Passa hoje,
dia 13 de fevereiro, o Dia Mundial da
Rádio, que se celebra anualmente neste dia.
A data foi
declarada em 3 de novembro de 2011 pela 36.ª assembleia geral da UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o 1.º Dia Mundial da Rádio foi
celebrado em 2012, sem que este ano é a sua 8.ª edição.
A deliberação
de 2011 foi tomada sob proposta do reino de Espanha por indicação da Academia Espanhola de La Radio e o 13 de
fevereiro evoca o mesmo dia do ano de 1946, em que a United Nations Radio emitiu pela 1.ª vez um programa em simultâneo
para um grupo de seis países.
A rádio
acompanhou os principais acontecimentos históricos mundiais e continua a ser um
meio de comunicação fundamental poderoso. Este meio de comunicação social adaptou-se
à era digital e mantém-se como um meio fiável para a população, que recebe a
informação na hora, sendo esta uma das caraterísticas mais positivas da rádio. É
o meio de comunicação social que atinge as maiores audiências, continuando a
adaptar-se às novas tecnologias e a novos equipamentos, com a transmissão online via streaming, por exemplo. E, por via telefónica ou pelo correio
eletrónico permite a reciprocidade interativa entre os rádio-ouvintes e a
emissão, passando do simples estatuto de meio de difusão, que não perde, ao de
órgão de diálogo. Dito de outro modo, deixou de ser apenas meio de comunicação
unilateral, embora plurimidirecional, a meio também de comunicação bilateral ou
até multilateral. E é uma companhia de todos os dias em casa, no escritório, na
oficina e até na rua. E é um meio bastante útil para a população, seja como
ferramenta de apoio ao debate e comunicação, de formação, de promoção cultural,
grupal e comercial e de entretenimento, seja como ponto de contacto em casos de
emergência social. Para os profissionais de comunicação social, a rádio é uma grande
plataforma informação facilitadora de divulgação de factos e histórias, através
da notícia e da reportagem.
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Em 2018, a
UNESCO dedicou o Dia Mundial da Rádio
ao tema da radiodifusão desportiva por considerar a rádio como um instrumento
muito eficaz para transmitir o entusiasmo dos eventos desportivos e como um veículo
de valores de fair play, de trabalho
de equipa, de igualdade no desporto, podendo ajudar no combate contra os
estereótipos racistas e xenófobos que se exprimem nos terrenos de jogo e fora
deles. E, permitindo cobrir um vasto leque de desportos tradicionais, muito
além das equipas de elite, constitui uma oportunidade para fomentar a
diversidade, como uma força de diálogo e de tolerância.
Dizia a
UNESCO que no cerne deste esforço está a luta pela igualdade de género. Com
efeito, de acordo com o Relatório Mundial de Monitorização dos Media, apoiado
pela UNESCO, os media apenas dedicam 4% do conteúdo desportivo ao desporto
feminino e apenas 12% das informações desportivas são apresentadas por
mulheres. Por isso, a UNESCO envida esforços para melhorar a cobertura do
desporto feminino, lutar contra a discriminação sexual nas ondas de rádio e
defender a igualdade de oportunidades nos media desportivos – tarefa imensa que
constitui a batalha de todos os dias. E a Diretora-Geral da UNESCO apelou à
mobilização para se fazer da rádio um meio cada vez mais independente e
pluralista, bem como à união de forças para celebrar o potencial da rádio
desportiva para o desenvolvimento e para a paz.
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Na
continuidade da preocupação do ano anterior, vem a UNESCO, neste ano celebrar o
Dia Mundial da Rádio sob o tema “Diálogo, Tolerância e Paz”, por eleger a Rádio como
um espaço de diálogo por excelência. Nesse sentido, algumas estações de rádio,
considerando que este não podia ser um mote melhor para celebrar a efeméride,
convidam os seus rádio-ouvintes a participar nos seus programas de informação,
de debate e de entretenimento.
Assim, o grupo “Renascença” assinalou hoje a efeméride
com um ‘dia aberto’ ao público em geral, marcado pela confraternização entre
profissionais e ouvintes, por espetáculos ao vivo e muita animação para
visitantes de todas as idades.
Em entrevista à Ecclesia,
Aurélio Carlos Moreira, atualmente na Rádio SIM, realçou a oportunidade de se “comemorar”
com as pessoas “um dos meios de comunicação mais fortes” e que continua a ter
“um lugar muito especial” no coração das pessoas e tem um papel cada vez mais
importante junto das populações mais idosas. E, considerando ser esse “o segredo
da longevidade da rádio”, apontou:
“Não calculam a gente solitária que há por
esse mundo fora, principalmente no nosso país, pessoas que acompanhamos e que
nos mandam mensagens, cartas, telefonemas, dizendo que ocupamos um lugar
especial nas suas vidas, porque não têm ninguém junto de si”.
Como é um meio que acompanha as pessoas e que entra em
diálogo com elas, “através da palavra e da música”, Aurélio Moreira afirmou:
“A rádio nos últimos anos voltou a ter esse
papel principal, que é o papel de comunicação, porque houve uma altura em que
ela criou um vazio entre quem apresentava e quem ouvia. Parecia que as pessoas
estavam umas de um lado e outras do outro. Hoje não, e é fantástico haver esse
envolvimento.”.
Proximidade e envolvimento são de facto duas palavras-chave deste 13 de
fevereiro, dia de portas abertas ao público, da parte do grupo Renascença, com
todos os profissionais da casa a mostrar o seu entusiasmo por poderem contactar
com o público e darem a conhecer o trabalho.
A animação começava logo no exterior, com o
acolhimento às pessoas a passar pela música do ‘DJ’ Nélson Cunha. E dizia o
locutor da Mega HITS (emissora de
radiodifusão portuguesa do Grupo Renascença Multimédia, a rádio mais jovem do
país, cujo principal público-alvo são as classes etárias jovens):
“Isto é a realização daquilo que fazemos,
entre aspas, às escuras todos os dias, porque imaginamos que do outro lado
estão pessoas, sabemos que estão, estamos em contacto, mas hoje humanizamos a
Rádio de uma maneira muito especial, e eu acho que isso é extremamente
importante”.
O ‘Open Day’
do grupo Renascença dá ênfase especial à temática da música, com a presença de
vários artistas que se associaram ao evento, com pequenos concertos mais
intimistas para os ouvintes e visitantes. E a série de pequenos espetáculos, levada
a cabo no auditório da Rádio Renascença,
uma das surpresas reservadas para os participantes deste dia aberto, começou
com a atuação de Fernando Daniel, vencedor duma das edições do ‘The Voice Portugal’. O cartaz é
preenchido ainda com atuações de artistas como a fadista Mariza e os grupos
Calema e Magano.
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Para comemorar o Dia
Mundial do Rádio, a UNESCO divulgou uma mensagem em que Audrey Azoulay,
diretora-geral, realça o
poder único e de longo alcance que este meio de comunicação social tem para
alargar os nossos horizontes e construir sociedades mais harmoniosas, pelo que – das grandes
redes internacionais aos radiodifusores comunitários – devem as estações de rádio priorizar e reforçar o
diálogo, a tolerância e a paz, bem como favorecer a sua compreensão e estimular
a participação cívica. E a organização também lançou uma campanha para celebrar
o VIII Dia Mundial da Rádio
convidando as pessoas a mandarem mensagens de tolerância, a fim de ficar
realçada a importância da rádio como uma plataforma para o diálogo e para o
debate democrático. As mensagens selecionadas estão a ser publicadas nas redes
sociais da UNESCO em vários países e compartilhadas com rádios parceiras da
Organização.
Audrey Azoulay refere que, desde a sua invenção, “a rádio produziu novas conversas e
difundiu novas ideias para as casas das pessoas” e para as “cidades,
universidades, hospitais e locais de trabalho”, levando a que “o diálogo
através das ondas aéreas” ofereça “um antídoto para a negatividade que, por
vezes, parece predominar no universo online”. Por isso, “a UNESCO
trabalha em todo o mundo para melhorar a pluralidade e a diversidade das
estações de rádio”.
Sendo a rádio “um dos meios
de comunicação mais reativos e envolventes”, com a integração das mudanças tecnológicas
do século XXI, oferece “novas formas de interagir e participar nas conversas
relevantes – em especial para os mais desfavorecidos”.
E, referindo as mulheres
como um dos grupos mais sub-representados nos meios de comunicação, a
Diretora-Geral da UNESCO enfatiza o papel da rádio na denúncia dos males:
“As mulheres
que vivem em áreas rurais, por exemplo, constituem um dos grupos mais
sub-representados nos meios de comunicação. A probabilidade de elas serem
analfabetas é duas vezes maior do que a dos homens e, por isso, a rádio pode ser
a sua salvação, para que consigam expressar-se e ter acesso à informação. A
UNESCO oferece apoio a estações de rádio na África Subsaariana para que as
mulheres sejam capacitadas a participar do debate público, inclusive a respeito
de assuntos muitas vezes deixados de lado, como os casamentos forçados, a
educação das meninas e o cuidado com as crianças.”.
Sobre o seu papel positivo nas
zonas de conflito, observa:
“Em antigas
zonas de conflito, a rádio pode dissipar o medo e apresentar a face humana de
antigos inimigos, como ocorre no noroeste da Colômbia, onde rádios comunitárias
– apoiadas pela UNESCO – estão a curar velhas feridas ao destacar as boas ações
de combatentes desmobilizados, como a limpeza de cursos de água poluídos.”.
No atinente à variedade
linguística nas transmissões, considera:
“A variedade
linguística nas transmissões também é essencial – o direito de as pessoas se
expressarem em suas próprias línguas, o que adquire um significado especial
este ano, quando a UNESCO lidera a comunidade internacional nas celebrações do
Ano Internacional das Línguas Indígenas”.
Por fim, aponta que, em
todo o mundo,
“A inclusão
de populações diversificadas torna as nossas sociedades mais resilientes, mais
abertas e mais pacíficas, pelo que “os desafios que nós enfrentamos – seja a
mudança climática, os conflitos ou a ascensão de visões de mundo divergentes –
dependem cada vez mais da nossa habilidade de dialogar com os outros e de
encontrar soluções conjuntas”.
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Os primeiros
passos para a descoberta da rádio foram dados em 1863, quando, em
Cambridge (Inglaterra), James
Clerck Mazxwell, professor de física experimental, teorizou a existência
das ondas eletromagnéticas unificando a teoria de Faraday, Lorentz, Gauss e Ampere.
Maxwell
deixou apenas comprovada matematicamente a teoria, não a tendo podido comprovar
experimentalmente. Mas seguiram no seu trilho outros, entre os quais se destacou
Henrich Rudolph Hertz, jovem
estudante alemão que, impressionado com a teoria, construiu um aparelho,
em 1887, onde verificava a deslocação de faíscas através do ar. Assim,
conseguiu passar energia eléctrica entre dois pontos sem utilizar fios. O
aparelho produzia correntes alternadas de período extremamente curto, que
variavam rapidamente. Esta experiência deu-lhe o ensejo de provar
experimentalmente a teoria de Maxwell de que a eletricidade viaja
através da atmosfera em forma de onda, mas não se apercebeu das vantagens desta
experiência, embora tenha verificado que tais ondas (“Ondas
Hertzianas” em homenagem ao seu descobridor) se deslocavam à velocidade da luz, cerca de 300 000 km/s. No entanto, o
primeiro sistema de rádio surge com Nikola
Tesla, o cientista nascido na Sérvia que mais contribuiu, do ponto de vista
prático e experimental, para a descoberta da rádio.
Em 1895,
o italiano Guglielmo Marconi conheceu as espantosas descobertas de Hertz e o sistema de rádio de
Tesla. Chegou a falar com Tesla a pedir-lhe detalhes
sobre a construção do sistema, para assim o tornar a construir e registar a
invenção como sua, mas Tesla já
o tinha registado antes (mas persistem existem dúvidas sobre qual destes dois
cientistas inventou a rádio. Itália e o Vaticano estão por Marconi). Em 1896, Marconi demonstrou o funcionamento dos seus aparelhos de
emissão e receção de sinais na própria Inglaterra e foi nesta altura que
percebeu a importância comercial da telegrafia sem fios. E Marconi foi o primeiro
a enviar uma mensagem para o outro lado do oceano e, devido à sua atividade e
negócio, contribuiu para o desenvolvimento da rádio, criando até a primeira
companhia de rádio.
Para
melhorar a descoberta, surgiram cientistas como Oliver Lodge (Inglaterra) e Ernest Branly (França) que inventaram o “coesor” (dispositivo
que melhorava a deteção das ondas). Não se
imaginava, até então, a possibilidade da rádio transmitir a voz do ser humano,
através do espaço.
Assim, Oliver Lodge inventou o
circuito elétrico sintonizado, que possibilitava a mudança de estação selecionando
a frequência desejada.
Embora Tesla e Marconi tenham feito
grande progresso, só ocorreu a transmissão de sons com o aparecimento da
válvula de três elementos (tríodo), constituída por uma grelha, placa e filamento e desenvolvida,
em 1906, pelo americano Lee de
Forest. Com o aparecimento desta válvula destacou-se o alemão Von Lieben e o americano Edwin Armstrong, que utilizaram a válvula
para amplificar e produzir ondas electromagnéticas de forma contínua. A
descoberta e a utilização da válvula levaram ao estabelecimento duma
ligação radiotelefónica transcontinental, da Virgínia (EUA) para Paris. O desenvolvimento comercial da rádio
foi, após esta fase inicial, muito rápido. Nos EUA assistiu-se a várias
tentativas de emissão tanto comercial como amadora. Em 1920, surgiu a
primeira emissora norte-americana de que há registo, de nome KDKA. A partir daqui assistiu-se
a uma grande “explosão” de emissoras de rádio e empresas de fabrico de recetores
de rádio utilizando válvulas. E, em 1947, a invenção do transístor tornou
possível a construção de rádios mais pequenos. De uns anos para cá, já existem
rádios com leitores de cassete e leitores de CD. Hoje em dia, é possível ouvir
rádio no computador através da ligação à Internet.
***
Tal
como ia acontecendo por todo o mundo, em Portugal começava a surgir a
febre da rádio. Muitas pessoas tentaram construir as suas emissoras de rádio,
mas Abílio Nunes dos Santos fez
aparecer, em outubro de 1925, a primeira estação emissora
nacional profissional, a CT1 AA. E o projeto foi
prosseguido e desenvolvido por Américo
dos Santos que fundou a Rádio Graça, em
Lisboa. Em maio de 1930, surgiu a primeira rádio no norte, a Rádio
Sonora. Posteriormente, na 1.ª metade da década 30 foram aparecendo
por todo o país várias estações de rádio que punham no ar programas de informação,
música e radionovelas. A Emissora Nacional foi criada por decreto de 1933 e
inaugurada em 1935; e a Emissora Católica foi criada em 1937, tendo os fundos
iniciais sido angariados junto de fiéis de todo o país.
Em 1975,
a integração de várias rádios no grupo RDP
(Radiodifusão
Portuguesa) originou o fecho das rádios não
integradas no grupo por falta de ouvintes (com exceção da Rádio Renascença, que
se mantém pujante). Em 1984, vieram
as emissoras clandestinas, que o Governo travou em 1988. E, para legalizar
algumas e deixar criar outras, foi publicada a nova lei da rádio em 1989,
que permitiu às rádios melhores condições e equipamentos, bem como a proliferação
de rádios regionais e locais um pouco por todo o país. Estive com alunos meus na
procriação de uma.
***
De facto, a rádio não foi fruto do trabalho de um
homem só, mas de muitos homens de ciência e técnica, que merecem o justo
reconhecimento e cujo objetivo deve ser prosseguido pelo bem do diálogo e em
prol da paz.
2019.02.13 – Louro de Carvalho
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