O relato bíblico do dilúvio, a forma como Noé terá construído, sob as indicações
do Altíssimo, a arca da sobrevivência e o modo o patriarca como se reencontrou
com a Terra, inspirou várias iniciativas que respondem a preocupações
artísticas que enditam a memória coletiva ou a formas utilitárias de
resistência a fenómenos que hoje afligem a humanidade pelo modo como o planeta
se comporta ou pela força da natureza ou pela indevida intervenção humana sobre
ela.
***
O relato
bíblico
Com a
multiplicação dos homens sobre a Terra e do nascimento de filhas deles, os
filhos de Deus encantados pela beleza delas escolheram as que bem quiseram para
suas esposas, o que desgostou a Deus, juntamente com a maldade dos homens que
era grande na Terra. Assim, todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre
e só para o mal, a ponto de Deus quase se ter arrependido de haver criado o
homem. Por isso, decidiu eliminar da face da Terra o homem e, juntamente com o
homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus.
Porém, Noé era
agradável aos olhos do Senhor, era um homem justo e perfeito, entre os homens
do seu tempo, e andava sempre com Deus. Deus olhou para a Terra e viu que ela
estava corrompida, pois toda a humanidade seguia, na Terra, os caminhos da
corrupção. Então Deus disse a Noé que ia exterminar a humanidade e a Terra e
mandou-lhe construir uma arca de madeiras resinosas, dividi-la em compartimentos
e calafetá-la com betume por fora e por dentro. Teria 3 andares; o comprimento
seria de 300 côvados, a largura de 50 côvados e a altura de 30; haveria, ao
alto, uma janela com a dimensão de um côvado; e a porta da arca ficaria a um
lado.
É que Deus ia
lançar um dilúvio que, inundando tudo, eliminaria debaixo do céu todos os seres
vivos. Mas fazia com Noé uma aliança: este entraria na arca com os filhos – Sem
Cam e Jafet –, a mulher de Noé e as mulheres dos seus filhos. Assim,
ordenou-lhe:
“De tudo o que tem vida,
de todos os animais, levarás para a arca dois de cada espécie, um macho e uma
fêmea, para os conservares vivos junto de ti. De cada espécie de aves, de cada
espécie de quadrúpedes e de cada espécie de animais que rastejam pela terra, um
casal virá ter contigo para que lhe conserves a vida. E, tu, recolhe tudo
quanto há de comestíveis, armazena-os, a fim de te servirem de alimento, assim
como a eles.” (Gn
6,19-21).
Noé começou a
trabalhar, executando tudo o que lhe fora ordenado por Deus.
Depois, Deus
mandou que Noé entrasse na arca com toda a família e que, de todos os animais
puros levasse sete pares, macho e fêmea, dos animais não puros, um par, macho e
respetiva fêmea, e, das aves do céu, também sete pares, macho e fêmea – a fim
de conservar as suas raças vivas sobre a Terra. Isto, porque Noé era o único
justo que Deus encontrou sobre a Terra e porque dentro de 7 dias, por ordem de
Deus, viria chuva sobre a Terra, durante 40 dias e 40 noites, exterminando na
superfície de toda a Terra todos os seres que Deus criara. E Noé cumpriu tudo quanto o Senhor lhe ordenara.
E, ao cabo de
sete dias, as águas do dilúvio submergiram a Terra. Choveu torrencialmente
durante 40 dias sobre a terra. As águas cresceram e levantaram a arca, que foi
elevada acima da terra. A enchente aumentava cada vez mais, e tanto que cobriu
todos os altos montes existentes debaixo dos céus; as águas ultrapassaram
quinze côvados por cima das montanhas. Por isso, todas as criaturas que se
moviam na terra pereceram: aves, animais domésticos, animais selvagens, tudo o
que rastejava pela terra e todos os homens. Foram assim exterminados todos os
seres que se encontravam à superfície da terra, desde os homens até aos
quadrúpedes, aos répteis e aves dos céus, exceto Noé e os que se encontravam
com ele na arca.
As águas
cobriram a terra durante 150 dias.
***
Porém, Deus
recordou-se de Noé e de todos os animais, tanto domésticos como selvagens, que
estavam com ele na arca. Por isso, mandou vento sobre a terra e as águas
começaram a descer. As fontes do abismo e as cataratas dos céus foram
encerradas, e a chuva parou de cair do céu. As águas retiraram-se gradualmente
da terra e começaram a diminuir ao fim de 150 dias. No dia 17 do 7.º mês, a
arca poisou sobre os montes de Ararat. As águas foram diminuindo até ao 10.º
mês. No 1.º dia do 10.º mês, emergiram os cumes das montanhas.
Decorridos 40
dias, Noé abriu a janela e soltou o corvo, que saiu repetidas vezes, enquanto
iam secando as águas sobre a terra. Depois, soltou a pomba, para verificar se
as águas diminuíram à superfície da terra. Mas, não tendo encontrado sítio para
poisar, a regressou à arca, para junto dele, pois as águas cobriam ainda a
superfície da terra. Estendeu a mão, agarrou a pomba e meteu-a na arca.
Aguardou mais 7 dias; depois soltou novamente a pomba, que voltou para junto
dele, à tarde, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Noé soube, então,
que as águas tinham baixado. Aguardou ainda outros 7 dias; depois, tornou a soltar
a pomba, que, desta vez, não regressou mais para junto dele. No ano 601, no 1.º
dia do 1.º mês, as águas começaram a secar sobre a terra. No 27.º dia do 2.º
mês, Noé abriu o teto da arca e viu que a superfície da terra estava
seca. E Deus, então, disse a Noé:
“Sai da arca com a tua mulher, os teus
filhos e as mulheres dos teus filhos. Retira também da arca os animais de toda
a espécie que estão contigo, as aves, os quadrúpedes, os répteis todos que
rastejam, a fim de se espalharem pela terra; que sejam fecundos e se
multipliquem sobre a terra.” (Gn 8,16-17).
Noé assim
fez e construiu um altar ao Senhor e, de todos os animais puros e de todas as
aves puras, ofereceu holocaustos. O Senhor sentiu o agradável odor e disse no
seu coração:
“De futuro, não amaldiçoarei mais a terra
por causa do homem, pois as tendências do coração humano são más, desde a
juventude, e não voltarei a castigar os seres vivos, como fiz. Enquanto
subsistir a Terra, haverá sempre a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o
verão e o inverno, o dia e a noite.” (Gn 8,21-22).
(Condensado dos capítulos 6 – 8 de Génesis, a partir da Bíblia dos
Capuchinhos)
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No encadeamento da História da Salvação, a Bíblia
recolhe uma lenda comum aos sumérios e aos romanos, com provável origem nalguma
grande inundação verificada a partir dos rios Tigre e Eufrates (na Mesopotâmia) ou, para os romanos
no Tibre (“qui frequenter
exsundabat”). A Bíblia utiliza a crença popular de que o dilúvio
fora castigo dos deuses pagãos para dizer que acima de tudo está o Deus único,
vivo e verdadeiro, que pode falar diretamente com o homem, pois foi Ele quem o
criou. Obviamente que Deus teria todos os motivos para repreender a humanidade
que não se cansa de se revoltar contra Deus ou de O ignorar. Por isso, em
categoria antropomórfica, Deus parece ter um repente de ação destruidora, mas
preservando o setor humano e cósmico da retidão; e, depois, o arrependimento de
ter castigado tão severamente o homem e a aposta na misericórdia.
A arca, demasiado grande para o tempo (150 x 25 x 15 metros),
vale pelo seu valor simbólico, uma espécie de barco-templo em que a literatura cristã
vê a figura da Igreja enquanto barca de salvação, a preservar os crentes do contágio
do mundo e a constituir o sinal eficaz da bênção divina e da Aliança de Deus
com os homens. Por outro lado, Noé, homem justo, é a figura de Cristo, Aquele
que ofereceu ao Pai o sacrifício de Si mesmo que aceitou como oferta de agradável
odor, porque selou a nova e eterna aliança, já não no sangue dos animais, com a
celebrada com Noé e, depois com Moisés e Aarão, mas no sangue de Cristo. Com Ele
começou uma nova humanidade, tal como acontecera com Noé saído da Arca. Com Ele
firmou-se a Aliança entre o Céu e a Terra, materializada no divino Crucifixo do
Gólgota, içado ao Alto, mas de rosto pendente sobre toda a Terra, como se vê pelos
braços abertos a tentar abraçar o mundo, tal como o arco-íris (o arco da velha aliança – vd Gn 9,11-17) abrange
Céu e Terra de cima a baixo e de lés-a-lés.
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Uma ideia maluca ou uma obra de arte?
Em 1993, Johan Huibers,
um carpinteiro holandês, teve uma ideia “maluca”: construir uma Arca
de Noé (Ark Of Noah) em
tamanho real e repleta de detalhes. Da ideia à prática passaram uns
“instantes”. Huibers decidiu mesmo pôr mãos à obra, terminando a primeira
versão do navio bíblico em 2006. Custou quase 1,6 milhões de dólares, cerca
de 1,4 milhões de euros.
A “obra-prima” ficou finalmente
concluída em 2012, altura em que foi aberta ao público. A altura da embarcação
é semelhante à de um prédio de cinco andares e
pesa cerca de 2.500 toneladas, com capacidade para
albergar 5.000 pessoas. A réplica do navio bíblico tem uma estrutura de aço e
foi construída madeira de cedro e pinheiro.
Esta Arca de Noé contemporânea inclui
várias esculturas de animais de madeira, incluindo
gorilas, elefantes e rinocerontes – como na Bíblia. Originalmente, Huiber
planeava levar o navio até ao Brasil, mas devido a preocupações com a
segurança, o plano caiu por terra. Agora, o carpinteiro holandês quer navegar a
embarcação até Israel. E disse, citado pelo Bored Panda:
“Faz
sentido levá-la até à terra de Deus”.
(cf https://www.idealista.pt/news/imobiliario/internacional/2018/11/29/38073-carpinteiro-holandes-constroi-uma-replica-incrivel-da-arca-de-noe)
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Para alertar
os países membros do G8 a respeito das mudanças climáticas
Foi
inaugurada oficialmente, no dia 31 de maio de 2007, na Turquia, uma réplica
moderna da Arca de Noé construída por voluntários turcos e alemães da ONG
Greenpeace.
A construção
fica no monte Ararat, próximo de Dogubayazit, com o objetivo de alertar os
países membros do G8 a respeito das mudanças climáticas, nomeadamente o aquecimento global.
Segundo o
relato da Bíblia, foi exatamente no local onde a embarcação da Greenpeace foi
montada que pousou a embarcação de Noé quando as águas do dilúvio secaram. Para
construir os suportes, a quilha e a estrutura, uma caravana com 40 cavalos
levou ao Ararat 12 m³ de madeira pré-fabricada.
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Cápsula para se proteger do
fim do mundo
Soube-se, a
15 de dezembro de 2012, que o agricultor chinês Liu Qiyan já está mais do que
preparado para encarar o fim do mundo. Com efeito, criou uma cápsula de
sobrevivência, a ‘Arca de Noé’, que
promete proteger as pessoas de terramotos e até mesmo tsunamis.
Segundo
informações da agência de notícias AFP, o agricultor desenvolveu o projeto
do seu ‘abrigo’ no próprio quintal da casa. Utilizou casca de fibra de vidro e
uma armação de aço para dar formato à cápsula e mantê-la estável dentro da água
e em situações mais críticas.
Esta ‘Arca de Noé’ é equipada com cintos de
segurança, tanques de oxigénio e algumas das suas versões (Liu já
fabricou sete modelos) possuem
até mesmo um sistema de propulsão próprio. Cada uma das cápsulas é capaz de
abrigar até 14 pessoas ao mesmo tempo.
O chinês
pretende oferecer os seus abrigos ao Governo da China e aos dos demais países
que podem sofrer com desastres naturais e precisam de proteger sua população. A
inspiração para o projeto de Liu surgiu dos filmes catastróficos que relatam o
fim do planeta Terra e também o tsunami que atingiu a Ásia em 2004.
(cf https://canaltech.com.br/curiosidades/Arca-de-Noe-moderna-Agricultor-criou-capsula-para-se-proteger-do-fim-do-mundo/)
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Contra apocalipse ambiental: o “Ark
Hotel”
Diversos lugares
do mundo – inclusive o Brasil – têm sofrido com as chuvas, que para alguns
estão dando uma prévia do grande dilúvio que podemos enfrentar caso continuemos
tratando o planeta com “desrespeito”. Na dúvida, arquitetos russos da Remistudio criaram o Ark Hotel, uma espécie de
hotel-barco ou hotel flutuante que pretende abrigar pares de espécies de
animais, em caso de tragédias naturais.
A ideia inicial era resistir a inundações causadas pela elevação dos níveis do mar,
mas no desenvolvimento do projeto deu-se conta de mais possibilidades.
O Ark Hotel, cuja construção foi divulgada
a 4 de fevereiro de 2011, é uma versão da Arca
de Noé, mas muito mais moderna e sustentável. A estrutura promete
resistir não só a dilúvios, mas também a outras catástrofes naturais, que –
levando em conta nosso atual cenário ambiental – estão mais prováveis
de acontecer a cada dia. Entre elas: terramotos, maremotos e inundações
causadas pela elevação do nível do mar.
O barco –
que foi desenvolvido com a ajuda do Programa
de Arquitetura de Catástrofes, da União
Internacional dos Arquitetos – ainda foi construído para ser totalmente
autossuficiente e sustentável: ele é equipado com painéis solares, possui
coletores de água da chuva e é feito de vidro, para que a luz do sol possa ser
aproveitada ao máximo. Além disso, a
vegetação conservada no espaço é variada e capaz de oferecer até alimentos aos
ocupantes.
(cf veja.abril.com.br/ciencia/russos-criam-uma-arca-de-noe-moderna/;
https://super.abril.com.br/blog/planeta/contra-apocalipse-ambiental-russia-cria-arca-de-noe-moderna-e-sustentavel/)
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Uma preocupação científica: cientistas britânicos constroem “Arca de Noé ” moderna
Foi divulgada a informação, a 18 de outubro de 2012, de que um grupo de
cientistas britânicos planeava a preservação, num laboratório, do ADN de
milhares de especiais animais e vegetais que possam desaparecer nos próximos 30
anos. O projeto ‘Frozen
Ark’ (Arca Congelada) foi desenvolvido por cientistas da
Universidade de Nottingham, do Instituto Zoológico e do Museu de Historia
Natural de Londres.
Trata-se dum banco biológico que conservará em 80 graus abaixo de zero,
células tronco de 1.130 classes de mamíferos e 1.183 de aves, além de sementes
de plantas e árvores, que os cientistas acreditam estarem extintos nos próximos
30 anos. Dizem, a este respeito, os responsáveis pelo projeto inovador:
“Apesar dos esforços para preservar o meio ambiente, o crescimento da
população humana tem levado à destruição do habitat, devido à necessidade de
terras agrícolas, pesca predatória e a poluição dos oceanos, e como
resposta a esta crise esta sendo criado a ‘Frozen Ark”.
Notando que, uma vez congeladas, as células podem ser armazenadas de
forma segura durante centenas de anos, num espaço pequeno, definiram o objetivo:
manter
amostras de células congeladas contendo ADN de animais em extinção antes que
eles desapareçam.
Os criadores desta versão moderna da Arca de Noé, dizem ter já
contactado com 22 zoológicos e vários aquários, museus e centros de
investigação em 8 países, os quais colaboraram durante vários anos doando
amostras de ADN que são congeladas e que, num futuro próximo, poderão ajudar a
reproduzir artificialmente espécies em extinção. E os pesquisadores dizem que podem
estudar o desenvolvimento, comportamento e evolução das espécies.
***
Preservar a vida e mesmo começar do zero uma nova humanidade: a Noah’s Ark
Por notícia de 9 de dezembro de 2013, ficou a saber-se que
existia uma versão moderna da Arca de Noé que pode salvar o mundo do apocalipse,
pois arquitetos criaram uma estrutura flutuante com objetivo de preservar a
vida e, se necessário, começar do zero uma nova humanidade.
Inspirados
por Noé, que salvou todas as espécies de plantas e animais de um dilúvio
global, os arquitetos sérvios Aleksandar Joksimovic e Jelena Nikolic criaram
uma arca moderna e sustentável. E, como a da Bíblia, será capaz de proteger
toda a vida da Terra em caso de um desastre natural.
Segundo a
dupla, a arca inovadora é capaz de manter a vida terrestre em seus terraços,
além de cultivar alimentos, acolher água da chuva e gerar sua própria energia.
A estrutura flutuante, chamada de Noah’s
Ark, ainda é projetada para resistir a todas as formas de desastres
aquáticos.
(cf https://catracalivre.com.br/cidadania/a-versao-moderna-da-arca-de-noe-ja-existe-e-pode-salvar-o-mundo-do-apocalipse/)
***
Enfim, a
Bíblia não é um livro de arte, de ciência ou de utilidade, mas parece que é
inspiradora de arte – o que já sabíamos –, de ciência e de prática utilitária.
“De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para
ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa” (2Tm 3,16-17). Porém, os
artistas, os cientistas e os pragmáticos não têm pejo em se inspirar nela. E ainda
bem!
2019.02.22 –
Louro de Carvalho
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