quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Num mundo ferido, as pessoas têm necessidade de buscar a inocência


Celebra-se, a 20 de fevereiro, a memória de São Francisco Marto e de Santa Jacinta Marto, que tem a categoria de festa na diocese de Leiria-Fátima e muito grande significado no Santuário de Fátima, em cuja Basílica da Santíssima Trindade, hoje o Cardeal Dom António Marto, o bispo diocesano, presidiu à celebração da Eucaristia, em participaram vários grupos de crianças.
O insigne prelado manifestou a sua alegria por estar a viver este momento festivo com os peregrinos e partilhou um momento vivido com o Papa Francisco, ocorrido a 30 de setembro de 2017, em audiência particular, quando lhe foi agradecer a sua visita a Fátima, ocasião em que teve o ensejo de informar Sua santidade de que as visitas aos túmulos dos Pastorinhos tinham triplicado desde a sua canonização, ao que ele de uma forma muito simples respondera: “Sabes, num mundo ferido, as pessoas têm necessidade de buscar a inocência”.
E eu lembro-me de que, em miúdo, ouvia as pessoas da minha terra a falar dos generosos e inocentes, dizendo que era com eles que Deus equilibrava o mundo. Talvez a sede que Jesus confessou ter no alto da cruz não se circunscreva à sede física, mas se estenda ao sonho de Deus pela felicidade dos seus filhos e à sede de ver as pessoas em resposta crescente ao desígnio redentor.
E o purpurado fatimita explicou aos participantes na celebração litúrgica, contrastivamente com “a voz da inocência” plasmada na postura das crianças: 
Este mundo ferido a que o Papa se refere é-nos dado a contemplar praticamente todos dias, quando nos ecrãs da televisão ou nas primeiras páginas dos jornais nos é oferecido, em espetáculo, a vastidão do mal no mundo, a força destruidora do pecado do mundo”.
O Cardeal convidou os peregrinos a orar pelo encontro do Santo Padre com os presidentes das Conferencias Episcopais sobre os abusos de menores por parte de clérigos, que decorrerá em Roma de 21 a 24 de fevereiro, para que saibam encontrar caminhos de conversão e reparação para acabar com o escândalo do abuso de menores que destrói vidas e corrói a Igreja”. E falou nas consequências que deixam
A marca da dor e das feridas, nas pessoas, no corpo, na alma, e nas consciências tantas vezes feridas, ao ponto de já nem se distinguir o bem do mal, nas famílias tantas vezes divididas e às vezes ocultando a violência que está lá dentro; na sociedade marcada pela indiferença e pelo individualismo e egoísmo de cada um; nos povos com os dramas das guerras e os dramas dos refugiados, refugiados que fogem à morte, à miséria e à fome”.
Dom António Marto continuou a reflexão, observando:
Isto é, de facto, um espetáculo da vastidão do mal, força destruidora do pecado, que nos assusta e mete medo que leva tanta gente a perder a confiança na vida e na bondade da vida, na ternura, que deve marcar a nossa vida e as nossas relações”.
E, para dizer que “as crianças são a voz desta inocência que faz bem a todos”, vincou:
Este mal contagia o coração, e mata a inocência. E, por isso, nós, fartos deste espetáculo, procuramos a inocência e é neste contexto que o Papa diz esta expressão.”.
Referindo que os Santos Pastorinhos – Jacinta e Francisco – nos dão a contemplar “a inocência das crianças quando estão felizes e se sentem amadas”, assegurou que são também “a voz da inocência, nos rostos tristes e de lágrimas nos olhos, nas caravanas dos refugiados, muitas vezes sozinhos, muitas vezes a fugir sem o pai ou a mãe”.
O Bispo cardeal lembra que Francisco Marto e Jacinta Marto contemplaram “em visão os infernos, que os homens são capazes de construir, a monstruosidade do mal, a força destruidora do pecado”, através da visão do inferno descrita nos relatos da Irmã Lúcia, contando ainda como a pequena Jacinta sentia “aflição” pela “perda da humanidade, perda da bondade, perda da ternura, perda da santidade, não só das pessoas, mas do mundo”. Por outro lado, puderam contemplar “a força curadora, sanadora e vitoriosa da misericórdia de Deus” e foram “testemunhas desta misericórdia que cura as feridas e as dores da humanidade”.
Os mais jovens santos não-mártires da Igreja Católica, segundo o presidente da Celebração, “transmitiram esta inocência através do amor a Deus e do encanto por este amor santo e misericordioso que os fascinou e os fez sentir imersos como numa luz”. E Dom António Marto, considerando o gesto deles como “uma mensagem de esperança” e que “é possível restaurar a inocência nas consciências e nos corações, através da santidade de vida”, discorreu:
Naquela disponibilidade dos pequeninos para colaborarem com Deus na reparação dos estragos que o mal faz nos corações, nas relações e no mundo, através das suas orações e do seu sacrifício, do seu amor ao próximo e da partilha do pouco que tinham, foram crianças normais, que procuraram viver o seu dia a dia como os pequenos e simples”.
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Porém, esta missa celebrada na Basílica da Santíssima Trindade está longe de ter sido o único momento celebrativo da Festa dos Pastorinhos. Ao invés, esta notável festa litúrgica envolveu momentos de música e de oração e mesmo um momento de formação.
Assim, para assinalar a efeméride, as celebrações no Santuário de Fátima tiveram início no dia 17 com o V Concerto evocativo dos Pastorinhos de Fátima, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, às 15,30 horas, com o grupo “Nova Era” Vocal Ensemble (com direção musical a cargo do maestro João Barros, é composto por 24 cantores, cujo objetivo principal é a divulgação da música contemporânea), que estreou a peça “Hail Mary” composta especialmente para o momento e cujo texto diz respeito à oração que saúda a Virgem Maria nos momentos da Anunciação e Visitação (cf Lc 1,21-42). A obra pretende retratar os louvores dos fiéis à Virgem Maria, através de momentos de maior ou menor densidade harmónica e textual, consoante a visão pessoal sobre o significado de cada verso do texto, lê-se na folha da sala de imprensa do Santuário.
Contudo, a obra central deste programa musical foi a Missa para dois coros de Martin. Entre cada um dos andamentos da missa foram interpretadas obras de compositores contemporâneos, como Arvo Pärt, John Tavener, Sandström e João Fonseca e Costa, que têm em comum uma profunda ligação à música sacra.
O concerto abriu com “Virgencita”, composição de Arvo Pärt, após uma visita ao México, que nos remete para o mistério da aparição da Virgem Maria a Juan Diogo em Guadalupe.
Relacionado com o texto presente no “Kyrie” de Martin, foi executado “Hear my Prayer, O Lord”, de Sandström. 
O cântico “Deer’s Cry” é baseado no poema escrito por São Patrício, na Irlanda em 433. Ouvindo rumores sobre uma emboscada que tencionava matá-lo a ele e aos seguidores, fugiram para uma floresta, entoando o cântico. Segundo a lenda, o grupo de fugitivos conseguiu escapar, transformando-se num veado e vinte filhotes. Arvo Pärt compôs a obra em 2007, segundo o poema da Lorica (oração por proteção), de São Patrício.
Seguiu-se a peça “Hail Mary”, em estreia absoluta e, depois, “The Lamb”, do compositor britânico John Tavener, numa inter-relação ímpar entre texto e música. O texto escolhido é um poema de William Blake, cantado inicialmente por vozes femininas e ao qual responde o coro com um encadeamento harmónico que nos faz parar no tempo.
A obra final do concerto é também da autoria de Arvo Pärt, “Drei Hirtenkinder aus Fátima”, dedicada aos três pastorinhos de Fátima – oferta ao Santuário de Fátima aquando da sua visita, obra simples, pura, sensível, mas afirmativa, evocativa da fé inabalável dos três pastorinhos.
No dia 19 realizou-se uma Vigília, com Rosário, procissão de velas e veneração dos Santos Pastorinhos nos seus túmulos (Capelinha e Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima).
No dia 20, às 10 horas, procedeu-se à recitação do Rosário na Capelinha das Aparições, a que se seguiu a Procissão com os ícones dos Santos Francisco e Jacinta até à Basílica da Santíssima Trindade, onde decorreu, a partir das 11 horas a Eucaristia, como se disse. Às 14 horas, realizou-se um Encontro com as crianças na Basílica da Santíssima Trindade. E, às 17,30 horas, foram celebradas as Vésperas na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
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Embora não estivesse integrada nas celebrações festivas, mas sendo alusiva aos Santos Pastorinhos, a Escola do Santuário organizou no passado fim de semana a primeira Oficina Pastoral intitulada “Francisco e Jacinta na catequese da infância”, que decorreu na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, a partir de sábado, dia 16 de fevereiro.
O itinerário temático partiu duma introdução em que a pedagogia catequética foi recordada e enquadrou o resto do percurso, o qual, seguindo os passos típicos dessa pedagogia, tomou o acontecimento das aparições e as vidas e perfis de espiritualidade e santidade do Francisco e da Jacinta como motivos de ‘experiência humana’, ‘Palavra de Deus’ e ‘expressão de fé’.
Neste percurso procurou-se ler a espiritualidade e a santidade dos Pastorinhos (dimensão de fé) como expressão e concretização de vidas (experiência humana) transformadas pelo encontro e pela relação com Deus (Palavra). E, deste caminho preparatório partiram os trabalhos oficinais que, pontuados por tempos de plenário, permitiram a criação de propostas concretas para a catequese da infância (como subsídios para a oração ou a celebração dos sacramentos, para a peregrinação a Fátima e em Fátima, entre outros) a partir da riqueza das vidas de Francisco e de Jacinta, candeias que Deus acendeu para alumiar a humanidade e exemplos da resposta que a humanidade, como afirmou o Papa São João Paulo II. Estas oficinas visavam: aprofundar o conhecimento do acontecimento e do significado do fenómeno Fátima; descobrir São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto; conhecer as suas biografias e a especificidade do itinerário espiritual de cada um; aprofundar o seu potencial pedagógico-catequético; aplicar o exemplo de São Francisco à educação para o silêncio; aplicar o exemplo de Santa Jacinta à educação para o sentido do outro; e elaborar propostas/subsídios para a catequese da infância a partir desses exemplos.
Dos conteúdos o destaque vai para quatro aspetos principais: Introdução e pedagogia catequética; a Experiência humana – as crianças Francisco e Jacinta Marto e o seu contexto; a Palavra de Deus – o acontecimento de Deus nas Aparições; e a Expressão de fé – os perfis de santidade de Francisco Marto e Jacinta Marto.
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Também no dia 17, o Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, apelou aos peregrinos para se deixaram tocar pelo exemplo dos Santos Pastorinhos que, na Escola de Maria, aprenderam a “confiar e a dar primazia a Deus nas suas vidas”.
A partir do passo do Evangelho de Lucas (Lc 6,20-26) sobre as bem-aventuranças, que apresenta uma palavra paradoxal de Jesus sobre a vida centrada em Deus e a vida centrada na própria autossuficiência, o reitor afirmou que “o retrato dos Pastorinhos de Fátima (a partir das suas vidas) é um retrato das bem-aventuranças e dos bem-aventurados”. E disse:
Este mês de fevereiro é o mês por excelência dos Santos Pastorinhos: no passado dia 13 celebrámos o aniversário da morte de Lúcia; dia 20 celebramos o dia de São Francisco Marto e de Santa Jacinta Marto... Eles são o exemplo desta bem-aventurança de que nos fala a palavra de Deus este domingo, pois mostraram a sua total disponibilidade para Deus e para a sua vontade; sofreram por isso, mas confiaram no amor de Deus que lhes foi anunciado por Nossa Senhora.”.
Seguindo o exemplo dos Pastorinhos, procuremos esta bem-aventurança de quem confia e se confia a Deus; a bem-aventurança de quem procura dar a Deus o primeiro lugar na sua vida” – exortou o sacerdote no final da homilia da missa na qual participaram vários grupos portugueses e também de Espanha, Estados Unidos da América, França e Itália. E, destacando que se trata de “afundar as raízes da nossa vida em Deus”, acrescentou:
Se a nossa vida tem as suas raízes em Deus, se seguimos a sua vontade, se a sua palavra guia os nossos passos, então a nossa vida produzirá frutos abundantes, apesar das dificuldades”.
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O Dia dos Pastorinhos passa a ser feriado municipal na terra natal de Lucas, o menino do milagre que permitiu a canonização de Francisco e Jacinta Marto. É a primeira decisão do género duma instituição pública de natureza civil e foi tomada pela prefeitura brasileira de Juranda no passado dia 11.
Com efeito, este dia 20 de fevereiro, data em que a Igreja assinala a festa litúrgica dos santos Pastorinhos, foi comemorado pela primeira vez o feriado municipal do “Dia dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto”, em Juranda, Município da Diocese de Campo Mourão, no Estado brasileiro do Paraná, a terra natal de Lucas, a criança do milagre que levou Francisco e Jacinta à canonização, tendo-os o Papa declarado santos a 13 de maio de 2017, em Fátima.
A instituição do Dia dos Pastorinhos como feriado municipal foi aprovada pela Câmara Municipal e promulgada pela Prefeita Municipal de Juranda, Leila Amadei, no dia 11 de fevereiro e tem efeitos imediatos, pelo que hoje já foi feriado municipal ali. Diz a lei municipal n.º 2.271/2019, assinada pela prefeita Leila Amadei: 
Fica instituído no Município de Juranda, o feriado municipal religioso do ‘Dia dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto’, a ser comemorado no dia 20 de fevereiro. A data fica incluída no calendário Municipal de Eventos e Datas Comemorativas do Municípios de Juranda. […] As despesas decorrentes da presente lei, caso se façam necessárias, correrão por conta de dotações orçamentárias próprias, suplementadas, se necessário.”.
A criança estava em casa dos avós, a brincar com uma irmã, quando caiu por acidente de uma janela, de cerca 6,5 metros de altura, sofrendo um grave traumatismo cranioencefálico, com a perda de massa encefálica. A criança foi levada ao hospital, em coma, e operada.
Segundo os médicos, caso sobrevivesse, o menor viveria em estado vegetativo ou, na melhor das hipóteses, com graves deficiências cognitivas. Mas, três dias após a queda, a criança recebeu alta, não sendo constatado qualquer dano neurológico ou cognitivo.
A 2 de fevereiro de 2017, uma equipa médica consultada pelo Vaticano deu parecer positivo unânime sobre o caso, classificando-o como “cura inexplicável do ponto de vista científico”.
No momento do acidente, o pai da criança invocou Nossa Senhora de Fátima e os dois pequenos beatos; os familiares e uma comunidade de religiosas de clausura rezaram com insistência, pedindo a intercessão dos Pastorinhos de Fátima. A este respeito, a Irmã Ângela Coelho, religiosa da Aliança de Santa Maria e então postuladora da Causa de Canonização de Francisco e Jacinta Marto, referiu na altura em que o milagre foi aprovado pelo Papa, a 23 de março de 2017: “É bonito por isto mesmo: duas crianças cuidam de uma criança”.
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E, para a trilogia dos santos Pastorinhos ficar completa, só falta a canonização de Lúcia, por que os devotos, mormente os que peregrinam ao Santuário de Fátima, anseiam e esperam.  
2019.02.20 – Louro de Carvalho

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