Francisco
recebeu, na manhã do dia 1 de fevereiro, no Vaticano, a Comissão mista
internacional para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas
Ortodoxas Orientais, que reúne para tratar de diversos temas anualmente,
durante uma semana. Esta é a 16.ª sessão. A sessão do ano passado foi realizada
na Sede de Santa Etchmiadzin, a convite da Igreja Apostólica Arménia.
O encontro com
o Santo Padre iniciou-se com a intervenção do Bispo Kyrillos, novo copresidente
da Comissão. Seguiu-se o discurso de Francisco, em que se destacou a
verificação pertinente de que “a semente
da unidade continua a ser regada pelo sangue dos mártires”.
À luz do
versículo, “Como é bom e agradável para irmãos viverem
unidos” (v 1), do Salmo 133, o Pontífice começou por saudar os
presentes e agradecer-lhes os esforços para “caminhar nos caminhos da unidade e a
fazê-lo com espírito fraterno”.
Como os
trabalhos desta 16.ª sessão refletiram sobre o Sacramento do Matrimónio,
Francisco fez referência a Deus enquanto comunhão de amor. E disse:
“Rezo e encorajo-vos para que a atual reflexão sobre os Sacramentos
possa ajudar-nos a prosseguir o percurso rumo à plena comunhão, rumo à
celebração comum da santa Eucaristia. Gosto de pensar no que afirma o Livro do
Génesis: ‘Deus criou o homem à sua imagem, criou o homem e a mulher’ (Gn 1,27).
O homem é plenamente a imagem de Deus não quando está sozinho, mas quando vive
na comunhão estável de amor, porque Deus é comunhão de amor.”.
E acrescentou
sobre este trabalho da Comissão em prol a família dos filhos de Deus:
“Estou certo de que o vosso trabalho, realizado em um clima de grande
concórdia irá em benefício da família dos filhos de Deus, da Esposa de
Cristo, que desejamos apresentar ao Senhor sem manchas, nem rugas, sem feridas
e sem divisões, mas na beleza da plena comunhão”.
Recordando
que muitos dos presentes “pertencem à Igreja no Oriente Médio, terrivelmente
provada pela guerra, pela violência e pelas perseguições”, referiu-se
ao recente encontro realizado em Bari, onde líderes de diversas Confissões se
reuniram para rezar pela paz e refletir sobre a situação no Oriente Médio,
“experiência que espera possa ser repetida”. E declarou:
“Desejo assegurar a todos os
fiéis do Oriente Médio a minha proximidade, o meu pensamento constante e a
minha oração, para que aquelas terras, únicas no plano salvífico de Deus, após
a longa noite de conflitos, possam vislumbrar um alvorecer de paz. O Oriente
Médio deve tornar-se uma terra de paz, não pode continuar a ser um campo de batalha.
Que a guerra, filha do poder e da miséria, dê lugar à paz, filha do direito e
da justiça, e também os nossos irmãos cristãos sejam reconhecidos como cidadãos
a pleno título e com direitos iguais.”.
Na verdade,
a semente da comunhão é regada pelo sangue dos mártires. De facto, como disse o
Papa, “as vidas dos muitos santos de nossas Igrejas são sementes de paz
lançadas naquelas terras e florescidas no céu”, donde “nos sustentam no caminho
rumo à plena comunhão, caminho que Deus deseja” e pede para seguir, “não
segundo as conveniências do momento”, mas na docilidade à vontade do Senhor: “que todos sejam um” (Jo 17,21). E o Papa concluiu:
“Ele nos chama, cada vez mais, ao testemunho
coerente da vida e à busca sincera da unidade. A semente desta comunhão, também
graças ao vosso precioso trabalho, brotou e continua a ser irrigada pelo sangue
das testemunhas da unidade, por tanto sangue derramado pelos mártires do nosso
tempo: membros de Igrejas diferentes que, unidos pelo comum sofrimento pelo
nome de Jesus, agora compartilham a mesma glória.”.
***
Francisco partiu para Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, país
formado por sete emirados localizados na entrada do Golfo Pésico, no Oriente
Médio. Trata-se da primeira visita dum Sucessor de Pedro à península arábica.
Eram 13,27 horas
quando o avião da companhia Alitalia, um B777, descolou do aeroporto de
Fiumicino com o Santo Padre a iniciar a 27.ª vigem apostólica internacional,
viagem esta aos Emirados Árabes Unidos, onde estará em visita até a próxima
terça-feira (3 a 5 de fevereiro). A chegada
ao Aeroporto Presidencial de Abu Dhabi está prevista para as 22 horas locais.
Porém, antes
de empreender a viagem de 4.298 Km, de aproximadamente 6 horas de voo, o
Pontífice satisfez alguns compromissos este domingo.
Assim, antes da
recitação da oração dominical do Angelus,
ao meio-dia, com milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, na
Casa Santa Marta, o Papa encontrou-se com um grupo de uma dezena de pessoas de
vários países do Oriente Médio, cristãos e muçulmanos, acolhidos pela Esmolaria
Apostólica e pela Comunidade de Santo Egídio. E, ao chegar ao aeroporto romano
de Fiumicino, no início da tarde, antes da partida, visitou uma estrutura
voltada para a assistência a pessoas sem-teto, promovida pelos aeroportos da
capital italiana – estrutura que faz parte do projeto “Vidas em trânsito, o rosto humano de um aeroporto” e assegura apoio
aos sem-teto que se abrigam e encontram repasto no aeroporto de Fiumicino.
E, ainda
antes, ou seja, na noite de sábado, o Santo Padre
foi à Basílica romana de Santa Maria Maior, detendo-se em oração diante do
ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, em vista da sua iminente viagem aos
Emirados Árabes Unidos no seguimento da prática a que nos habituou de confiar a Nossa Senhora a sua viagem apostólica internacional, sendo que
esta 7.ª tem como destino os Emirados Árabes Unidos.
***
Sobre o sentido e alguns pormenores desta viagem,
o diretor interino da Sala de Imprensa
da Santa Sé, Alessandro Gisotti, falou ao Vatican
News.
No atinente
ao sentido da viagem apostólica, elegeu como principais duas dimensões: o
diálogo inter-religioso e o encontro com a comunidade católica local, cerca de
900 mil pessoas.
Por outro lado, a viagem tem uma dimensão histórica,
por ser “a primeira vez que um Papa vai à
Península Arábica, em especial, nos Emirados Árabes Unidos”, e por ser também
a primeira vez que “um Papa celebra missa nessa região”. Além disso, Gisotti também
frisou a ligação da visita com São Francisco de Assis.
Como ficou
dito, esta viagem histórica pode ser “uma importante oportunidade para promover
e reforçar o diálogo inter-religioso, num momento em que se unem esforços conjuntos
pela paz e se tem a certeza de que a fé une, e “para promover e reforçar uma
comunidade, como a católica, extremamente dinâmica e formada, sobretudo, por
imigrantes, em especial, asiáticos e filipinos, que se encontram nos Emirados
Árabes por motivos de trabalho”, na linha da missão de Pedro de confirmar os irmãos
na fé (cf Lc 22,32).
Nestes termos,
é evidente que essas duas dimensões, a do diálogo inter-religioso, em
particular com os muçulmanos, e a do encontro com essa comunidade de cristãos,
tão especial, darão ênfase às mensagens do Papa Francisco nestes dias.
Esta é a
moldura desta viagem aos Emirados Árabes Unidos, tal como será a viagem
apostólica que o Papa fará em menos de dois meses a Marrocos. Estamos no VIII
centenário do encontro entre São Francisco e o sultão do Egito, Malik al-Kamil.
Há uma história muito conhecida na Legenda Maior com referência ao episódio desse
encontro ocorrido em 1219, durante a V Cruzada. Há este elemento de diálogo, de
encontro, de convivência dentro do qual se colocam essas duas viagens. E
Francisco o recordou no discurso ao Corpo Diplomático, a 7 de janeiro deste
ano, quando juntou as duas dimensões desta viagem: a importância da presença
dos cristãos na região – e assim também o convite às autoridades dos Estados
onde estão estes cristãos, para poder garantir a presença e a segurança – e, ao
mesmo tempo, o reforço do diálogo com os muçulmanos. E este é um pouco o valor
do Pontificado de Francisco para obstruir a estrada dos chamados “profissionais
do ódio”, de quem sopra sobre divisões, fanatismo e ideologias que
instrumentalizam o nome de Deus para justificar a violência.
Registar-se-á
também o quinto encontro de Francisco com Grão Imame de Al-Azhar, um outro
elemento fundamental da viagem. E a razão por que o encontro tem os Emirados
Árabes como lugar propício é que nesse Estado está a sede do Conselho dos
Sábios Muçulmanos (Muslim
Council of Elders), presidido
pelo Grão Imame de Al-Azhar, xeique Ahmed al-Tayeb. É um instituto fundado em
2014 com vista à promoção do diálogo e da paz através de personalidades
eminentes do mundo muçulmano do qual, evidentemente, al-Tayeb representa a
síntese e a maior importância.
Sabemos como
Francisco iniciou, com o Grão Imame, um caminho de encontro, de diálogo. E esta
será a quinta vez que eles se encontram. O primeiro encontro foi em 2016 e o
último em outubro de 2018. E, depois, importa destacar o grande evento ligado a
esse encontro inter-religioso em Abu Dhabi sobre a fraternidade humana, que foi
a Conferência Internacional de Paz e de Diálogo Inter-religioso, no Cairo, no
final de abril de 2017, em que “o Papa e o Grão Imame enalteceram a
importância de uma convivência pacífica, de um diálogo e de um caminho junto
das grandes fés e das grandes religiões para a paz e contra cada forma de
violência”.
No último
dia da viagem, o Papa vai celebrar a santa missa com 135 mil fiéis. Certamente
é o momento culminante para a comunidade de fiéis que está nos Emirados Árabes
Unidos e que ficou realmente surpreendida por essa possibilidade. A viagem foi
anunciada em 6 de dezembro do ano passado e tudo foi organizado em pouquíssimo
tempo. Mas Dom Hinder, vigário apostólico na Península Arábica compartilhava
com diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé a grande alegria desse povo
de cristãos migrantes. Eis um outro elemento que tocará certamente o coração de
Francisco: sabe-se da sua atenção aos migrantes.
E é
grandíssimo também o número de pessoas que irá participar da missa no estádio
Zayed, de Abu Dhabi. O estádio pode receber cerca de 45 mil pessoas, mas são
tantos os fiéis que querem participar que foram distribuídos cerca de 135 mil
bilhetes. Assim, é de imaginar que fora do estádio haverá uma grande presença
de fiéis que vão esperar o Papa, que irá passar no papamóvel. E lá estará essa
multidão de fiéis – migrantes, indianos, filipinos e de outros lugares,
sobretudo, da Ásia – que vão acolher Francisco, o que certamente dará coragem à
comunidade dos cristãos: “também
aqui a periferia, a qual Francisco é tão apegado, se torna presente, graças à
sua visita”.
***
A população
de Abu Dhabi, capital do país e sede do Vicariato sul da Arábia espera ansiosa pela
visita do Papa Francisco, como afirma o Padre Olmes Milani, sacerdote scalabriano
brasileiro que esteve em missão nos Emirados Árabes Unidos durante 4 anos, até
dezembro de 2018.
No país, o
Pontífice é visto como um “campeão da paz
e um lutador pela ecologia”. E há “a esperança de que esta visita inédita
contribua para abater o distanciamento inter-religioso e ir além da tolerância,
constituindo um momento para pensar num encontro entre irmãos, de diferentes
religiões, mas que marcham todos na presença de Deus, nosso Criador” – diz
Olmes.
***
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados
filhos de Deus (Mt 5,9).
Como são formosos sobre os montes os pés do mensageiro que
anuncia a paz (Is 52,7).
2019.02.03 –
Louro de Carvalho
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