O decurso do
dia
Na tarde do
dia 4, realizou-se o ato central da visita do Papa a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU): o Encontro Inter-religioso no Founder’s Memorial, uma conferência global sobre a fraternidade
humana, em que Francisco pronunciou o seu primeiro discurso.
Nesse dia,
dedicado ao diálogo inter-religioso, após celebrar a missa no Palácio Al
Mushrif, onde pernoitou na sua estada em Abu Dhabi, o Pontífice dirigiu-se, para
a cerimónia de boas-vindas, ao Palácio Presidencial, onde foi acolhido pelo
príncipe herdeiro, Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan. Executados os hinos e
apresentadas as delegações, os dois líderes reuniram-se em privado, após o que
o Pontífice regressou ao Palácio Al Mushrif para o almoço.
O príncipe
herdeiro, filho do Xeque Zayed bin Sultan Al Nahyan, considerado o “pai da
nação” e primeiro presidente dos Emirados Árabes Unidos, é irmão do Xeque
Khalifa bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos.
Na parte da
tarde, ocorreu o encontro privado com os membros do Conselho Islâmico dos
Anciãos na Grande Mesquita do Xeque Zayed, tendo o Papa sido recebido pelo
Grande Imame de al-Azhar, Ahmad al-Tayeb, que já visitou duas vezes o Papa no
Vaticano e o acolheu na sua viagem apostólica ao Egito.
O Conselho,
uma organização internacional independente, com sede em Abu Dhabi, promove a
paz nas comunidades islâmicas, reúne estudiosos, especialistas e dignitários
muçulmanos estimados pelos princípios de justiça, independência e moderação. Os
membros dedicam uma atenção especial aos conflitos internos das comunidades
muçulmanas e às causas que as originam, com a finalidade de defender os valores
humanitários e os princípios de tolerância do Islão em oposição ao sectarismo e
à violência.
Da Mesquita,
o Papa dirigiu-se para o grande evento do dia e motivo da sua viagem: o
Encontro Inter-religioso no Founder’s Memorial.
***
Apreciação do
trabalho desenvolvido neste dia
No final do
Encontro Inter-religioso, procedeu-se à assinatura da Declaração conjunta sobre
a “Fraternidade Humana para a paz mundial
e a convivência comum”, que o diretor interino da Sala de Imprensa da Santa
Sé, Alessandro Gisotti,
considera a indicação dum “caminho de paz e reconciliação” por parte de
Francisco e do Grande Imame de Al-Azhar ou “um passo de grande importância no
diálogo entre cristãos e muçulmanos e um poderoso sinal de paz e esperança para
o futuro da humanidade”. Na declaração de Gisotti, lê-se:
“O Documento é um apelo vibrante a responder ao mal com o bem, a
fortalecer o diálogo inter-religioso e a promover o respeito mútuo para
bloquear o caminho daqueles que sopram no fogo do conflito de civilizações”.
Alessandro Gisotti, frisando
que Francisco e Al-Tayyib “indicaram juntos um caminho de paz e reconciliação
em que podem caminhar todos os homens de boa vontade, não apenas cristãos e muçulmanos”,
define o documento como “corajoso e profético”, por enfrentar
(chamando-os
pelos nomes) os temas
mais urgentes do nosso tempo, sobre os quais quem acredita em Deus é exortado a
questionar a própria consciência e a assumir com confiança e decisão a sua
responsabilidade de dar vida a um mundo mais justo e solidário”. “Com palavras
inequívocas (continua o diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé), o Papa e o Grande Imam advertem que “ninguém
está autorizado a instrumentalizar o nome de Deus para justificar a guerra, o
terrorismo e qualquer outra forma de violência”. E reiteram que “a vida
deve sempre ser preservada como devem ser plenamente reconhecidos os direitos
das mulheres, rejeitando qualquer prática discriminatória contra elas”. E
Gisotti salienta, no quadro da convicção de que “promover a cultura não é utopia”:
“Diante de uma humanidade ferida por tantas divisões e fanatismos
ideológicos, o Pontífice e o Grande Imame de Al-Azhar mostram que promover a
cultura do encontro não é uma utopia, mas a condição necessária para viver em
paz e deixar às gerações futuras um mundo melhor do que aquele em que vivemos”.
***
Segundo o jornalista italiano Andrea Tornielli,
800 anos depois do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kāmil,
o Papa que leva
o nome do santo de Assis apresentou-se aos “irmãos muçulmanos” como um “cristão sedento de paz”. E, juntamente
com o Grande Imame de Al-Azhar,
assinou uma Declaração destinada a marcar não só a história das relações entre
o Cristianismo e o Islão, mas também a própria história do mundo islâmico. Francisco, inventor da expressão “guerra
mundial em pedaços”, com esta viagem e este gesto, insere-se no rumo
traçado pelos seus antecessores, dando um passo a mais.
Já São João Paulo II, a partir do
encontro de Assis em 1986 (quando sobre o mundo pairava a ameaça nuclear que,
infelizmente, se pressente hoje), envolveu
líderes religiosos a reiterar que as religiões devem promover a paz, a
coexistência, a fraternidade. Depois de 11 de setembro de 2001, quando o
fundamentalismo terrorista voltou à cena internacional de forma violenta, o Pontífice
polaco fez todos os esforços para extirpar das justificações religiosas o abuso
do nome de Deus a justificar a violência, o terrorismo e a morte de homens,
mulheres e crianças inocentes. E Bento
XVI percorreu a mesma rota ao longo do seu pontificado. Em
setembro de 2006, o Papa Ratzinger disse aos líderes dos países muçulmanos:
“É necessário que, fiéis aos ensinamentos das suas próprias tradições
religiosas, cristãos e muçulmanos aprendam a trabalhar juntos, como já se
verifica em diversas experiências comuns, para evitar qualquer forma de
intolerância e se opor a todas as manifestações de violência”.
Desta feita,
Francisco assinou um documento em que se rejeita firmemente qualquer
justificação para a violência cometida em nome de Deus e são feitas declarações
importantes e vinculativas sobre o Islão e certas interpretações do mesmo. Assim
constituem um forte empenho as palavras relativas ao respeito pelos fiéis de
diferentes religiões, à condenação de toda e qualquer discriminação, à necessidade
de proteger todos os locais de culto e ao direito à liberdade religiosa, bem
como ao reconhecimento dos direitos das mulheres. E é significativa a ênfase de
uma das raízes mais profundas do terrorismo niilista, que deriva de
interpretações erróneas de textos religiosos, mas também duma “deterioração da
ética, que condiciona a ação internacional, e um enfraquecimento dos valores
espirituais e do senso de responsabilidade”. Tais elementos favorecem a
frustração e o desespero, “levando muitos a cair no turbilhão do extremismo
ateu e agnóstico, ou no fundamentalismo religioso, extremismo e fundamentalismo
cego”.
Ocidente e
Oriente, fiéis de diferentes religiões que se reconhecem como irmãos – declaram
o Bispo de Roma e o Grande Imame
de Al-Azhar – podem ajudar-se mutuamente na tentativa de evitar
que a guerra mundial em pedaços se deflagre em todo o seu poder destrutivo.
***
A Declaração
conjunta
O “Documento sobre a fraternidade humana pela
paz mundial e a convivência comum”, assinado, na tarde do dia 4, por
Francisco e o Grão Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyib, não é apenas um passo
fundamental nas relações entre o Cristianismo e o Islão, mas representa também
uma mensagem com um forte impacto no cenário internacional. No prefácio, depois
de ter afirmado que “A fé leva o
crente a ver no outro um irmão a ser ajudado e amado”, fala-se
do texto como “um documento elaborado com sinceridade e seriedade” a convidar “todas as pessoas que
carregam no coração a fé em Deus e a fé na fraternidade humana a unirem-se e a
trabalharem juntas”. Abre com uma série de invocações: o Papa e o
Grão Imame falam “em nome de Deus que criou todos os seres humanos iguais
nos direitos, nos deveres e na dignidade”, “em nome da inocente alma humana que Deus proibiu de matar”,
“Em nome dos pobres”, dos
“órfãos e das viúvas, dos refugiados e dos exilados, de todas as vítimas das
guerras” e “das
perseguições”. Al-Azhar e a
Igreja Católica declaram adotar “a cultura do diálogo como caminho, a
colaboração comum como conduta e o conhecimento recíproco como método e
critério”. E explicitam em plangente exortação:
“Pedimos a nós mesmos e aos
líderes do mundo, aos artífices da política internacional e da economia
mundial, que se empenhem seriamente em difundir a cultura da tolerância, da
convivência e da paz, que intervenham,
quanto antes, para deter o derramamento de sangue inocente e acabar com as
guerras, os conflitos, a degradação ambiental e o declínio cultural e
moral que vive o mundo de hoje”.
Os dois
líderes pedem aos homens de religião e de cultura, além dos meios de
comunicação, que redescubram e difundam “os valores da paz, da justiça, do
bem, da beleza, da fraternidade humana e da convivência comum”. E verificam:
“Entre as causas mais importantes da crise do mundo moderno há uma consciência
humana anestesiada e o afastamento dos valores religiosos assim como o
predomínio do individualismo e das filosofias materialistas”.
Embora
reconheça os passos positivos feitos pela civilização moderna, a Declaração
destaca “a deterioração da ética, que condiciona a ação internacional, e um
enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade”, que leva muitos a “cair na voragem do extremismo ateu e
agnóstico, ou no integralismo religioso, no extremismo e no fundamentalismo cego”. Efetivamente,
o extremismo religioso e nacional, juntos com a intolerância “deram origem
aos sinais de uma ‘terceira guerra mundial em pedaços”.
E o Papa e o
Grão Imame afirmam sobre a má distribuição dos recursos naturais:
“As fortes crises políticas, a injustiça e a falta de uma distribuição
equitativa dos recursos naturais – dos quais se beneficia apenas uma minoria de
ricos, prejudicando a maioria dos povos da terra – geraram, e continuam a
fazê-lo, um grande número de doentes, de necessitados e de mortos,
causando crises letais das quais são vítimas vários países. … Diante de tais
crises que levam a morrer de fome milhões de crianças já reduzidas a esqueletos
humanos – por causa da pobreza e desnutrição –, reina um silêncio internacional
inaceitável.”.
Apontam a
essencialidade da família e a urgência do despertar do
sentido religioso”, especialmente nos jovens, “para enfrentar as tendências individualistas, egoístas, conflituais, o
radicalismo e o extremismo cego em todas as suas formas e manifestações”. E
recordam que o Criador nos “concedeu o dom da vida para custodiá-lo” – “um dom que ninguém tem o direito de tirar, ameaçar ou manipular conforme
seu agrado”. Por
conseguinte, acentuam:
“Condenamos todas as práticas que ameaçam a vida como os genocídios,
as ações terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o
aborto e a eutanásia e as políticas que sustentam tudo isso”.
Além disso,
declaram firmemente:
“As religiões não incitam nunca à guerra,
não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo, e nem convidam à
violência ou ao derramamento de sangue. Essas calamidades são fruto do desvio dos ensinamentos religiosos, do uso
político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de
religião.”.
Pedem o cessar
da instrumentalização das religiões a incitar ao ódio, violência, extremismo e
fanatismo cego, o cessar do uso do nome de Deus para “justificar atos de homicídio,
exílio, terrorismo e opressão”.
Recordam
que Deus “não precisa de
ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar
as pessoas”. E atestam:
“A liberdade é um direito de cada pessoa: cada um possui a liberdade de credo, de
pensamento, de expressão e de ação. O pluralismo e as diversidades de religião,
de cor, sexo, raça e língua são uma sábia vontade divina [de que] vem o direito
à liberdade de credo e à liberdade de ser diferentes. Por isso, se condena o facto
de constringir as pessoas a aderir a uma certa religião ou a uma certa
cultura, como também de impor um estilo de civilização que os
outros não aceitam.”.
Em seguida,
afirmam:
“A proteção dos lugares de culto - templos, igrejas e mesquitas - é
um dever garantido pelas religiões, pelos valores humanos, pelas leis e
convenções internacionais. Toda a tentativa de atacar os lugares de
culto ou ameaçá-los através de atentados ou explosões ou demolições é um desvio
dos ensinamentos das religiões, bem como uma violação clara do direito
internacional.”.
E insistem:
“O terrorismo execrável que ameaça a
segurança das pessoas, tanto no Oriente como no Ocidente... espalhando pânico,
terror e pessimismo não se deve à
religião – mesmo que os terroristas a instrumentalizem –, mas é devido a
acumuladas interpretações erradas dos textos religiosos, às políticas de fome,
de pobreza, de injustiça, de opressão e de arrogância. Por isso, é necessário
interromper o apoio aos movimentos terroristas através do fornecimento de
dinheiro, de armas, de planos ou justificativas e
também a cobertura da media, e considerar tudo isso como crimes
internacionais que ameaçam a segurança e a paz mundial.”.
O documento
sustenta:
“É necessário comprometer-se em estabelecer nas nossas sociedades o
conceito de cidadania plena e renunciar ao uso discriminatório do termo
minorias, que traz consigo as sementes do sentir-se
isolados ou de inferioridade”.
Na Declaração
define-se “a necessidade
indispensável de reconhecer o direito da mulher à educação, ao trabalho e ao
exercício dos próprios direitos políticos”, vincando:
“Deve-se trabalhar para a libertar das
pressões históricas e sociais contrárias aos princípios da própria fé e da
própria dignidade. É necessário também protegê-la da exploração… Por isso, devem ser interrompidas todas as práticas
desumanas e os hábitos vulgares que humilham a dignidade da mulher e [deve-se] trabalhar para modificar as leis
que impedem às mulheres de desfrutar plenamente de seus direitos.”.
Depois de
reiterarem o direito das crianças de crescerem num ambiente familiar, à
alimentação e educação, os dois líderes afirmam:
“É preciso condenar toda prática que viola a dignidade das crianças ou
os seus direitos. É também importante vigiar contra os perigos
a que são expostas, especialmente no ambiente digital, e considerar como crime
o tráfico de sua inocência e toda violação de sua infância.”.
Enfim, os dois líderes pedem
que este Documento se torne objeto de pesquisa e reflexão em todas as escolas,
universidades e institutos de educação e formação”, esperando que se torne um “símbolo
do abraço entre Oriente e Ocidente, entre Norte e Sul”.
***
O discurso do Papa
No seu discurso, o Bispo de Roma fez votos por
que as religiões ajudem a família humana amadurecer itinerários de paz. E
disse:
“Quanto ao futuro do diálogo inter-religioso, a primeira coisa que
devemos fazer é rezar. Rezar uns pelos outros: somos irmãos! As religiões não
podem renunciar à tarefa urgente de construir pontes entre povos e culturas.”.
Na linha de
condenação de toda a forma de violência, Francisco explicitou o seu objetivo:
“De ânimo reconhecido ao Senhor, aproveitei o ensejo do VIII centenário do encontro entre São
Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kamil para vir aqui como
fiel sedento de paz, como irmão que procura a paz com os irmãos. Desejar a paz,
promover a paz, ser instrumentos de paz: para isto, estamos aqui”.
Disse o Papa
que, para salvaguardar a paz, “precisamos de entrar juntos, como uma única
família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a
arca de fraternidade”, fundada nas raízes da nossa humanidade comum e
sentida como “vocação contida no desígnio criador de Deus” a dizer-nos que “todos
temos igual dignidade” e que “ninguém pode ser dono ou escravo dos outros”.
Depois, manifestou apreço pelo compromisso dos Emirados Árabes Unidos de “tolerar e garantir a liberdade de culto,
contrapondo-se ao extremismo e ao ódio”, sustentando que “a coragem da
alteridade”, que a família humana postula para reconhecimento do valor do outro,
“é a alma do diálogo, que se baseia na sinceridade de intenções” e que “as
religiões não podem renunciar à tarefa urgente de construir pontes entre povos
e culturas”, sendo que “a paz precisa das asas da educação e da justiça”.
E Francisco sublinha
a importância da oração, que “encarna a coragem da alteridade em relação a Deus”, “purifica
o coração de fechar-se em si mesmo” e, se feita com o coração, “é um
restaurador de fraternidade”. Neste sentido, facilita, prepara e
alimenta o diálogo.
Neste contexto de necessidade de diálogo, o Pontífice
assegura:
“Não há alternativa: ou construiremos juntos
o futuro ou não haverá futuro. De modo particular, as religiões não podem
renunciar à tarefa impelente de construir pontes entre os povos e as
culturas. Chegou o tempo de as religiões se gastarem mais ativamente, com
coragem e ousadia e sem fingimento, em ajudar a família humana a amadurecer a
capacidade de reconciliação, a visão de esperança e os itinerários concretos de
paz.”.
Mas, para a
obtenção da paz, são necessárias as duas asas já apontadas, como se dum avião ou
de uma pomba se tratasse: a educação e a justiça. A primeira leva ao conhecimento
de si e do irmão, imprime um estilo de vida baseado no amor e esconjurando o
ódio, estilo que leva ao desenvolvimento da cultura própria e ao encontro das outras
culturas. A segunda tem a sua regra de ouro: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque
isto é a Lei e os Profetas” (Mt 7,12). E,
citando as palavras do profeta Isaías, “A
paz será obra da justiça” (Is 32,17), o Papa
discorre sobre a estreita relação entre a paz e a justiça:
“A paz morre, quando se divorcia da justiça, mas a
justiça revela-se falsa se não for universal. Uma justiça circunscrita apenas
aos familiares, aos compatriotas, aos crentes da mesma fé é uma justiça
claudicante… uma injustiça disfarçada!”.
Aplicando
este raciocínio à função das religiões no mundo, observa:
“As religiões têm também a tarefa de lembrar
que a ganância do lucro torna néscio o coração e que as leis do mercado atual,
ao exigirem tudo e de súbito, não ajudam o encontro, o diálogo, a família:
dimensões essenciais da vida que precisam de tempo e paciência”.
E faz votos
por que
“As religiões sejam voz dos últimos – estes
não são estatísticas, mas irmãos – e estejam da parte dos pobres; velem como sentinelas
de fraternidade na noite dos conflitos, sejam apelos diligentes à humanidade
para que não feche os olhos perante as injustiças e nunca se resigne com os
dramas sem conta no mundo.”.
Depois, assumindo
a imagem do deserto que floresce, considera que o país em que arranha-céus e
areia se tocam e se cruzam Ocidente e Oriente, Norte e Sul, é “lugar de
desenvolvimento, onde espaços outrora inóspitos proporcionam empregos a
pessoas de várias nações”. Mas adverte:
“O desenvolvimento também tem os seus adversários. E, se o inimigo da
fraternidade é o individualismo, como obstáculo ao desenvolvimento apontaria a
indiferença, que acaba por converter as realidades florescentes em áreas
desertas.”.
Recordando o
1.º Fórum da Aliança inter-religiosa por Comunidades mais seguras, de Abu
Dhabi, sobre o tema da dignidade da criança na era digital, na sequência do Congresso
internacional sobre o mesmo tema, em Roma, Francisco frisa ter-se aberto, no
deserto, “um caminho de desenvolvimento fecundo que, a partir do trabalho,
dá esperança a muitas pessoas de vários povos, culturas e credos”, contribuindo
“para o crescimento e bem-estar do país” e para suscitar “a convivência fraterna,
fundada na educação e na justiça, e o desenvolvimento humano, construído sobre
a inclusão acolhedora e sobre os direitos de todos”, quais “sementes de paz,
que as religiões são chamadas a fazer germinar” – contra “a corrida aos armamentos,
o alargamento das respetivas áreas de influência, as políticas agressivas em
detrimento dos outros” que nunca trarão estabilidade”, que redundam em guerra,
miséria e morte.
E Deus, “do
céu, abençoa cada passo sobre a terra que se realiza nesta direção”.
***
Valeu a pena
esta jornada em prol da alteração da situação mundial? Pelo menos o dardo está
lançado. Prosit!
2019.02.06 – Louro de Carvalho
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