A Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) enviou, a 18 de novembro, uma mensagem de esperança e um apelo à
solidariedade às
instituições europeias e aos Estados-membros, alertando para a necessidade de
superar a crise da covid-19 com uma com resposta conjunta e solidária.
O documento, intitulado ‘Reencontrar
a Esperança e a Solidariedade’, tem a assinatura dos presidentes dos
episcopados que integram a COMECE, incluindo Dom José Ornelas, da CEP (Conferência
Episcopal Portuguesa), foi divulgado
online e realça:
“A esta crise que nos surpreendeu e apanhou
desprevenidos, os países europeus reagiram inicialmente com medo, fechando as
fronteiras internas e externas, recusando-se até alguns a partilhar entre os
Países as provisões médicas mais necessárias. Muitos de nós estávamos
preocupados que até a própria União Europeia, enquanto projeto económico,
político, social e cultural, estivesse em risco.”.
Os signatários pedem, em particular, que a vacina contra a covid-19, seja
“acessível a todos, sobretudo aos mais pobres”, assim que estiver disponível. E
justificam:
“A pandemia que nos atormentou nos últimos
meses abalou muitas das nossas seguranças e mostrou a nossa vulnerabilidade e a
nossa interdependência. Os idosos e os pobres em todo o mundo sofreram o pior.”.
Os Bispos exortam ao respeito pela liberdade de religião dos crentes, “em
particular a liberdade de se reunirem para exercer a própria liberdade de
culto, no pleno respeito pelas exigências de saúde”, o que se torna ainda mais
relevante “ se se considera que as obras caritativas nascem e estão também
enraizadas numa fé vivida”.
Por isso, declaram a sua “boa vontade de manter o diálogo entre as
autoridades estatais e as eclesiásticas, para encontrar a melhor forma de
conciliar o respeito pelas medidas necessárias e a liberdade de religião e de
culto”.
Por outro lado, sublinhando que o futuro da União Europeia (UE) “não depende apenas da economia e das finanças”, mas
também de “um espírito comum e de uma nova mentalidade”, frisam que “não
devemos simplesmente dedicar todos os nossos esforços para voltarmos à ‘velha
normalidade’, mas aproveitar esta crise para realizar uma mudança radical para
melhor”. Na verdade, os
Pais Fundadores da União estavam convencidos de que Europa se forjaria e
robusteceria em tempos de crise.
Saudando a resposta oferecida na UE, com “renovada determinação”, esperam
que o instrumento para a recuperação da covid-19 e o orçamento reforçado da UE
para 2021-2027, acordados na reunião do Conselho Europeu de julho, “possam
refletir este espírito”.
Nestes termos, na sua “mensagem de esperança e apelo à solidariedade”, quando
se nota um impasse da parte de alguns Estados-membros na concretização dos
instrumentos de resposta à crise, reafirmam o forte compromisso da Igreja
Católica na “construção da Europa” – que trouxe a paz e a prosperidade ao
Continente – e nos seus valores fundadores de “solidariedade, liberdade,
inviolabilidade da dignidade humana, democracia, estado de direito, igualdade,
e defesa e promoção dos direitos humanos”. E, apontando a uma “fraternidade
universal que não deixe ninguém de fora”, pedem atenção particular para as
pessoas mais necessitadas.
Porém, o esforço das instituições e do Estados-membros da UE não pode
consistir em medidas avulsas e precárias. Ao invés, como observa a COMECE, “este
momento obriga-nos a repensar e a reestruturar o atual modelo de globalização,
a fim de garantir o respeito pelo ambiente, a abertura à vida, a atenção à
família, a igualdade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das
gerações futuras”.
Os Bispos católicos europeus apelam ainda a um reforço da ajuda humanitária
e cooperação para o desenvolvimento, com “reorientação das despesas militares
para os serviços de saúde e sociais”, e esperam que o Pacto Europeu sobre
migração e asilo apresentado pela Comissão Europeia possa ajudar a estabelecer
uma “política europeia comum e justa em matéria de migração e asilo”. Com
efeito, como declaram, “a solidariedade
europeia deveria alargar-se urgentemente aos refugiados que vivem em condições
desumanas nos campos de acolhimento e são seriamente ameaçados pelo vírus”,
pois “solidariedade para com os
refugiados não significa apenas financiamento, mas também abertura das
fronteiras da União Europeia de forma proporcional, por parte de cada Estado-membro”.
De todo, a Europa, sob pena de falhar na
sua vocação e responsabilidade histórica perante o mundo e no seu projeto de
desenvolvimento humano, integral e harmonioso, “não pode e não deve virar as
costas àqueles que provêm de zonas de guerra ou de lugares onde sofrem
discriminações ou não podem levar uma vida digna”.
E a mensagem-apelo recorda todos os que tiveram de passar por
“grandes sacrifícios” durante esta crise pandémica, manifestando a
solidariedade da Igreja Católica para “todas as iniciativas que promovam os
verdadeiros valores da Europa”.
Ora,
como suporte desta tomada de posição dos Bispos, vem claramente reiterado que,
“pela nossa fé cristã no Cristo Ressuscitado
temos a esperança de que Deus pode converter tudo o que sucede em algo de bom,
inclusive as coisas que não compreendemos e que pareceriam más” – fé que é “o
fundamento último da nossa esperança e da nossa fraternidade universal”.
Assim,
como Igreja Católica na União Europeia, junto com outras Igrejas irmãs e
comunidades eclesiais, os Bispos da COMECE proclamam e testemunham esta fé. E, com
membros de outras tradições religiosas e pessoas de boa vontade, comprometem-se
a construir “uma fraternidade universal que não deixe ninguém para trás”. Na
verdade, “a fé impele-nos a sair de nós mesmos e ver no outro, especialmente nos
que sofrem e estão marginados, um irmão e uma irmã e a estar dispostos
igualmente a dar a nossa vida por eles”.
2020.11.19 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário