 a.C.

Em fase de restauração no Museu Bible et Terre Sainte (Paris), e no Museu de Israel (Jerusalém), as máscaras antropomórficas (de caraterísticas humanas) terão sido usadas em celebrações, cultos e rituais de povos primitivos, associando o usuário a algum tipo de autoridade incontestável como deuses ou outra forma de creditar a reivindicação da pessoa a um determinado papel social.

Na China, usavam-se as máscaras para afastar os maus espíritos. No Egito Antigo e na Grécia, eram inseridas sobre o rosto dos falecidos na crença da passagem para a vida eterna, com a função de orientar o falecido para o seu lugar de descanso eterno, evitando a fuga espiritual do corpo. Eram feitas de tecido coberto com gesso ou estuque (argamassa composta de gesso, água e cal, de secagem rápida) e pintadas logo em seguida; e, para personagens mais importantes, eram utilizados metais preciosos como a prata e o ouro.

Foi na Grécia antiga que surgiram as máscaras teatrais, sendo a sua principal caraterística o exagero de expressão, que maximizava a natureza de cada personagem. Usadas em rituais de drama e adotadas nas festas dionisíacas, foram projetadas para um tamanho que ampliasse a presença e a voz do ator através dum dispositivo embutido numa espécie de megafone.

Entre o final da Idade Média e todo o século XVIII, reavivou-se a confeção das máscaras mortuárias para a realeza da Europa, tornando-se tradição entre as pessoas famosas da sociedade europeia entre os séculos XVII e XX. Com cera ou gesso líquido de Paris (de minério de cálcio e água, com a propriedade de não encolher e de endurecer rapidamente), o negativo do rosto humano era produzido e agia como um molde para a imagem positiva.

Segundo José Mattoso, em “As Máscaras: o rosto da vida e da morte (in Memoriam de Carlos Alberto Ferreira, vol 2, Universidade do Porto, 1999), “este ritual tinha por si mesmo uma forte eficácia como elo de coesão para o grupo de descendentes”, cuja manutenção “garantia a prosperidade e a fecundidade do grupo, isto é, assegurava a sua perpetuação.”.

O teatro japonês No (misto de canto, pantomima, música e poesia) possui mais duma centena de variedades de máscaras, classificadas em cinco tipos gerais: pessoas de idade (masculino e feminino), deuses, deusas, demónios e duendes. Confecionadas em madeira, revestidas de gesso, envernizadas e douradas, são pintadas respeitando os significados de cada cor: simbolizando a violência e a brutalidade, o vilão é representado pelo preto; o branco carateriza um governante corrupto; e o vermelho significa um homem justo. E utilizam-se no palco até hoje para marcar bem as caraterísticas das personagens. Mattoso (op. cit.) analisa o papel dual da máscara:

Se repararmos para que serve, sobretudo nas sociedades ditas ‘primitivas’ e nas sociedades tradicionais, tem de se reconhecer, creio eu, que a máscara, longe de ocultar, revela; que ela retira a expressão pessoal do rosto, mas manifesta aquilo que na vida quotidiana não se pode ver; que ela serve, enfim, para descobrir um certo sentido do rosto que está para além das aparências: aquele sentido em que a face viva e individual faz esquecer e só aparece com a morte.”.

Exemplo disso são as máscaras dos povos do Himalaia, que funcionavam como mediadores de forças sobrenaturais. Em My Others' Others Other: the limits of Museum Ethnography (in Antropologia Portuguesa, Vol. 14, U. Coimbra, 1997) Anthony Shelton (diretor do Museu de Antropologia da Universidade da Colúmbia Britânica) afirma que a mais antiga evidência de máscaras nas Américas é um fóssil de vértebra de lhama encontrado no México, entre 12 a 10 mil anos a.C., que representa a cabeça dum coiote. E acredita que as máscaras de animais terão sido usadas em cerimónias religiosas, iniciações e rituais de sepultamento, representando a intervenção de entidades ancestrais. E terão sido utilizadas como forma de divisão política do império Inca.

A iconografia andina inclui certas personagens e temas omnipresentes, desde a era Chavín (pré-inca) ao tempo dos Incas (de 1500 a.C. a 1532 d.C.). As primeiras máscaras representavam animais, como o jaguar (onça), o puma e a raposa (alguns viriam a assumir caraterísticas antropomórficas entre as civilizações Chimú e Moche). Felipe Guaman Poma de Ayala, cronista que viveu no Peru, desenhou fazendeiros a usar cabeças de raposas e peles sobre as próprias cabeças incorporando personagens animalizadas em cerimónias dedicadas a entidades espirituais.

No Bal Masqué (tradicional baile de máscaras europeu), o uso de máscaras era obrigatório, devido a constantes conflitos políticos. Os cortesãos mascarados brincavam confiantes no anonimato, extravasando os impulsos reprimidos e libertando-os das normas sociais.

Em Veneza, as máscaras tornaram-se peças decorativas, constituindo a principal atividade económica da região. Usadas pelos bobos da corte, artistas do riso, transformaram-se em Arlequim, Pulcinella, Pierrot e Colombina (personagens da Commedia dell’arte). Realizado nas ruas e praças públicas, esse teatro popular improvisava cenas que ironizavam a vida e os costumes da nobreza da época.

Mais tarde, essas personagens inspirariam o Carnaval veneziano, que duraria até ao final do século XVIII, com a queda da República de Veneza, período em que o uso e a tradição das máscaras começou a diminuir até desaparecer.

Como símbolo visual, a máscara retoma as fontes dos mitos dos antepassados, deuses e animais totemizados e continua presente em eventos sociais como bailes, desfile de carnaval, festas à fantasia e em diferentes profissões. Assim, o médico, o dentista e o enfermeiro usam máscara cirúrgica, protegendo-se a si e ao paciente; o soldador protege-se das fagulhas com máscara metálica; o esgrimista, o jogador de futebol americano e o lutador de boxe não podem entrar em combate sem a máscara. A máscara serve não só para proteção, como também desempenha a construção duma identidade, dum imaginário acerca de determinada função na sociedade, o que remete, ainda que de forma longínqua, para as antigas máscaras gregas e latinas que serviam para dar rosto às personagens. E, a este respeito, Mattoso (op. cit.) afirma:

É esse aspeto misterioso e transcendente que a máscara tenta exprimir, através da distorção ou do grotesco, do exagero ou da estilização, da transfiguração ou da simplificação, da imitação ou da inversão. Por meio de recursos imprevisíveis, e todavia repetitivos, da arte, a máscara procura abrir o caminho à compreensão do que há de mais universal no homem, e do que inexoravelmente o liga ao mistério das trocas entre a morte e a vida. Só assim se compreende o fascínio pelas máscaras que inspiraram e inspiram tantos artistas do teatro e tantos escultores em todas as culturas e em todas as civilizações.”.

Assim, as máscaras são narrativas visuais complexas, cuja função é dar presença e voz a uma personagem. Carregadas de mistério e divindade, introjetam valores de culto aos rituais, possibilitando por algum momento ser “o outro” que, com poderes ocultos e inimagináveis, se harmoniza com o grupo, que o acolhe em tempo e espaço determinados pela história cultural.

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A pandemia leva a revisitar o percurso do religioso e do teatral à proteção

A pandemia do novo coronavírus fez com que a máscara de proteção se tornasse item indispensável de segurança em todo o mundo. Isto sem esquecer que, sob diferentes formatos e funções, a peça não renunciou à presença no cinema, no teatro, em rituais religiosos e em festas como o carnaval brasileiro e o de Veneza, na Itália, e o de outros países.

Registos pré-históricos mostram a presença da máscara nas primeiras comunidades humanas que habitavam a região onde hoje fica a Europa, estando o seu uso provavelmente ligado a um ritual criado pelas pequenas sociedades que começavam a formar-se e fixar-se em determinados locais. Surgindo a necessidade de representar um fenómeno ou atividade, a peça funcionava como meio de comunicação, com uma espécie de linguagem verbal e/ou instrumental que põe em comunicação o homem terreno com um deus ou criatura sobrenatural em diversas situações, negativas ou positivas, ou com o espectador disposto a receber uma mensagem extraordinária que o tira fora do seu viver quotidiano. Ainda hoje, a máscara é utilizada em diversas sociedades de forma parecida, em contexto ritual. A África é um dos continentes onde ela mais aparece. Na Ásia, é usada em rituais religiosos e no teatro topeng, popular em Bali (Indonésia). Nessas regiões as máscaras são feitas, principalmente, de madeira. Na América Central e do Sul, em países como Bolívia, Peru, Equador e México, é usada em pequenas manifestações populares ligadas à miscigenação cultural, com influências europeias e do cristianismo.

Em muitas culturas da África, da América e do Pacífico, as máscaras (feitas de diversos materiais naturais como madeira, fibras, palhas, barro, chifres, conchas, plumas, peles de animais, pedras, tecido ou espiga de milho, entre outros) são usadas em cerimónias religiosas. Em algumas tribos indígenas, cabe aos índios mais idosos usá-las durante rituais para curar doentes, espantar maus espíritos ou celebrar casamentos e ritos de passagem – cerimónias em que os meninos e as meninas passam da infância para a idade adulta. Hoje em dia, ainda se utilizam máscaras em festas. Uma das datas em que aparecem é o Dia das Bruxas, Halloween, comemorado a 31 de outubro, principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. Nesse dia, as pessoas usam máscaras e fantasias inspiradas nos filmes de terror e saem às ruas com a intenção de assustar os outros. Outra festa de máscaras marcante ocorre em fevereiro/março no Brasil e nos carnavais de outros países. São 4 dias de alegria em que os foliões se fantasiam e usam máscaras para brincar e dançar.

Segundo alguns antropólogos, as máscaras estão associadas à religiosidade e festas, ao teatro e às brincadeiras extravagantes, à decoração, a temas sociais como a exploração das populações mais pobres, representando a figura do oprimido e do opressor e à proteção individual.

No Brasil, a máscara (feita por meio de papietagem, que mistura cola e papel) aparece, por exemplo, no folguedo pernambucano “Cavalo-Marinho”, brincadeira popular que reflete a sociedade colonial da Zona da Mata e surgiu nos intervalos do trabalho na lavoura da cana de açúcar, misturando teatro, música e dança em personagens animais, humanos e fantásticos.

Na Grécia Antiga, a partir do século V a.C., as celebrações de Dionísio, o deus do vinho e da fertilidade, contavam com o uso de fantasias e máscaras, na crença de que o deus estaria presente entre as pessoas durante a festa. Como o vinho vem do suco da uva e tem de ficar pelo menos três meses fechado num recipiente para ficar pronto, as festas ocorriam logo que se abriam as pipas produzidas no ano anterior. Todos bebiam, cantavam e dançavam. Dizem que tais festividades deram origem ao carnaval. Depois, incorporadas nos géneros teatrais de peças da época – tragédia e comédia –, passaram de artefactos ritualísticos para itens teatrais. A máscara teatral era confecionada com materiais como folhas, madeira, argila e couro.

Na Idade Média, que vai do século V ao XV, a máscara entra em conflito com os princípios cristãos e o seu uso chegou a ser proibido. Ligado a manifestações populares, a máscara passou a ser considerada objeto profano, usado para cultuar outros deuses fora do cristianismo. Porém, com o fim da Idade Média, o afrouxamento dos princípios origina a retoma da máscara, principalmente na Itália, no teatro de origem popular chamado commedia dell’arte, satirizando a sociedade que começava a ser capitalista – contrapondo o oprimido e o opressor – em pequenas apresentações de artistas de rua que faziam uso das máscaras representando os papéis da época, como o comerciante, o mercador e o servo. E começa a popularizar-se a produção de máscaras mortuárias (feitas de resinas moldáveis, como gesso e cera, que não deformavam o rosto), tornando-se comum nas cortes europeias. Eram feitas para registar as feições de figuras importantes, como alguém que pertencia a um alto cargo na Igreja, por exemplo. Estavam presentes em homenagens e esculturas que representavam a fisionomia da pessoa morta, como uma espécie de retrato.

Ao longo dos séculos, houve momentos em que se tornou necessária a proteção da região da cabeça, por ser a parte do corpo que reúne os sentidos humanos, como a visão, a audição e a comunicação. E, sempre que algum órgão desses sentidos fica em risco, criam-se estratégias para proteger. Estão neste caso os óculos do aviador, a mordaça e as máscaras que protegem contra doenças, tal como o estavam as armaduras medievais na Europa, com capacetes cujo objetivo era proteger o combatente, ou as vestimentas dos soldados no Japão, com máscaras que indicavam a linhagem de nobreza dos cavaleiros.

Na esfera da saúde, as máscaras têm os primeiros registos de uso a partir do século XVII no combate à chamada peste negra ou peste bubónica que assolou a região da Europa e Ásia entre os séculos XIV e XVIII. Juliana Schmitt observa que, à medida que as pessoas obtinham mais conhecimento sobre a peste, os “doutores da peste” iam adaptando os trajes daqueles que tinham contato direto com os doentes. A máscara tinha um formato de pássaro, com um bico comprido e olhos circulares e diferenciava os doentes dos médicos. Na ponta do bico eram colocadas ervas que tinham a finalidade de filtrar o ar para evitar que o médico contraísse a doença.

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Concluindo

Podemos (e devemos) mascarar-nos para proteção própria e do outro, mas não podemos perder o rosto humano, religioso, político, social e decorativo. Seria pena. Reste o olhar e o coração!

2020.11.14 – Louro de Carvalho


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