Celebra-se, a 20 de fevereiro, a memória de São Francisco Marto e de
Santa Jacinta Marto, que tem a categoria de festa na diocese de Leiria-Fátima e
muito grande significado no Santuário de Fátima, em cuja Basílica da Santíssima Trindade, hoje o Cardeal Dom António
Marto, o bispo diocesano, presidiu à celebração da Eucaristia, em participaram vários
grupos de crianças.
O insigne prelado
manifestou a sua alegria por estar a viver este momento festivo com os
peregrinos e partilhou um momento vivido com o Papa Francisco, ocorrido a 30 de
setembro de 2017, em audiência particular, quando lhe foi agradecer a sua
visita a Fátima, ocasião em que teve o ensejo de informar Sua santidade de que
as visitas aos túmulos dos Pastorinhos tinham triplicado desde a sua
canonização, ao que ele de uma forma muito simples respondera: “Sabes, num mundo ferido, as pessoas têm
necessidade de buscar a inocência”.
E eu
lembro-me de que, em miúdo, ouvia as pessoas da minha terra a falar dos
generosos e inocentes, dizendo que era com eles que Deus equilibrava o mundo.
Talvez a sede que Jesus confessou ter no alto da cruz não se circunscreva à
sede física, mas se estenda ao sonho de Deus pela felicidade dos seus filhos e
à sede de ver as pessoas em resposta crescente ao desígnio redentor.
E o purpurado fatimita explicou aos participantes na celebração
litúrgica, contrastivamente com “a voz da inocência” plasmada na postura das
crianças:
“Este mundo ferido a que o Papa se refere
é-nos dado a contemplar praticamente todos dias, quando nos ecrãs da televisão
ou nas primeiras páginas dos jornais nos é oferecido, em espetáculo, a vastidão
do mal no mundo, a força destruidora do pecado do mundo”.
O Cardeal convidou os peregrinos a orar pelo encontro do Santo Padre com os
presidentes das Conferencias Episcopais sobre os abusos de menores por parte de
clérigos, que decorrerá em Roma de 21 a 24 de fevereiro, “para que saibam
encontrar caminhos de conversão e reparação para acabar com o escândalo do
abuso de menores que destrói vidas e corrói a Igreja”. E falou nas consequências que deixam
“A marca da dor e das feridas, nas pessoas,
no corpo, na alma, e nas consciências tantas vezes feridas, ao ponto de já nem
se distinguir o bem do mal, nas famílias tantas vezes divididas e às vezes
ocultando a violência que está lá dentro; na sociedade marcada pela indiferença
e pelo individualismo e egoísmo de cada um; nos povos com os dramas das guerras
e os dramas dos refugiados, refugiados que fogem à morte, à miséria e à fome”.
Dom António
Marto continuou a reflexão, observando:
“Isto é, de facto, um espetáculo da vastidão
do mal, força destruidora do pecado, que nos assusta e mete medo que leva tanta
gente a perder a confiança na vida e na bondade da vida, na ternura, que deve
marcar a nossa vida e as nossas relações”.
E, para dizer
que “as
crianças são a voz desta inocência que faz bem a todos”, vincou:
“Este mal contagia o coração, e mata a inocência.
E, por isso, nós, fartos deste espetáculo, procuramos a inocência e é neste
contexto que o Papa diz esta expressão.”.
Referindo
que os Santos Pastorinhos – Jacinta e Francisco – nos dão a contemplar “a
inocência das crianças quando estão felizes e se sentem amadas”, assegurou que
são também “a voz da inocência, nos rostos tristes e de lágrimas nos olhos, nas
caravanas dos refugiados, muitas vezes sozinhos, muitas vezes a fugir sem o pai
ou a mãe”.
O Bispo
cardeal lembra que Francisco Marto e Jacinta Marto contemplaram “em visão os
infernos, que os homens são capazes de construir, a monstruosidade do mal, a
força destruidora do pecado”, através da visão do inferno descrita nos relatos
da Irmã Lúcia, contando ainda como a pequena Jacinta sentia “aflição” pela
“perda da humanidade, perda da bondade, perda da ternura, perda da santidade,
não só das pessoas, mas do mundo”. Por outro lado, puderam contemplar “a força
curadora, sanadora e vitoriosa da misericórdia de Deus” e foram “testemunhas
desta misericórdia que cura as feridas e as dores da humanidade”.
Os mais
jovens santos não-mártires da Igreja Católica, segundo o presidente da
Celebração, “transmitiram esta inocência através do amor a Deus e do encanto
por este amor santo e misericordioso que os fascinou e os fez sentir imersos
como numa luz”. E Dom António Marto, considerando o gesto deles como “uma
mensagem de esperança” e que “é possível restaurar a inocência nas consciências
e nos corações, através da santidade de vida”, discorreu:
“Naquela disponibilidade dos pequeninos para
colaborarem com Deus na reparação dos estragos que o mal faz nos corações, nas
relações e no mundo, através das suas orações e do seu sacrifício, do seu amor
ao próximo e da partilha do pouco que tinham, foram crianças normais, que
procuraram viver o seu dia a dia como os pequenos e simples”.
***
Porém, esta
missa celebrada na Basílica da Santíssima Trindade está longe de ter sido o
único momento celebrativo da Festa dos Pastorinhos. Ao invés, esta
notável
festa litúrgica envolveu momentos de música e de oração e mesmo um momento de
formação.
Assim, para
assinalar a efeméride, as celebrações no Santuário de Fátima tiveram início no
dia 17 com o V Concerto evocativo dos Pastorinhos de Fátima, na Basílica de
Nossa Senhora do Rosário de Fátima, às 15,30 horas, com o grupo “Nova Era”
Vocal Ensemble (com
direção musical a cargo do maestro João Barros, é composto por 24 cantores,
cujo objetivo principal é a divulgação da música contemporânea), que estreou a peça “Hail Mary” composta especialmente
para o momento e cujo texto diz respeito à oração que saúda a Virgem Maria nos
momentos da Anunciação e Visitação (cf Lc 1,21-42). A obra pretende retratar os louvores dos fiéis à Virgem Maria, através
de momentos de maior ou menor densidade harmónica e textual, consoante a visão
pessoal sobre o significado de cada verso do texto, lê-se na folha da sala de
imprensa do Santuário.
Contudo, a
obra central deste programa musical foi a Missa para dois coros de Martin.
Entre cada um dos andamentos da missa foram interpretadas obras de compositores
contemporâneos, como Arvo Pärt, John Tavener, Sandström e João Fonseca e Costa,
que têm em comum uma profunda ligação à música sacra.
O concerto
abriu com “Virgencita”, composição de
Arvo Pärt, após uma visita ao México, que nos remete para o mistério da
aparição da Virgem Maria a Juan Diogo em Guadalupe.
Relacionado
com o texto presente no “Kyrie” de
Martin, foi executado “Hear my Prayer, O
Lord”, de Sandström.
O cântico “Deer’s Cry” é baseado no poema escrito
por São Patrício, na Irlanda em 433. Ouvindo rumores sobre uma emboscada que
tencionava matá-lo a ele e aos seguidores, fugiram para uma floresta, entoando
o cântico. Segundo a lenda, o grupo de fugitivos conseguiu escapar,
transformando-se num veado e vinte filhotes. Arvo Pärt compôs a obra em 2007,
segundo o poema da Lorica (oração por proteção), de São Patrício.
Seguiu-se a
peça “Hail Mary”, em estreia absoluta
e, depois, “The Lamb”, do compositor
britânico John Tavener, numa inter-relação ímpar entre texto e música. O texto
escolhido é um poema de William Blake, cantado inicialmente por vozes femininas
e ao qual responde o coro com um encadeamento harmónico que nos faz parar no
tempo.
A obra final
do concerto é também da autoria de Arvo Pärt, “Drei Hirtenkinder aus Fátima”, dedicada aos três pastorinhos de
Fátima – oferta ao Santuário de Fátima aquando da sua visita, obra simples,
pura, sensível, mas afirmativa, evocativa da fé inabalável dos três
pastorinhos.
No dia 19
realizou-se uma Vigília, com Rosário, procissão de velas e veneração dos Santos
Pastorinhos nos seus túmulos (Capelinha e Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima).
No dia 20, às
10 horas, procedeu-se à recitação do Rosário na Capelinha das Aparições, a que
se seguiu a Procissão com os ícones dos Santos Francisco e Jacinta até à
Basílica da Santíssima Trindade, onde decorreu, a partir das 11 horas a
Eucaristia, como se disse. Às 14 horas, realizou-se um Encontro com as crianças
na Basílica da Santíssima Trindade. E, às 17,30 horas, foram celebradas as Vésperas
na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
***
Embora não
estivesse integrada nas celebrações festivas, mas sendo alusiva aos Santos
Pastorinhos, a Escola do Santuário organizou no passado fim de semana a
primeira Oficina Pastoral intitulada “Francisco
e Jacinta na catequese da infância”, que decorreu na Casa de Retiros de
Nossa Senhora do Carmo, a partir de sábado, dia 16 de fevereiro.
O itinerário
temático partiu duma introdução em que a pedagogia catequética foi recordada e
enquadrou o resto do percurso, o qual, seguindo os passos típicos dessa pedagogia,
tomou o acontecimento das aparições e as vidas e perfis de espiritualidade e
santidade do Francisco e da Jacinta como motivos de ‘experiência humana’,
‘Palavra de Deus’ e ‘expressão de fé’.
Neste
percurso procurou-se ler a espiritualidade e a santidade dos Pastorinhos (dimensão de fé) como expressão e concretização de
vidas (experiência humana) transformadas pelo encontro e pela
relação com Deus (Palavra). E, deste caminho preparatório
partiram os trabalhos oficinais que, pontuados por tempos de plenário,
permitiram a criação de propostas concretas para a catequese da infância (como subsídios para a oração ou a
celebração dos sacramentos, para a peregrinação a Fátima e em Fátima, entre
outros) a partir da
riqueza das vidas de Francisco e de Jacinta, candeias que Deus acendeu para
alumiar a humanidade e exemplos da resposta que a humanidade, como afirmou o
Papa São João Paulo II. Estas oficinas visavam: aprofundar o conhecimento do
acontecimento e do significado do fenómeno Fátima; descobrir São Francisco Marto
e Santa Jacinta Marto; conhecer as suas biografias e a especificidade do
itinerário espiritual de cada um; aprofundar o seu potencial
pedagógico-catequético; aplicar o exemplo de São Francisco à educação para o
silêncio; aplicar o exemplo de Santa Jacinta à educação para o sentido do outro;
e elaborar propostas/subsídios para a catequese da infância a partir desses
exemplos.
Dos conteúdos
o destaque vai para quatro aspetos principais: Introdução e pedagogia catequética;
a Experiência humana – as crianças Francisco e Jacinta Marto e o seu contexto;
a Palavra de Deus – o acontecimento de Deus nas Aparições; e a Expressão de fé
– os perfis de santidade de Francisco Marto e Jacinta Marto.
***
Também no dia
17, o Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, apelou aos
peregrinos para se deixaram tocar pelo exemplo dos Santos Pastorinhos que, na Escola
de Maria, aprenderam a “confiar e a dar primazia a Deus nas suas vidas”.
A partir do passo
do Evangelho de Lucas (Lc
6,20-26) sobre as
bem-aventuranças, que apresenta uma palavra paradoxal de Jesus sobre a vida
centrada em Deus e a vida centrada na própria autossuficiência, o reitor
afirmou que “o retrato dos Pastorinhos de Fátima (a partir das suas vidas) é um retrato das bem-aventuranças e
dos bem-aventurados”. E disse:
“Este
mês de fevereiro é o mês por excelência dos Santos Pastorinhos: no passado dia
13 celebrámos o aniversário da morte de Lúcia; dia 20 celebramos o dia de São
Francisco Marto e de Santa Jacinta Marto... Eles são o exemplo desta
bem-aventurança de que nos fala a palavra de Deus este domingo, pois mostraram
a sua total disponibilidade para Deus e para a sua vontade; sofreram por isso,
mas confiaram no amor de Deus que lhes foi anunciado por Nossa Senhora.”.
“Seguindo o exemplo dos Pastorinhos,
procuremos esta bem-aventurança de quem confia e se confia a Deus; a
bem-aventurança de quem procura dar a Deus o primeiro lugar na sua vida” –
exortou o sacerdote no final da homilia da missa na qual participaram vários
grupos portugueses e também de Espanha, Estados Unidos da América, França e
Itália. E, destacando que se trata de “afundar as raízes da nossa vida em
Deus”, acrescentou:
“Se
a nossa vida tem as suas raízes em Deus, se seguimos a sua vontade, se a sua
palavra guia os nossos passos, então a nossa vida produzirá frutos abundantes,
apesar das dificuldades”.
***
O Dia dos
Pastorinhos passa a ser feriado municipal na terra
natal de Lucas, o menino do milagre que permitiu a canonização de Francisco e
Jacinta Marto. É a primeira decisão do
género duma instituição pública de natureza civil e foi tomada pela prefeitura
brasileira de Juranda no passado dia 11.
Com efeito, este dia 20 de
fevereiro, data em que a Igreja assinala a festa litúrgica dos santos Pastorinhos,
foi comemorado pela primeira vez o feriado municipal do “Dia dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto”, em Juranda, Município
da Diocese de Campo Mourão, no Estado brasileiro do Paraná, a terra natal de
Lucas, a criança do milagre que levou Francisco e Jacinta à canonização,
tendo-os o Papa declarado santos a 13 de maio de 2017, em Fátima.
A instituição
do Dia dos Pastorinhos como feriado municipal foi aprovada pela Câmara
Municipal e promulgada pela Prefeita Municipal de Juranda, Leila Amadei, no dia
11 de fevereiro e tem efeitos imediatos, pelo que hoje já foi feriado municipal
ali. Diz a lei municipal n.º 2.271/2019, assinada pela prefeita Leila Amadei:
“Fica
instituído no Município de Juranda, o feriado municipal religioso do ‘Dia dos
Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto’, a ser comemorado no dia 20 de
fevereiro. A data fica incluída no calendário Municipal de Eventos e Datas
Comemorativas do Municípios de Juranda. […] As despesas decorrentes da presente
lei, caso se façam necessárias, correrão por conta de dotações orçamentárias
próprias, suplementadas, se necessário.”.
A criança
estava em casa dos avós, a brincar com uma irmã, quando caiu por acidente de
uma janela, de cerca 6,5 metros de altura, sofrendo um grave traumatismo cranioencefálico,
com a perda de massa encefálica. A criança foi levada ao hospital, em coma, e operada.
Segundo os
médicos, caso sobrevivesse, o menor viveria em estado vegetativo ou, na melhor
das hipóteses, com graves deficiências cognitivas. Mas, três dias após a queda,
a criança recebeu alta, não sendo constatado qualquer dano neurológico ou cognitivo.
A 2 de
fevereiro de 2017, uma equipa médica consultada pelo Vaticano deu parecer positivo
unânime sobre o caso, classificando-o como “cura inexplicável do ponto de vista
científico”.
No momento do
acidente, o pai da criança invocou Nossa Senhora de Fátima e os dois pequenos
beatos; os familiares e uma comunidade de religiosas de clausura rezaram com
insistência, pedindo a intercessão dos Pastorinhos de Fátima. A este respeito, a
Irmã Ângela Coelho, religiosa da Aliança de Santa Maria e então postuladora da
Causa de Canonização de Francisco e Jacinta Marto, referiu na altura em que o
milagre foi aprovado pelo Papa, a 23 de março de 2017: “É bonito por isto mesmo: duas crianças cuidam de uma criança”.
***
E, para a trilogia
dos santos Pastorinhos ficar completa, só falta a canonização de Lúcia, por que
os devotos, mormente os que peregrinam ao Santuário de Fátima, anseiam e
esperam.
2019.02.20 – Louro de Carvalho
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