Celebrou-se, nestes dias 12 e 13 de junho, sob a presidência de Dom
Américo Aguiar, Bispo de Dagno e Auxiliar de Lisboa e coordenador geral do Comité Local da Jornada Mundial da Juventude que se
realizará em Lisboa em 2023, a primeira
peregrinação aniversária com a presença física de peregrinos, cuja alegria,
vida e fé o Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, sublinhou ainda que
meio ocultas pelas máscaras. Evocou-se a 2.ª aparição de Maria, que assegurou
que o seu Coração Imaculado triunfará e que os desvalidos encontrarão refúgio
nele. Por outro lado, assinala-se o centenário da entronização da imagem
original da Virgem de Fátima na Capelinha das Aparições, que ali se venera e
que figurou face a face com os peregrinos, entre as 14,30 horas e as 20 horas deste dia 13, na exposição
temporária “Vestida de Branco”, no
Convívio de Santo Agostinho, no piso inferior da Basílica da Santíssima
Trindade.
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Na noite do dia 12, o presidente da Peregrinação, na sua alocução homilética
da Celebração da Palavra subsequente à Procissão de Velas (modelo
celebrativo inaugurado em maio e que o Santuário pensa manter na noite de cada
dia 12 em vez da Missa da Vigília), declarou que “não podemos abandonar
o nosso próximo” e desafiou os cristãos a serem mensageiros do amor de Cristo.
Com efeito, considerando que a pandemia da Covid-19, que nos atravessa e nos
condiciona, “mais do que
nunca, exige-nos a nossa identidade cristã” e, por consequência, postula que não
abandonemos “o nosso próximo”, Dom
Américo Aguiar disse que ninguém pode ficar para trás depois deste caos
sanitário que transformará para sempre as nossas vidas. E lembrou que “estamos juntos no combate a esta pandemia” ou
“estamos todos no mês barco”, como dizia o Papa Francisco em 27 de março, e,
por isso, o que se exige é que “transformemos a sua inevitabilidade numa
oportunidade: que cada pessoa seja mais humana e os cristãos mais autênticos”.
E, retomando o clamor que “os pobres não podem esperar”, de Dom António
Francisco dos Santos, que foi Bispo do Porto, declarou que “nenhum de nós,
crente ou não crente, pode dormir descansado se sabe que à sua beira existe uma
família que passa fome”. E desenvolveu:
“A pandemia recordou-nos a nossa identidade
genética: somos frágeis e mortais. A pandemia confirmou a nossa identidade
social: já não pertencemos à nossa pequena comunidade local, mas somos membros
de uma comunidade mundial interligada entre si. A pandemia potenciou até uma
renovada identidade eclesial, uma Igreja mais doméstica, mais laical e capaz do
digital.”.
E, no quadro
das 14 obras de misericórdia que aprendemos na catequese da infância, destacou
a que “se tornou urgente e imprescindível a todos nós, que é: dar de comer a quem tem fome” e,
reforçando o valor da dimensão caritativa da ação da Igreja, “o seu maior
poder”, sobretudo nestes tempos difíceis, vincou:
“O alimento é expressão mais básica da nossa
cultura humana: é comprado pelo trabalho, é preparado para nos dar forças e é
consumido na partilha da mesa. A falta de alimento significa quase sempre falta
de emprego e as consequências estão à vista de todos.”.
Evocando o tem
do Santuário para 2019/2020 “Tempo de graça e misericórdia:
dar graças por viver em Deus”, frisou que, “mais do que nunca, este é um tempo de
misericórdia”. E, centrado no mandamento do amor, a maior herança de Jesus e
que só se aprende no “colo de uma mãe”, garantiu que “ser cristão hoje é
mais uma questão de amor do que um assunto doutrinal”, pois “o mandamento do
amor é o único capaz de salvar a humanidade” e “esta é a grande sabedoria que
aprendemos nesta ‘escola do amor’, que o colo de Nossa Senhora de Fátima tão
bem nos ensina!”. Com efeito, “se hoje estamos aqui, é porque reconhecemos que
este colo maternal da Senhora de Fátima continua a ser para nós uma autêntica
escola do amor” – disse.
“Este é o
segredo do mandamento do amor, o sinal da nossa identidade. Este é o pedido do
Senhor Jesus” – observou pedindo aos cristãos para afinarem o sentido de
comunidade.
Vincando a
grande atualidade da Mensagem de Fátima, que não é só uma história do passado
que nos comove, mas sobretudo uma mensagem que hoje nos desafia, garantiu:
“Jesus precisa de cada um de nós! Cada um,
com a sua história de vida, com as suas qualidades e fragilidades, com os seus
projetos e sonhos, é precioso aos olhos de Jesus!”.
E afirmou
que o tema deste Ano Pastoral em Fátima – “Dar graças por viver em Deus” – “educa-nos
para esta relação entre a ‘graça’ de Deus e a ‘liberdade’ da nossa ação”.
***
No dia 13, na homilia da Missa internacional, o Bispo auxiliar de Lisboa assegurou
que o grau de civilização duma sociedade
se mede pela sua capacidade hospitaleira e, por isso, a solidariedade europeia que
a pandemia postula não pode ser apenas “uma urgência pandémica, mas uma marca
da sua identidade”. E pediu à Europa que retome a matriz cristã e ponha em prática “a gramática da hospitalidade”.
E, a este respeito, enfatizou:
“A nossa União Europeia terá de perceber que
já não basta ser aquela original comunidade económica e política, mas terá de
dar o passo seguinte: ser uma verdadeira comunidade humana, mais hospitaleira,
determinada no combate solidário às consequências económicas e sociais desta pandemia,
decidida no acolhimento de todos e apostada no respeito pela casa comum que
todos habitamos”.
Considerando
que “a ajuda entre povos e países europeus” não deve resultar do “medo
provocado por um vírus”, mas ser “um ímpeto do humanismo e da matriz cristã que
carateriza o velho continente” a nível identitário, disse que esta é uma das
grandes lições que a humanidade aprendeu com a covid-19, e que “só com essa
determinação asseguramos o nosso futuro e o das gerações vindouras, feito cada
vez mais do encontro entre povos, culturas e religiões”. E, a este respeito,
lembrou:
“Os nossos pequenos gestos podem ter uma
consequência, não só em relação a quem está próximo, mas também comunitária e
mesmo até universal. Perante isto, todos teremos de reaprender a ‘gramática da
hospitalidade’: somos responsáveis pela saúde, o bem-estar, a alegria e a
salvação dos outros!”.
Ensinando
que “a hospitalidade é um ato racional permanente de acolhimento do outro” e
que “o grau de civilização de uma sociedade pode medir-se precisamente em função
da sua hospitalidade”, recuperou a ideia deixada pelo Cardeal José Tolentino
Mendonça, no passado dia 10 de junho, da necessidade do reforço do “pacto
intergeracional”, para fortalecer o pacto comunitário. E assegurou:
“Hoje, aquilo que certamente Deus nos pede
para esta nova fase da humanidade, a pós-globalização, é somente isto: acolher
com hospitalidade o outro, vítima do efeito socioeconómico desta pandemia”.
Evocando a história
de vida de Lúcia, afirmou que “somos convidados a valorizar a importância e
urgência de uma relação intergeracional” e, rejeitando a fatiação da sociedade,
apelou:
“Não permitamos que nos dividam entre novos
e velhos, pobres e ricos, brancos e pretos, do norte e do sul, azuis ou
vermelhos (…) não deixemos que a nossa velha Europa se queira esquecer,
arrancar-se das suas raízes”.
E, neste
contexto, apontou que “talvez possamos entender melhor a urgência de uma
economia nova, de Francisco, que não mate”, que não descarte, que não deixe
ninguém para trás.
Dom Américo
Aguiar, “emocionado” por regressar ao Santuário e presidir à celebração do
recomeço (é a
primeira vez que preside a uma peregrinação em Fátima), anos depois de ter participado, como seminarista, no
programa ‘Um dia como peregrino’, deteve-se
ainda em considerações sobre a santidade para todos (sobretudo a
dos santos da porta, acessível a todos, como redescobriu o Vaticano II e em que
insiste o Papa Francisco), tema do
ano pastoral em Fátima, lembrou a peregrinação das Crianças que este ano foi
cancelada devido à pandemia, saudou os amiguitos e amiguitas do Cardeal Marto,
ali presentes, e invocou a proteção de Nossa Senhora de Fátima para as crianças
e os adultos, para os “jovens e para os idosos”, para “os pobres e os abandonados”,
para os que “perderam o emprego”, os “refugiados ou vítimas da guerra”, entre
outros. E exclamou:
“É o mundo inteiro que celebra aqui connosco
esta Eucaristia, de mãos dadas com Maria”.
Convicto de
que estava a cumprir a promessa de Dom António Marto em 13 de maio e desejando
que o próximo ano seja de enchente, recordou o “Voltaremos, sim, voltaremos …
para Te cantarmos: Aqui vimos, Mãe
querida, consagrar-Te o nosso amor”. E, expressando a confiança em Maria e
lembrando o que dizia o Papa há três anos “Temos
mãe”, explanou:
“E aqui chegamos, hoje… voltando,
regressando…desconfinando…enchemos com as nossas preces este Altar do mundo,
dirigimos o nosso olhar à imagem de Nossa Senhora de Fátima que completa cem
anos de existência e vemos duas crianças, os santos Francisco e Jacinta Marto
com quem temos tanto para aprender”.
De facto, a
Mãe de todos ensina que não podemos armar-nos em doutores do quer que seja, mas
estar disponíveis para aprender com todos, incluindo as crianças. E Dom Américo
Aguiar recordou as palavras da carta do Papa Francisco no passado dia 13 de
maio, que nos tranquilizava no sentido de assegurar que Nossa Senhora não nos
abandona, mas está connosco.
E o Bispo auxiliar de Lisboa quis lembrar, na celebração, as
“autoridades do Estado, autarcas, profissionais de saúde, os dos lares, IPSS e
Misericórdias, as famílias e cuidadores informais”, pessoas que “na linha da
frente e de forma anónima” cuidam dos irmãos, e também os “concidadãos que
faleceram”: “1505 nossos concidadãos que partiram no contexto desta pandemia e
os sacerdotes que hoje estão na casa do Pai”.
***
Na mensagem
que encerrou a Peregrinação, o Cardeal Dom António Marto agradeceu “de todo o
coração “a presença, a presidência e a mensagem “bela e terna de hospitalidade”
que Dom Américo Aguiar trouxe à Cova da Iria e partilhou os motivos de alegria
que esta Peregrinação lhe deu. E, deduzindo a reação de agradecimento e
confiança dos peregrinos, disse:
“Esta peregrinação reveste-se de uma
particular alegria… Primeiro, porque é a primeira peregrinação aniversária,
deste ano, com a presença física dos peregrinos, que traz ao nosso Santuário a
vida, o calor e o afeto dos vossos corações (…), que transbordam de alegria. O
segundo motivo é o centenário da chegada ao Santuário da Imagem de Nossa
Senhora, que se tornou no símbolo de Fátima e que nos lembra que os peregrinos
de Fátima encontram aqui um memorial da presença de Deus e a experiência do
acolhimento incondicional, através do colo materno de Maria.”.
E
prosseguiu:
“Por tudo isto, o peregrino traz aqui duas
palavras: ‘obrigado’ e ‘confio’. Obrigado, meu Deus, pela ternura que nos fazes
chegar pelo coração materno de Maria; e confio-me ao Teu Imaculado coração,
para que ele seja o caminho que me conduz até Deus. Eis a beleza desta
peregrinação: ternura e cuidado, de uns pelos outros e pela nossa casa comum!”.
Como é
habitual, o cardeal português deixou ainda uma palavra às crianças e uma
“saudação afetuosa” aos peregrinos que acompanharam as celebrações através dos
órgãos de comunicação social, em particular os doentes e os idosos, para quem
pediu uma salva de palmas.
***
Enfim, uma
peregrinação com menos peregrinos e mais distantes já dá outro brilho ao
Santuário, que se afirma na continuidade da confissão da fé, do crescente
aprofundamento da espiritualidade, da dignidade da celebração litúrgica e das
mensagens pertinentes ao mundo.
2020.06.13 –
Louro de Carvalho
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