quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Atingir a meta europeia de redução do abandono escolar


O Ministro da Educação acredita que Portugal atingirá a meta estabelecida pela UE (União Europeia) de redução de abandono escolar, apesar de reconhecer que agora se trata de “pescar à linha” os alunos com insucesso escolar. É uma intenção divulgada pela agência Lusa e replicada pelo “educare.pt” e pelo “24.sapo.pt”.
Segundo os dados disponíveis no INE (Instituto Nacional de Estatística), que divulgou ontem, 6 de fevereiro, a Taxa de Abandono Precoce de Educação e Formação de 2018, o número de jovens que deixam a escola antes do tempo voltou a diminuir no ano passado, para 11,8%. Portugal fica, assim, a 1,8% da meta da taxa de abandono de 10% estabelecida pela UE para 2020, um objetivo que o Ministro da Educação acredita que será possível atingir. 
Recordando que o abandono escolar atingiu, em 2018, o valor mais baixo de sempre, tendo descido de 12,6% em 2017 para 11,8% em 2018, o Ministro, em declarações à Lusa, afirmou:
Acredito verdadeiramente que temos condições para alcançar a meta 2020 e estamos no bom caminho”.
Brandão Rodrigues lembrou as melhorias registadas desde o virar do século e a progressiva aproximação à média da UE. Com efeito, em 2002, cerca de 45% (quase metade) dos alunos abandonava a escola antes do tempo, uma realidade muito distante da média da UE (17%); em 2011, mais de um em cada 5 jovens abandonavam a escola antes de terminar os estudos (23%). Ou seja, em apenas 7 anos verificou-se uma redução de mais de 10 pontos percentuais. Em 2018, “a média da UE é muito similar” aos valores nacionais. No entanto, reconhece o governante, “é muito mais difícil passar de 11% para 10% do que era passar de 45% para 30%”.
Em comunicado enviado para a Lusa, o ME (Ministério da Educação) congratula-se com este valor frisando que foi alcançado um “mínimo histórico”, mas vincando que o trabalho do Ministério não estará acabado “enquanto houver jovens que abandonam a escolaridade obrigatória”.

O ME recorda que o abandono escolar é uma das vulnerabilidades do sistema educativo e, por isso, um dos principais objetivos da legislatura foi a redução do abandono, pelo que, se, no início do século, algumas “medidas generalistas tinham resultados mais ou menos imediatos e muito fortes”, agora as escolas têm de fazer “um trabalho refinado, uma pesca à linha daqueles que têm abandono e insucesso escolar para poder mitigar o problema”. 

Para o responsável governamental, “as medidas generalistas já não servem, têm de ser medidas específicas que vão ao encontro de cada um dos nossos alunos em dificuldades”, até porque se sabe que “existem grupos de estudantes mais vulneráveis”. É, de facto, entre os jovens de meios socioeconómicos mais desfavoráveis que há mais insucesso e abandono. E há diferentes realidades regionais: O Alentejo, por exemplo, é uma das regiões com mais insucesso e, por isso, com mais abandono. Ora, sendo a retenção uma das causas do abandono precoce, Tiago Brandão Rodrigues lembrou que o seu Ministério tem trabalhado para reduzir este problema.
O Ministro lembrou alguns dos programas que a sua equipa pôs em curso e aplaudiu o trabalho feito pelas escolas, mas também pelos alunos que “não desistem de lutar”. Entre as medidas do Governo, Tiago Brandão Rodrigues lembrou o “Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar” (PNPSE), centrado no trabalho em sala de aula e na deteção precoce de dificuldades ou o “Apoio Tutorial Específico” destinado a alunos em situação de insucesso e em risco de abandono. Para isso, cada agrupamento de escolas e cada escola não agrupada elaborou o seu Plano de Ação Estratégica, o famoso PAE, que foi elaborado pelas respetivas estruturas pedagógicas e aprovado pelo conselho pedagógico e que é objeto de assídua monitorização e avaliação com vista à introdução das melhorias necessárias.    
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Por outro lado, para puxar pelo sucesso e combate ao abandono escolar, o ME pretende introduzir alterações no modelo de avaliação externa das escolas ou agrupamentos de escolas. Nestes termos, a inclusão passará a ser também um indicador da qualidade das escolas, a par de outros “indicadores mas finos e centrados no que é a missão da escola”, não devendo ser descurada a inserção comunitária e social dos alunos. São estas algumas das novidades no 3.º ciclo de avaliação das escolas que se vai iniciar, a concretizar com equipas com mais elementos. Recorde-se que o primeiro decorreu de 2006 a 2011 e o segundo de 2012 a 2017.  
A ideia não é olhar, segundo Sara R. Oliveira, no “educare.pt”, a 1 de fevereiro, apenas para as classificações, médias – resultados dos alunos –, mas analisar o trabalho feito nas escolas de forma mais abrangente, para lá dos lugares dos rankings publicados todos os anos.
É preciso, do meu ponto de vista, esclarecer que já assim vinha sendo, mas agora introduziram-se mais indicadores. Recorde-se que os próprios rankings passaram a incluir outros elementos além das classificações, nomeadamente o atinente ao trabalho que a escola faz pelo sucesso.  
Certo é que a inclusão passará a ser mais um dos indicadores para avaliar a qualidade dos estabelecimentos de ensino e não somente no ensino público, mas também no particular e cooperativo. A novidade foi dada na conferência de imprensa sobre o que há de novo no terceiro ciclo do modelo de avaliação externa das escolas. A este respeito, referiu João Costa, Secretário de Estado da Educação: 
Tenho dito, várias vezes, que os rankings não dizem rigorosamente nada sobre a qualidade da escola: premeiam práticas de retenção para os alunos nem sequer chegarem aos exames, premeiam práticas de seleção de alunos à entrada, e dizem muito mais sobre a condição socioeconómica dos alunos, e sobre o contexto em que a escola está inserida, do que propriamente sobre o trabalho que é feito na escola”.
Por seu turno, Filinto Lima, professor, diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, e presidente da ANDAEP (Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas), concorda que, sendo a inclusão um indicador poderá contribuir para uma avaliação externa mais justa, se tiver em conta a inclusão de todos os alunos e se for conjugado com outros fatores, para lá dos resultados escolares. Em seu entender, nessa avaliação externa das escolas, os instrumentos de registo das equipas avaliativas devem ser universais, uniformes, de fácil operacionalização, de forma a afastar o mais possível a subjetividade de uma “avaliação que se pretende justa, credível e proporcional”. Também este (E é diretor e chefe de diretores!) deixa subentendido que até agora a avaliação externa das escolas (que não das disciplinas) se cingia ao domínio dos resultados, quando estes, além dos números, eram analisados em contexto e se procurava saber também dos resultados sociais (participação na vida da escola e assunção de responsabilidades, cumprimento de regras e disciplina, formas de solidariedade e impacto da escolaridade na vida dos alunos) e do reconhecimento da comunidade (grau de satisfação, formas de valorização do sucesso e contributo da escola para a comunidade envolvente). E havia mais dois domínios: prestação do serviço educativo, com os subdomínios: planeamento e articulação (com 5 indicadores), práticas de ensino (com 7 indicadores) e monitorização e avaliação do ensino e das aprendizagens (com 5 indicadores); e liderança e gestão, com os subdomínios: liderança (com 5 indicadores), gestão (com 5 indicadores) e autoavaliação e melhoria (com 5 indicadores). 
(cf http://www.ige.min-edu.pt/upload/AEE_2016-2017/AEE_16_17_(1)_Quadro_de_Referencia.pdf)
Porém, Filinto Lima referiu ao “educare.pt”:
Parece-me que usar só uma fonte, porque construído com base apenas na média dos resultados dos exames por escola, ignorando critérios essenciais – rankings – distorce a realidade e torna-se num instrumento perigoso e injusto para as escolas – alunos, pais e professores – ludibriando-as, caso não percecionem a limitação intrínseca desta falsa tabela classificativa”.
E sublinha que, do outro lado, em contraponto, estão os Percursos Diretos de Sucesso, um instrumento “mais justo e realista com enfoque preferencial nos progressos efetivos no âmbito do trabalho das escolas, privilegiando outros fatores como o perfil dos alunos e a sua evolução à saída da escolaridade obrigatória”. 
Segundo o presidente da ANDAEP, essa tabela classificativa – os conhecidos rankings – mostra a qualidade dos alunos que fazem os exames, colocando-se os resultados escolares na linha da frente, em detrimento da ação e do mérito da escola, mas “não retrata a outra vertente (competências sociais) com que o aluno sai da escola”. E lembra que em muitos países, como nos Estados Unidos da América, “o recrutamento para emprego já se faz pela leitura do portefólio onde essas competências são valorizadas”, mais do que a performance académica. E questiona:
 “Neste contexto, não é correto concluir que a escola que ocupa o primeiro lugar é a melhor e a que ficou em último é a pior, independentemente de ser pública ou privada. Pergunto: Obteriam os alunos da escola classificada em primeiro lugar uma classificação melhor se frequentassem a escola classificada no último lugar? Conseguiriam os alunos da escola classificada em último lugar ter uma classificação melhor se frequentassem a escola classificada em primeiro lugar?”.
O presidente da ANDAEP refere que talvez fosse mais interessante construir um ranking que graduasse as escolas tendo em conta, pelo menos, dois fatores, ou seja, “as que preparassem melhor os alunos para terem sucesso no Ensino Superior, e/ou as que tivessem em linha de conta a evolução do aluno desde que entra numa escola (valor acrescentado pela escola ao aluno durante o percurso escolar)”. 
Embora pareça haver uma certa confusão entre a avaliação da escola e a dos alunos, é de lembrar que as empresas, se quiserem admitir ao emprego com base no desempenho curricular do ensino básico e do secundário, poderão ter à disposição, se o Governo assim o entender, as classificações nos diversos parâmetros de avaliação de que decorre, em cada momento de avaliação sumativa, a classificação da respetiva disciplina
Por seu turno, Manuel Pereira, professor, diretor do Agrupamento de Escolas de Cinfães, presidente da ANDE (Associação Nacional de Dirigentes Escolas), lembra que a inclusão é uma das grandes apostas das novas correntes pedagógicas a nível europeu, pois, “de alguma forma, chama a atenção para a necessidade de dar a mesma oportunidade a todos”. Assim, incluir é, na sua opinião, uma obrigação das escolas, faz parte da sua própria missão. 
Aliás, não é por acaso que o Governo, após um ano de experiência lançada nalgumas escolas, fez publicar o Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho, que “estabelece o currículo dos ensinos básico e secundário e os princípios orientadores da avaliação das aprendizagens”, generalizando a prática da lecionação a partir do projeto de autonomia e flexibilização curricular, e fez publicar o Decreto-lei n.º 54/2018, de 6 de julho, que “estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão, enquanto processo que visa responder à diversidade das necessidades e potencialidades de todos e de cada um dos alunos, através do aumento da participação nos processos de aprendizagem e na vida da comunidade educativa”, e “identifica as medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão, as áreas curriculares específicas, bem como os recursos específicos a mobilizar para responder às necessidades educativas de todas e de cada uma das crianças e jovens ao longo do seu percurso escolar, nas diferentes ofertas de educação e formação”.  
Manuel Pereira diz que “as escolas têm a obrigação de criar as medidas e as estratégias para dar a todos as mesmas oportunidades”, numa perspetiva de igualdade e de equidade. Mas é preciso saber se na avaliação das escolas também será tido em conta se as escolas têm as mesmas oportunidades e não apenas as mesmas obrigações, se têm os recursos e os meios necessários, físicos e humanos, de que necessitam para essa inclusão. Mais sustenta que “a avaliação é importante, se dessa avaliação se fizerem as extrapolações necessárias para que as escolas tenham recursos e meios necessários para essa igualdade de oportunidades”, até porque, repara, “as escolas são todas diferentes, nem todas têm os mesmos recursos e meios”.
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A inclusão, como indicador de avaliação, passa abranger as escolas privadas com financiamento estatal e as de ensino profissional, e não apenas as públicas. Por outro lado, a equipa dos avaliadores, que integrava dois inspetores da IGEC (Inspeção-Geral da Educação e Ciência) e um perito do Ensino Superior, terá novos elementos, ou seja, “pessoas de reconhecido mérito, que tiveram funções na escola para trazer conhecimento de terreno ao processo avaliativo”, segundo o Secretário de Estado da Educação, que acrescenta: “É importante ter quem sabe como funciona uma escola a avaliar aquilo que nela se faz”. 
O 3.º ciclo do modelo de avaliação externa das escolas começará em maio deste ano. A uma análise quantitativa, junta-se uma componente qualitativa. E João Costa, parecendo ignorar a componente qualitativa já existente, sublinhou, na aludida conferência de imprensa:
Introduz-se a inclusão como avaliação-chave do que é uma escola de qualidade, ou seja, o que estamos a dizer é que uma escola não é boa apenas por um resultado. E esse resultado, às vezes, nem é conseguido na escola, é conseguido num centro de explicações. Assim, avalia-se o trabalho que a escola faz no progresso de cada aluno, na mobilidade social de cada aluno, e no trabalho que faz com cada aluno que tem mais dificuldades.”.
O ME pretende analisar, nesta nova fase de avaliação, os resultados escolares e os resultados sociais e espera que as escolas estejam recetivas a novas práticas pedagógicas, quando nem tudo corre bem. Com este discurso até parece dar a entender que este Ministro descobriu a pólvora, dando a entender que não conhece o atual quadro de referência presente na IGEC desde 2012. E o Secretário de estado da Educação, que acha que os centros de explicações trazem qualidade às aprendizagens (Ironia ou desconhecimento?), quer a aposta em indicadores mais finos e que pretendem abranger todas as dimensões do que é a missão da escola. E diz:
Uma escola TEIP [Territórios de Intervenção Prioritária], num contexto muito desfavorecido, com problemas sociais à volta muito complicados, quando consegue garantir a empregabilidade de alunos, a sua inserção comunitária e social, fez muito mais do que algumas que aparecem no topo da escala dos rankings”.
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Bem eu me fio que, a ignorar o que vem sendo feito, que a situação se venha a modificar substancialmente. No modelo atual já era possível fazer melhor, se a avaliação externa não constituísse um ensaiado ato de cosmética de que resulta a crónica diferenciação entre escolas boas e escolas sofríveis, sendo que nunca se retirará da avaliação escolar o elemento subjetivo. É preciso considerar a mudança como um processo difícil e paciente, como diz o Papa Francisco.
2019.02.07 – Louro de Carvalho  

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