segunda-feira, 8 de junho de 2020

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 2020



Sim, a festa nacional vai realizar-se, mas de modo sóbrio ou, como determinou o Chefe de Estado, em “cerimónia simbólica” no Mosteiro dos Jerónimos com dois discursos: o do Cardeal Dom José Tolentino Mendonça e o do Professor Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa.
O ato oficial das comemorações terá início no exterior do Mosteiro dos Jerónimos onde, pelas 11 horas e sob a Presidência do Chefe de Estado, decorrerá a Cerimónia do Içar da Bandeira Nacional, com a execução do Hino Nacional, o disparo de uma salva de 21 tiros por unidade naval da Armada Portuguesa fundeada no rio Tejo e o sobrevoo de homenagem por uma esquadrilha de aeronaves F-16 da Força Aérea.
Depois, na Igreja de Santa Maria de Belém, o Presidente da República depositará uma Coroa de Flores no Túmulo de Luís Vaz de Camões e guardará um minuto de silêncio em homenagem aos Mortos ao serviço da Pátria.
Nos claustros do Mosteiro, usará da palavra o Cardeal Dom José Tolentino de Mendonça, Presidente da Comissão Organizadora do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (cujo trabalho foi reduzido pela pandemia), a que se seguirá a intervenção do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que encerrará as Cerimónias.
Esta informação consta duma nota divulgada, a 1 de junho, no portal da Presidência da República na internet, na qual se refere que “as comemorações que estiveram previstas para a Região Autónoma da Madeira e com a comunidade portuguesa residente na África do Sul (que abrange muitos madeirenses – incluí e sublinhei) foram alteradas, para assim se respeitarem as regras de precaução sanitária no quadro da pandemia da doença Covid-19”.
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A decisão presidencial de cancelar as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas nos moldes previstos foi tomada já no dia 26 de março, no quadro da primeira edição da declaração do estado de emergência, em virtude da pandemia do novo coronavírus, que alastrou pelo país e pelo mundo. Porém, desde logo se garantia que “haverá Dia de Portugal” com uma sessão em Lisboa.
Segundo a nota da Presidência da República e a sua explicitação verbal da parte do inquilino de Belém, as comemorações nos moldes previstos (e como fora prometido o ano passado) implicariam “a movimentação de centenas de militares e centenas de civis do Continente para a Madeira e a presença de milhares de nossos compatriotas madeirenses”. E o Chefe de Estado acrescentava que a África do Sul “está neste momento a viver um regime muito restritivo” devido à pandemia e que as comemorações nesse país implicariam também “um conjunto de deslocações” e “grandes aglomerações”. Assim, concluía que “seria insensato” manter as comemorações da forma como estavam previstas, parecendo “prudente evitar as grandes aglomerações”.
A decisão foi tomada naquela data pelo facto de a organização ter que avançar neste período. E o Presidente frisava que “haverá a celebração do 10 de junho, Portugal continua”, mas será efetuada em Lisboa com os cuidados impostos pelas circunstâncias: “Haverá Dia de Portugal”.
Quanto à Madeira e à comunidade portuguesa da África do Sul, foi prometido que receberão o Dia de Portugal no próximo ano, tendo Marcelo Rebelo de Sousa garantido que tudo fará para que assim seja se for reeleito presidente ou que o proporá ao seu sucessor.
Segundo o Diário de Notícias da Madeira, a mensagem presidencial chegou também aos governos regionais nos termos seguintes:
Considerando as circunstâncias atuais da pandemia Covid-19, cujos efeitos se vão ainda estender por largas semanas, vejo-me constrangido a decidir a anulação das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que estavam previstas no mês de junho para o Funchal e junto das comunidades portuguesas na África do Sul. Lamento tal decisão, mas a situação atual a isso exige.”.
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Já no dia 17 de abril o Presidente comunicara que estaria presente nas Comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República e no 10 de Junho.
Não vi nem vejo razão para que não estivesse presente numa celebração promovida pela Assembleia da República, embora, segundo constou, não se revisse nos termos em que ela estava a ser programada, mas talvez nos moldes em que decorreu. Já me pareceu um pouco desajustado do regime de confinamento em que o país ainda estava o estilo de celebração do 1.º de Maio: uma central sindical decidiu por uma cerimónia inteiramente virtual; e outra, por uma cerimónia pública, alegadamente com a observância das regras de distanciamento social. Alguns observadores criticaram o regime de exceção criado pela legislação que enquadrava o estado de emergência ainda vigente e, no caso, do 1.º de Maio, a deslocação entre municípios diferentes, que estava vedada ao comum dos cidadãos. Mas, como referi então, o 25 de Abril e o Dia do Trabalhador ou se se celebram ou não, não havendo lugar a celebrações meramente virtuais.     
Consta – pelo menos alguns assim o fizeram entender – que o Presidente, com a celebração do 10 de Junho, nos termos escolhidos para este ano, quis dizer como se deveria ter celebrado o 25 de Abril e o 1.º de Maio, pois até parece ter dito que não pensava que iria esta segunda comemoração tomar tão grandes proporções como as verificadas.  
Lamento discordar, mas a promulgação dum decreto no âmbito do estado de emergência não é um mero requisito formal que se exige do Chefe de Estado, pois a fonte da declaração do estado de emergência é o mesmo Chefe de Estado. Depois, não é curial vir a posteriori “ensinar” como se fazem ou deviam ter feito as coisas. Ademais, embora o país esteja em calamidade, já estamos na terceira fase do desconfinamento. E, se o surto da Covid-19 está a crescer em Lisboa e Vale do Tejo, as festas do Dia de Portugal poderiam não ser em Lisboa, mas em Évora, Vila Viçosa ou Faro, por exemplo, e com mais pessoas. Reduzir os participantes a um número de 8 é muito pouco. Serão um por cada uma das oito regiões que o povo rejeitou em referendo?
O Santuário de Fátima, que não distingue entre “peregrinos e celebrantes”, pois todos somos celebrantes e peregrinos, comemorou a 1.ª Aparição, com mais pessoas e bem distanciadas – com representação das 21 dioceses portuguesas e dos grupos que se tinham inscrito por países – e já celebrou a Solenidade do Pentecostes com peregrinos.
Ora, se as altas figuras do Estado já foram a espetáculos e à praia, porque não andam ir ao Mosteiro dos Jerónimos? Não me falem de exemplo, porque os nossos representantes são para fazer aquilo que nós não podemos fazer e o exemplo devem dá-lo na honestidade polidez.
2020.06.08 – Louro de Carvalho

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